Falecido ontem, aos 73 anos, o carioca Aldir Blanc figurava indiscutivelmente entre os cinco melhores letristas brasileiros. Conhecido especialmente pelas parcerias com João Bosco — várias delas imortalizadas na voz de Elis Regina —, Blanc foi coautor de sucessos de Nana Caymmi, Leila Pinheiro, MPB-4 e Roupa Nova, entre outros.
Parceria com Cristóvão Bastos, “Resposta ao Tempo” é a faixa-título do álbum lançado por Nana Caymmi em 1998 — e uma das mais belas gravações da cantora. Naquele mesmo ano, foi a música-tema da minissérie Hilda Furacão.
Em 1996, Leila Pinheiro gravou um disco inteiro com composições de Guinga e Aldir Blanc. A faixa-título, “Catavento e Girassol” retrata, com rara sensibilidade e pitadas do mais fino humor, um casal que não tem absolutamente nada a ver um com o outro. Uma obra-prima.
Era de Aldir Blanc a autoria da letra de “A Viagem”, uma das mais tocantes gravações do Roupa Nova, interpretada magistralmente pelo vocalista/baterista Sérgio Herval. Música-tema da novela homônima [1994], a canção fala sobre um amor que desafia planos existenciais.
Blanc também escreveu os versos de outro grande sucesso do Roupa Nova: “Coração Pirata”. Violões, cordas e um refrão pungente asseguram o tom épico da faixa, que integrou a trilha sonora da novela Rainha da Sucata.
“Dois pra Lá, Dois pra Cá” foi uma das mais marcantes composições de João Bosco e Aldir Blanc gravadas por Elis Regina. Pasmem: um bolero — que, sem pudor algum, cita “La Puerta” no final. A letra é cinematográfica: em meio a um porre de “whisky com guaraná”, a protagonista lembra da noite em que dançou com o seu amado, apesar do incômodo de um “torturante band-aid no calcanhar”.
Dentre todas as parcerias de João Bosco e Aldir Blanc gravadas por Elis Regina, “O Bêbado e o Equilibrista” foi, sem dúvida alguma, a mais emblemática. A interpretação da Pimentinha potencializa a carga emocional dos versos que retratam o período em que a canção foi lançada — 1979, seis meses antes da promulgação da Lei de Anistia.