sexta-feira, setembro 28, 2012

A influência da ópera na música do Queen




Na ocasião, a colaboração entre Freddie Mercury e a soprano catalã Montserrat Caballé — saiba mais aqui — não foi exatamente uma surpresa para os fãs do Queen. Ao longo de sua discografia, o quarteto inglês flertou várias vezes com elementos de ópera. Vejamos alguns exemplos.



Em seus quase sete minutos (!) de duração, a épica “Innuendo”, faixa-título do último álbum do Queen lançado em vida por Freddie Mercury, em 1991, é pura ambição. Além da letra de rara sensibilidade, o (inusitado) arranjo, tal qual uma peça sinfônica, apresenta vários “movimentos”: rock, música flamenca e um trecho com intrincados vocais com clara influência operística. Devido ao estado de saúde do vocalista, a banda aparece no vídeo através de imagens de outros clipes — em especial, da excelente “Breakthru” —, submetidas a efeitos de computação gráfica





A introdução de “It's a Hard Life”, de The Works [1984], cita a ópera Pagliacci* — mais precisamente, a ária “Vesti La Giubba” —, do italiano Ruggero Leoncavallo. Embora não tenha obtido o mesmo destaque de outras faixas do mesmo álbum, como “Radio Ga Ga” e “I Want To Break Free”, trata-se, sem dúvida, de uma das mais belas canções do Queen — a letra é simplesmente magnífica —, a despeito de toda a afetação de Freddie Mercury no vídeo. Por sinal, a julgar pela indumentária dos integrantes da banda, a ação do clipe se passa no tempo de Luís XV:


* Curiosamente, os Titãs citaram a mesma ópera na faixa “Ridi Pagliaccio”, do CD Domingo, de 1995 (“Ridi Pagliaccio / ridi di che? / Ridi Pagliaccio / Ridi di me”).






Naturalmente, não poderíamos esquecer da clássica “Bohemian Rhapsody” — faixa do álbum sintomaticamente intitulado... A Night At The Opera [1975] —, que permanece impactante até os dias atuais. E que dispensa comentários:


Da série ‘Frases’: Fernando Henrique Cardoso


A gente pensa que vai vir o inevitável e ocorre o inesperado. (...) Ser realista implica também reconhecer que existe o inexplicável. O que surge. O de repente. É preciso saber se adaptar a isso.”



O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso — assumidamente agnóstico — em seu livro A Soma e O Resto, 2011.




quinta-feira, setembro 27, 2012

Da série ‘Frases’: Bono





So where is the hope?
And where is the faith?
And the love?



Nas perguntas contidas nos versos da belíssima “If God Will Send His Angels”, do álbum Pop [1997], Bono detecta três dos mais graves problemas do planeta. Reflitam: boa parte dos demais — a violência, por exemplo — é decorrente da ausência destes fatores. 

A faixa integrou a trilha sonora do filme Cidade dos Anjos [1998], a versão hollywoodiana de Asas do Desejo, do alemão Win Wenders.  



***



Curiosamente, as três palavras citadas pelo vocalista do U2 (“fé”, “esperança” e “amor”) são mencionadas no último versículo do Capítulo 13 da Primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios — sem dúvida, um dos mais fantásticos textos da história da Humanidade. Em 2010, Cid Moreira o declamou — de modo estupendo, diga-se de passagem — no programa Altas Horas. E emocionou a todos. Vale a pena clicar aqui e assistir. 

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘One’, do U2




Voltando ao U2 — mencionado recentemente aqui e aqui: muito provavelmente a melhor e mais pungente canção de toda a trajetória do quarteto irlandês não é outra senão... “One”. 

Faixa do (ótimo) Achtung Baby [1991] [no detalhe, a capa], a letra de “One” retrata, inicialmente, um casal “discutindo a relação”, expondo suas diferenças (“Somos um / mas não somos iguais”) e fragilidades (“Um amor / uma vida / é o que alguém precisa / à noite”), utilizando, eventualmente, frases... contundentes (“Veio aqui para ressuscitar os mortos? / Veio aqui dar uma de Jesus / para os ‘leprosos’ da sua mente?”). Mas sem chegar a um consenso em momento algum.

