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terça-feira, outubro 11, 2016

20 anos sem Renato Russo


Há exatos 20 anos, no dia 11 de outubro de 1996, morria Renato Russo. Lembro exatamente onde eu estava e como recebi a notícia – através de um telefonema. “Tom, sabe quem morreu?” Pensei por alguns segundos e respondi com outra pergunta, com receio do que iria ouvir: “Renato Russo?” Após uma breve pausa, veio a lacônica confirmação: “Sim”. Recordo-me de ficar paralisado com o telefone colado ao ouvido, sem conseguir pronunciar uma única palavra. Seis anos após o falecimento de Cazuza, novamente tive a triste sensação de que, naquele momento, uma parte importante da minha adolescência havia ido embora com ele. Para sempre.

Cerca de duas semanas antes, eu havia comprado aquele que veio a ser o último álbum da Legião Urbana lançado em vida por Renato, A Tempestade Ou O Livro Dos Dias. Já na primeira audição, observei a melancolia de letras como “A Via Láctea” (“Hoje a tristeza não é passageira / hoje fiquei com febre a tarde inteira”), “Música Ambiente” (“E, quando eu for embora, / não, não chore por mim”) e “O Livro dos Dias” (“Meu coração não quer deixar meu corpo descansar”). A voz fragilizada e a opção por colocar fotos de arquivo no encarte do CD eram claros indícios de que algo não ia nada bem com ele. Mas, no fundo, eu não queria acreditar.

É difícil descrever a importância que a obra de Renato Russo teve nos meus chamados anos de formação. A exemplo do que ocorrera com milhares de pessoas da minha faixa etária, ele simplesmente dizia tudo o que eu precisava ouvir naquele momento. Foi contundente ao criticar as mazelas do país (“Perfeição” e “Que País É Esse?”), ao falar do conflito de gerações (“Geração Coca-Cola”), abordou questões existenciais (“Índios” e “Tempo Perdido”) e, acreditem, conseguiu fazer o Brasil inteiro decorar uma letra de dez minutos de duração (afinal, todo mundo sabia cantar “Faroeste Caboclo” de cor). Mas também soube ser bem-humorado (“Eduardo e Mônica”) e falar de amor em todas as suas vertentes (“Monte Castelo” e “Pais e Filhos”).

Nos últimos 20 anos, não surgiu um artista brasileiro que se equiparasse com o líder da Legião Urbana. Com todo o respeito: nenhum chegou sequer perto disso. Pela qualidade de sua poesia e pela forma como conduziu a sua carreira – ignorando as fórmulas de marketing da indústria musical –, ouso dizer que jamais haverá alguém como ele. Renato Russo foi, é e sempre será... único. 


quarta-feira, junho 10, 2015

Os 30 anos de ‘Exagerado’, de Cazuza



Para celebrar os 30 anos de lançamento de “Exagerado”, uma das mais emblemáticas faixas da carreira de Cazuza, grandes nomes do pop nacional reuniram-se, sob a batuta do experiente produtor Liminha, para regravar a canção, em uma realização da Musickeria Corp.

Preservando o registro de voz do cantor, “Exagerado 3.0” contou com as participações de Dado Villa-Lobos (guitarras, Legião Urbana), João Barone (bateria, Paralamas do Sucesso) e Kassim (programações eletrônicas), além do próprio Liminha (baixo). E, embora a ficha técnica estelar não tenha superado a (imbatível) gravação original, o resultado ficou bastante satisfatório. Ademais, a causa é (para lá de) nobre.

Parte dos direitos da venda do single — disponível somente no formato digital — será destinada à Sociedade Viva Cazuza, entidade criada há 25 anos por sua mãe, Lucinha Araújo, com o intuito de dar apoio a crianças infectadas com o vírus HIV, que vitimou o artista em 1990.



Ouça ‘Exagerado 3.0’:

sábado, outubro 27, 2012

‘Sorte e Azar’: a ‘nova’ música do Barão Vermelho




Comemorando 30 anos de carreira fonográfica, o Barão Vermelho decidiu colocar o pé na estrada. Na turnê, batizada de + 1 Dose — citando o verso inicial de “Por Que A Gente É Assim?”, faixa do terceiro álbum do grupo, Maior Abandonado [1984] —, a banda passará pelas principais capitais brasileiras até março de 2013.

O Barão aproveitou a efeméride para remasterizar o seu disco de estreia, Barão Vermelho [no detalhe, a capa], que será reeditado em novembro, em CD e vinil, acrescido da demo de “Nós” — que, embora tenha sido lançada somente no supracitado Maior Abandonado, foi o primeiro fruto da parceria Frejat/Cazuza — e do segundo take de “Por Aí”. No formato digital, também estará disponível a versão em espanhol (!) de “Down em Mim”. 

Durante o processo de digitalização do álbum, o Barão teve a — desculpem: foi inevitável — sorte de encontrar uma fita K7, com a voz de Cazuza, de uma canção chamada... “Sorte e Azar”. A faixa foi excluída da seleção final do primeiro trabalho do quinteto pelo finado produtor Ezequiel Neves, que se sentia desconfortável com a palavra “azar”. Na década de 1990, em entrevista à extinta revista Bizz, Frejat revelou, aos risos:

— O Ezequiel chegou a sugerir que trocássemos o título para “Sorte ou Não”.

Com esse trunfo nas mãos, o Barão entrou em estúdio e “vestiu” o canal de voz do autor de “Codinome Beija-flor” com um belo arranjo, com direito a violões, guitarras bluesy, cordas e tudo o mais. O resultado não poderia ter sido melhor. 

Na interpretação visceral e nos versos de tons nada “pastéis”, “Sorte e Azar” corrobora o que Lobão afirmou há alguns anos: Cazuza, morto, está mais vivo do que muita gente.




Veja o vídeo (com letra) de “Sorte e Azar”. Uma dica: ouça em alto e bom som, para captar bem a voz do artista. No atual cenário da música brasileira — onde tudo oscila entre o “plastificado” e a indigência total —, simplesmente não existe mais quem cante com a intensidade e a verdade de Cazuza:






Veja também o bonito vídeo que mistura imagens de arquivo de Cazuza a cenas atuais dos integrantes do Barão Vermelho no estúdio:


Cazuza: índice remissivo





Relembrando algumas postagens anteriores — mas sempre atuais — sobre o Exagerado:









Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Codinome Beija-flor’, de Cazuza



“...o canal de voz do autor de ‘Codinome Beija-flor’...”




No dia 31 de julho de 1985, uma semana após a sua (turbulenta) saída do Barão Vermelho, Cazuza foi internado no Rio de Janeiro, apresentando febre de 42 graus. Na ocasião, pediu para realizar um teste de HIV, mas os imprecisos exames daquela época deram negativo. 

Durante o período que passou no hospital, o cantor recebia a “visita” de alguns beija-flores na janela do seu quarto. E isso o inspirou a escrever uma de suas mais belas — e metafóricas — letras: “Codinome Beija-flor”. 

A letra fala do fim de um relacionamento, sob a ótica mais sincera — e humana — possível: dependendo das circunstâncias da ruptura, não há, de fato, a menor condição de o casal se tornar “amiguinho”. E há um outro detalhe que chama a atenção: mais de uma década antes da popularização da internet, o poeta anteviu — e, o mais incrível, compreendeu — o que, futuramente, viria a ser chamado na web de... nick name.

Lançada no seu primeiro disco solo, epônimo [no detalhe, a capa], editado naquele mesmo ano, “Codinome...” teve a parceria do produtor Ezequiel Neves — por ter colaborado em alguns versos — e foi musicada pelo pianista e produtor Reinaldo Arias. Acompanhada por piano e adornada com cordas, a faixa revelou um Cazuza introspectivo, “desamado”. Bem diferente do enfant terrible dos tempos do Barão. 

Codinome Beija-flor” marcou o início da aproximação de Cazuza da MPB — que, ao lado do rock, o influenciou desde os tenros anos de sua infância.




Veja o vídeo do delicado — e tocante — dueto de Cazuza com Simone em “Codinome Beija-flor”, exibido originalmente no especial global Uma Prova de Amor, de dezembro de 1988, que, vinte anos depois, foi eternizado no DVD Pra Sempre Cazuza:






Veja também um vídeo gravado para o programa Clip Clip, no qual Cazuza cantou acompanhado pelo tecladista, cantor e compositor Nico Rezende, produtor de seu primeiro álbum solo:


Da série ‘Frases’: Jack Kerouac




Minha vida
que não me ama:
minha amada
que nunca vai me amar:

seduzo as duas...”




Os mais atentos perceberão que, embora aparentemente ácidos, os versos do poeta beat Jack Kerouac (1922 — 1969) são pura autoconfiança e otimismo: a “sedução”, no caso, é a capacidade de “contornar” qualquer situação desfavorável. E estavam impressos na contracapa da versão vinil do (bom) Só se For a Dois [1987], segundo disco solo de Cazuza. Entretanto, foram inexplicavelmente excluídos da edição em CD — “mutilando” o projeto gráfico original do álbum.

terça-feira, agosto 02, 2011

Ney Matogrosso completa 70 anos



Desde o início de sua (respeitável) trajetória, ainda como vocalista dos Secos e Molhados, Ney Matogrosso [foto] tem caracterizado a sua carreira pela constante fuga do óbvio.

Durante os chamados “anos de chumbo”, ainda que as letras de seu repertório não trouxessem necessariamente críticas sociais — como as de Chico Buarque e Gonzaguinha, por exemplo —, foi contestador à sua maneira. Certa vez, declarou que “rebolava para chocar os censores”.

De lá para cá, foi o responsável pelo sucesso do Barão Vermelho — ao regravar “Pro Dia Nascer Feliz”, do segundo disco do grupo carioca; gravou um estupendo recital ao lado do genial violonista Raphael Rabello; e debruçou-se sobre as canções de Heitor Villa-Lobos, de Ângela Maria, do já mencionado Chico Buarque e de Cartola. Enfim, sempre surpreendeu.

Dono de um estilo ímpar de cantar e se apresentar, Ney Matogrosso chega aos 70 anos de idade — completados ontem, 01 de agosto — em plena forma vocal e física. E em franca atividade artística. Longa vida a ele.


Leia também




Ouça “Promessas Demais”, de Zeca Barreto e Moraes Moreira sobre poema de Paulo Leminsky. Lançada no álbum Mato Grosso, de 1982, trata-se de um primor de melodia, letra e arranjo — que vai do plácido ao vibrante com igual desenvoltura. Foi tema de abertura da novela Paraíso, de Benedito Ruy Barbosa, exibida naquele mesmo ano. E, muito provavelmente, é a minha faixa predileta do artista.

 

quarta-feira, julho 07, 2010

20 anos sem Cazuza



Duas décadas após o seu desaparecimento, o poeta continua vivo

Hoje, 07 de julho de 2010, completam exatos 20 anos da morte de Cazuza [foto]. Ainda lembro, como se fosse ontem, do dia de seu falecimento. Inclusive, ainda adolescente, compareci ao sepultamento – e acabei aparecendo, de perfil, em uma foto publicada na revista Contigo!.


A essa altura, tudo já foi dito sobre o poeta e sua obra. Por sinal, em maio de 2008, quando ele completaria 50 anos de idade, escrevi uma matéria sobre a efeméride para o jornal International Magazine. A mesma também pode ser lida no portal Let's Rock.

Em referência à data, deixo aqui uma canção pouco conhecida, parceria dele com Gilberto Gil. Composta em 1987, “Um Trem para as Estrelas” foi registrada inicialmente para a trilha do filme homônimo, de Cacá Diegues, em um dueto do ex-vocalista do Barão Vermelho com o autor de “Refazenda”. No ano seguinte, contudo, Cazuza a regravou, solitariamente, em seu terceiro – e melhor – álbum solo, Ideologia.

A letra traz uma crítica social dura:

São sete horas da manhã
Vejo o Cristo da janela.
O sol já apagou sua luz
E o povo, lá embaixo, espera.
Nas filas dos pontos de ônibus,
Procurando aonde ir.
São todos seus cicerones –
Correm para não desistir
Dos seus salários de fome
E a esperança que eles têm...


E demonstra uma certa... er, descrença. Como se toda a beleza da paisagem da cidade fosse, de fato – como diz a obra-prima de Antônio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira –, “inútil”:

Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem proteger ninguém.


Após duas décadas de ausência, o poeta, decididamente, ainda está vivo.



Veja o vídeo de “Um Trem para as Estrelas”, com Cazuza e Gilberto Gil...





...também a versão que o ex-Barão Vermelho gravou sozinho, no álbum Ideologia:

Morre Ezequiel Neves


Não deixa de ser uma bizarra coincidência o fato de Ezequiel Neves [foto], produtor e um dos melhores amigos de Cazuza, ter falecido precisamente hoje, quando o poeta completa 20 anos de desaparecimento.

Mineiro de Belo Horizonte, Ezequiel esteve envolvido na produção de todos os discos do Barão Vermelho – com e sem Cazuza –, além de ser coautor de sucessos como “Exagerado”, “Por que a Gente É Assim?” e “Codinome Beija-flor”, entre outros.

Sem papas na língua, acabou desenvolvendo um estilo inconfundível de escrever, que influenciou dezenas de jornalistas. Foi o mais influente crítico musical brasileiro na década de 1970, tendo colaborado na Playboy, no Jornal da Tarde e na extinta revista Somtrês, entre outros.

Assinou seus textos como Zeca Jagger, Zeca Zimmerman – em homenagem a Bob Dylan –, e criou também um heterônimo: Ângela Dust.

Nos últimos cinco anos, Ezequiel Neves apresentava um quadro de enfisema pulmonar, tumor cerebral e cirrose. Estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea, desde janeiro. Tinha 74 anos.

segunda-feira, março 15, 2010

Júlio Barroso: a promessa não-cumprida do rock nacional

O disc-jockey, poeta e jornalista carioca Júlio Barroso [foto] foi, sem dúvida, a grande promessa não-cumprida do rock nacional.

Gravou, em 1983, um único disco com à frente da Gang 90, Essa Tal de Gang 90 & as Absurdettes, com o qual emplacou três hits: a ótima “Nosso Louco Amor” (tema da novela Louco Amor, de Gilberto Braga, exibida naquele mesmo ano), “Perdidos na Selva”* (regravada, com sucesso, pelo Barão Vermelho, em 1996), e “Telefone” (que recebeu, em 1999, uma versão do Ira!, com participação de Fernanda Takai).

Barroso morreu no dia 06 de julho de 1984, aos 30 anos, ao cair da janela de seu apartamento – no 11º andar –, em São Paulo, em circunstâncias não esclarecidas até hoje. Fica a certeza de que seria um ídolo da envergadura de Renato Russo, Cazuza e Lobão, se a vida não tivesse lhe escapado tão precocemente.



* Curiosidade: “Perdidos na Selva” é uma parceria de Julio Barroso com... Guilherme Arantes. Entretanto, o festival MPB Shell não permitia que um autor concorresse com duas canções. Sendo assim, Arantes, que na edição de 1981 já defendia “Planeta Água” – que terminou na segunda colocação –, abriu mão da autoria de “Perdidos na Selva”.



Veja os vídeos de “Telefone...



...“Nosso Louco Amor...




...e “Perdidos na Selva.

terça-feira, março 10, 2009

‘Será que eu sou medieval?’


Já que falei em “metáforas medievais” no post anterior: como grande apreciador de literatura medieval, acabei comprando, por indicação de um amigo, Rei Arthur [no detalhe], do escritor e jornalista (nascido em Singapura, mas radicado na Escócia) Allan Massie.


O ciclo arturiano já foi tema de inúmeras obras – como o famoso As Brumas de Avalon*, da americana Marion Zimmer Bradley. Mas o livro de Massie possui o diferencial de ser baseado nas narrativas que o sábio e astrólogo medieval Michael Scott fazia ao seu pupilo, Frederico de Hohenstaufen (1194 – 1250), imperador do Sacro Império Romano.

Bem, agora só falta arranjar tempo para iniciar a leitura...



* As Brumas de Avalon, lançado em quatro volumes em 1979, focaliza a Távola Redonda – contudo, sob a singularidade da ótica feminina.


***


O título deste post cita “Medieval II”, canção de Rogério Meanda e Cazuza, lançada no primeiro disco solo do Exagerado, de 1985. Sempre adorei essa música. Qualquer hora, falarei sobre ela aqui...

segunda-feira, novembro 17, 2008

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Azul e Amarelo’, de Lobão e Cazuza

Nem todos sabem que Lobão [no detalhe] e Cazuza – fãs confessos de Cartola [ver dois posts abaixo] – deram crédito ao autor de “O Sol Nascerá” em uma canção que compuseram juntos.

A faixa em questão chama-se “Azul e Amarelo” e integrava o último CD do ex-vocalista do Barão Vermelho, Burguesia, de 1989. Já o Grande Lobo a registrou em seu álbum Sob O Sol de Parador, naquele mesmo ano.

A “parceria” entre os três deu-se pelo fato de a canção citar, na letra, dois versos de “Autonomia”, do compositor mangueirense: “Mas não quero, não vou/ Não quero...”.

A gravação de Cazuza – a melhor, na modesta opinião desse vosso amigo – apresenta um doce arranjo bossa-novístico, enquanto a versão de Lobão é adornada por flautas que aludem imediatamente à sonoridade de outro mestre: Pixinguinha.




***


Curiosidade: em meados de 1989, a extinta Rede Manchete exibiu um especial de Lobão em que ele cantava “Azul e Amarelo” na companhia de ninguém menos que... Paulinho da Viola. Infelizmente, não há no You Tube nenhum vídeo dessa apresentação.


***


Em 1995, mencionei essa canção à falecida Dona Zica. Essa, aliás, foi a única vez em que estive pessoalmente com ela. E a viúva de Cartola, um tanto lacônica, respondeu-me: “É verdade. Recebo parte dos direitos dela, inclusive...”

terça-feira, novembro 04, 2008

Os 100 anos de Cartola


No dia 11 do mês passado, Angenor de Oliveira, o Cartola, teria completado 100 anos de idade, se vivo estivesse. Homem simples, de pouca escolaridade, Cartola deixou uma obra de grande lirismo e musicalidade elaborada - apesar de ter gravado apenas quatro discos de estúdio. Sua memória é respeitada muito além dos limites do mundo do samba.

E uma boa dica para se ouvir Cartola é o tributo Bate Outra Vez [no detalhe], editado em 1988 e atualmente fora de catálogo. Com participações de artistas do calibre de Caetano Veloso (“Acontece”), Gal Costa (“As Rosas Não Falam”) e Nelson Gonçalves (“Peito Vazio”), entre outros, o disco é quase perfeito. O único porém foi o aparente desconforto de Paulo Ricardo em “Autonomia”. Mas não chegou a comprometer o resultado final do trabalho.

Destaque para as gravações de Leila Pinheiro (“Disfarça e Chora”), Luiz Melodia (“Cordas de Aço”) e o ótimo dueto de Paulinho da Viola e Elton Medeiros (“Amor Proibido”). Tente não se emocionar com a releitura angelical de “Corra e Olha o Céu” da afinadíssima Vânia Bastos, talvez a melhor faixa do CD.





Olhar, gostar só de longe
não faz ninguém chegar perto.
E o seu pranto, ó triste senhora,
vai molhar o deserto...”

(“Disfarça e Chora”, Cartola e Dalmo Casteli, 1974)



***


Curiosidade: Cazuza detestava a sua releitura de “O Mundo é um Moinho” para esse álbum. Em entrevista ao Jornal do Brasil em dezembro de 1988, o compositor disparou: 

— Odeio a minha gravação. Ficou tão ruim como se o Cartola tivesse gravado um rock...




***


Outra curiosidade: a exemplo do álbum Elis e Tom, conheci Bate Outra Vez, ainda em vinil, através de meu pai. Lembro com exatidão do dia em que ele chegou em casa com esse disco e pôs para tocar. Meu queixo caiu.

quarta-feira, outubro 22, 2008

Deu na ‘Rolling Stone Brasil’: os 100 mais da MPB

A Rolling Stone Brasil desse mês [no detalhe] publicou a lista dos 100 maiores músicos do Brasil, na opinião de 70 jornalistas. Deu Antônio Carlos Jobim na cabeça, seguido por João Gilberto e Chico Buarque.

Listas são sempre discutíveis. E essa não será diferente. Afinal, Jorge Ben (de quem eu até gosto), ficar em quinto, na frente de Roberto Carlos (sexto lugar)? Chico Science (16º), em melhor colocação do que Milton Nascimento (20º), Renato Russo (25º), Cazuza (34º) e Erasmo Carlos (37º)? Mano Brown (28º) na frente de Lulu Santos (46º), Nelson Gonçalves (60º) e Herbert Vianna (83º)?

Os dez melhores colocados foram:


1 – Tom Jobim

2 – João Gilberto

3 – Chico Buarque

4 – Caetano Veloso

5 – Jorge Ben Jor

6 – Roberto Carlos

7 – Noel Rosa

8 – Cartola

9 – Tim Maia

10 – Gilberto Gil

sexta-feira, julho 18, 2008

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Mulher sem Razão’, com Adriana Calcanhotto

E por falar em Cazuza: para quem não sabe, a bela faixa “Mulher sem Razão”, primeira música de trabalho de Maré, novo disco de Adriana Calcanhotto [no detalhe] - que, salvo engano de minha parte, também integra a trilha da atual novela das oito - é uma composição do autor de “Ideologia”.

Lançada originalmente pelo Exagerado em Burguesia, seu derradeiro trabalho (mencionado no post anterior), a canção foi escrita a seis mãos com Bebel Gilberto e Dé, ex-baixista do Barão Vermelho.


Errata

Há uma correção a ser feita no artigo que escrevi na edição mais recente do INTERNATIONAL MAGAZINE [ver post abaixo] sobre os 50 anos de nascimento de Cazuza [foto].

Saiu publicado assim: “os títulos de Cazuza pela Universal, antiga Polygram, que vão desde o segundo LP solo, o bom Só se for a Dois, até o último, Burguesia...”. Foi justamente aí que pisei na bola: há também o disco póstumo, Por Aí, lançado em 1991, um ano após o desaparecimento do artista.

Logo eu, que conheço a obra de Cazuza de ponta a ponta, dar uma mancada dessas...

sexta-feira, novembro 09, 2007

Barão Vermelho: antológico


Finalmente é lançada em DVD a memorável apresentação do grupo carioca no Rock in Rio I

Demorou “apenas” 22 anos, mas finalmente foi lançado em DVD Rock in Rio 1985, que traz o histórico show do Barão Vermelho naquele festival. Vale lembrar que esse é o primeiro registro visual dessa apresentação, que não havia sido lançada sequer no pré-histórico formato VHS - apenas em CD, em 1995. O álbum, aliás, acaba de ser relançado - com a capa modificada.

O primeiro disco do Barão, epônimo, foi lançado em 1982 e - mesmo contendo grandes canções e elogiado por pessoas do calibre de Caetano Veloso, que passou a tocar uma versão voz-e-violão de “Todo Amor que Houver Nessa Vida” em seus shows - não tinha padrão técnico para tocar nas rádios, em face da inexperiência do grupo em estúdio. No segundo álbum, a banda apenas trocou de problema: se, por um lado, o americano Andy Mills - que dividiu a produção com Ezequiel Neves - trouxe para o quarteto carioca uma sonoridade bem-acabada, por outro lhe tirou a espontaneidade. De qualquer forma, foi justamente desse trabalho que saiu o primeiro hit do Barão: o clássico “Pro Dia Nascer Feliz”, que, meses depois, foi registrada também por Ney Matogrosso e impulsionou a execução da gravação original.

Em sua terceira bolacha, Maior Abandonado (1984), o Barão parecia ter encontrado sua própria feição no estúdio: além da faixa-título, chegaram com sucesso às rádios “Bete Balanço” (trilha do filme homônimo de Lael Rodrigues) e “Por que a Gente é Assim?”. E, vislumbrando no Rock In Rio um momento crucial para as pretensões artísticas da banda, o Barão não teve dúvida: mandou rock n'roll na cara da platéia. Com instrumentistas de primeira e um frontman que chamou para si a responsabilidade de preencher um palco gigantesco, o grupo conquistou o público e alcançou a consagração que, meses depois, faria com que o vocalista saísse em carreira solo. Mas isso já é uma outra estória....


DVD é o registro definitivo da formação original da banda

No repertório, petardos como as supracitadas “Maior Abandonado”, “Bete Balanço” e “Pro Dia Nascer Feliz” (com Cazuza fechando o show evocando a euforia da chamada “Nova República”), além de “Menina Mimada”, “Milagres”, “Down em Mim” e uma versão matadora da também já mencionada “Todo Amor que Houver Nessa Vida”. “Mal Nenhum”, parceria até então inédita de Lobão e Cazuza, é precedida por discurso do Exagerado criticando o fato de o líder dos Ronaldos não figurar entre as atrações do festival.

Nos extras, a canção “Um Dia na Vida”, extraída da segunda apresentação da banda no mesmo festival e o ótimo documentário Aconteceu em 85, com depoimentos dos membros originais do Barão e do já citado Lobão, além de Ezequiel Neves, Lucinha Araújo, Sandra de Sá, do jornalista Pedro Bial e imagens de arquivo do próprio Cazuza.

Rock In Rio 1985, além de um documento importantíssimo do rock nacional, é o registro audiovisual definitivo da formação original do Barão Vermelho. Resta agora torcer para que também sejam editados em DVD excelentes apresentações da carreira solo de Cazuza como a do Teatro Ipanema, turnê de Só Se For a Dois, 1987 (que saiu em CD em 2005), além do emocioante especial global Uma Prova de Amor, de 1988.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Faz Parte do Meu Show’, de Cazuza

Pouquíssima gente sabe que "Faz Parte do meu Show" [faixa do ótimo álbum Ideologia, 1988], grande sucesso na voz de Cazuza [em foto de Flávio Colker], foi gravada primeiro, em um compacto, pelo Herva Doce ("Amante Profissional", "Erva Venenosa (Poison Ivy)"), grupo cujo vocalista era Renato Ladeira, co-autor da canção.

No livro Preciso Dizer Que te Amo - Toda a Paixão do Poeta, Ladeira conta que enviou a música para que Cazuza fizesse a letra. Até que, em uma madrugada no Baixo Leblon, o poeta chega no bar onde Ladeira estava, cantando a plenos pulmões: "Faz parte do meu show/ faz parte do meu show/ meu amor... Já fiz a nossa música!".

O curioso é que, apesar de Cazuza ter levado a canção em direção à bossa nova (com um belo arranjo de cordas assinado pelo maestro paranaense
Walter Branco), a gravação do Herva Doce - bem interessante, aliás - era uma balada pop.

Outra curiosidade: existe um trecho da letra - que, aliás, foi cortado da versão contida em Ideologia - que aparentemente resumia a própria história do ex-vocalista do Barão Vermelho ("Sonho, paixão/ aventura... e dor/ faz parte do meu show, meu amor").

O compacto do grupo foi lançado em 1986 e, obviamente, é considerado hoje uma raridade. Ladeira e Cazuza fizeram outras duas parcerias: "Desastre Mental" [faixa-título do disco que o Herva Doce editou em 1986 - registrada inicialmente em 1985 pelo Exagerado, em seu primeiro álbum solo] e "Amor Quente", que fazia parte da trilha da novela O Dono do Mundo, 1991, na voz de Lela Badaró.


Ouça a versão do Herva Doce de "Faz Parte do Meu Show
" - em gravação "ripada" de vinil:




(Nota: no portal oficial da Jovem Guarda, há uma entrevista com Renato Ladeira, que fala, entre outros assuntos, a respeito da volta do lendário grupo A Bolha, do qual foi membro, nos anos 70. O link que conduz diretamente à matéria está aqui.)



E ouça aqui a conhecidíssima gravação de Cazuza:

terça-feira, julho 18, 2006

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Poema’, com Ney Matogrosso


Certa vez, li uma entrevista de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza [no detalhe], na qual ela dizia que, apesar da porra-louquice do poeta, ele era extremamente apegado à sua família.

Assim como eu.

Anos depois, conheci, muito tardiamente, a brilhante gravação de Ney Matogrosso (a quem, aliás, admiro profundamente) de "Poema", uma letra de Cazuza que foi dada por Lucinha para que Roberto Frejat musicasse - e essa foi a última parceria póstuma da dupla. Nesse mesmo dia, conheci a história dessa letra: esse foi um poema (daí o título) que Cazuza escreveu aos 17 anos d idade para a sua avó paterna.

Identifiquei-me muito com essa canção. Porque, a exemplo dele, sempre fui bastante apegado à minha avó paterna - uma mãe para mim. De modo que as coisas que são ditas nessa letra... eu assinaria embaixo, sem sombra de dúvida. Há um determinado momento em que todo mundo se sente que "perdeu ou está perdendo alguma coisa morna e ingênua - que vai ficando no caminho..."

Sendo assim, muito respeitosamente, eu gostaria de tomar emprestado esses versos do poeta para homenagear a minha avó paterna - que nesse mês de julho completa um ano de falecimento. Portanto, com amor e saudade, transcrevo abaixo, na íntegra, a letra da canção.


Poema
(Frejat - Cazuza)


CD Olhos de Farol, 1999, Ney Matogrosso.


Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo.
Eu acordei com medo e procurei, no escuro,
alguém com seu carinho
e lembrei de um tempo.

Porque o passado me traz uma lembrança
do tempo que eu era criança.
E o medo era motivo de choro
desculpa para um abraço ou consolo.

Hoje eu acordei com medo, mas não chorei
nem reclamei abrigo.
Do escuro, eu via um infinito sem presente, passado ou futuro.

Senti um abraço forte - já não era medo:
era uma coisa sua que ficou em mim

e que não tem fim.

De repente, a gente vê que perdeu (ou está perdendo)
alguma coisa morna e ingênua
que vai ficando no caminho - que é escuro e frio
mas também bonito, porque é iluminado
pela beleza do que aconteceu...

...há minutos atrás.



Ouça aqui a bela gravação de Ney Matogrosso de "Poema".

quinta-feira, março 16, 2006

Barão Vermelho: ele continua a brilhar


(Parece até "jornal d ontem, com notícias d anteontem" - visto q o CD já saiu há quatro meses - , mas.... acho q vale como curiosidade. Segue abaixo o texto q escrevi sobre o "MTV Ao Vivo"do Barão, mas q acabou não sendo publicado no IM d dezembro... simplesmente porque eu me atrasei e perdi o prazo...)


É fato que, nos primeiros anos após a saída de Cazuza, o BARÃO VERMELHO sentiu falta de um letrista com verve à altura. No palco, entretanto - com a inegável técnica de seus integrantes - a banda sempre foi responsável por um dos melhores shows de rock do Brasil, tornando-se um referencial do estilo. A prova está no recém-lançado MTV Ao Vivo, mais um produto da emissora paulistana.

Gravado no mês de agosto no Circo Voador (onde o Barão realizou, nos anos 80, um de seus primeiros shows, quando a lona ainda estava na Praia do Arpoador), o álbum registra uma performance definitiva do grupo carioca, sendo comercializado em duas versões: CD duplo; ou dois CD's simples, vendidos separadamente.

O repertório resume os quase 25 anos de carreira da banda e equilibra clássicos consagrados ("Maior Abandonado", "Bete Balanço", "Por Que a Gente é Assim?", "Pense e Dance", "O Poeta Está Vivo", "Pedra, Flor e Espinho", "Por Você"); material recente ("Cara a Cara" e "Cuidado", do último CD, cujo título é apenas o nome do grupo); canções menos conhecidas ("Tão Longe De Tudo", "Política Voz", ambas do excelente "Na Calada Da Noite", 1990); uma inédita ("O Nosso Mundo"); músicas de outros artistas, como Raul Seixas (a bela "Tente Outra Vez"), Legião Urbana ("Quando o Sol Bater Na Janela Do Seu Quarto"), Ângela Rô-Rô ("Amor, Meu Grande Amor") e Bezerra da Silva ("Malandragem Dá Um Tempo"), além de duas faixas interativas ("Vem Quente Que Eu Estou Fervendo" e o blues "Quem Me Olha Só", ambas registradas em estúdio).

O primeiro single de trabalho é "Codinome Beija-Flor", que conta com a participação especial de Cazuza - no melhor estilo Unforgettable: a imagem e a voz do poeta foram projetadas no telão do show, num dueto emocionante dos dois vocalistas da história da banda. Essa é a segunda vez que o Barão grava uma música da carreira solo do Exagerado. A primeira foi "O Tempo Não Pára", no "Balada MTV" (1999) - presente mais uma vez, aliás, nesse "Ao Vivo".

O DVD, a ser lançado agora no início de dezembro, será o primeiro registro do Barão nesse formato. O "ao vivo" anterior (o já mencionado "Balada MTV") - no qual metais, cordas, teclados e violões se sobrepuseram às guitarras - teve o lançamento temporariamente vetado pelo próprio grupo, por não representar a sonoridade característica da banda.
Comenta-se que este seria o último CD do Barão Vermelho, pelo fato de o guitarrista e cantor Roberto Frejat ter decidido priorizar a sua carreira solo - realizando apenas discos esporádicos com a banda. Espera-se que tal informação não venha a se confirmar. Ainda é cedo para virar essa que é uma das mais importantes páginas do rock nacional.