08 de dezembro de 1980: embora eu fosse uma criança em fase pré-escolar, lembro com nitidez do dia em que John Lennon morreu. Incrível como certos eventos nos marcam para sempre.
Sempre tive restrições à pessoa de Lennon – embora a última entrevista tenha mostrado um indivíduo bastante sereno; é provável que o nascimento do segundo filho tenha feito bem a ele. Mas o compositor é inconteste.
Sting nunca escondeu que o fator surpresa sempre foi o principal motor de seu trabalho. Em 2007, depois de gravar o CD de alaúde mais vendido da história (o medieval Songs From The Labyrinth), deixou o mundo estupefato ao reativar o Police para uma bem-sucedida turnê mundial – algo que passou duas décadas repetindo que “jamais” faria. Terminada a excursão, passou a ostentar uma barba típica de um profeta e debruçou-se nas canções invernais do melancólico If On A Winter's Night [2009]. Em outra reviravolta, decidiu reler faixas de sua carreira solo e de seu antigo grupo acompanhado por uma grande orquestra em Symphonicities [2010]. E, por fim, compôs a trilha do seu primeiro musical exibido na Broadway, The Last Ship [2013]. Portanto, o que surpreenderia o seu público? Um retorno ao formato básico de baixo-bateria-guitarra, sem dúvida. Bingo: essa é justamente a proposta do inglês no recém-lançado 57th & 9th – esquina nova-iorquina que ele atravessava diariamente no caminho para o estúdio de gravação. Detalhe: o seu último disco “de carreira”, o bom Sacred Love, foi lançado em 2003 (!).
É bem verdade que a irresistível “I Can't Stop Thinking About You”, que abre os trabalhos, e a pesada “Petrol Head” não soariam deslocadas no repertório do Police. Aliás, perguntado se o disco novo teria o som característico do trio, Sting respondeu à moda Newcastle (região do norte da Inglaterra onde nasceu, na qual as pessoas são reconhecidamente… rudes): “I am the fucking Police”. Contudo, é mais apropriado definir 57th & 9th como um álbum de pop rock – como a agradável “One Fine Day”, que clama para que, “um dia desses”, líderes mundiais se mobilizem acerca do aquecimento global.
Um dos pontos altos é a amarga “50,000”, que mostra o impacto que as mortes de David Bowie, Prince, Glenn Frey e do amigo Alan Rickman (o “Snape” da série Harry Potter) exerceram sobre Sting, que completou 65 anos no mês passado. “Outro obituário no jornal de hoje”, lamenta. Em um determinado trecho, ele parece se dirigir aos seus ex-colegas de banda: “Como lembro bem dos estádios em que tocamos / e as luzes que varriam o mar de 50.000 almas que enfrentaríamos”. E, ciente da “imortalidade” que os seus companheiros de profissão costumam atingir, conclui: “Astros do rock nunca morrem / apenas desvanecem”.
Por outro lado, o Sting reflexivo dos últimos 30 anos se faz presente nas acústicas “Heading South On The Great North Road”, balada com ares celtas que poderia tranquilamente estar em The Last Ship, e “The Empty Chair”, que encerra os trabalhos com um pedido: não ser esquecido depois de partir (“Guarde o meu lugar e a cadeira vazia / e, de alguma forma, estarei lá”).
Bom letrista, ele se mostra afiado na arabesca “Inshallah”, que aborda a questão dos refugiados. O título é uma expressão bastante utilizada no mundo islâmico, que, em uma tradução livre, equivale ao nosso “se Deus quiser”. Na edição Deluxe do álbum, há uma outra versão dessa faixa, gravada em Berlim na companhia de músicos egressos da Síria. No entanto, a melhor letra provavelmente é a tocante “If You Can't Love Me” (“Não quero nada pela metade (…) / se você não consegue me amar assim / então você tem que me deixar”).