E, surpreendentemente, se transforma em um libelo pelo Amor Universal (“Uma vida / uns com os outros / irmãs / irmãos”). Resumindo: um hino. Não é fácil imaginar que tipo de inspiração possa ter acometido um ser humano — a ponto de levá-lo a compor uma canção de tamanha intensidade.

Em seu sétimo álbum, The Breakthrough [2005], Mary J. Blige regravou a faixa, na companhia do próprio U2. Se algum de vocês não ouviu a releitura da cantora americana, não é necessário perder tempo. Algumas canções deveriam ser “tombadas” em suas versões originais. É justamente o caso da (definitiva) gravação de “One” cometida pelo U2.




Veja o vídeo de “One”, na versão do cineasta e fotógrafo holandês Anton Corbijn:





E veja também a versão da (não me canso de dizer) indescritível turnê 360º, precedida por um tocante depoimento de Desmond Tutu, Prêmio Nobel da Paz em 1984. Nas entrelinhas, o arcebispo sul-africano destaca a nobilíssima atuação da One Campaign, organização não-governamental — da qual Bono é membro e cofundador — que visa angariar fundos e medicamentos para nações em situação de pobreza extrema:  


quarta-feira, setembro 26, 2012

Da série ‘Frases’: Nasi


Não é algo que desejo nesse momento. Mas, depois que o Maluf deu a mão para o Lula, nada é impossível.”



Lançando a sua autobiografia, A Ira de Nasi, o ex-vocalista do Ira! — em entrevista ao jornal carioca O Dia — fala da possibilidade da volta de sua antiga banda.




segunda-feira, setembro 10, 2012

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘I Still Haven't Found What I'm Looking For’, do U2




Sobre o U2 — mencionado na penúltima postagem: não é segredo para ninguém que Bono, vocalista da banda irlandesa, é um sujeito de fé. Aliás, várias canções do quarteto falam do assunto: “Gloria”, de October [1981], “40” — inspirada no salmo de mesmo número — de War [1983] e a delicada “Grace”, de All That You Can't Leave Behind [2000], entre outras.

Mas nenhuma é tão direta — e tão tocante — quanto “I Still Haven't Found What I'm Looking For”, faixa do clássico The Joshua Tree* [1987] [no detalhe, a capa]. Os versos falam da trajetória humana e suas atribulações — que, não raro, ensejam a busca de... um alento espiritual, digamos assim (“Escalei as montanhas mais altas, / corri através dos campos / só para estar ao Seu lado. / Corri, rastejei, / escalei os muros desta cidade / só para estar ao Seu lado”).

O refrão, entretanto, retrata, com absoluta franqueza, que a “saga” — ou seja, a procura por respostas... nunca tem fim. 



* Curiosidade, The Joshua Tree (“a árvore de Josué”) é uma planta bastante comum no Deserto do Mojave. E recebeu esse nome dada a sua semelhança com uma pessoa com as mãos para o alto, como se estivesse rezando.




No VHS — posteriormente lançado em DVD — Rattle And Hum [1988], The Edge, guitarrista do U2, revelou que, embora muitas pessoas próximas comentassem, ele tinha dúvidas se “I Still Haven't Found What I'm Looking For” era realmente uma canção gospel. E só ficou convencido disso quando recebeu de sua gravadora, a Island Records, uma fita com uma versão de “I Still Haven't Found...” cantada pelo The New Voices Of The Freedom Choir. A gravação fez com que o U2 procurasse o coral para que gravassem a canção juntos. Um dos ensaios, realizados em uma igreja do Harlem, ficou registrado no DVD. E pode ser visto/ouvido no vídeo abaixo:





Já a (igualmente emocionante) versão definitiva do U2 com o New Voices foi gravada ao vivo, no Madison Square Garden. Mas aparece apenas na versão CD de Rattle And Hum:





Veja também a versão que integrou o roteiro da monumental 360º, a mais lucrativa turnê da história da música pop. No final, para uma plateia embevecida, Bono canta alguns versos de uma antiga canção imortalizada na versão de John Lennon. Não, não vou estragar a surpresa


sábado, setembro 08, 2012

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘How Can I Go On?’, com Freddie Mercury e Montserrat Caballé




Impossível falarmos sobre crossovers do pop com a música erudita e esquecermos “How Can I Go On?”, magnífico dueto de Freddie Mercury com Montserrat Caballé [no detalhe].

Em 1987, quando Barcelona foi eleita a sede dos Jogos Olímpicos de 1992, Mercury foi convidado a compor a canção-tema do evento, que seria gravada com a participação de Caballé — que é natural daquela cidade. Admirador confesso de Caballé, o líder do Queen sugeriu que ambos gravassem não apenas uma faixa, mas um disco inteiro.

Assim surgiu o álbum em questão, sintomaticamente batizado de Barcelona, lançado em 1988.

Tão logo recebeu o convite da Organização dos Jogos, Freddie compôs várias canções, gravou as respectivas demo tapes e as enviou para a cantora — com o cuidado de cantar em falsete os trechos que seriam destinados a ela. Oito faixas foram escolhidas para integrar o trabalho. E, pela dificuldade em conciliar as agendas dos dois artistas, suas partes foram gravadas em locais e datas diferentes.

Já infectado pelo vírus HIV, Mercury despejou na letra de “How Can I Go On?” toda a sua melancolia e desamparo diante do futuro. E, além da melodia de rara beleza, a canção tem um trunfo: um dos mais fantásticos vocalistas do pop em todos os tempos, Freddie colocou toda a sua alma em “How Can I Go On?”, em uma interpretação simplesmente arrasadora.

E, com todo o respeito, colocou a soprano catalã no bolso...

Freddie Mercury, que faleceu em dezembro de 1991, aos 45 anos, não realizou o tão sonhado dueto com Montserrat Caballé na abertura das Olímpiadas de Barcelona, sendo representado, na cerimônia, pela sua imagem no telão — no que poderíamos chamar de “dueto virtual”. 



sexta-feira, setembro 07, 2012

Cinco anos sem Luciano Pavarotti




O mais famoso dos chamados Três Tenores — os demais são Plácido Domingo e José Carrera, Luciano Pavarotti [no detalhe] eternizou-se por ter popularizado mundialmente a ópera.

Cinco anos após o seu desaparecimento — vítima de câncer no pâncreas, aos 71 anos, em Módena, sua cidade natal , relembremos Pavarotti com quatro colaborações suas com astros do pop mundial.




Em abril de 1998, Pavarotti e Roberto Carlos cantaram juntos “Ave Maria”, de Schubert, uma das mais tocantes melodias que existem. Ao lado do tenor, o Rei, com sua humildade habitual, comentou: “É um privilégio e um atrevimento, mas logicamente uma concessão maravilhosa de Luciano Pavarotti... me deixar cantar uma canção com ele”. Detalhe: próximo do final da canção, o italiano estende a mão para tocar a de RC:





Com Elton John, Pavarotti gravou a belíssima “Live Like Horses”. Reza a lenda que, ao olhar as duas rotundas figuras nas capas do single, Elton, com sua língua ferina, não perdeu a oportunidade de fazer piada, se utilizando do título da canção: “‘Vivem como cavalos’? Comem como cavalos!





“Panis Angelicus” é um cântico católico antiquíssimo, em latim (!), que Luciano Pavarotti regravou, em 1992, em dueto com... Sting. A resenha publicada, à época, no Jornal do Brasil criticou duramente o ex-Police, pela sua “inaptidão para o canto lírico”. Bobagem. Sting é um cantor popular. E a sua coragem, por si só, justifica a empreitada:





E, last but not leastPavarotti registrou, na companhia dos Passengers — leia-se: o projeto Original Soundtracks, de 1995, realizado pelo U2 em parceria com o produtor Brian Eno —, “Miss Sarajevo”. Quatro anos depois, a canção recebeu uma versão de George Michael: