A exemplo do nosso bom companheiro Ricardo Schott (colaborador da revista BIZZ e do site NITIDEAL, entre outros), que costuma resgatar, no blog DISCOTECA BÁSICA, textos seus publicados aqui & ali, acabei tendo o insight do Flashback.
E, nessa primeira.. ahn... edição... há o replay da resenha sobre o mais recente CD de PAULO RICARDO, Acoustic Live, que escrevi para a edição de abril desse ano do IM - INTERNATIONAL MAGAZINE. Escolhi essa matéria por uma razão muito simples: por razões físicas (e eu compreendo perfeitamente - isso acontece), o texto acabou saindo editado.
E, da maneira como a questão foi colocada, ficava a impressão de que eu era um simples detrator de PR, como existem vários por aí. Mas não é por aí. Tudo bem, continuo achando que esse disco foi completamente desnecessário. A diferença é que conheço muito bem o trabalho do artista, tenho respeito por ele - e tudo isso fica absolutamente claro na íntegra desse texto.
Se bem que essa candidatura dele para deputado...
PAULO RICARDO: QUAL SERÁ O PRÓXIMO CAPÍTULO?
Muito curiosa (ou acidentada, talvez) a trajetória artística de Paulo Ricardo. Antes de se tornar - digam o que disserem - uma das figuras-chave do BRock 80, o cantor, compositor e baixista (formado em jornalismo) iniciou sua carreira como crítico musical da extinta revista SomTrês. Logo após, morou um período em Londres e, no retorno, montou o RPM, que lançou um excelente disco de estréia (Revoluções Por Minuto, de 1985), cuja turnê nacional desencadeou uma verdadeira febre e gerou um álbum ao vivo (Rádio Pirata, 1986) que - até os pombos da praça sabem - bateu recordes (dois milhões e meio de cópias vendidas). A ressaca do mega-estrelato provocou a ruptura do grupo - decisão reconsiderada posteriormente com o lançamento de Os Quatro Coiotes, de 1988, disco que trazia alguns momentos interessantes (como a gótica "Sete Mares", "Um Caso De Amor Assim", a ótima "Ponto de Fuga" e o blues "Partners", que recebeu furiosa versão de Cássia Eller em 1994) e o aparente intuito de não repetir o fenômeno.
Após esse trabalho, a banda se dissolveu em definitivo e Paulo iniciou carreira solo, gravando dois álbuns (Paulo Ricardo, 1989; e Psico Trópico, 1990, com produção de Liminha) que obtiveram pouca repercussão. Em 1993, inspirado pelo grunge, recruta novos músicos e edita Paulo Ricardo & RPM, sem êxito. Um período de ostracismo antecedeu o bom Rock Popular Brasileiro (1995), antologia de sucessos do rock nacional - como o próprio título anuncia - que recolocou o cantor na mídia, através da regravação de "A Cruz e A Espada", em dueto com um já fragilizado Renato Russo.
Dois anos depois, lança O Amor Me Escolheu, que abrigava dois hits ("Dois", parceria com o antigo midas Michael Sullivan; e "Tudo Por Nada", versão para "My Heart Can't Tell You No", sucesso de Rod Stewart) e uma boa dose de coragem (poucos abririam um disco com a bela "E Não Vou Mais Deixar Você Tão Só", de Antônio Marcos). Inicia-se aí uma postura de cantor pop romântico: Paulo apresentava-se com uma indumentária absolutamente clean e não tocava contrabaixo em público nesse período.
Amor de Verdade foi lançado em 1999, e misturava três inéditas a releituras (com arranjos seqüenciados) de canções gravadas por Roberto Carlos, mas não compostas pelo Rei, como: "Sonho Lindo" e "Não Há Dinheiro Que Pague", entre outras. A única exceção era "Por Amor".
Em 2000, convida um time de instrumentistas de primeira linha (como o saxofonista Milton Guedes, o baixista Dunga e o guitarrista Kiko, do Roupa Nova) para a gravação do CD que tem como título apenas o seu nome, composto de boas e radiofônicas canções inéditas - tendo, quase em sua totalidade, Michael Sullivan como co-autor (tais como: "Vai", "Turquesas e Corais" e "Por Quê? (Na Dor E No Prazer))", essa última gravada posteriormente pelo já mencionado Roupa Nova). Entretanto, o único sucesso desse álbum foi a versão de "Imagine", de John Lennon, que foi tema de abertura de uma novela global e só entrou, na verdade, como faixa bônus da segunda edição do CD - que incluía também um versão em português (!) desse clássico. Parecia a derrocada do cantor romântico.
Para surpresa geral, a formação original do RPM voltou à ativa em 2002, com uma turnê nacional que gerou uma dobradinha CD + DVD de sucesso, sob a chancela da MTV. Contudo, quando todos imaginavam ouvir o primeiro álbum de inéditas da banda em anos, alegadas diferenças estéticas abortavam, mais uma vez, o prosseguimento do trabalho. O baterista Paulo "PA" Pagni permaneceu ao lado de Paulo Ricardo e, ao lado de outros músicos, foi formado o PR.5, cujo primeiro CD (o experimental Zum Zum) foi definido pelo cantor da seguinte forma:
- Esse é um trabalho diferenciado. Sei que as pessoas irão demorar um tempo para a assimilação dessas novas informações.
Os anos de experiência no show business e o faro de quem começou como crítico acertaram em cheio: o grupo teve um resultado pífio.E eis que Paulo Ricardo volta à carga (solo, novamente) com CD e DVD intitulados Acoustic Live (EMI), no qual ele registra sucessos de George Michael ("Careless Whispers", com a indefectível frase de sax pontuada por um piano) e Chris Isaak ("Wicked Game"), além de clássicos de Bob Dylan ("Like a Rolling Stone"), Wings ("My Love"), Rolling Stones ("Honk Tonk Women"), entre outros.
E ele até se dá bem em "Fire And Rain" (James Taylor). Mas também se dá muito mal em "Isn't She Lovely" - é sempre complicado regravar Stevie Wonder (até Gilberto Gil derrapou em suas releituras de "The Secret Life Of Plants" e "I Just Called To Say I Love You") - , sobretudo por um cantor - verdade seja dita - nem um pouquinho black, como Paulo Ricardo.
Bem, no final das contas.... o repertório é impecável, os arranjos são excelentes e o inglês de PR não merece qualquer repreensão. Está tudo muito bom, está tudo muito bem, mas sinceramente.... pegou muito mal. Com um set list desses, é difícil fazer um disco propriamente ruim. E Acoustic Live até não é um mau CD para se ouvir no carro, por exemplo - mas o grande problema é que essas canções (todas cristalizadas) não precisam de releitura - até porque, no quesito vocal, Paulo Ricardo perde em comparação aos originais.
O DVD traz algumas faixas bônus. como "Jealous Guy", "Quiet Nights Of Quiet Stars" e… "London London" - apenas quatro anos após ter sido registrada no ao vivo da MTV.
Fica a triste impressão de que, após o insucesso do último trabalho, Paulo tenta encarnar uma versão pop e mais jovem de Rod Stewart, que já está no quarto (!) songbook de clássicos americanos. Por coincidência (ou não), ele abre o disco com "Tonight's The Night"... Ou será que é Emmerson Nogueira que começa a fazer escola?
Se a intenção era se distanciar do formato PR.5, seria até melhor (e mais honesto) retomar a persona do cantor romântico, com um repertório autoral e, sobretudo, inédito.
Vejamos qual será a próxima empreitada de Paulo Ricardo.
A seguir, cenas dos próximos capítulos.