No centenário de Clarice Lispector, uma das mais importantes escritoras brasileiras – pouco importa ter nascido na Ucrânia –, vale a pena ver a única entrevista concedida por ela em vídeo. Quando assisti pela primeira vez, há alguns anos, fiquei deveras impressionado.
Lispector sempre passou a imagem de uma jovem senhora sisuda, quiçá antipática. Contudo, a entrevista desfaz totalmente a impressão equivocada.
De fato: ela praticamente não ria. Mas só porque era tímida. E era também simples. Sincera. Um tanto melancólica. E muito, muito sábia.
Aliás, sem saber do câncer no útero que a levaria à morte dez meses da entrevista, a escritora, em um determinado momento, declarou:
— Só estou triste porque estou cansada.
Em um trecho bastante interessante, a autora de "A Hora da Estrela" afirma:
— Eu não sou uma profissional. Eu só escrevo quando eu quero. Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. Profissional é aquele que tem uma obrigação consigo mesmo de escrever.
Outra curiosidade: ela revelou que, nos intervalos entre um projeto e outro, ela se sentia "morta". E soando inegavelmente profética, declarou:
— Bom, agora eu morri. Mas vamos ver se eu renasço de novo. Por enquanto eu estou morta. Estou falando do meu túmulo.
Nos bastidores, solicitou ao repórter Júlio Lerner que a entrevista só fosse divulgada após a sua morte. Foi atendida.
Sua obra, todavia, continua viva. E sempre conquistando novos e entusiasmados leitores.