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terça-feira, agosto 22, 2017

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Bandeira’, de Zeca Baleiro



Zeca Baleiro iniciou sua carreira discográfica há exatamente 20 anos, com o álbum Por Onde Andará Stephen Fry? [no detalhe, a capa]. A primeira faixa de trabalho era a melancólica “Flor da Pele”, que logo obteve boa execução nas chamadas FMs adultas. A canção citava “Vapor Barato”, de Jards Macalé e Wally Salomão, imortalizada na voz de Gal Costa – e incluía um sampler da gravação original. Naquele mesmo ano, Gal convidou Baleiro para participar de seu Acústico MTV. Juntos, interpretaram justamente a dobradinha “Vapor Barato / Flor da Pele”.

A segunda faixa de trabalho do disco de estreia do maranhense foi “Bandeira”. A exemplo da antecessora, rapidamente se destacou na programação das rádios da época – e foi inserida na trilha da novela Por Amor. Com sua voz peculiar, Baleiro expunha, com uma entonação serena – e o precioso acompanhamento de um acordeon –, imagens contundentes: “Eu não quero ver você cuspindo ódio / eu não quero ver você fumando ópio / para sarar a dor. / Eu não quero ver você chorar veneno”.

Na verdade, a letra de “Bandeira” dialoga com “Belo Belo II”, de Manuel Bandeira. Tanto o poema quanto a canção frisam tudo o que os seus respectivos autores desejam ou não. O refrão, inclusive, cita o verso final da poesia: “Vida, noves fora, zero”. E não por acaso, o título da música é justamente o sobrenome do poeta pernambucano.

Baleiro foi muito feliz na escolha de metáforas como a do “braço da Vênus de Milo acenando ‘tchau’” – a estátua foi encontrada sem os braços em 1820 na ilha grega que passou a lhe emprestar o nome – e do rio Tejo “escorrendo pelas mãos”. O desfecho não poderia mais esperançoso – e tocante: “Se é assim, quero, sim / acho que vim para te ver”. 

Zeca Baleiro editou mais dez álbuns solo, todos elogiados por público e crítica. Contudo, para muita gente, “Bandeira” continua sendo a sua obra-prima.



Veja o vídeo oficial de “Bandeira”. A canção estava sendo trabalhada nas rádios quando o meu pai faleceu – hoje completam exatas duas décadas. Por esse motivo – e por alguns trechos da letra –, marcou para sempre um dos períodos mais tristes de minha vida. E me fez compreender, na prática, o que é “passar agosto esperando setembro”:

sábado, maio 20, 2017

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Comeu’, com Magazine


Além de hits da década de 1980 como “Sou Boy” e “Tic-Tic Nervoso”, o extinto grupo Magazine — cujo vocalista era o pesquisador, radialista e apresentador de TV Kid Vinil — também é responsável pela melhor versão de “Comeu”, lançada originalmente pelo autor Caetano Veloso em álbum Velô [1984]. 

Em 1985, a regravação do Magazine alcançou projeção nacional através da abertura da novela A Gata Comeu.

R.I.P. Kid Vinil



segunda-feira, dezembro 05, 2016

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Borbulhas de Amor’, de Fagner e Ferreira Gullar


Além da vasta obra literária, o poeta, ensaísta, crítico de arte, dramaturgo, biógrafo e tradutor Ferreira Gullar — falecido ontem, aos 86 anos — teve alguns de seus poemas, como “Traduzir-se” e “Me Leva (Cantiga pra Não Morrer)”, musicados por Fagner

E, juntos, verteram para português “Burbujas de Amor”, canção do dominicano Juan Luis Guerra. Fagner conta que, quando decidiu fazer a versão, concluiu que precisava de alguém com uma assinatura de peso — já que costumava levar “muita pancada da crítica”. Por já serem parceiros, o cantor escolheu Gullar, que, a princípio, mostrou-se reticente à ideia — justamente por tratar-se de uma versão. Mas acabou ficando satisfeito com o resultado final.

Borbulhas de Amor”, do álbum Pedras que Cantam [1991], tornou-se um dos maiores sucessos da carreira do músico cearense.



Veja o vídeo de “Borbulhas de Amor”, gravado ao vivo em 2002



...e também a (impagável) explicação dada por Ferreira Gullar, durante a Flip de 2010, sobre o “peixe” da letra da canção:


domingo, dezembro 04, 2016

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘I Can't Give Everything Away’, de David Bowie


“...durante as sessões do já mencionado Blackstar...”




Além dos dois (impactantes) vídeos gravados pelo próprio David Bowie, Blackstar ganhou um terceiro audiovisual — o primeiro póstumo. 

Utilizando recursos de computação gráfica, Jonathan Barnbrook — também responsável pelo design do álbum — criou um caprichado lyric video para a comovente “I Can't Give Everything Away”, faixa que encerra (com chave de ouro) o último CD de Bowie.

Barnbook explicou suas escolhas:

— Começamos [o vídeo] com o mundo preto-e-branco de ★. Contudo, no refrão final, mudamos para um colorido brilhante, como uma espécie de “celebração” ao David. Uma forma de dizer que, apesar da adversidade que enfrentamos, das dificuldades que surgiram com a morte do David, os seres humanos são naturalmente positivos. Eles olham para frente e conseguem tirar algo positivo do passado e usar como algo para ajudá-los no presente. Somos uma espécie naturalmente otimista e sempre celebramos o bem que nos é ofertado.



Veja o vídeo de “I Can't Give Everything Away:

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Photograph’, de Ringo Starr e George Harrison


Além de companheiros de banda e grandes amigos, ex-beatles Ringo Starr e George Harrison também chegaram a compor juntos. “Photograph”, provavelmente o maior sucesso da carreira solo de Ringo, é parceria sua com George.

Lançada em Ringo, de 1973 [no detalhe, a capa], é a única faixa oficialmente creditada à dupla — embora eles tenham trabalhado juntos em outras canções. Na gravação, além do próprio Harrison, participaram figurões como o saxofonista Bobby Keys (que excursionava com os Rolling Stones) e o pianista Nicky Hopkins, entre outros.



Veja o vídeo de “Photograph”, gravado durante o (magnífico) Concert for George, de 2002, tributo realizado no Royal Albert Hall, em Londres, no exato dia em que Harrison completou um ano de falecimento:

domingo, novembro 20, 2016

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘I Can't Stop Thinking About You’, de Sting


Ao entrar em estúdio para gravar 57th & 9th, Sting não possuía uma única canção inédita – todas foram compostas durante o processo. E “I Can't Stop Thinking About You”, que acabou se tornando a primeira faixa de trabalho, foi gerada de forma curiosa.

Em um determinado momento, o músico se dirigiu à varanda de sua cobertura em Manhattan, em meio a uma nevasca, para que as condições “adversas” lhe trouxessem inspiração. Deu certo: assim surgiu uma metacanção que fala justamente sobre a angústia do artista diante da “tela em branco” (“Página em branco / um campo vazio de neve / meu quarto está 25 graus abaixo de zero”). Não se trata, portanto, de uma canção romântica – como muitos podem ter imaginado.

Infecciosa desde os primeiros acordes e dona de um refrão poderoso, “I Can't Stop Thinking About You” é faixa mais despudoradamente pop que Sting lança desde “If I Ever Lose My Faith In You”, de 1993 (!). Um clássico instantâneo que, a partir de agora, não poderá ficar de fora dos shows do ex-Police – e tampouco de suas futuras coletâneas.



Veja o vídeo oficial da canção:



Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Your Love’, do The Outfield


A ótima “Your Love”, o maior sucesso comercial dos ingleses do The Outfield, é a música que o Police “esqueceu” de compor e gravar – tamanha é a influência do trio, desde o arranjo até o agudo registro vocal.

Faixa de Play Deep [no detalhe, a capa – que não tinha como ser mais feia], de 1985, álbum de estreia da banda, a canção tem uma particularidade: só começou a ser executada (maciçamente) nas rádios brasileiras cinco anos após o lançamento.

Em 2014, com a morte de John Spinks, guitarrista e principal compositor, o grupo encerrou as suas atividades. De qualquer forma, adoraria ter visto a cara de Sting, Andy Summers e Stewert quando ouviram “Your Love” pela primeira vez…


Veja o vídeo oficial de “Your Love:

segunda-feira, maio 16, 2016

Cauby Peixoto (1931 — 2016)


O blog faz questão de registrar o seu respeito eterno àquele que foi – e sempre será – um dos nossos maiores cantores. O primeiro ídolo brasileiro: Cauby Peixoto.



Poucos intérpretes souberam incorporar uma canção quanto Cauby em sua versão arrebatadora – e definitiva – de "Bastidores", de Chico Buarque:


sexta-feira, abril 22, 2016

Prince (1958 — 2016)


Três meses após o abrupto desaparecimento de David Bowie, 2016 levou mais uma estrela de primeira grandeza do pop. Prince, 57 anos, foi encontrado sem vida no elevador de seu estúdio-residência Paisley Park, em Minneapolis, EUA. A causa do óbito ainda é desconhecida.

Em 38 anos de carreira fonográfica, deixou 39 álbuns, nos quais transitou com insuspeitada desenvoltura entre a black music e o rock. Além de cantar, compunha, produzia, dançava como poucos e era um exímio guitarrista. Não se deve classificar qualquer um como “gênio”. Mas ele bem que merecia o adjetivo.

Teve o seu auge comercial nos anos 1980, através de uma coleção de hits como “Purple Rain”, “When Doves Cry”, “Raspberry Beret”, “I Feel For You” (sucesso retumbante na voz de Chaka Khan) e “Nothing Compares 2 U” (conhecida mundialmente na versão de Sinéad O'Connor), entre outros, rivalizando com pesos-pesados com Michael Jackson e Madonna.

Na década seguinte, entrou em rota de colisão com as gravadoras e, desde então, passou a editar seus álbuns de modo independente. E foi além: começou a assinar os seus trabalhos com um símbolo ininteligível e impronunciável, exigindo que a imprensa musical o chamasse de O Artista. Por sua vez, os repórteres o denominavam como The Artist Formerly Known As Prince (O Artista Anteriormente Conhecido como Prince) — embora alguns repórteres se referissem a ele como… O Símbolo.

Do ponto de vista empresarial, Prince não lidou muito bem com o advento da internet. É bem verdade que vários de seus últimos singles foram lançados somente em formato digital. Mas, em contrapartida, por determinação judicial, a maioria de seus vídeos oficiais está disponível no YouTube sem a pista de áudio — ou seja... mudos. Tampouco permitiu que suas canções fossem incluídas em serviços de streaming como Spotify e Deezer. Resultado: embora continuasse lançando trabalhos de qualidade e com espantosa produtividade — eventualmente, mais de um CD por ano (!) —, os mesmos não chegavam ao grande público como deveriam.

Espera-se que o espólio de Prince reconsidere a relação de sua obra com as plataformas digitais. Para que as novas gerações tenham o privilégio de conhecer o talento de uma artista único.



Veja o vídeo de “Purple Rain”, tema do filme homônimo que, em 1984, permaneceu 24 semanas (!) no primeiro lugar da Billboard:

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘I Feel For You’, com Chaka Khan


Lançada originalmente no segundo álbum de Prince, epônimo, de 1979, “I Feel For You” não obteve grande repercussão. Entretanto, ao ser regravada por Chaka Khan, cinco anos depois, em seu sexto álbum [no detalhe, a capa] — que, não por acaso, acabou sendo batizado com o nome da canção  — tornou-se um hit instantâneo.

Convenhamos: amplamente superior à do autor, a (irresistível) versão da cantora é uma das mais poderosas faixas já concebidas para as pistas de dança. Além do rapper Melle Mel, “I Feel For You” conta com a participação (mais do que) especial de um certo… Stevie Wonder.

Detalhe: a produção ficou sob a batuta do próprio Prince. E, sendo o autor da canção, ele acabou levando para casa o Grammy de Melhor Faixa de R&B de 1985.


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Nothing Compares 2 U’, com Sinéad O'Connor


Embora nem todos saibam, a sentida “Nothing Compares 2 U”, retumbante sucesso na voz de Sinéad O'Connor, é de autoria de Prince. O músico a compôs para a banda The Family — contratada do seu selo, Paisley Park —, que a gravou em seu trabalho de estreia, epônimo, de 1985.

Adornada com um arranjo de cordas que lhe conferiu um ar solene, a versão de Sinéad é, de fato, magnífica. Contudo, boa parte do êxito da faixa — que, não por acaso, levou quatro estatuetas (!) do Grammy daquele ano — pode ser creditado ao seu vídeo oficial. Nele, o semblante angelical da cantora aparece na maior parte do tempo, em close. Até que, em um determinado momento, mostrando habilidade histriônica, ela… derrama uma lágrima.

Faixa de I Do Not Want What I Haven't Got [1990], segundo álbum de Sinéad O'Connor, “Nothing Compares 2 U” continua sendo o maior hit da carreira da irlandesa.


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘While My Guitar Gently Weeps’, com Prince


Prince e George Harrison (in memoriam), como artista solo, foram introduzidos no Hall da Fama do Rock And Roll em 2004. Na cerimônia, Prince acabou sendo escalado para participar do clássico beatle “While My Guitar Gently Weeps”, de autoria de George, na companhia de Tom Petty, Jeff Lynne e outros. Olívia Harrison, viúva do homenageado, só queria que os amigos do marido — o que não era o caso de Prince, que sequer chegou a conhecê-lo — participassem do tributo. Dhanny, seu filho, acabou a convencendo. Para nossa sorte.

Quando a canção começou, Petty e Lynne se revesaram nos vocais principais. Prince estava posicionado na lateral do palco, quase escondido, tocando guitarra base. As câmeras praticamente não o focalizavam. Para quem o conhecia, não restava dúvida que havia alguma coisa por trás de toda aquela “discrição”. Não deu outra.

Segundos antes do início do solo final — executado na gravação original, de 1968, por Eric Clapton —, Dhany lançou um sorriso malicioso para Prince, como se dissesse: “Manda ver”. E, literalmente roubando a cena, o americano brindou o público com um dos mais estupefacientes solos de guitarra de sua carreira. 

E, como ainda se precisasse, provou que merecia estar ali. Entre os grandes.


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Money Don't Matter 2 Night’, de Prince


Menos conhecida do que merecia, “Money Don't Matter 2 Night”, faixa do (bom) Diamonds And Pearls [1991], é uma canção pop suave, com pontuais intervenções de uma guitarra jazzy, um refrão eficaz e uma letra que não tem nada de ingênua. 

Trata-se de uma das preferidas do blog.


segunda-feira, fevereiro 15, 2016

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Valentine's Day’, de David Bowie



Pop rock melodioso, “Valentine's Day” foi o quarto single — e uma das melhores faixas — do penúltimo álbum de David Bowie, o ótimo The Next Day [2013]. O título alude ao Dia de São Valentim*, celebrado em vários países como o Dia dos Namorados a cada 14 de fevereiro. Não se trata, contudo, de uma música sobre a data.

A letra fala de um certo Valentim, presumivelmente um adolescente que, como a maioria, vive “em seu próprio mundo” (“Sentimentos que ele guarda mais do que tudo / os professores e os astros do futebol”), em total inadequação com o que se passa ao seu redor (“Como se o mundo inteiro estivesse nos seus calcanhares”). Portanto, apesar do nome — e de ter “algo a dizer” —, ele não tinha motivos para comemorar o Dia de São Valentim.

No vídeo, Bowie apresenta-se despido de qualquer persona. Vestido informalmente, era apenas um senhor de 66 anos, empunhando uma guitarra G2T Hohner em um silo aparentemente abandonado e interpretando sua canção com enorme intensidade. Observem os olhares que ele lançava para a câmera.

Ao final, com a respiração pesada, o artista ergue o seu instrumento, triunfante. E certo de ter conseguido, com a sua antítese, fugir de todos os clichês que se poderia esperar de uma faixa com esse título.



* Há inúmeras controvérsias acerca de São Valentim. A versão mais aceita sobre a sua origem é a de que teria sido um bispo que, clandestinamente, decidiu continuar realizando casamentos em períodos de guerra, contrariando a ordem do imperador Cláudio II — que considerava homens solteiros mais aptos para as batalhas. Descoberto, foi preso e condenado à morte. Enquanto aguardava a execução, recebia cartas e bilhetes de jovens solteiras, em sua maioria reafirmando sua crença no amor. Acabou iniciando um romance (!) com a filha de um dos carcereiros, que era cega e, milagrosamente, recuperou a visão — de onde se explica a canonização. No dia de sua execução, deixou para a moça uma mensagem de adeus, assinando “do seu Valentim” — expressão que, no hemisfério norte, passou a ser sinônimo de “namorado”. Exemplo: “My Valentine”, canção composta e gravada por Paul McCartney em 2013.




Veja o tocante vídeo oficial de “Valentine's Day:

quarta-feira, janeiro 20, 2016

Sting e Peter Gabriel farão turnê juntos



Por essa ninguém esperava: Sting e Peter Gabriel anunciaram que farão uma turnê juntos. Com início previsto para 21 de junho, em Ohio, a Rock Paper Scissor já tem 19 datas agendadas nos EUA e no Canadá.

O nome da turnê foi inspirado na brincadeira (“Pedra, Papel, Tesoura”) utilizada pela dupla para escolher o repertório. Na foto de divulgação, os músicos não perderam a piada.

A exemplo do que ocorreu nos shows que Sting empreendeu com Paul Simon entre 2014 e 2015, não há nenhuma informação sobre o registro da turnê em CD/DVD.




Embora já tenham participado juntos de vários eventos, Sting e Peter Gabriel, até o momento, jamais colaboraram em estúdio. Contudo, é possível observar conexões entre a música dos dois britânicos. Lançada por Gabriel no bem-sucedido So [1986], “Mercy Streey”, acompanhada por um insuspeitado triângulo (!), não soaria deslocada em um álbum do ex-Police. A bem da verdade, até as vozes de ambos guardam certa semelhança:

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Where Are We Now?’, de David Bowie



Em 08 de janeiro de 2013, dia em que completou 66 anos, David Bowie pregou um susto em todo mundo. Após um silêncio de quase uma década — no qual se submeteu a uma cirurgia cardíaca —, lançou uma música nova, pegando de surpresa até a sua assessoria de imprensa.

A serena “Where Are We Now?” era o retrato de um homem nostálgico passeando pelas ruas de Berlin, onde viveu entre 1976 e 1979. Vários pontos da cidade, inclusive, citados na letra.

A faixa era a prévia do roqueiro The Next Day, que chegaria às prateleiras dois meses depois. Diferentemente do experimentalismo dos anos anteriores, Bowie concebeu um disco básico, “tradicional” — para os seus padrões — e com muitas guitarras. E a citação a Berlin no primeiro single não é isolada: a capa [no detalhe] evoca a arte do clássico “Heroes” [1978], segunda parte da chamada “trilogia de Berlin”.




Curiosamente, na letra de “Where Are We Now?”, Davie Bowie se define como um “homem perdido no tempo” que se encontra… “caminhando com os mortos”:

sábado, janeiro 16, 2016

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Sue (Or In a Season of Crime)’, de David Bowie



Duas canções já haviam sido lançadas em single: ‘Sue (Or In a Season of Crime)’ (…)




Ambas regravadas em ★, “Sue (Or In a Season of Crime)” e seu lado B, “'Tis a Pity She Is a Whore”, já haviam sido editadas em single por David Bowie. Eram as duas faixas inéditas da coletânea Nothing Has Changed, de 2014. Gravada na companhia da orquestra de Maria Schneider [que aparecer no detalhe, ao lado do cantor], “Sue...” já indicava o desejo de Bowie de se aproximar do jazz — o que, de certa forma, veio a se materializar em seu último álbum.

Na ocasião, uma matéria do jornal francês Le Monde apontava a (inegável) semelhança entre a melodia de “Sue...” e a de “Cais”, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos. Logo após a publicação, Maria Schneider, coautora da faixa, enviou uma elegante mensagem para Bastos, argumentando que “embora tenha enorme apreço” pela composição da dupla, não teve intenção de fazer referência a ela.

Bastos afirmou que ouviu a gravação de Bowie antes de ler o artigo e não percebeu semelhança com “Cais”. Voltou a ouvir depois de ler a reportagem e, dessa vez, notou sequências harmônicas e notas parecidas, mas “nada que possa ser considerado plágio”. Através de sua assessoria de imprensa, Milton também reconheceu que as duas músicas são “parecidas”. Contudo, assumiu a mesma postura de seu parceiro.

A letra de “Sue (Or In a Season of Crime)” já apresenta menções à doença (“Sue, a clínica telefonou / o raio x está bom”) e à morte (“Sue, você falou que queria escrever ‘Sue, a Virgem’ / na sua lápide / para o seu túmulo”, em uma tradução livre). E, apesar do arranjo classudo, tradicional, a narrativa tem um inesperado desfecho rodrigueano: ao descobrir um bilhete de Sue informando que iria fugir com outro, o eu-lírico, durante um passeio de trem, a atira “nas ervas daninhas”, matando-a.




Veja o vídeo oficial da primeira gravação “Sue (Or In a Season of Crime)” — amplamente superior à versão regravada em ★:

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Cais’, de Milton Nascimento e Ronaldo Bastos



(…) uma matéria do jornal francês Le Monde apontava a (inegável) semelhança entre a melodia de ‘Sue...’ e a de ‘Cais’...




Segunda faixa do estupendo Clube da Esquina, de 1972 [no detalhe, a capa], “Cais”, além da exuberante melodia de Milton Nascimento, apresenta inspirada letra de Ronaldo Bastos, que pode ser compreendida como o relato de um relacionamento encerrado porque uma das partes precisava de “liberdade” (“Para quem quer se soltar / invento o cais”).

Ainda assim, o narrador se mantém firme em suas convicções (“Para quer quem me seguir / eu quero mais / tenho o caminho do que sempre quis”), se mostra aberto a novas possibilidades (“E um saveiro pronto para partir”) e não abdica de seus sonhos (“Invento em mim o sonhador”).




Milton abriu o DVD ao vivo Uma Travessia — 50 Anos de Carreira [2013] com uma magnífica versão de “Cais”. E não abriu mão de sentar ao piano para executar o belo tema instrumental que encerra a gravação original — e que retorna em “Um Gosto de Sol”, também de Clube da Esquina:

terça-feira, janeiro 12, 2016

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Fame’, de David Bowie



Durante as gravações do álbum Young Americans — um mergulho no universo da soul music —, em 1975, no estúdio Record Plant (Nova York), David Bowie e banda trabalhavam em um cover de “Foot Stoppin'”, faixa de 1961 do grupo Flares. E o guitarrista Carlos Alomar criou um riff que, na opinião do cantor, seria um “desperdício” se fosse utilizado em uma canção alheia.

Dias depois, John Lennon apareceu no estúdio, como fazia habitualmente, e Bowie mostrou a ele o riff de Alomar. Lennon rapidamente aprendeu a sequência e ficou tocando em um canto, grunhindo algo como “aim, aim”. Até que, do nada, o ex-beatle murmurou a palavra mágica: “Fame”.

Quando ouviu, Bowie deu um pulo: “É isso! ‘Fame’! O John acaba de nos ajudar a compor a canção!”

Lennon continuou tocando a guitarra rítmica e, em cerca de vinte minutos, a banda finalizou a base da faixa. Naquela mesma noite, em casa, Bowie escreveu a letra, se orientando pelo conceito de “fama”.

No dia seguinte, John retornou ao estúdio. E aprovou o resultado final de sua “parceria” com Bowie e Carlos Alomar:



Veja o vídeo oficial de “Fame:

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Let's Dance’, de David Bowie


Em 1983, David Bowie encontrava-se em estúdio gravando um novo álbum, até então sem título, sob a batuta do produtor Nile Rodgers. Um belo dia, Bowie mostrou uma nova canção — “descartável”, segundo a avaliação do músico inglês — para Rodgers:

Olha, tenho aqui uma coisinha chamada “Let's Dance”. É bem caretinha, mas acho que dá para entrar como algum lado B, só para encher linguiça.

Após ouvir a música, o guitarrista do Chic disse:

Não, deixa ela comigo.

O resto é história. Em entrevista concedida em 1990, o cantor comentou com entusiasmo:

Rodgers fez o arranjo e mudou completamente a música, criando um “monstro”, uma verdadeira obra-prima para as pistas! Algo que eu nunca poderia imaginar!

Além de se tornar a faixa-título do álbum [no detalhe, a capa], “Let's Dance” foi um dos maiores sucessos comerciais da carreira de Bowie:



Veja o vídeo oficial de “Let's Dance: