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sábado, maio 12, 2018

Burt Bacharach: 90 anos


Autor de algumas das mais belas canções populares de todos os tempos, o maestro, pianista e compositor americano Burt Bacharach completa hoje 90 anos de idade.

Vencedor de seis prêmios Grammy e três estatuetas do Oscars, foi regravado por artistas do calibre de Dionne Warwick, Frank Sinatra, Carpenters, Stevie Wonder e até os Beatles, entre outros. Enfim, uma carreira vitoriosa.

Admirador confesso de Ivan Lins, Antonio Carlos Jobim e de baião (!), ele, contudo, nem sempre foi unanimidade. Houve um tempo em que Burt Bacharach era sinônimo  de muzak, easy listening, “música de elevador”. Posteriormente, os detratores perceberam que, apesar de sentimentais e de fácil assimilação, suas composições eram musicalmente muito elaboradas, passando ao largo de qualquer banalidade.

Detalhe: Bacharach não quer saber de aposentadoria. Seu trabalho mais recente foi a trilha sonora do filme A Boy Called Po, lançada no ano passado. E acreditem: ele continua cumprindo a sua agenda de shows (!).

Para os amantes da boa música, é uma alegria e um privilégio celebrar a vida e a obra desse gênio do pop. Flores em vida para ele.



Relembrem alguns de seus inúmeros sucessos:




On My Own”, belo dueto de Patti LaBelle com Michael McDonald, obteve boa execução radiofônica na década de 1980:







Música-tema do filme Arthur, o Milionário Sedutor, “Arthur's Theme (Best That You Can Do)”, parceria de Bacharach com Christopher Cross, rendeu à dupla o Oscar de Melhor Canção:





Na sequência Arthur 2 – O Milionário Arruinado, Bacharach emplacou outra pérola, “Love Is My Decision” — dessa vez, na voz de Chris “The Lady In Red” deBurgh:






Imortalizada na voz de B.J.Thomas, “Raindrops Keep Fallin' On My Head” rendeu a Bacharach os seus dois primeiros Oscar, em 1969:






Sucesso na voz de Dionne Warwick — a maior intérprete de Burt Bacharach —, “Always Something There To Remind Me” ganhou uma boa releitura do Naked Eyes nos anos 1980.






Uma de suas canções mais emblemáticas, “I'll Never Fall In Love Again” foi regravada pelo maestro na companhia do amigo, fã e parceiro Elvis Costello — com quem gravou em 1998 o estupendo álbum Painted From Memory — para a trilha do filme Austin Powers: O Agente Bond Cama:





Por sua vez, a trilha de O Casamento de Meu Melhor Amigo trazia a ótima versão reggae de Diana King para “I Say A Little Prayer”:





Com a delicadeza habitual, os Carpenters, na sua releitura de “(They Long To Be) Close To You”, conseguem emocionar até uma parede






Fechando a sequência com chave de ouro: faixa cuja renda seria destinada às vítimas do vírus HIV, acabou se tornando uma das mais comoventes canções já escritas sobre a amizade. Gravada inicialmente por Rod Stewart, “That's What Friends Are For” recebeu de Dionne Warwick e seus amigos Stevie Wonder e Elton John a sua versão definitiva:



quinta-feira, março 02, 2017

Danilo Caymmi: valeu a pena esperar


CD
Danilo Caymmi Canta Tom Jobim (Universal Music)
2017


Além da carreira solo iniciada em 1977 – ele é um dos autores dos sucessos “Andança” e “Casaco Marrom” –, Danilo Caymmi integrou a Banda Nova, que acompanhava Antonio Carlos Jobim, de 1983 a 1994 – quando o falecimento do Maestro Soberano encerrou as atividades do grupo. E, somente agora, 22 anos depois, Danilo considerou que o momento era apropriado para homenageá-lo. Assim surgiu o ótimo Danilo Caymmi Canta Tom Jobim, que chega às lojas e serviços de streaming via Universal Music.

O filho caçula do mestre Dorival selecionou 11 canções “por critérios afetivos” – revela que viu, por exemplo, “Tema de Amor de Gabriela” sendo composta verso a verso. E, embora não tenha deixado de fora clássicos como “Água de Beber” e “Ela É Carioca”, também optou por reler faixas menos conhecidas como “As Praias Desertas” e “Chora Coração”. 

O clima do álbum é plácido, intimista, com arranjos ultraeconômicos nos quais o violão de nylon se mostra onipresente. Curiosamente, não há um único acorde executado por piano em todo o disco.

Danilo inicia os trabalhos com “Bonita Demais (Bonita)”, com a letra em português escrita por Vinícius de Moraes encontrada em 2005 na Fundação Casa de Rui Barbosa – a original em inglês de Jobim data de 1964. Em “Estrada do Sol”, parceria de Tom com Dolores Duran, o cantor recebe a companhia da americana Stacey Kent – cantando em bom português (!).

A única nota dissonante do repertório é o fox “Querida”, cuja versão original – lançada em Antonio Brasileiro [1994], último disco do autor de “Águas de Março” – é realmente imbatível. Danilo Caymmi Canta Tom Jobim encerra com a maravilhosa “Derradeira Primavera”, também com letra do Poetinha, não deixando nenhuma dúvida de que se trata de um tributo realizado por alguém “da família”. Valeu a pena esperar 22 anos.


Ouça “Estrada do Sol”, com participação de Stacey Kent:

Da série ‘Causos’: a introdução de ‘Samba do Avião’, por Jobim e Dorival Caymmi


Apesar de amigos e confidentes desde a década de 1960 – quando gravaram juntos o álbum Caymmi Visita Tom e Leva seus Filhos Nana, Dori e Danilo [1964] –, Antonio Carlos Jobim e Dorival Caymmi, ironicamente, nunca compuseram em parceria. A única exceção foi uma introdução do sucesso “Samba do Avião” criada por Dorival.

Certa vez, o autor de “Samba da Minha Terra” estava no apartamento de Tom e decidiu colocar letra no trecho final da melodia da canção lançada em 1962. Como mote, lembrou da saudação que a esposa, a cantora Stella Maris, escrevia em todas as cartas enviadas para o marido – que, à época, frequentava um centro espírita em Niterói: “Salve Deus e Thiago e Humaitá”.

Jobim completou mencionando o desconforto que sentia ao aterrissar no aeroporto do Galeão, que hoje leva o seu nome: “Ê, Xangô / vê se me ajuda a chegar”.

A primeira parte da introdução (em letras itálicas) foi composta por Caymmi. A segunda foi inteiramente criada por Tom:


Epa Rei 
Aroeira
Beira de Mar
Canoa
Salve Deus e Thiago e Humaitá.

Eta costão de pedra
Dos “home” brabo do mar
Ê, Xangô
Vê se me ajuda a chegar.”


Curiosamente, a versão de “Samba do Avião” com a introdução criada pela dupla só foi registrada em disco duas vezes: no CD póstumo (gravado em 1987 sob encomenda da Odebrecht, como brinde para os funcionários da empreiteira) Inédito [1995], de Tom Jobim (com vocal solo de Danilo Caymmi); e em Novas Bossas, editado por Milton Nascimento na companhia do Jobim Trio em 2008.



Veja o vídeo de “Samba do Avião” – com direito a introdução, claro:

quinta-feira, janeiro 26, 2017

Da série ‘Frases’: Antonio Carlos Jobim


Hoje em dia sou arrimo de família. Tudo é comigo: 'Papai, furou um pneu', 'vovô, eu estou chegando', etc. e tal.


(Chorei de rir com essa frase de Tom Jobim — justamente por me identificar tanto com ela. Chego a pensar que o problema é esse apelido...)


quarta-feira, janeiro 25, 2017

Antonio Carlos Jobim: 90 anos


A trajetória musical de Antonio Carlos Jobim é repleta de grandes feitos. Em 1964, participou — como pianista e autor de seis das oito faixas do disco de jazz mais vendido da História — o essencial Getz/Gilberto. Três anos depois, recebeu um convite para dividir um disco com ninguém menos do que Frank Sinatra — algo que The Voice nunca havia feito até então e que jamais voltou a fazer.

Jobim foi o grande responsável por tornar a música brasileira mundialmente conhecida: “Garota de Ipanema” é segunda faixa mais executada e regravada de todos os tempos — perdendo apenas para “Yesterday”, dos Beatles. Goste-se ou não dele, o seu papel histórico é incontestável.

Músico clássico por formação, trouxe refinamento à canção popular, criando pérolas que continuarão atravessando gerações como “Águas de Março”, “Wave”, “Desafinado”, “Chega de Saudade” e dezenas de outras. Não tenham dúvida: o Maestro Soberano é o mais importante músico brasileiro de sempre.

Falecido em 1994, aos 67 anos, Antonio Carlos Jobim completaria hoje 90 anos. E, em tempos tão empobrecidos culturalmente como os atuais, a sua imensurável obra precisa, mais do que nunca, ser (re)descoberta. E celebrada.




Em um dos mais belos anúncios já feitos, a Brahma promoveu, em 1991, um emocionante “reencontro” de Jobim com o seu maior parceiro, o poetinha Vinícius de Moraes, falecido em 1980. Vale a pena conferir:


sexta-feira, junho 10, 2016

João Gilberto: 85 anos


Recluso como sempre, João Gilberto completou hoje 85 anos sem nenhum alarde. Até a imprensa pouco noticiou o fato. Paciência: o importante é que, mesmo à sua maneira, o papa da bossa nova ainda se encontra entre nós. E que assim permaneça por muitos anos.



Em comemoração ao aniversário de João Gilberto, o ECAD divulgou os cinco fonogramas mais executados do baiano de Juazeiro. A campeã foi a definitiva versão de "Wave", clássico de Antonio Carlos Jobim, regravada no ótimo Amoroso, de 1977

sexta-feira, dezembro 12, 2014

Da série ‘Fotos’: Antonio Carlos Jobim



Rua Nascimento Silva, 107...”


O primeiro verso de “Carta ao Tom ‘74”, de Toquinho e Vinícius de Moraes, menciona o antigo endereço de Antonio Carlos Jobim, no bairro de Ipanema — o qual não pude deixar de fotografar na última vez em que passei pelo local. 

Jobim nos deixou há exatos vinte anos — faleceu no dia 08 de dezembro de 1994, em Nova York. Mas não é clichê afirmar que as suas canções — que, a bem da verdade, o Brasil ainda não descobriu em sua totalidade — nos acompanharão para sempre. 

Afinal, ele mesmo cantou: “Longa é a arte / tão breve é a vida...

sábado, abril 20, 2013

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Um Abraço no Bonfá’, de João Gilberto




Em 1992, para o seu (bem-sucedido) álbum MTV Unplugged, o mestre das seis cordas compôs e gravou a faixa instrumental  Signe — que lembra vagamente...  Um Abraço no Bonfá, de João Gilberto.




Faixa do segundo álbum de João Gilberto, O Amor, o Sorriso e a Flor, de 1960 [no detalhe, a capa], a instrumental “Um Abraço no Bonfá” é uma das raras composições autorais do inventor da “batida diferente”. E homenageia o compositor brasileiro Luís Bonfá (1922 — 2001), autor de “Manhã de Carnaval”, “Samba de Orfeu” e “Correnteza” (em parceria com Antonio Carlos Jobim), entre outras.

Por sinal, além de diretor musical do disco, Jobim foi o autor de metade das doze canções do trabalho.



sábado, abril 13, 2013

Esbanjando técnica, Biglione relê, ao vivo, Jobim, Bonfá e Charlie Parker


CD
The Gentle Rain — Victor Biglione Trio ao Vivo (Rob Digital)
2013



Ao longo de sua (extensa) carreira, o guitarrista argentino-praticamente-carioca Victor Biglione gravou ao lado de nomes como Cássia Eller, Marcos Valle, Wagner Tiso e o ex-Police, Andy Summers, entre outros. E acaba de lançar o seu trigésimo (!) disco solo, The Gentle Rain, gravado ao vivo.

(Bem) acompanhado por Sérgio Barrozo (baixo acústico) e André Tandeta (bateria), Biglione esbanja técnica em oito fonogramas gravados durante apresentações entre 2000 e 2010 em solo carioca. Com acentuado toque jazzístico, The Gentle Rain apresenta clássicos como “Take Five”, de Paul Desmond, e “Au Privave”, de Charlie “Bird” Parker, além de “Batida Diferente”, de Durval Ferreira e Mauricio Einhorn. 

A faixa-título, composta por Luís Bonfá — parceiro de Antonio Carlos Jobim em “Correnteza” —, foi a música-tema do filme homônimo [1966], que, desde então, recebeu versões de Diana Krall e Tony Bennett, entre outros. O mencionado Jobim, aliás, é o autor mais evidente do álbum — presente em três faixas do trabalho: “Por Causa de Você” (composto com Dolores Duran), “Eu Sei que Vou te Amar” (com letra de Vinícius de Moraes) e “Wave”.

Curiosamente, a capa de The Gentle Rain foi concebida por um artista que, a exemplo de Biglione, também é radicado há muito anos no Rio de Janeiro: o cartunista uruguaio Lan.



Ouça a versão de “Wave” do Victor Biglione Trio:


Livro mostra que Victor Biglione já é ‘de casa’


Livro
O Guitarrista Victor Biglione & a MPB, de Euclides Amaral (Esteio Editora)
2011/2013



Residente no Rio de Janeiro há meio século, Victor Biglione tem a sua proximidade com a música brasileira destrinchada em O Guitarrista Victor Biglione & a MPB, escrito por Euclides Amaral. Com prefácio do compositor Sérgio Natureza e nota do pesquisador Ricardo Cravo Albim, o livro foi editado originalmente em 2011 e recebe agora uma versão revista e ampliada.

Minucioso, Amaral refaz, em 221 páginas amplamente ilustradas — com fotos e partituras —, toda a trajetória profissional de Biglione, nascido em Buenos Aires e torcedor do San Lorenzo, o mesmo time do Papa Francisco I.

Antes de vir para o Rio — onde se estabeleceu em definitivo —, a família Biglione deixou a capital argentina para morar em São Paulo. Mais tarde, o músico transferiu-se para os Estados Unidos, para estudar na Universidade de Berklee, levando debaixo do braço uma carta de recomendação assinada por um certo... Antonio Carlos Jobim.

De volta ao Brasil, o guitarrista passou a acompanhar, em estúdio e apresentações ao vivo, nomes como Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethania, Gal Costa e Djavan, entre outros. O Guitarrista Victor Biglione & a MPB não deixa dúvidas: o músico estrangeiro com mais colaborações em shows e gravações de artistas brasileiros já é, definitivamente, “de casa”.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Lígia’, de Antonio Carlos Jobim


Nem todos sabem, mas parte da letra de “Lígia”, clássico de Antonio Carlos Jobim, foi escrita por ninguém menos do que... Chico Buarque. Foi, aliás, o próprio Chico quem revelou, em um entrevista concedida em 1996.

Tendo sido parceiros em outras canções — como “Retrato em Branco e Preto” e “Pois É”, entre outras —, Jobim procurou Chico com a primeira parte da letra de “Lígia” já pronta (“Eu nunca sonhei com você / nunca fui ao cinema / não gosto de samba / não vou à Ipanema / não gosto de chuva / nem gosto de sol”). A segunda parte, contudo, traz nitidamente a “assinatura” do autor de “Vai Passar”: “E, quando eu lhe telefonei, / desliguei: foi engano / o seu nome, não sei. / Esqueci no piano as bobagens de amor / que eu iria dizer”.

E por que Chico não assinou a canção? A explicação é simples: na década de 1970, o compositor enfrentou problemas com a censura imposta pela ditadura militar, que vetava todas as canções suas que eram submetidas ao crivo dos censores. Tanto que, em 1974, decidiu gravar um disco de intérprete: Sinal Fechado [no detalhe, a capa].

No álbum, Chico recebeu uma inédita de Caetano Veloso (“Festa Imodesta”), outra de Gilberto Gil (“Copo Vazio”) e regravou clássicos de Dorival Caymmi (“Você Não Sabe Amar”), Noel Rosa (“Filosofia”) e Paulinho da Viola (a faixa-título). A única composição autoral, “Acorda, Amor”, foi assinada com o curioso pseudônimo de Julinho da Adelaide (!).

Diante de cenário tão adverso, Chico Buarque, apesar de ter sido o primeiro a gravar “Lígia”, preferiu não receber os créditos pela canção — registrada por Jobim somente no ano seguinte, no álbum Urubu.




Veja a versão de “Lígia” que Chico Buarque cantou no (polêmico) Tributo a Tom Jobim, realizado na Praia de Copacabana, em 1995:





Em seu especial global de 1978, Roberto Carlos convidou Antonio Carlos Jobim para que, juntos, cantassem “Lígia”. Com larga experiência como pianista na noite — foi assim, aliás, que começou a carreira —, Jobim improvisou a terceira parte da letra de canção, (aparentemente) surpreendendo Roberto. Com o seu já conhecido perfeccionismo, o Rei, entretanto, insistiu em cantar a versão original. Este fonograma acabou incluído na compilação Duetos, que RC editou em 2006:


Da série ‘Frases’: Chico Buarque




Eu chamava o Tom de ‘Tão*’, e ele falava: ‘O pessoal na roça me chama de Tão, lá em Poço Fundo’...


Em entrevista concedida em novembro de 1996, Chico Buarque relembrou, bem-humorado, o modo como os habitantes de Poço Fundo, local situado no município de São José do Vale do Rio Preto — que fica a 40 minutos de Petrópolis, Região Serrana do Rio —, onde Antonio Carlos Jobim possuía o sítio Beira Rio, se referiam ao Maestro Soberano [no detalhe, os dois parceiros]. 



* Tenho um amigo de longa data, nascido na cidade de São João do Oriente, interior de MG, que só consegue me chamar de “Tão”. Por sinal, só percebi isso há cerca de três anos. E, a bem da verdade, foi precisamente esta curiosidade que acabou ensejando a postagem.

sábado, novembro 10, 2012

Com apenas duas inéditas, Roberto Carlos reafirma seu apelo comercial


EP
Esse Cara Sou Eu (Amigo Records / Sony Music)
2012



Sem editar um disco de inéditas desde Pra Sempre, de 2003 (!) — o seu álbum de 2005, embora gravado em estúdio, trazia apenas uma música inédita —, Roberto Carlos acaba de lançar EP de quatro faixas, sendo duas inéditas. Desde a pré-venda, Esse Cara Sou Eu passou a liderar as vendas do iTunes — o que reafirma o apelo comercial do cantor de 71 anos de idade, mesmo na era dos downloads ilegais.

Já bastante conhecida do público devido à execução diária na novela Salve Jorge, a faixa-título é o tipo de letra — que, aliás, lembra “Romântico”, canção de 1995 — na qual RC é mestre: clara. Franca. Objetiva. E que retrata uma situação que muitas pessoas já vivenciaram. Ou vivenciam. Ou, pelo menos, gostariam de vivenciar. Por tudo isso, Esse Cara Sou Eu” atinge em cheio — e com extrema facilidade — a sensibilidade do ouvinte. Para completar, o refrão, a despeito de sua simplicidade, pega. No ato.

A maior surpresa do EP, entretanto, é a segunda inédita do EP, a descontraída “Furdúncio”. Funk melody (!) no estilo de “Ela Só Pensa em Beijar” de MC Leozinho — com quem, aliás, o Rei cantou em seu especial global de 2006 —, foi composta em 2007 em parceria com Erasmo Carlos. A parte instrumental contou com a participação da cozinha de Lulu Santos — o baixista Jorge Aílton e o baterista Chocolate. Os mais atentos observarão as terças de vozes, que escancaram a experiência de cinquenta anos do artista em estúdios de gravação. E, por mais improvável que, a princípio, a (ousada) empreitada pudesse parecer... deu certo.

A terceira faixa de Esse Cara Sou Eu é a solene “A Mulher que Eu Amo”, lançada em 2009 na trilha sonora da novela Viver a Vida — e que, até então, jamais havia aparecido em nenhum trabalho do cantor. Balada ao piano adornada com cordas e repleta de versos pungentes (“Quando vem pra mim, é suave como a brisa / e o chão que ela pisa / se enche de flor”), não soaria deslocada em um álbum de Antonio Carlos Jobim. 

Fechando o repertório, “A Volta”, que obteve boa repercussão ao integrar a trilha da novela América, em 2005. Composta a quatro mãos com o Tremendão em 1966, tornou-se o maior sucesso da carreira da dupla Os Vips. Contudo, só foi gravada por Roberto em seu supracitado álbum de 2005, em um (bom) arranjo a la Dire Straits. 

Embora altamente positivo, o lançamento de Esse Cara Sou Eu indica que o aguardado CD de inéditas de Roberto Carlos não deverá mesmo ser lançado este ano. Sendo assim, conclui-se que o álbum só verá a luz do dia em 2014. Afinal, supersticioso, RC provavelmente não lançaria/lançará nada no ano de 2013...




Veja o (simples, mas eficiente) vídeo, com letra, de “Esse Cara Sou Eu:





E ouça o funk melody Furdúncio:


quarta-feira, fevereiro 08, 2012

R. I. P. Wando



Desde o dia 27 de janeiro, quando Wando foi internado em Minas Gerais devido a problemas cardíacos, torci pelo seu restabelecimento. E não apenas por razões humanitárias: sempre nutri sincera admiração pelo seu trabalho.

Por puro preconceito, nem todos admitem. Contudo, naquilo que se propunha a fazer — música assumidamente popular, com doses generosas de erotismo, mas sem jamais perder de vista o romantismo —, Wando era muito bom. Suas canções eram, acima de tudo, sinceras. E, justamente por isso, atingiam facilmente a sensibilidade de seu público.

Vale registrar que grandes nomes da música brasileira reconheceram o valor artístico de Wando, regravando suas composições. Exemplos: Caetano Veloso (“Moça”), Nando Reis (“Fogo e Paixão”, o maior sucesso da carreira de Wando) e até... Roberto Carlos (a delicada “A Menina e o Poeta”), entre outros.

Reza a lenda que, em casa e nos ensaios, Antonio Carlos Jobim gostava de cantar canções de outros autores, por pura diversão. Uma de suas escolhidas era “Mentiras”, de Adriana Calcanhotto. E outra era... a belíssima “Coisa Cristalina”, de Wando.

Descanse em paz, Wando.




Ouça “Coisa Cristalina”, que o artista compôs inspirado em um amigo igualmente apaixonado pela esposa e pela... cocaína...




...e “Tá Faltando um Abraço”:

terça-feira, janeiro 31, 2012

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘This Happy Madness (Estrada Branca)’, com Frank Sinatra & Antonio Carlos Jobim



Regravada por Edu Lobo no ótimo Meia Noite, a letra original de “Estrada Branca”, de Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes — lançada em 1957 por Elizeth Cardoso no clássico Canção do Amor Demais — é triste de doer. Já “This Happy Madness”, a versão anglófona gravada em Sinatra & Company [1971] – com participação de Jobim –, curiosamente, é o oposto. O próprio título já entrega.

A destacar, além da emissão vocal perfeita de Frank Sinatra e do belo arranjo, a intervenção de Antonio Brasileiro no inconfundível “ô, dandá / ô, dandá” — o que será que os americanos pensaram quando ouviram isso? —, que seria citado, pelo próprio Tom, cinco anos depois, na sua obra-prima “Correnteza”, do álbum Urubu.



Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Beatriz’, com Antonio Carlos Jobim



Originalmente lançada em 1983, a trilha sonora do musical O Grande Circo Místico — composta por Edu Lobo e Chico Buarque — foi reeditada em 2009 pela Biscoito Fino, por ocasião de seus 25 anos de lançamento. E esta reedição trouxe uma preciosa faixa-bônus: uma gravação instrumental (inédita) de “Beatriz”, gravada por ninguém menos que... Antonio Carlos Jobim, acompanhado somente pelo violino de João Daltro.

Depois de “dividir os holofotes” com a magnífica letra de Chico Buarque durante todos estes anos no registro impecável de Milton Nascimento, a melodia de Edu Lobo brilhou solitariamente na versão de Jobim — que é capaz de emocionar até mesmo... uma pedra.

Curiosidade: a viúva do Maestro Soberano chama-se Ana Beatriz Lontra Jobim. 





segunda-feira, janeiro 30, 2012

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘Meia Noite’, de Edu Lobo



CD
Meia Noite (Velas)
1995 (reeditado pela Biscoito Fino em 2011)


Por José Luiz Coelho de Andrade*



Lançado originalmente em 1995, o CD Meia Noite, de Edu Lobo, possui inúmeras virtudes. A maior delas é nos presentear com uma verdadeira antologia da magnífica obra desse compositor. Ademais, os arranjos são primorosos: o bom gosto do maestro Cristóvão Bastos reflete-se principalmente no uso inspirado das cordas. A voz de Edu pode não ser tão redonda quanto gostaríamos, mas este detalhe é compensado pela solenidade e dignidade de seu timbre singular. É a voz inconfundível de um artista íntegro, que jamais se rendeu aos apelos comerciais e à mediocridade.

Mencionemos apenas algumas faixas — os pontos altos do disco —, joias inestimáveis de nossa riquíssima música popular brasileira. A primeira canção, composta por Edu com letra de Chico Buarque, é uma obra-prima: “O Circo Místico”. Trata-se de um raro exemplo de canção metafísica, que já começa de modo belíssimo e sutil: “Não sei se é um truque banal/ se um invisível cordão/ sustenta a vida real”. Numa outra passagem, Chico indaga: “Não sei se é nova ilusão/ se após o salto mortal/ existe outra encarnação”.

A quarta faixa, “Beatriz”, é um clássico absoluto, e ficou mais conhecida pela interpretação sublime de Milton Nascimento na trilha do musical O Grande Circo Místico. É evidente a correlação com a Beatriz da Divina Comédia, de Dante: o poema fala de uma mulher etérea, mistura de musa e sacerdotisa. “Me ensina a não andar com os pés no chão”, suplica o poeta Chico, como se essa mulher especial pudesse iniciá-lo num processo de elevação. E mais adiante, o verso inesquecível: “Diz se é perigoso a gente ser feliz”.

Só Me Fez Bem”, a sexta faixa, é uma canção mais antiga de Edu, parceria sua com Vinicius de Moraes. O casamento entre música e letra é perfeito. Vinicius tinha essa capacidade de encaixar as palavras magicamente. O “poeta da paixão”, docemente melancólico, podia dizer naturalmente coisas como “é melhor viver / do que ser feliz”. Essa pérola do jovem Edu Lobo pode ser comparada com “Coração Vagabundo”, de Caetano Veloso — duas canções igualmente simples e geniais.

Sobre Todas as Coisas” (faixa 7) também faz parte de O Circo Místico, e recebeu, no disco original, uma emocionada interpretação de Gilberto Gil. A letra impecável de Chico Buarque fala do movimento cósmico (“Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel”) e reflete sobre o Deus “que criou o nosso desejo”.

Quanto a “Canto Triste”, a oitava faixa, é até difícil dizer alguma coisa: estamos diante de uma das canções mais extraordinárias que já foram feitas. Só nos resta reverenciar o lirismo da música e da letra de Vinicius. O filósofo e poeta Francisco Bosco, filho de João Bosco, tem toda razão quando diz que, “no fundo, não existe canção triste”: triste mesmo é a ausência da poesia e da beleza.

Passamos então à faixa 10, “Candeias”, composta solitariamente por Edu, que ficou conhecida através de Domingo, disco histórico de Gal e Caetano. No álbum de estreia de ambos, fizeram um trabalho maravilhoso, com a pureza e a limpidez dos inícios. “Candeias” tem o sabor de um acalanto: é música que nos acaricia e possibilita o repouso verdadeiro, aquele descanso que raramente desfrutamos.

E, por fim, Dori Caymmi canta “Pra Dizer Adeus”, letra de Torquato Neto. Mais um clássico de Edu, que Dori interpreta com a sua voz grave e profunda, correspondendo plenamente à densidade emocional da canção.

O único momento do disco dedicado a um outro compositor é “Estrada Branca”, de Antonio Carlos Jobim. É uma homenagem mais do que merecida: um gigante celebra um deus, digamos assim. Afinal, Jobim é um arquétipo, um modelo, um homem que nasceu para gerar música, a tal ponto que é impossível imaginar o mundo sem o que ele produziu. A propósito, cabe lembrar que Jobim e Edu gravaram juntos, em 1981, um belo disco — sintomaticamente batizado de Edu & Tom.




* JOSÉ LUIZ COELHO DE ANDRADE é professor de filosofia e biodança. E sua colaboração enche de orgulho este blog.

terça-feira, outubro 25, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Garota de Ipanema’



Composta em 1962 por Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, “Garota de Ipanema” chamava-se inicialmente “Menina que Passa”. E recebeu os seguintes versos: “Vinha cansado de tudo / de tantos caminhos / tão sem poesia / tão sem passarinhos / com medo da vida / com medo de amar. / Quando, na tarde vazia / tão linda no espaço / eu vi a menina / que vinha num passo / cheio de balanço / caminho do mar”.

Entretanto, os dois parceiros estavam insatisfeitos com a letra. Sendo assim, Vinicius a reescreveu, inspirado na jovem Helô Pinheiro [à esquerda], que passava frequentemente pela calçada do bar Veloso — atual Garota de Ipanema —, situada na rua Montenegro — que, posteriormente, passaria a se chamar rua Vinícius de Moraes. Na época, o Maestro Soberano e o Poetinha eram habitués do local.

No ano seguinte, “Garota de Ipanema” foi gravada no célebre álbum Getz/Gilberto. E, em 1964, foi a vez do próprio Jobim registrá-la, em seu The Composer Of Desafinado Plays.

Três anos depois, Frank Sinatra convidou Tom para que, juntos, gravassem o histórico Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, o que projetou mundialmente a música do brasileiro. Adivinhem qual faixa abre o álbum? 

Garota de Ipanema” acabou se tornando a segunda canção mais executada e gravada no planeta em todos os tempos (!) — perdendo apenas para “Yesterday”, dos Beatles. O que deveria ser motivo de orgulho para todos nós, brasileiros.

No entanto, pouca gente se dá conta disso. Infelizmente.




Veja o antológico vídeo de Frank Sinatra e Antonio Carlos Jobim, ambos esbanjando charme, cantando “The Girl From Ipanema” em um especial da TV americana:




E ouça a (espetacular) versão gravada por Jobim em um de seus mais brilhantes trabalhos, Inédito, de 1987. Ao lado da sua inseparável Banda Nova, Tom, discretamente “desconstrói” o próprio clássico, começando a canção pela parte dois (“Ah, por que estou tão sozinho?”), criando improvisos, alterando andamentos – enfim, fazendo o diabo com “Garota de Ipanema”:

Stevie Wonder e a música brasileira


No momento em que Stevie Wonder [no detalhe] incluiu “Garota de Ipanema” no roteiro de sua recente apresentação no Rock In Rio, muitos podem ter pensado que tratava-se de mais um exemplo de “gringo fazendo média” — quando, na verdade, não é nenhum pecado que um músico estrangeiro tenha um gesto de “simpatia” para com a cultura de um país em que esteja visitando.

(Ainda que, em alguns casos, seja pura demagogia mesmo...)

Wonder, entretanto, possui uma ligação antiga com a música brasileira — tendo, inclusive, participado de trabalhos de artistas nacionais como Djavan e Sérgio Mendes [saiba mais aqui].

Em seu álbum Live, de 1970, Stevie gravou uma versão em inglês de Sergio Mendes — de quem é amigo de longa data — para “Sá Marina”, de Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, sucesso na voz de Wilson Simonal.


Ouça “Pretty World (Sá Marina):



No ano seguinte, SW visitou o Brasil pela primeira vez, para uma pequena apresentação. Na ocasião, o samba “Você Abusou”, da dupla Antônio Carlos & Jocafi, fazia um estrondoso sucesso que, posteriormente, atravessaria fronteiras — a música foi gravada até em francês (!).

Eventualmente, Stevie a incluí no roteiro de seus shows. Foi assim em 1995, quando trouxe a sua turnê Conversation Peace para o Free Jazz Festival. E voltou a acontecer agora, no Rock In Rio, como música incidental em “Garota de Ipanema”.






Em 1973, Wonder compôs uma canção inspirada no modo “cuca fresca” do povo brasileiro: a arrasadora “Don't Worry 'Bout a Thing”, lançada originalmente no (excelente) Innervisions.


Veja o vídeo de “Don't Worry 'Bout a Thing”, extraído do (estupendo) DVD Live At Last, de 2009:


Por fim, em seu mais recente álbum de estúdio, A Time To Love [2005], a influência brasileira se faz presente na swingada — e praticamente desconhecida — “Sweetest Somebody I Know”, cuja melodia, em alguns momentos, se assemelha a... “Samba de Uma Nota Só”, clássico de Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça.



Ouça “Sweetest Somebody I Know: