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sábado, fevereiro 06, 2010

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘Mondo Cane’, de Lulu Santos


Em 1992, Lulu Santos assinou com a antiga Polygram, atual Universal Music, e gravou aquele que, para muitos, é o seu melhor trabalho. Mondo Cane [no detalhe, a capa] trazia o pop que sempre caracterizou o músico, mas como uma certa... amargura nas letras.

Isso, sem contar as quatro faixas com guitarras pesadas – “Ecos do Passado”, “Fevereiro”, “Máquinas Macias” e a instrumental “Hormônios” –, que entusiasmaram público e crítica na ocasião.

Quando o álbum completou quinze anos de lançamento, escrevi um artigo para o jornal International Magazine, que você pode ler clicando aqui.

Portanto, com todos os méritos, Mondo Cane inaugura a série Discos para se Ter em Casa.

‘Um Vício’, ‘Cicatriz’ e ‘Foi Mal’

Na introdução curtinha, o ouvinte imagina tratar-se de uma canção para cima. Pista falsa. Desde os primeiros versos, “Um Vício” define o amor de modo cáustico: “O amor devia ser proibido / porque é uma droga pesada”. E prossegue: “E, com a mesma rapidez que você chega aos céus / o inferno passa a ser seu lar. (...) / O que era doce transformou-se em vinagre e ácido. / O que era úmido, da mesma forma. Agora é árido. / E o que antes era vivo já não pulsa mais – tornou-se uma assombração.”

Cicatriz” é um ska animadinho, cujo clipe tem a participação da Intrépida Trupe. Mas não se iludam com isso. A exemplo de “Um Vício”, a letra novamente fala de amor de uma maneira cáustica: “Eu te afoguei no líquido / desse pântano escuro que eu chamo de amor.” O refrão, contudo, expressa alguma esperança: “Ninguém me garante que eu vou ser feliz / mas ninguém me impede de tentar sê-lo.

Já “Foi Mal” é um pop típico de Lulu Santos. Mas com versos indisfarçavelmente desencantados. O clipe original, claramente inspirado no filme A Hard Day's Night [no detalhe], presta homenagem aos Beatles.



Um Vício



Cicatriz




Foi Mal


‘A Coisa Certa’, ‘Apenas Mais uma de Amor’ e ‘Ecos do Passado’

A Coisa Certa” emula o som das chamadas “bandas de franjinha” que surgiram aos montes em Manchester, Inglaterra, na década de 1990 – The Inspiral Carpets, Charlatans U.K. [no detalhe], etc. A letra baseia-se no interessante trocadilho com a palavra presente: “Quero lhe oferecer o meu presente / tomara que você aceite, e fique bem contente...” Observe: cantor refere-se ao tempo verbal...

A tocante moda-de-viola beatleApenas Mais uma de Amor” foi o hit solitário do álbum. E uma das mais belas canções da carreira de Lulu Santos. Dispensa apresentações.

Em “Ecos do Passado”, rock lento e pesado cujo riff se repete ad aeternum, o mondo cane começa a aparecer de verdade...



A Coisa Certa




Apenas Mais uma de Amor




Ecos do Passado

‘Fevereiro’, ‘Máquinas Macias’ e ‘Hormônios’


Lulu Santos caprichou nas guitarras na trinca “Fevereiro”, “Máquinas Macias” e “Hormônios”. Na primeira, descreve a Cidade Maravilhosa como um cenário dantesco: “Ar, é necessário respirar / sair debaixo dessas nuvens de metal / ferro fundido, enxofre e fel. / Ainda que seja fevereiro / em pleno Rio de Janeiro, exposto ao sol / como a carniça de um animal.”

A agressiva “Máquinas Macias” fala de sexo: “Máquinas macias, autolubrificantes / resfolegando a noite produzindo, produzindo.”

A instrumental “Hormônios” fecha o bloco. Destaque para a (ótima) bateria de Christiaan Oyens.



Fevereiro





Máquinas Macias




Hormônios

‘Aquela Vontade de Rir’, ‘Realimentação’ e ‘E Então? (Boa Pergunta)’

Composta por Zé Renato, ex-Boca Livre, em parceria com o diretor teatral Hamilton Vaz Pereira, “Aquela Vontade de Rir” é um momento de “calmaria” depois da... er, tempestade. Acompanhado apenas por teclados, Lulu Santos canta versos delicados: “Meus plenos poderes / meus grandes momentos / meus sentimentos mais serenos”.

Em “Realimentação”, o cantor aproxima-se, mais uma vez, do samba, em belos dedilhados de guitarra, ao lado da bateria de Marcelo Costa.

A bossa “E Então? (Boa Pergunta)” fecha o álbum de maneira... plácida. Detalhe: nesta faixa, em vez de um previsível violãozinho de nylon, Lulu preferiu tocar guitarra...


Aquela Vontade de Rir



Realimentação



E Então? (Boa Pergunta)

‘Auto-estima’

Auto-estima” não integra Mondo Cane. Foi editada, meses depois – também pela Polygram –, em um (malfadado) formato chamado maxi-single. Portanto, pode-se dizer que está no mesmo... hum, contexto do álbum.

Curiosidade: na letra, Lulu Santos menciona o supracitado Hamilton Vaz Pereira, autor de “Aquela Vontade de Rir” – saiba mais aqui.

O único registro de “Auto-estima” que se encontra atualmente em catálogo está na coletânea Perfil, de 2004 [no detalhe].