segunda-feira, janeiro 18, 2010

Lulu Santos: a velha paixão pelo samba


CD
Singular (EMI-Odeon)
2009


Vinte anos após ‘Popsambalanço & Outras Levadas’, cantor flerta novamente com o gênero

Apesar de não exibir, como compositor, a mesma inspiração de priscas eras, Lulu Santos continua, musicalmente, inquieto como sempre. E, com isso, ao contrário de praticamente todos os seus contemporâneos, mantém a sua relevância. E a sua... hum, singularidade – o clichê foi inevitável.

Não por acaso, Singular é o título de seu novo álbum, foi produzido pelo próprio Lulu juntamente com o seu tecladista, Hiroshi Mizutani, e inteiramente bancado pelo autor de “Casa” – apenas distribuído pela EMI. É o seu 22º trabalho, sendo o 19º de estúdio.

Em “Duplo Mortal” e “Na' Boa”, o cantor e compositor carioca transita pelo pop que o fez famoso. A tônica do CD, no entanto, é a amálgama entre o samba e a eletrônica, presente, por exemplo, nas instrumentais “Spydermonkey” e “Restinga”, primeira e última faixa do álbum, respectivamente.

No samba, aliás, Lulu soa bastante convincente, tanto na inédita “Procedimento” – não faria feio em um disco de Paulinho da Viola –, como na ousada releitura de “Zazueira”, de Jorge Ben, gravada para o disco-tributo O Baile de Simonal.

Provavelmente mencionando os vinte anos de Popsambalanço & Outras Levadas – álbum de 1989 no qual o artista flertou com samba e afins –, Lulu relê, com ares de funk carioca, “Perguntas”, aqui rebatizada de “Perguntas (II)”. Em tempos de verba pública escondida em meias e cuecas, a letra, por sinal, continua bem atual: “Diz aí qual é a tradição / país no duro ou refúgio de ladrão?”.

Fuscio”, composta em homenagem ao seu cachorro, é um típico bolero havaiano, daqueles que Lulu compõe com naturalidade – vide “De Repente, Califórnia”, “Lua de Mel”, “Sereia”, “Tudo” e, claro, “Como uma Onda”.

A primeira música de trabalho é a discoBaby de Babylon”, uma mistura infalível de “Fogo de Palha” (Calendário, 1999) com “Já É!” (Bugalu, 2003). A faixa integra a trilha sonora da novela Viver a Vida.

Completam o repertório “Black and Gold”, do australiano Sam Sparro e a sofrida “Atropelada”, do baixista, cantor e compositor Jorge Ailton.

No final das contas, Singular deixa melhor impressão do que o seu antecessor, o pouco inspirado Long Play (2007). Mas, decididamente, não supera o último grande CD de estúdio de Lulu Santos, o ótimo Letra e Música (2005).

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Tudo’, de Lulu Santos

...típico bolero havaiano, daqueles que Lulu compõe com naturalidade – vide ‘De Repente, Califórnia’, ‘Lua de Mel’, ‘Sereia’, ‘Tudo’...

(“Lulu Santos: a velha paixão pelo samba”)


Com a coleção de sucessos que possui, Lulu Santos [foto], se tivesse nascido na Inglaterra, nada deveria a nenhum Elton John. Fato.

Na minha modesta opinião, dentro da seara pop, não tem para ninguém: ele é simplesmente o cara. Se Guilherme Arantes foi o precursor da linguagem pop na música brasileira, certamente Lulu foi o artista que melhor soube formatá-la e inserí-la no nosso contexto.

Existem, pelo menos, uns quinze hits dele que entrariam, fácil, fácil, na nossa série “São Bonitas as Canções”. E com certeza entrarão - no... digamos, decorrer do período.

Isso, sem falar as inúmeras canções obscuras – muitas delas belíssimas – presentes no cancioneiro do músico carioca. Várias, por sinal, foram resgatadas no projeto Dudu Sanchez [saiba mais aqui], que, infelizmente, não teve registro oficial.

Uma destas “pérolas perdidas” é o bolero havaianoTudo”, do álbum O Ritmo do Momento, de 1983, que também trazia “Um Certo Alguém”, “Adivinha o Quê?”, “Esse Brilho em teu Olhar” e o seu cartão-de-visitas, “Como uma Onda (Zen-Surfismo)”.

Detalhe: este, ainda no bom e velho vinil, foi o segundo disco que ganhei da vida. Ou, pelo menos, o segundo que eu, em tenra idade, quis ter. O primeiro foi Vôo de Coração*, do Ritchie, que foi lançado naquele mesmo ano.


* “Vôo” com circunflexo, sim, ora. Ainda não havia Acordo Ortográfico naquela época...


‘Long Play’

No final das contas, Singular deixa melhor impressão do que o seu antecessor, o pouco inspirado Long Play (2007)

(“Lulu Santos: a velha paixão pelo samba”)


Editado em 2007, o último álbum de inéditas de Lulu Santos, Long Play [no detalhe, a capa], passou em brancas nuvens [leia a resenha clicando aqui].

A faixa de maior destaque foi a releitura de “Deixe Isso para Lá”, eternizada na voz de Jair Rodrigues, que integrou a trilha sonora da novela Sete Pecados.

Mesmo assim, há uma faixa de Long Play que traz um... er, lampejo do autor de “A Cura”: a pop “Contatos”.

O curioso é que, na primeira vez em que ouvi essa canção, lembrei imediatamente de “Futuros Amantes”, obra-prima de Chico Buarque. Em um determinado momento, as letras das duas canções parecem querer dizer a mesma coisa.

Como se determinadas manifestações românticas, através de cartas ou e-mails, chegassem ao conhecimento de gerações posteriores – e, surpreendentemente, não fossem consideradas... digamos, “obsoletas”. Talvez pelo fato de que os sentimentos são, na verdade... atemporais.

Ou seja, hoje, as pessoas se querem bem exatamente como acontecia nos anos 30. E daqui a 50 anos continuará sendo da mesma forma.

Observe:

Imagine que, no futuro, as pessoas vão ler sobre nós
E vão se admirar com o jeito que a gente arrumou
Para não deixar de se amar.”


Para saber mais sobre “Futuros Amantes”, clique aqui.



Ouça “Contatos:

E por falar em Chico Buarque....


...vamos abrir um parêntese: em dezembro, a Bravo! dedicou uma edição especial aos Beatles. Nesse mês, o contemplado foi Chico Buarque [no detalhe, a capa].

O foco da publicação, no entanto, é carreira literária de Chico, desde o seu primeiro romance, Estorvo, de 1991, até o quarto, o ótimo Leite Derramado, lançado no ano passado.

Leia a resenha de Leite Derramado clicando aqui.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Vale de Lágrimas’, de Lulu Santos


Mas, decididamente, não supera o último grande CD de estúdio de Lulu Santos, o ótimo Letra e Música (2005).”

(“Lulu Santos: a velha paixão pelo samba”)



Uma curiosidade sobre Letra e Música [no detalhe, a capa]: essa foi a minha primeira resenha publicada no extinto jornal IM – International Magazine [link aqui], há quase meia década – puxa, o tempo passa depressa demais...

Gosto muito desse CD. Aliás, todas as vezes em que Lulu Santos se aproximou do rock, obteve bons resultados. Exemplos: Normal (1985) e o estupendo Mondo Cane, de 1992 [saiba mais aqui].

A faixa de maior destaque de Letra e Música foi a tocante “Vale de Lágrimas”, cujo clipe conta com a participação especial do “homem-da-voz-inconfundível”: Paulo César Pereio.



‘Atropelada’, de Jorge Ailton

Pela mágoa profunda expressa em seu refrão, “Atropelada”, gravada por Lulu Santos em seu novo CD, Singular, é uma canção que não passa desapercebida.

O autor da faixa é Jorge Ailton [foto], que, como baixista, já tocou com Sandra de Sá, Paula Toller e Mart'nália. E está lançando o seu primeiro disco solo, O Ano 1.

No My Space do cantor, estão disponíveis, para audição on line, “Substantivo Feminino”, “Soliquida” e a acachapante versão original de “Atropelada”, que me impressionou sobremaneira. E que, com todo o respeito, é muito melhor do que a de Lulu...


Confira as duas versões de “Atropelada”: a de Lulu Santos...



...e a de Jorge Aílton.


Vagner Love no Flamengo

Na sexta-feira, 15, Vagner Love [foto] foi apresentado como o novo reforço do Flamengo. Em sua primeira coletiva, afirmou estar realizando “um sonho de infância” ao defender as cores de seu time de coração. E não conseguiu segurar as lágrimas.

Bem, via de regra, não fico muito animado quando o Rubro-negro contrata figurões. Vários deles tiveram um desempenho pífio no clube: Sócrates, Edmundo, Denílson (ex-Palmeiras), Alex (atual Fenerbahce, da Turquia) e muitos outros. E, francamente, não fazia fé no Adriano, e muito menos no Petkovic. E ambos acabaram me surpreendendo.

De qualquer forma, considero Love um bom atacante. E, evidentemente, espero que ele dê certo na Gávea.

O jogador permanecerá no Flamengo, por empréstimo, até o dia 31 de julho. Seus direitos federativos pertencem ao CSKA, da Rússia

sexta-feira, janeiro 15, 2010

Sandy: ‘silence is golden’

Deixando a “temperança” um pouquinho de lado: a cantora (?) Sandy emitiu, ontem, 14, via Twitter, a sua... ahn, “relevante” opinião sobre a ajuda humanitária brasileira às vítimas do terremoto no Haiti.




Traduzindo: ainda que, depois, tenha tentado consertar, a artista, a princípio, deu a entender que o Brasil deveria cuidar apenas dos próprios problemas. Tipo: “os outros que se danem”. E, repleta de “sabedoria”, aproveita para aconselhar: “Pense nisso”. Eu não.

Desinformada, parece não saber que cerca de 70 pessoas perderam a vida no desastre de Angra dos Reis. Lamentavelmente. E que no Haiti, entretanto, o número de mortos poderá passar de 100 mil (!).

Pior: do alto de sua arrogância burguesa, classificou como “ignorantes de plantão” aqueles que discordaram dela.

Ou seja, perdeu uma excelente oportunidade de manter-se bem caladinha.



P.S.: Quem é ignorante mesmo?

terça-feira, janeiro 05, 2010

Temperança

Há quem diga que cada passagem de ano representa apenas uma “troca de calendário”. Particularmente, discordo dessa ideia.

Sem querer soar clichê, penso que cada ano que inicia é um novo... ciclo, no qual – como sabiamente cantou Milton Nascimento – “renovam-se as esperanças”, apesar das dificuldades de sempre.

Portanto, desejo a todos que frequentam esse blog – e que são importantíssimos para a existência do mesmo – tudo o que se deseja a quem se quer bem: saúde, que é o mais importante. Paz. Alegria. Prosperidade. E temperança, que é o que os chineses desejam uns para os outros nessa época do ano.

Além de ser a 14ª carta do Tarot, temperança – que significa “moderação”, “equilíbrio”, em todos os aspectos – é considerada uma das “virtudes universais” propostas pelo Cristianismo.

É também uma das quatro virtudes cardinais (ou cardeais) propagadas pela Igreja Católica – as demais são: prudência, justiça e fortaleza.


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Na foto, Temperança, obra do escultor português Salvador Barata Feyo (1899 – 1990). Observem que a figura segura com a mão direita um pequeno jarro de onde verte um líquido para a taça apoiada sobre o joelho com a mão esquerda, como que “temperando” o que esta pudesse conter.

A estátua se encontra na Assembleia da República de Portugal, o Palácio de São Bento, situado em Lisboa.


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Espero que, em 2010, vocês se manifestem mais por aqui, sem acanhamentos. Sugestões e críticas – desde que mantida a educação – serão acolhidas com carinho e respeito.

Fico no aguardo.



Ouça a canção citada neste post, a atemporal “Coração de Estudante”, de Milton e Wagner Tiso: