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quarta-feira, novembro 15, 2017

Em bela homenagem, Lulu Santos ‘se apropria’ e ‘desconstrói’ Rita Lee



CD
Baby, Baby! (Universal Music)
2017

2017 seria uma um “ano sabático” para Lulu Santos [em foto de divulgação de Léo Aversa]. Sim, “seria”: a leitura da autobiografia de Rita Lee, editada no final de 2016, alterou os planos do cantor. E motivou o lançamento de Baby, Baby!, no qual regravou doze faixas da legítima rainha do rock nacional. É a segunda vez que Lulu dedica um trabalho a um outro artista: em 2013, prestou uma respeitosa homenagem a Roberto e Erasmo Carlos.

Do alto de 35 anos de carreira discográfica, não se poderia esperar que Lulu caísse na armadilha do cover – e, naturalmente, ele não caiu. Muito pelo contrário: “se apropriou” de “Desculpe o Auê”, “Baila Comigo” – embora esta não tenha necessariamente se beneficiado da mudança de compasso – e “Caso Sério”, inserindo-as na estética de “bolero havaiano” de sucessos seus como “Sereia” e “Como uma Onda”.

O mesmo vale para “Disco Voador”, que abre os trabalhos – e supera a gravação original, lançada por Rita no LP Babilônia, de 1978 – com direito a um solo de slide guitar que remete à sonoridade dos três primeiros discos do artista. Para quem não conhece a canção, soa tranquilamente como a “a música nova de Lulu Santos”. No mais, o músico se dedicou a “desconstruir” as canções de sua musa.

Famosa pela gravação de Elis Regina, “Alô, Alô, Marciano” ganhou inesperada roupagem eletrônica. O clássico “Ovelha Negra” – cujo refrão, aliás, batizou o CD –, apesar dos sequenciadores, tem uma levada de… baião (!). E o rock “Agora Só Falta Você” se transformou em um... funk melody (!). Aos críticos do ritmo carioca, uma observação: o resultado, acreditem, foi bastante satisfatório.

Originalmente dançante, a pouco conhecida “Paradise Brasil” – do álbum Reza, de 2012 – não sofreu alterações na releitura de Lulu. “Mania de Você”, no entanto, ressurgiu como um trip hop soturno, acrescido de um belo solo de guitarra. Do repertório d'Os Mutantes, a escolhida foi “Fuga nº II”, que, apesar dos timbres bem escolhidos, nada acrescentou à faixa.

Concebido com um rock a la Rolling Stones para o terceiro disco solo da cantora, Atrás do Porto Tem uma Cidade [1974], “Mamãe Natureza”, na versão de Lulu, tornou-se um blues, com a adição de discretos metais estilo “Penny Lane”. O calcanhar-de-Aquiles do disco é a (surpreendentemente) apática releitura de “Nem Luxo, Nem Lixo”, que encerra os trabalhos em uma espécie de “anticlímax”. Melhor lembrar do matador registro de 1995 de Marina Lima.

Baby, Baby! possui dois grandes méritos: a) a originalidade com que a obra de Rita Lee – que merece ser sempre celebrada e atualizada para as novas gerações – foi abordada; b) não é sempre que temos a feliz oportunidade de presenciar um vértice do “triângulo mágico” do pop nacional homenageando o outro – o terceiro chama-se Guilherme Arantes. Contudo, em se tratando de um hitmaker como Lulu Santos, um CD de inéditas seria bem-vindo: o mais recente, o regular Luiz Maurício, é de 2014.



Leia também:




Veja o simpático lyric video de “Baila Comigo:


segunda-feira, março 15, 2010

Júlio Barroso: a promessa não-cumprida do rock nacional

O disc-jockey, poeta e jornalista carioca Júlio Barroso [foto] foi, sem dúvida, a grande promessa não-cumprida do rock nacional.

Gravou, em 1983, um único disco com à frente da Gang 90, Essa Tal de Gang 90 & as Absurdettes, com o qual emplacou três hits: a ótima “Nosso Louco Amor” (tema da novela Louco Amor, de Gilberto Braga, exibida naquele mesmo ano), “Perdidos na Selva”* (regravada, com sucesso, pelo Barão Vermelho, em 1996), e “Telefone” (que recebeu, em 1999, uma versão do Ira!, com participação de Fernanda Takai).

Barroso morreu no dia 06 de julho de 1984, aos 30 anos, ao cair da janela de seu apartamento – no 11º andar –, em São Paulo, em circunstâncias não esclarecidas até hoje. Fica a certeza de que seria um ídolo da envergadura de Renato Russo, Cazuza e Lobão, se a vida não tivesse lhe escapado tão precocemente.



* Curiosidade: “Perdidos na Selva” é uma parceria de Julio Barroso com... Guilherme Arantes. Entretanto, o festival MPB Shell não permitia que um autor concorresse com duas canções. Sendo assim, Arantes, que na edição de 1981 já defendia “Planeta Água” – que terminou na segunda colocação –, abriu mão da autoria de “Perdidos na Selva”.



Veja os vídeos de “Telefone...



...“Nosso Louco Amor...




...e “Perdidos na Selva.

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

Guilherme Arantes, 2

Autor de um sem-número de gemas pop, Guilherme Arantes compôs aquela que, na minha modesta opinião, é a mais... lúcida de todas as canções de “coração partido” que conheço (e não me restrinjo à Língua Portuguesa): “Pedacinhos (Bye Bye, So Long)”, faixa do álbum Ligação* [no detalhe], de 1983.

A despeito de toda a simplicidade da letra (ou, talvez, por causa dela), Guilherme acertou na mosca: “Para que ficar juntando os pedacinhos de um amor que se acabou? Nada vai colar. Nada vai trazer de volta a beleza cristalina do começo. E os remendos pegam mal - logo vão quebrar.” Perfeito.

É triste quando as pessoas se exasperam no afã de reviver algo de impossível restauração - como quem tenta consertar um copo que se espatifou no chão. O encanto inicial dificilmente se recupera. Então, partindo desse pressuposto... para que insistir?

Seria uma estupidez, no entanto, não reconhecer que, na prática, a coisa pode não ser assim tão... fácil. Mas, de qualquer forma, confira a íntegra dessa letra clicando aqui.



* Curiosidade: nesse álbum, Lobão toca bateria na faixa “Rolo Compressor”.

Guilherme Arantes, 1

No mesmo evento que mencionei no post abaixo (link aqui), Lulu Santos teceu entusiasmados elogios a Guilherme Arantes. Fiquei gratificado por ter presenciado esse momento.

Isso porque, cerca de vinte dias antes dessa data, entreguei ao INTERNATIONAL MAGAZINE a resenha do CD Lótus e da dobradinha CD/DVD Intimidade, de Guilherme [ver dez posts abaixo]. (Por um pequeno lapso editorial, a matéria acabou sendo publicada somente na edição seguinte. Coisas da imprensa.)

No texto em questão, relaciono o trabalho de Lulu ao de Arantes (“Pouquíssima gente parou para pensar que muito da existência artística de nomes como Kid Abelha e Lulu Santos se deve a Guilherme Arantes. Lulu, aliás, em apresentações ao vivo, cita ‘Deixa Chover’ no final de sua ‘Tudo Com Você’ há pelo menos dez anos.”).

E, em uma incrível coincidência, Lulu acabou endossando tudo o que eu havia dito nesse artigo - sem que o mesmo já tivesse chegado às bancas:

- Ele tem uma obra fantástica. Existem pelo menos dez canções dele que eu gostaria de ter feito.

Lulu aproveitou para fazer duras críticas à criação do (pejorativo) “Troféu Guilherme Arantes”. Mas falaremos sobre isso em um outro momento.



Em tempo: por uma questão de justiça, também não podemos deixar de mencionar a (enorme) importância de Rita Lee para a sedimentação da canção pop nacional.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Lulu Santos: Encontros O Globo


Estive presente a mais uma edição do Encontros O Globo - Especial Música, realizado no auditório do jornal, cujo convidado dessa vez foi ninguém menos que Lulu Santos. Diante de uma platéia, do ponto de vista etário, heterogênea - o que confirma que sua música atinge a pessoas de todas as idades -, o mestre do pop brasileiro, durante duas horas, falou sobre sua carreira, suas influências (como o twist, o pop anglo-americano e o samba de raiz) e cantou sucessos como “Tempos Modernos” (“foi com essa música que passei a ter confiança na minha capacidade como compositor”, disse ele), “Tão Bem”, “Assim Caminha a Humanidade” e “A Cura”. Lulu também cantou uma inédita em sua voz, o samba “Quisera Eu”, parceria sua com Zélia Duncan.

Absolutamente à vontade - e brincalhão como nunca - Lulu respondeu às perguntas dos mediadores (os jornalistas Bernardo Araújo, Antônio Carlos Miguel e Ronald Villardo; e a cantora Preta Gil), do público presente e dos internautas que enviaram mensagens através d'O Globo On Line. Questionado sobre a inspiração para “Como uma Onda”, seu maior clássico, o artista foi sincero:

- O que essa música tem é um bocado de harmonia. Um dia desses, estive observando a obra dos Beatles e percebi que, via de regra, tudo funciona em três acordes. O cancioneiro brasileiro tradicional, no entanto, é repleto de harmonias complexas. E 'Como uma Onda' foi inspirada, na verdade, em 'Acontece', de Cartola - disse o cantor para, logo em seguida cantar a sua famosa canção, para delírio dos presentes.

Perguntei sobre o possível relançamento de Mondo Cane - o seu excelente álbum de 1992, e ele respondeu:

- Tenho vontade de relançar não somente esse, como também os demais discos meus que não se encontram mais em catálogo. Como o Long Play, meu disco mais recente, foi editado pelo meu selo, apenas com a distribuição a cargo da Som Livre, pode ser que agora seja mais fácil negociar essas reedições.

Mas confirmou que Long Play pode realmente ser o seu último trabalho:

- Pode ser o último, sim, nesse formato: de coleção de canções, de CD propriamente dito. Hoje existem tantas formas de se comercializar música: pelo celular, através de download... E não é só isso: tenho muitas canções e sinto vontade de reler meus 'lados b'. Tanto que, atualmente, quando alguém me pede uma canção inédita, eu respondo: 'puxa, procure dar uma olhadinha nos meus 22 discos. Pode ser que você encontre lá alguma coisa que te agrade...'

Lulu confessou que adora jogar Guitar Hero (“vocês tinham que me ver tocando Nirvana naquilo”, disse, arrancando risos da platéia) e aproveitou para elogiar Alexandre Pires e Xororó (“ambos são muito bons, muito sérios naquilo que fazem”). E ainda falou com um apreço todo especial sobre Guilherme Arantes:

- Ele tem uma obra fantástica. Existem pelo menos dez canções dele que eu gostaria de ter feito.

Um internauta enviou uma mensagem classificando o funk carioca como uma “deturpação musical”, por causa das “letras agressivas”, e perguntando se o cantor era “a favor” do gênero. Lulu não respondeu. Em silêncio, pegou o violão e cantou a letra singela de “Se Não Fosse o Funk”, de MC Marcinho, gravada por Lulu em Long Play. Momentos depois, filosofou:

- Atualmente, não existe nada que me irrite mais do que... a própria irritação. Porque você tem dois trabalhos: o de se irritar; e, depois, o de se acalmar. Então, é melhor evitar logo o primeiro trabalho.

Veja algumas fotos que tirei do Encontro:












Os mediadores [da esquerda para a direita]: os jornalistas Bernardo Araújo e Antônio Carlos Miguel, a cantora Preta Gil e o também jornalista Ronald Villardo





segunda-feira, março 12, 2007

Errata

Ainda garoto, aprendi que, quando erramos, o ideal é - antes mesmo de surgir a reclamação - assumir o equívoco, pedir desculpas e... esperar a compreensão alheia.

Na resenha do CD Prisma, de Paulo Ricardo, que escrevi para a edição do IM INTERNATIONAL MAGAZINE de fevereiro - que, aliás, ainda se encontra nas bancas -, afirmei que PR havia gravado uma "inédita" de Guilherme Arantes (aliás, um dos autores brasileiros de música pop que mais admiro). Ledo engano.

A música em questão chama-se "Contradição" e, na realidade, NÃO é inédita: foi gravada sob o título de "Ciúme" pela belíssima cantora brasiliense Vanessa Barum [foto], em seu álbum de estréia, de 1996. Vanessa, por sinal, possui um web site bem interessante, que pode ser acessado aqui.

Mas, cá para nós (sem querer ser indelicado): e não é PR conseguiu fazer uma versão mais legal do que a dela?