Embora um tanto incompreendido – e subestimado – desde o início de sua trajetória solo, Sting já foi indicado 38 vezes para o Grammy, tendo vencido em 16 ocasiões. Está indiscutivelmente inserido no panteão dos grandes compositores pop do século passado, onde já se encontram Lennon & McCartney, Jagger & Richards, Elton John & Bernie Taupin, o supracitado David Bowie e Bob Dylan, entre outros. E, em 57th & 9th, a mensagem é clara: a canção popular ainda é assunto dele, sim.
Durante
as gravações do álbum Young Americans— um
mergulho no universo da soul music —, em 1975, no estúdio Record
Plant (Nova York), David Bowie e banda trabalhavam em um cover de
“Foot Stoppin'”, faixa de 1961 do grupo Flares. E o guitarrista
Carlos Alomar criou um riff que, na opinião do cantor, seria um
“desperdício” se fosse utilizado em uma canção alheia.
Dias
depois, John Lennon apareceu no estúdio, como fazia habitualmente, e
Bowie mostrou a ele o riff de Alomar. Lennon rapidamente aprendeu a
sequência e ficou tocando em um canto, grunhindo algo como “aim,
aim”. Até que, do nada, o ex-beatle murmurou a palavra mágica:
“Fame”.
Quando
ouviu, Bowie deu um pulo: “É isso! ‘Fame’! O John acaba de nos
ajudar a compor a canção!”
Lennon
continuou tocando a guitarra rítmica e, em cerca de vinte minutos, a
banda finalizou a base da faixa. Naquela mesma noite, em casa, Bowie
escreveu a letra, se orientando pelo conceito de “fama”.
No
dia seguinte, John retornou ao estúdio. E aprovou o resultado final
de sua “parceria” com Bowie e Carlos Alomar:
Antes de qualquer coisa, preciso dizer que não dei a mínima para a apresentação do Queen com Adam Lambert no Rock In Rio. Após a banda ter tentado substituir Freddie Mercury com Paul Rodgers — um baita cantor cujo estilo, porém, não se adequava ao grupo —, imaginei que o novo vocalista seria mais um "tiro na água".
Contudo, os comentários positivos de quem conferiu o show — alguns, por sinal, bastante entusiasmados — acabaram me deixando curioso...
Uma semana depois, assisti à performance da Brian May, Roger Taylor e companhia. E tenho que reconhecer que fiquei simplesmente... extasiado com o que vi e ouvi. Já não me lembrava o quanto gostava desses caras. May e Taylor continuam impecáveis em seus respectivos instrumentos, desfiando um repertório irretocável. Mas a grande surpresa da noite foi... Adam Lambert.
A responsabilidade sobre os ombros do americano de 33 anos era enorme: suceder ninguém menos do que um dos melhores vocalistas de rock de todos os tempos — à altura de outra realeza: Elvis Presley —, no mesmo palco onde, há exatas três décadas, o Queen fez história.
Nada disso, entretanto, pareceu intimidar Lambert. Além de possuir um material vocal excepcional, o intérprete mostrou muita personalidade e, com inteligência, fugiu da imitação de Freddie. Com uma atuação extravagante — e assumidamente gay —, conseguiu o que provavelmente ninguém poderia prever: fazer com que a Cidade do Rock gritasse o seu nome a plenos pulmões.
Durante duas horas, a banda passeou por praticamente todo o seu catálogo, executando com maestria hits dos anos 1970 — como "Don't Stop Me Now", "We Will Rock You" e "Somebody To Love" — e dos anos 1980 — como "Radio Ga Ga", "A Kind Of Magic" (com o autor da faixa, Roger Taylor, nos vocais) e "I Want To Break Free" —, sem esquecer canções dos anos finais de Mercury, como "I Want It All" e "The Show Must Go On". Em "Love Of My Life", a imagem de Freddie apareceu no telão, relembrando o momento mágico de 1985.
O grand finale, porém, não poderia ser outro: a arrasadora "Bohemian Rhapsody", que também contou com a imagem do vocalista no telão, emocionando a todos.
Há quem diga que "ninguém é insubstituível". Tenho minhas dúvidas. Os Beatles jamais poderiam prosseguir sem John Lennon ou Paul McCartney. Assim como seria um absurdo se a Legião Urbana entrasse em estúdio sem Renato Russo. Da mesma forma, se o Queen decidisse gravar um álbum de inéditas — o que considero improvável — iria macular a sua vitoriosa trajetória.
Por outro lado, não vejo como oportunismo o fato de Adam Lambert excursionar à frente do grupo. Pelo contrário: o jovem presta uma digna e respeitosa homenagem à memória de Freddie Mercury. Tanto os fãs de primeira hora quanto as novas gerações merecem continuar ouvindo ao vivo as imorredouras canções de uma das maiores bandas de sempre.
Veja o vídeo de "Radio Ga Ga", gravado no Rock In Rio:
Sobre o U2 — mencionado na penúltima postagem: não é segredo para ninguém que Bono, vocalista da banda irlandesa, é um sujeito de fé. Aliás, várias canções do quarteto falam do assunto: “Gloria”, de October [1981], “40” — inspirada no salmo de mesmo número — de War [1983] e a delicada “Grace”, de All That You Can't Leave Behind [2000], entre outras.
Mas nenhuma é tão direta — e tão tocante — quanto “I Still Haven't Found What I'm Looking For”, faixa do clássico The Joshua Tree* [1987] [no detalhe, a capa]. Os versos falam da trajetória humana e suas atribulações — que, não raro, ensejam a busca de... um alento espiritual, digamos assim (“Escalei as montanhas mais altas, / corri através dos campos / só para estar ao Seu lado. / Corri, rastejei, / escalei os muros desta cidade / só para estar ao Seu lado”).
O refrão, entretanto, retrata, com absoluta franqueza, que a “saga” — ou seja, a procura por respostas... nunca tem fim.
* Curiosidade, The Joshua Tree (“a árvore de Josué”) é uma planta bastante comum no Deserto do Mojave. E recebeu esse nome dada a sua semelhança com uma pessoa com as mãos para o alto, como se estivesse rezando.
No VHS — posteriormente lançado em DVD — Rattle And Hum [1988], The Edge, guitarrista do U2, revelou que, embora muitas pessoas próximas comentassem, ele tinha dúvidas se “I Still Haven't Found What I'm Looking For” era realmente uma canção gospel. E só ficou convencido disso quando recebeu de sua gravadora, a Island Records, uma fita com uma versão de “I Still Haven't Found...” cantada pelo The New Voices Of The Freedom Choir. A gravação fez com que o U2 procurasse o coral para que gravassem a canção juntos. Um dos ensaios, realizados em uma igreja do Harlem, ficou registrado no DVD. E pode ser visto/ouvido no vídeo abaixo:
Já a (igualmente emocionante) versão definitiva do U2 com o New Voices foi gravada ao vivo, no Madison Square Garden. Mas aparece apenas na versão CD de Rattle And Hum:
Veja também a versão que integrou o roteiro da monumental 360º, a mais lucrativa turnê da história da música pop. No final, para uma plateia embevecida, Bono canta alguns versos de uma antiga canção imortalizada na versão de John Lennon. Não, não vou estragar a surpresa:
Há um detalhe raramente observado — e, consequentemente, pouco comentado — na belíssima “Woman”, na qual John Lennon homenageou sua esposa, Yoko Ono — e, por tabela, as demais mulheres do planeta.
Na introdução da faixa — mais precisamente em 0:03 do vídeo abaixo —, o ex-beatle sussurra a “dedicatória”: “For the other half of the sky” (“Para a outra metade do céu...”). Esta frase nada mais é do que um antigo provérbio chinês, utilizado certa vez pelo ditador Mao-Tse-tung. E traduz o quão... hum, celestial Lennon considerava Yoko e suas congêneres.
Em sua última entrevista, concedida à *Rolling Stone americana em 05 de dezembro de 1980 — três dias antes de seu assassinato — e publicada na edição de janeiro da revista, Lennon classificou “Woman” como a “versão adulta” de “Girl”, pérola de Rubber Soul, que os Fab Four editaram em 1965. A canção foi lançada no (bom) álbum Double Fantasy [1980], seu derradeiro trabalho.
* Na famosa — e ousada — foto de Annie Leibovitz que ilustrou a capa da Rolling Stone de janeiro de 1981 [no detalhe], Lennon aparece nu, em posição fetal, simbolizando a sua “fragilidade” diante de Yoko Ono, a quem chamava de... “mãe” (!). O conceito da foto foi idealizado pelo músico. Sincera, a fotógrafa tentou argumentar que “as pessoas não querem ver Yoko na capa”. John, contudo, fez prevalecer a sua decisão.
Veja o vídeo de “Woman”. Na letra de rara sensibilidade, Lennon não se constrange em reconhecer a “criancinha” que “existe dentro do homem”:
“As mulheres realmente são ‘a outra metade do céu’, como eu sussurro no início da música. Para elas, é ‘nós’ ou... nada.”
(John Lennon, dezembro de 1980. No detalhe, a capa de Double Fantasy [1980], último álbum do ex-beatle — no qual está contida “Woman”, canção citada pelo músico na declaração acima)
Ontem, 09 de outubro de 2011, John Lennon, se vivo fosse, teria completado 71 anos de idade. Curiosamente, Paul McCartney escolheu precisamente esta data para realizar o seu terceiro casamento — com a empresária americana Nancy Shevell.
Se era controverso como pessoa, Lennon, como artista, merece ser sempre lembrado. E não apenas da maneira mais óbvia, através de clássicos incontestáveis como “Imagine”, “Jealous Guy” e tantos outros.
***
Em 1980, durante o período de férias nas Bahamas, na companhia de seu filho Sean — onde nasceram as primeiras canções de Double Fantasy, seu último trabalho —, Lennon parecia ter recuperado a alegria. Ia à praia todos os dias e, influenciado pelas audições diárias de Burnin' [1973], sexto álbum dos Wailers, teve a ideia de gravar um álbum de “reggae e sons caribenhos”, segundo confidenciou, na época, a pessoas próximas.
O projeto acabou não seguindo adiante, devido à (sempre nefasta) interferência de Yoko Ono, que “sugeriu” que metade (!) do disco abrigasse composições dela — transformando o trabalho em uma espécie de “terapia de casal”.
Lennon, entretanto, chegou a gravar uma faixa inspirado pelo sol do Caribe. “Borrowed Time”, maravilhosa ode à maturidade, era uma “releitura pessoal” que Lennon fez de “Hallelujah Times”, do já mencionado Burnin'. Na letra, repleta de lucidez — e uma certa... hum, “clarividência”, digamos —, John concluiu que vivia em um “tempo emprestado”.
A mais pura verdade.
“Borrowed Time”, contudo, acabou ficando de fora da seleção final de Double Fantasy, sendo lançada apenas no primeiro álbum póstumo do ex-Beatle, Milk And Honey, de 1984.
“Violet Hill” foi o primeiro single[no detalhe, a capa] de Viva la Vida or Death And All His Friends . É considerada a primeira canção antibélica do Coldplay — embora o sentido da letra seja mais amplo do que apenas protestar contra a guerra...
Detalhe: no final do clipe, ao se jogar de costas sobre a neve, Chris Martin homenageia a famosa cena do filme Help!, dos Beatles, em que Paul, John, George e Ringo fazem a mesma coisa. E, de fato, “Violet Hill” soa bem Fab Four...
Lançada originalmente em um single no ano de 1971, a comovente “Happy Xmas”, de John Lennon [no detalhe, com sua... er, fiel escudeira, Yoko Ono] foi composta, a princípio, como um protesto contra Guerra do Vietnã. Não por acaso, o subtítulo da canção é “War Is Over” (“A Guerra Acabou”).
E mesmo o fim do conflito não fez com a que a faixa perdesse a relevância. Muito pelo contrário: é considerada uma das mais belas canções canções natalinas – senão a mais bela – que o pop já gerou. Um verdadeiro libelo pela igualdade entre os homens.
Ainda que, se vocês observarem bem, não fale em Deus em momento algum...
Vale destacar também a participação das crianças do Harlem Community Choir, que fizeram toda a diferença na canção – embora a letra, a despeito de sua simplicidade, seja brilhante.
Que o espírito do Natal esteja no coração de cada um de vocês.
“Happy Xmas (War Is Over)” John Lennon
(Happy Xmas, Kyoko Happy Xmas, Julian)
So this is Christmas And what have you done? Another year over And a new one just begun.
And so this is Christmas I hope you'll have fun. The near and the dear one The old and the young.
A very Merry Christmas And a happy New Year. Let's hope it's a good one Without any fear.
And, so this is Christmas For weak and for strong For rich and the poor ones The world is so wrong. And so happy Christmas For black and for white For yellow and red ones Let's stop all the fight.
A very Merry Christmas And a happy New Year. Let's hope it's a good one Without any fear.
And so this is Christmas And what have we done? Another year over A new one just begun. And, so happy Christmas We hope you have fun The near and the dear one The old and the young.
A very Merry Christmas And a happy New Year Let's hope it's a good one Without any fear.
War is over, if you want it War is over, now.
Happy Christmas.
“Feliz Natal (A Guerra Acabou)” (Tradução: Tom Neto)
(Feliz Natal, Kyoko Feliz Natal, Julian)
Então, é Natal E o que você fez? Outro ano se vai, E um novo começa.
E então é Natal Eu espero que você se divirta. As pessoas próximas e queridas, Os idosos e os jovens.
Um Natal muito feliz, E um feliz Ano Novo. Esperemos que seja um bom ano Sem nenhum temor.
E então é Natal Para os fracos e para os fortes Para os ricos e para os pobres O mundo está tão errado. E então, Feliz Natal Para negros e brancos Para asiáticos e indígenas Vamos parar todos os conflitos.
Um Natal muito feliz E um feliz Ano Novo Esperemos que seja um bom ano Sem nenhum temor.
E então é Natal E o que nós fizemos? Outro ano se vai E um novo começa. E então Feliz Natal Nós esperamos que você se divirta As pessoas próximas e queridas Os idosos e os jovens
Um Natal muito feliz E um feliz Ano Novo Esperemos que seja um bom ano Sem nenhum temor.
A guerra acabou Se você quiser. A guerra acabou, Agora.
Exatos 30 anos após o precoce desaparecimento de John Lennon [no detalhe], aos 40 anos de idade, todos os pormenores da vida do ex-Beatle já foram amplamente destrinchados. Sua infância sofrida. Seu temperamento difícil. Sua (nada discreta) relação com a esposa, Yoko Ono. Seu ativismo político. Seu brutal assassinato. E, principalmente, seu inestimável legado artístico.
Sendo assim, só nos resta, mais uma vez... homenagear a sua memória.
“Quem souber dizer a exata explicação, me diz como pode acontecer? Um simples canalha mata um rei... Em menos de um segundo...”
(“Canção do Novo Mundo”, Beto Guedes e Ronaldo Bastos)
‘Nobody Told Me’, do álbum póstumo Milk and Honey, de 1984.
‘Instant Karma!’, seu terceiro single solo, editado em 1970. Foi composta e gravada no mesmo dia. E chegou às lojas apenas dez dias (!) depois...
‘Look at Me’, de primeiro álbum lançado por John após o fim dos Beatles, Plastic Ono Band, de 1970.
‘Jealous Guy’, de seu segundo álbum pós-Fab Four, Imagine, de 1971.
‘Oh My Love’, também de Imagine. Como podem perceber, a faixa tem a participação de George Harrison, na guitarra.
A faixa citada no post acima é a tocante “Canção do Novo Mundo”, letra de Ronaldo Bastos, musicada por Beto Guedes [no detalhe], e gravada por este.
Originalmente lançada no álbum Contos de Lua Vaga, de 1981 – e também registrada por Milton Nascimento em seu Ao Vivo, de 1983 –, “Canção do Novo Mundo” claramente homenageia John Lennon. E lamenta o seu falecimento: “Oh, minha estrela amiga / por que você não fez a bala parar?”
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Só para constar: Beto Guedes é um dos artistas brasileiros que mais respeito e admiro. Suas canções, na minha modéstia opinião, são a mais nítida “fotografia sonora” das Minas Gerais que tanto amo – mesmo sendo carioca de pai e mãe.
A infalível “If You Love Somebody Set Them Free” foi o primeiro single e o primeiro sucesso solo de Sting. É também a faixa de abertura de The Dream Of The Blue Turtles (1985), álbum de estreia do baixista, após a ruptura do Police. Não, não foi regravada em Symphonicities – provavelmente, pelo fato de que soaria adequada dentro de um arranjo sinfônico. Mas é, sem dúvida, uma das mais interessantes canções do músico inglês.
O título foi extraído de um aforismo do escritor americano Richard Bach. Na ocasião, Sting explicou que a faixa era uma espécie de “antídoto” à “opressão” narrada nos versos do último – e maior – sucesso do Police, “Every Breathe You Take”.
No final das contas, a letra da canção reitera a frase comumente atribuída a John Lennon: “Amo a liberdade. Por isso, deixo livres as coisas que amo”, etc.
Na teoria, parece muito fácil. Na prática, convenhamos: nem tanto. Todavia, é a maneira mais sensata e... digamos, saudável de raciocinar.
“(...) Prova disso é que, atualmente, Liam consegue compor uma balada matadora como ‘I'm Outta Time’. Segunda faixa de trabalho, essa soa bem John Lennon – não por acaso, traz um sampler de uma declaração do próprio. (...)”
(“Oasis: Grata Surpresa”, International Magazine nº 147, dezembro de 2008)
No tal sampler, Lennon [no detalhe] diz: “As Churchill said, It’s every Englishman’s inalienable right to live where the hell he likes. What’s England going to do, vanish? It’s not going to be there when I get back?” [“Como Churchill disse: ‘cada inglês tem o direito inalienável de morar na porcaria que quiser’. O que a Inglaterra vai fazer? Sumir? Não vai estar lá quando eu voltar?”].
O autor de “Jealous Guy” provavelmente se referia à sua opção de viver nos EUA.
Provavelmente o maior sucesso comercial do grupo, a bela “Every Breath You Take”, faixa de Synchronicity [1983], quinto e último álbum de estúdio do Police, foi composta por Sting em cinco minutos. A inspiração foi “Stand By Me”, famosa na voz de John Lennon, e “Diana”, grande sucesso de Paul Anka. Em entrevista recente, o baixista contou que estava na Jamaica, na casa que pertenceu a Ian Fleming [foto] — e que foi comprada em 1976 por Chris Blackwell, presidente da gravadora Island. Em 2010, Blackwell transformou o local no atual hotel GoldenEye: — Escrevi a letra na mesma mesa em que Fleming escreveu vários romances de James Bond.
Os versos, por sinal, têm um significado ambíguo: o que parece ser uma canção romântica é, na verdade, o relato de um sujeito obsessivo (“A cada passo seu / estarei lhe observando”), que não se conforma de ter sido abandonado pelo seu objeto de desejo: “Oh, será que você não consegue ver / que pertence a mim?”.
Até os dias de hoje, muitos casais ao redor do mundo interpretam “Every Breath You Take” como uma declaração de amor. Com sua franqueza cortante, Sting certa vez comentou: — Se o relacionamento deles é assim, azar o deles! Veja o vídeo oficial:
"É bem básico enquanto você cresce na classe operária, como eu cresci, odiar e temer a polícia como um inimigo natural e desprezar o Exército como algo que leva as pessoas embora para morrer em algum lugar".
JOHN LENNON fez essa declaração em 1971, ao jornal inglês Red Mole (traduzindo: "Toupeira Comunista" - um primor de um nome, não?). Essa entrevista - considerada a mais politizada do ex-beatle em toda a sua carreira - jamais havia sido publicada no Brasil até então e foi a matéria de capa da revista Bizz de setembro de ano passado (por ocasião do lançamento do filme-documentário The US vs. John Lennon, que retrata a verdadeira "guerra" que o músico inglês travou contra o governo norte-amerciano da época, em função de seus posicionamentos políticos - contra a guerra o Vietnã, por exemplo - que desagradavam à Casa Branca.
Bem, o artista até pode decidir ser apolítico - é um direito que o assiste. Contudo, se optar por despertar essa consciência em seu público (mas atenção: NUNCA de maneira partidária - porque ele também pode, por equívoco ou má-fé, induzir as pessoas ao erro), sua visibilidade terá sido utilizada de modo bem mais útil e responsável do que apenas entreter... e ganhar dinheiro.
E, verdade seja dito, conscientizar foi o que Lennon fez durante a maior parte de sua vida pública. Ainda que ele também tenha enchido os bolsos cantando "imagine no possessions" e... construído várias mansões nos EUA. Mas isso é uma outra história.
Caso você queira acessar a entrevista no original em inglês, é só clicar aqui.
Quase 37 anos após o encerramento de suas atividades, os BEATLES continuam atraindo (e é bom que se diga: MERECIDAMENTE) a atenção do planeta diante de uma simples... menção ao nome da banda. Há menos de três meses atrás, foi editado Love, que serviu como trilha sonora para a última turnê mundial do Cirque du Soleil - apresentando brilhantes colagens musicais, feitas por SIR GEORGE MARTIN e seu filho, Giles. E eis que temos agora mais novidades relacionadas aos Fab Four.
Segundo o Daily Express, PAUL McCARTNEY planeja terminar a inacabada demo de "Now and Then", que traz os vocais de JOHN LENNON. Uma fonte declarou ao jornal britânico que Paul sempre ficou "incomodado" pelo fato de essa canção jamais ter sido finalizada, por enxergar nela "um grande potencial". "Agora ele espera terminá-la, gravando os backing vocals, mantendo John na voz principal. Seria emocionante ouvir os dois cantando juntos mais uma vez". Na verdade, McCartney gostaria de ter trabalhado na canção desde o lançamento da série Anthology - assim como foi feito com outras duas fitas de Lennon, entregues por Yoko ono para os três beatles sobreviventes: "Free as a Bird" (que foi lançada, com grande estardalhaço, no volume 1) e "Real Love" (que integrava o volume 2). Entretanto, GEORGE HARRISON (falecido em novembro de 2001), vetou a idéia por não considerar a canção "boa o suficiente" para justificar a empreitada. E essa foi a razão pela qual o terceiro volume de Anthology não apresentou nenhuma inédita.
A intenção de Paul McCartney é lançar "Now and Then" como um single. Contudo - a exemplo das supracitadas "Free as a Bird" e "Real Love" -, essa não será a primeira vez que a canção verá a luz do dia: as três aparecem no bootleg (de grande valor histórico) Free as a Bird - The Dakota Beatle Demos [1996], que reunia (como o próprio título anuncia) canções inéditas de Lennon, supostamente gravadas em seu apartamento no Edifício Dakota, em Nova York.