segunda-feira, maio 24, 2021

Bob Dylan: 80 anos


Se os Beatles alçaram o rock ao status de arte, Bob Dylan foi o responsável por trazer qualidade literária ao gênero – destinado, até então, a mero entretenimento juvenil. Não por acaso, Dylan foi o único músico, em toda a história, a ser laureado (em 2016) com o Nobel de Literatura – mesmo tendo escrito apenas dois livros. Não se enganem: ele sempre usou a música como veículo para a sua poesia altamente sofisticada. Suas letras nada devem a poemas de Baudelaire, Rimbaud, Walt Whitman ou mesmo Shakespeare.

Ao longo de sua trajetória, "trocou de pele" inúmeras vezes. Indignou os puristas do folk ao eletrificar seu som. Rejeitou o rótulo de "profeta" e tornou-se recluso. Abraçou o country, sob as bênçãos de seu ídolo Johnny Cash. Com o rosto pintado de branco ao estilo Kabuki, voltou à estrada em uma turnê mambembe. Judeu, converteu-se ao cristianismo e gravou três álbuns com temática religiosa. E, por fim, retornou às canções seculares.

Praticamente ninguém na música pop escapou de sua influência. O rap é um grande exemplo: na década de 1960, Dylan já discursava ferozmente em "It's Alright, Ma (I'm Only Bleeding)" e "Subterranean Homesick Blues". Os já citados Beatles começaram a prestar mais atenção às letras de suas canções após uma dica de Dylan. E muitos, por sinal, nunca negaram ser "discípulos" do bardo – como Bruce Springsteen, Neil Young, Zé Ramalho e os saudosos Belchior e Raul Seixas, entre outros.

Nos 60 anos de carreira discográfica que completará no ano que vem, Dylan editou 39 álbuns de estúdio – o mais recente, o ótimo Rough and Rowdy Ways, foi lançado em 2020 – que merecem não apenas serem ouvidos, mas também... lidos. Aliás, esta é a melhor homenagem que poderemos prestar ao poeta, que chega hoje aos 80 anos de idade: ouvir e ler os seus discos. E desfrutar do enorme privilégio que é tê-lo entre nós.

Todas as flores em vida para este homem.


segunda-feira, abril 19, 2021

Roberto Carlos: 80 anos

 

Por ocasião dos 80 anos que Roberto Carlos completa hoje, eu poderia destacar a sua (imensurável) importância para a música popular brasileira. Ele foi um dos precursores do rock nacional – influenciando, inclusive, o surgimento do Tropicalismo – e foi um dos primeiros a gravar soul music por estas plagas – a irresistível "Não Vou Ficar", do ainda iniciante Tim Maia. Posteriormente, tornou-se um crooner de orquestra à moda Sinatra, consolidando-se como o maior ídolo musical do país.

Enfim, eu poderia – com o perdão do trocadilho – detalhar a relevância de seu legado para a cultura nacional. Mas, sinceramente, prefiro dizer, comovido, o quanto Roberto Carlos foi e continua sendo importante... para mim.

As canções de Roberto estão entrelaçadas na minha trajetória de vida. Desde sempre. E de modo irreversível. Minhas lembranças mais ancestrais; os Natais em família – a voz dele sempre foi a trilha sonora. Os anos se passaram. Cresci. E o Rei permaneceu "presente" nos momentos marcantes da minha história. Como um parente ou um amigo muito próximo. Tanto que, se perguntarem em que ano uma determinada faixa dele – por mais obscura que seja – foi lançada, respondo sem precisar recorrer ao Google.

Seja falando de amor, de fé ou compartilhando os seus momentos mais tristes, Roberto, ao lado do Tremendão Erasmo Carlos – outra figura fundamental da nossa música –, sempre soube tocar o coração de cada pessoa. Sua narrativa é clara, objetiva, de fácil compreensão para todos, mas nem por isso desprovida de profundidade e sentimento.

Como se não bastasse a excelência como artista, RC também se tornou um exemplo para mim como ser humano. Inúmeros episódios atestam: o Rei é um homem nobre, de coração enorme. Bom pai. Bom filho. Bom patrão. Amigo sincero dos amigos. Mas que não abre mão de manter os seus gestos de altruísmo em sigilo. Como deve ser.

Portanto, agradeço por ele ter escolhido essa profissão – e ser tão brilhante nela. Agradeço por cada sorriso, cada lágrima e cada ensinamento que proporcionou a milhões de pessoas – entre as quais, obviamente, me incluo – ao longo de mais de sessenta anos de vida pública.

E, mais do que tudo, agradeço por ele estar conosco, com saúde e plena atividade. E rogo para que assim permaneça por muitos anos.

Feliz Aniversário, Roberto Carlos.