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terça-feira, maio 01, 2018

Sting e Shaggy: parceria ‘improvável’ quebrando paradigmas



CD
44/876 (Universal Music)
2018


Um belo dia, Martin Kierszenbaum, produtor de Sting e também empresário de Shaggy, pediu ao astro inglês para gravar os vocais no refrão de uma faixa inédita do cantor jamaicano, a singela “Don't Make Me Wait”. Poucos meses depois, os dois artistas anunciaram não apenas ter finalizado a canção, mas, para surpresa geral… um álbum inteiro (!). Assim surgiu 44/876 — cujo título faz referência aos códigos de discagem de Reino Unido e Jamaica, respectivamente —, disponível em formato físico e nas plataformas digitais desde o dia 20 de abril.

Logo de cara, o CD quebrou dois paradigmas. É a primeira vez, em 33 anos de carreira solo, que Sting divide um trabalho com outro artista. Além disso, com exceção de uma outra faixa desde o fim do Police — como “Love Is The Seventh Wave” (1985) e “All Four Seasons” (1996) —, representa uma volta ao reggae após um hiato de mais de três décadas.

O clima de bom humor e camaradagem exibido pela dupla nos pockets shows e entrevistas de divulgação não parece ser jogo de cena: em “Morning Is Coming”, na irresistível “Gotta Get Back My Baby” e na canção que dá título ao disco (na qual confessa que o fantasma de Bob Marley “o asssombra” até os dias de hoje) fica claro que o baixista entrou, numa boa, na praia de Mr. Boombastic. E, ao se deparar com as 15 faixas da bolacha, o ouvinte só imagina duas hipóteses: a) o autor de “Englishman In New York” teve um surto de criatividade; b) ou decidiu abrir o baú de composições.

Todavia, apesar de ter embarcado no território musical de Shaggy, a assinatura de Sting como compositor aparece com muita nitidez em algumas faixas. “16 Fathoms” e “Crooked Tree”, por exemplo, poderiam muito bem integrar a trilha sonora de The Last Ship, musical idealizado pelo baixista que estreou na Broadway em 2013. As melodias de “Sad Trombone” da bela “22nd Street” evocam a proximidade do músico com o jazz. Da mesma forma, um piano jazzístico pontua a boa “Waiting For The Break Of Day”, cujo verso anárquico “se as leis são perversas / você é forçado a desobedecer” instiga tanto quanto os backing vocais gospel (!) no final da faixa. 

Dreaming In The U.S.A.” é um caso à parte. Pop rock que, do ponto de vista sonoro, destoa do restante do álbum, trata-se de uma declaração de amor aos Estados Unidos e a ícones americanos como Elvis, Sinatra e Marilyn Monroe. Contudo, não deixa de lamentar, implicitamente, a era Trump: “Aguardo o dia em que todos habitaremos uma América melhor”. Curiosamente, entretanto, um dos destaques do álbum não é uma canção autoral. A delicada “Love Changes Everything”, um primor de letra e melodia de Andrew Lloyd Weber, emociona em sua roupagem lovers rock. É a única faixa na qual Sting canta sozinho.

Em resumo, 44/876 é um álbum leve, solar e despretensioso, que tem tudo para agradar tanto aos que acompanham a carreira de Shaggy quanto àqueles que apreciam o Sting mais pop, menos “erudito”. Aliás, ao longo dos últimos 15 anos, o ex-Police tem declarado que “a surpresa é o elemento-chave na música de hoje”. E, sintomaticamente, um novo trabalho dele é sempre muito diferente do anterior. Portanto, se a intenção dele era surpreender o seu público com uma parceria tão “improvável”, o objetivo foi atingido. Não se espantem se ele permanecer em silêncio nos próximos dois, três anos. E reaparecer com algo inesperado.



O vídeo oficial de “Don't Make Me Wait”, primeira faixa de trabalho de 44/876, foi gravado em Kingston, capital da Jamaica. Na companhia de seu novo-amigo-de-infância, o inglês parece estar à vontade: joga sinuca, dominó e ainda bebe uma cerveja Red Stripe. E se diverte em meio às cenas, digamos, calientes, do povão dançando no baile. Vale a pena conferir:

domingo, novembro 20, 2016

Sting: de volta ao básico



CD
57th & 9th (Universal Music)
2016


Sting nunca escondeu que o fator surpresa sempre foi o principal motor de seu trabalho. Em 2007, depois de gravar o CD de alaúde mais vendido da história (o medieval Songs From The Labyrinth), deixou o mundo estupefato ao reativar o Police para uma bem-sucedida turnê mundial – algo que passou duas décadas repetindo que “jamais” faria. Terminada a excursão, passou a ostentar uma barba típica de um profeta e debruçou-se nas canções invernais do melancólico If On A Winter's Night [2009]. Em outra reviravolta, decidiu reler faixas de sua carreira solo e de seu antigo grupo acompanhado por uma grande orquestra em Symphonicities [2010]. E, por fim, compôs a trilha do seu primeiro musical exibido na Broadway, The Last Ship [2013]. Portanto, o que surpreenderia o seu público? Um retorno ao formato básico de baixo-bateria-guitarra, sem dúvida. Bingo: essa é justamente a proposta do inglês no recém-lançado 57th & 9th – esquina nova-iorquina que ele atravessava diariamente no caminho para o estúdio de gravação. Detalhe: o seu último disco “de carreira”, o bom Sacred Love, foi lançado em 2003 (!).

É bem verdade que a irresistível “I Can't Stop Thinking About You”, que abre os trabalhos, e a pesada “Petrol Head” não soariam deslocadas no repertório do Police. Aliás, perguntado se o disco novo teria o som característico do trio, Sting respondeu à moda Newcastle (região do norte da Inglaterra onde nasceu, na qual as pessoas são reconhecidamente… rudes): “I am the fucking Police”. Contudo, é mais apropriado definir 57th & 9th como um álbum de pop rock – como a agradável “One Fine Day”, que clama para que, “um dia desses”, líderes mundiais se mobilizem acerca do aquecimento global. 

Um dos pontos altos é a amarga “50,000”, que mostra o impacto que as mortes de David Bowie, Prince, Glenn Frey e do amigo Alan Rickman (o “Snape” da série Harry Potter) exerceram sobre Sting, que completou 65 anos no mês passado. “Outro obituário no jornal de hoje”, lamenta. Em um determinado trecho, ele parece se dirigir aos seus ex-colegas de banda: “Como lembro bem dos estádios em que tocamos / e as luzes que varriam o mar de 50.000 almas que enfrentaríamos”. E, ciente da “imortalidade” que os seus companheiros de profissão costumam atingir, conclui: “Astros do rock nunca morrem / apenas desvanecem”.

Por outro lado, o Sting reflexivo dos últimos 30 anos se faz presente nas acústicas “Heading South On The Great North Road”, balada com ares celtas que poderia tranquilamente estar em The Last Ship, e “The Empty Chair”, que encerra os trabalhos com um pedido: não ser esquecido depois de partir (“Guarde o meu lugar e a cadeira vazia / e, de alguma forma, estarei lá”). 

Bom letrista, ele se mostra afiado na arabesca “Inshallah”, que aborda a questão dos refugiados. O título é uma expressão bastante utilizada no mundo islâmico, que, em uma tradução livre, equivale ao nosso “se Deus quiser”. Na edição Deluxe do álbum, há uma outra versão dessa faixa, gravada em Berlim na companhia de músicos egressos da Síria. No entanto, a melhor letra provavelmente é a tocante “If You Can't Love Me” (“Não quero nada pela metade (…) / se você não consegue me amar assim / então você tem que me deixar”).

Embora um tanto incompreendido – e subestimado – desde o início de sua trajetória solo, Sting já foi indicado 38 vezes para o Grammy, tendo vencido em 16 ocasiões. Está indiscutivelmente inserido no panteão dos grandes compositores pop do século passado, onde já se encontram Lennon & McCartney, Jagger & Richards, Elton John & Bernie Taupin, o supracitado David Bowie e Bob Dylan, entre outros. E, em 57th & 9th, a mensagem é clara: a canção popular ainda é assunto dele, sim. 



Ouça “50,000...



...e “Petrol Head:


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘I Can't Stop Thinking About You’, de Sting


Ao entrar em estúdio para gravar 57th & 9th, Sting não possuía uma única canção inédita – todas foram compostas durante o processo. E “I Can't Stop Thinking About You”, que acabou se tornando a primeira faixa de trabalho, foi gerada de forma curiosa.

Em um determinado momento, o músico se dirigiu à varanda de sua cobertura em Manhattan, em meio a uma nevasca, para que as condições “adversas” lhe trouxessem inspiração. Deu certo: assim surgiu uma metacanção que fala justamente sobre a angústia do artista diante da “tela em branco” (“Página em branco / um campo vazio de neve / meu quarto está 25 graus abaixo de zero”). Não se trata, portanto, de uma canção romântica – como muitos podem ter imaginado.

Infecciosa desde os primeiros acordes e dona de um refrão poderoso, “I Can't Stop Thinking About You” é faixa mais despudoradamente pop que Sting lança desde “If I Ever Lose My Faith In You”, de 1993 (!). Um clássico instantâneo que, a partir de agora, não poderá ficar de fora dos shows do ex-Police – e tampouco de suas futuras coletâneas.



Veja o vídeo oficial da canção:



Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Your Love’, do The Outfield


A ótima “Your Love”, o maior sucesso comercial dos ingleses do The Outfield, é a música que o Police “esqueceu” de compor e gravar – tamanha é a influência do trio, desde o arranjo até o agudo registro vocal.

Faixa de Play Deep [no detalhe, a capa – que não tinha como ser mais feia], de 1985, álbum de estreia da banda, a canção tem uma particularidade: só começou a ser executada (maciçamente) nas rádios brasileiras cinco anos após o lançamento.

Em 2014, com a morte de John Spinks, guitarrista e principal compositor, o grupo encerrou as suas atividades. De qualquer forma, adoraria ter visto a cara de Sting, Andy Summers e Stewert quando ouviram “Your Love” pela primeira vez…


Veja o vídeo oficial de “Your Love:

quarta-feira, janeiro 20, 2016

Sting e Peter Gabriel farão turnê juntos



Por essa ninguém esperava: Sting e Peter Gabriel anunciaram que farão uma turnê juntos. Com início previsto para 21 de junho, em Ohio, a Rock Paper Scissor já tem 19 datas agendadas nos EUA e no Canadá.

O nome da turnê foi inspirado na brincadeira (“Pedra, Papel, Tesoura”) utilizada pela dupla para escolher o repertório. Na foto de divulgação, os músicos não perderam a piada.

A exemplo do que ocorreu nos shows que Sting empreendeu com Paul Simon entre 2014 e 2015, não há nenhuma informação sobre o registro da turnê em CD/DVD.




Embora já tenham participado juntos de vários eventos, Sting e Peter Gabriel, até o momento, jamais colaboraram em estúdio. Contudo, é possível observar conexões entre a música dos dois britânicos. Lançada por Gabriel no bem-sucedido So [1986], “Mercy Streey”, acompanhada por um insuspeitado triângulo (!), não soaria deslocada em um álbum do ex-Police. A bem da verdade, até as vozes de ambos guardam certa semelhança:

quinta-feira, dezembro 03, 2015

Mylène Farmer e Sting: o ex-Police e a ‘Madonna francesa’


Single digital
Stolen Car (Take Me Dancing) (Universal Music)
2015


Lançada em Sacred Love [2006], sétimo álbum solo de estúdio de Sting, “Stolen Car (Take Me Dancing)” foi regravada pela cantora Mylène Farmer, em dueto com o autor. O ex-Police, aliás, também participa do (lascivo) vídeo.

Farmer, tida como uma “Madonna francesa” — embora tenha nascido no Canadá — preferiu não se arriscar, mantendo-se bastante fiel ao (eletrônico) arranjo original. Inclusive, não esqueceu os bongôs marroquinos (!) da introdução. Dessa forma, deu uma nova oportunidade a uma das mais instigantes canções de Sting — que, na ocasião de seu lançamento, passou em brancas nuvens.

Na letra, o eu-lírico é um rapaz pobre que rouba um carro de luxo. E, enquanto conduz o veículo pelas ruas da cidade, projeta-se na vida de seu dono — e imagina os seus prováveis problemas. O refrão, por sinal, é uma hipotética “cobrança” da esposa do ricaço: “Por favor, leve-me pra dançar essa noite / tenho estado completamente sozinha. / Você prometeu que, um dia, poderíamos ir / foi o que você disse no telefone (...) Leve-me para dançar / por favor, leve-me para dançar essa noite”.

Embora a gravação tenha sido concluída em 2014, somente agora foi lançada em single digital. E também integrará Interstellaires, décimo trabalho de Mylène Farmer.



Veja o vídeo oficial de “Stolen Car (Take Me Dancing)”, no qual Sting se divide em dois papéis: o homeless que dirige o carrão e o magnata em tórridas cenas com a madame. Resta saber como ele explicou isso em casa...

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Like a Beautiful Smile’, de Sting


E se alguém transformasse o famoso “Sonnet 18”, de William Shakespeare (1564? — 1616), editado pela primeira vez em 1609 (!), em uma ensolarada canção pop?

Foi exatamente o que Sting fez em 2006: musicou os versos do maior escritor da língua inglesa — detalhe: sem realizar uma única alteração na grafia original — e assim surgiu “Like a Beautiful Smile”. O resultado? Shakespeare jamais imaginaria tal ousadia.

Inicialmente gravada ao vivo no estúdio para o DVD Inside: The Songs of Sacred Love, foi incluída posteriormente como faixa-bônus de Sacred Love [2006], sétimo álbum solo de estúdio do ex-Police.



Veja o vídeo de “Like a Beautiful Smile:

domingo, janeiro 04, 2015

Sting: Prêmio Kennedy 2014



No dia 07 de dezembro — somente agora os vídeos foram disponibilizados na web —, Sting foi um dos agraciados com o Prêmio Kennedy 2014 pelo conjunto de sua obra. 

Nada mais justo: gostem alguns ou não, trata-se de um dos mais brilhantes compositores populares do século XX, autor de pérolas como “Every Breath You Take”, “Fields Of Gold” e “Roxanne”, entre outras. Bom melodista e exímio letrista, não ganhou 16 Grammy Awards à toa.

Como de praxe, algumas canções do homenageado foram interpretadas por outros artistas em um pocket show, que sempre conta com a presença do presidente dos Estados Unidos e sua primeira dama. Os demais laureados dessa edição foram o ator Tom Hanks, a comediante Lily Tomlin, a bailarina Patricia McBride e o “reverendo” da soul music Al Green.



Lady GaGa — que, certa vez, em pleno palco, classificou Sting como “uma de suas pessoas favoritas no mundo” — abriu os trabalhos. Acompanhada por uma banda afiada, cantou a suingada “If I Ever Lose My Faith In You”. E nem mesmo os exageros vocais da cantora comprometeram a sua (boa) releitura:




Em seguida, Esperanza Spalding e Herbie Hancock tocaram “Fragile”, uma das canções de Sting com notável influência da sonoridade brasileira:




Na sequência, Bruce “O Cara” Springsteen retribuiu a (excelente) participação de Sting no Prêmio Kennedy de 2009, quando foi um dos homenageados. E simplesmente “quebrou tudo” em uma versão antológica do country “I Hung My Head”. Em um determinado momento, o autor, no camarote, fechou os olhos tentar para conter a emoção. Após um lancinante solo de guitarra de “The Boss”, um coral gospel adentra o palco, coroando uma performance para ver e rever várias e várias vezes:




O grand finale ficou sob a responsabilidade de Bruno Mars — o mesmo que, na cerimônia do Grammy de 2013 conseguiu a façanha de colocar Sting para cantar uma canção sua (!). E o jovem não fez feio no medley que reuniu dois dos maiores sucessos do Police: “So Lonely” e “Message In A Bottle”. É bem verdade que Sting assistiu a apresentação inteira com os olhos marejados. Mas o momento de maior emoção para o baixista foi quando, para sua surpresa, todo o elenco de The Last Ship, seu primeiro musical na Broadway, entrou em cena para o encerramento:

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘I Hung My Head’, de Sting


No DVD Live In Berlin [2010], Sting revelou que o seu apreço de infância por seriados western como Bonanza fez com que se aproximasse da música country. Anos mais tarde, quando começou a compor, era natural eventualmente querer escrever canções inspiradas no gênero, como “This Cowboy Song” [1994]. Contudo, o fato de ser inglês sempre o deixou tímido para enveredar por um estilo musical tradicionalmente americano.

Até que, um dia, o lendário Johnny Cash regravou a sua “I Hung My Head” — o que foi recebido por Sting como uma espécie de “aval”.

Faixa do quinto álbum solo de estúdio do ex-Police, Mercury Falling [no detalhe, a capa], de 1996, trata-se de uma de suas letras mais instigantes, embora pouco conhecida: no raiar do dia, um camponês pega emprestado o rifle de amigo e sai para caminhar. Ao avistar um cavaleiro que passava ao longe, apontou em sua direção para treinar a própria mira. Subitamente, a arma lhe escapa das mãos e dispara sozinha, ferindo mortalmente a vítima. Julgado diante da população da pequena cidade, o atirador mostra-se arrependido e implora o perdão da viúva e dos filhos do cavaleiro. Mas não escapa da punição: a guilhotina.

A canção também foi interpretada de modo magistral por Bruce Springteen na cerimônia na qual Sting recebeu o Prêmio Kennedy 2014




Ouça a versão de Johnny Cash, lançada no surpreendente American IV: The Man Comes Around, de 2002:




E veja o vídeo com a versão do autor, extraído do supracitado DVD Live In Berlin:

sábado, novembro 22, 2014

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Panamericana’, de Lobão



Parceria sua com o baixista Arnaldo Brandão (ex-A Outra Banda da Terra e Hanoi Hanoi) e o poeta Tavinho Paes, “Panamericana” abre o sexto álbum de estúdio de Lobão, Sob o Sol de Parador, editado em 1989 [no detalhe, a capa].

Na ocasião de seu lançamento, o cantor explicou:

— “Panamericana” fala sobre uma hipotética “República das Bananas” — no caso, Parador —, com 19 perguntas e nenhuma resposta.

De fato, a incisiva letra faz um resumo da (triste) história política da América Latina, enumerando vários de seus movimentos armados: os uruguaios Tupamaros, os argentinos Montoneros, o peruano Sendero Luminoso e os colombianos do 19 de abril (M-19), entre outros. A citação da famosa frase do guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara, um dos líderes da Revolução Cubana, no refrão (“Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás”), evidentemente, foi pura ironia...

A síntese de “Panamericana” pode ser encontrada no segundo verso da canção, que questiona a fragilidade das instituições democráticas do continente: “O que é democracia ao sul do Equador?

Curiosidade: as também mencionadas Mães da Praça de Maio, do Chile, haviam sido homenageadas, dois anos antes, pelo U2, em “Mothers Of The Disappeared”, (de The Joshua Tree) e por Sting, em “They Dance Alone” (de ...Nothing Like The Sun).




sábado, março 29, 2014

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘The Book Of My Life’, de Sting



Em seu álbum Sacred Love, de 2003, Sting incluiu uma canção que alude a Fora do Tom [acima, a capa], a (excelente) autobiografia que viria a lançar três anos depois: “The Book Of My Life”. 

Na faixa, o ex-Police compara a sua trajetória aos capítulos de um livro. E uma metáfora que se revelaria absolutamente previsível em mãos alheias, adquire, sob o olhar do músico inglês, significados mais amplos. Embora praticamente desconhecida, trata-se de uma de suas mais profundas composições.

Minucioso, Sting enumera praticamente todos os aspectos de sua vida. Menciona os pais. Os filhos. O amor. Deus — que afirma “não entender”. Os conflitos “que ninguém venceu”. As promessas — tanto as “mantidas” quanto as “quebradas”. Os (inconfessáveis) segredos. As palavras proferidas — verdadeiras ou não. As tristezas (“Sempre existe algum sofrimento em cada vida”). E, claro, as alegrias.

No refrão, há o desfecho mais-que-perfeito:


Embora as páginas sejam numeradas,
não consigo ver para onde me conduzem.
Porque o fim é um mistério
que ninguém pode ler...

no livro da minha vida.



The Book Of My Life” traz a (brilhante) participação da citarista Anouskha Shankar, filha do mestre Ravi Shankar, que conferiu à gravação matizes... espirituais, digamos assim.




Leia também:







Ouça “The Book Of My Life”, em um video fan made repleto de poesia:

sexta-feira, fevereiro 07, 2014

‘On Stage Together’: a turnê de Sting e Paul Simon



Não faz muito tempo, Sting e Paul Simon [no detalhe], amigos de longa data — e moradores do mesmo prédio em Nova York nos anos 1980 — tentaram compor uma canção juntos. Entretanto, sem chegar a um acordo em relação ao tema, acabaram colocando a ideia de lado. 

Contudo, após a apresentação beneficente para a Robin Hood Foundation, em maio de 2013 — na qual tocaram “The Boxer” e “Fields Of Gold” —, decidiram iniciar uma (inusitada) colaboração. A dupla sairá em turnê, intitulada On Stage Together, com datas agendadas nos EUA e Canadá até o dia 16 de março. O primeiro espetáculo, aliás, acontece precisamente amanhã, em Houston, no Texas.

Além dos sets individuais, Simon e Sting pretendem “fundir” canções suas que possuam temática semelhante — como “Brand New Day” e “50 Ways to Leave Your Lover”, por exemplo (“Uma fala sobre o início de um relacionamento e a outra, sobre o fim”, explica o ex-Police). E também desejam “trocar figurinhas”: o americano já declarou que gostaria de cantar “Fragile” e o inglês, “The Boy In The Bubble”. Outro provável destaque do roteiro é “Bridge Over Troubled Water”, pérola regravada por Elvis Presley, que será interpretada em dueto.

Apesar de elogiar o antigo parceiro de Simon, Art Garfunkel (“Uma das mais belas vozes da história do pop”, classificou), Sting se apressou em dizer que não tem a intenção de “imitá-lo”.

Embora animados com a empreitada, Sting e Paul Simon, envolvidos em seus próprios projetos, não cogitam prolongar a turnê para além do mês de março — e tampouco registrá-la em CD/DVD. O baixista estreará em junho, na Broadway, o seu musical The Last Ship, cuja trilha foi lançada em setembro do ano passado. E Simon, por sua vez, está trabalhando em um álbum de inéditas.




Veja o vídeo de “The Boxer”, gravado por alguém da plateia durante o show de estreia da turnê da dupla, realizado ontem em Houston, no Texas:

terça-feira, outubro 08, 2013

Inaugurando a série ‘Curiosidades’: ‘Everybody Laughed But You’ e ‘January Stars’, de Sting



Ainda sobre Sting: “Everybody Laughed But You” é uma obscura — porém interessante — canção que integra o repertório de Ten Summoner's Tales [acima, a capa], de 1993, quarto disco solo de estúdio do músico inglês. Por alguma razão, foi excluída nas versões do álbum lançadas nos Estados Unidos e no Canadá — sendo alocada, naqueles dois países, no lado B do primeiro single de trabalho, “If I Ever Lose My Faith In You”.

E ocorre que o ex-Police decidiu aprontar uma. Aproveitou somente a melodia do refrão e a base instrumental da gravação de “Everybody...” e escreveu uma nova melodia, acompanhada de uma letra completamente diferente. Assim nasceu “January Stars”, que chegou às prateleiras como lado B de “Seven Days”, segundo single de Ten Summoner's Tales.

O resultado? Confiram e escolham a sua preferida:



Everybody Laughed But You



January Stars

terça-feira, setembro 24, 2013

Em ‘The Last Ship’, Sting ‘navega’ distante do pop


CD
The Last Ship (Cherrytree/Interscope/A&M Records)
2013


Ex-Police edita o seu primeiro álbum de inéditas em uma década

Nos últimos dez anos, até que Sting trabalhou um bocado. Em 2004, lançou a sua (excelente) autobiografia, Fora do Tom, e rodou o mundo até o ano seguinte com a turnê batizada com o nome do livro (Broken Music). Em 2006, na companhia do músico bósnio Edin Karamazov, editou Songs From The Labyrinth, o disco de alaúde mais vendido de todos os tempos. Entre 2007 e 2008, realizou uma (surpreendente) turnê mundial ao lado do Police, que acabou gerando CD/DVD/Blu-ray ao vivo, Certifiable. Já em 2009, deixou a barba crescer e lançou o belo e introspectivo If On a Winter's Night..., composto apenas  por canções invernais. Por fim, em 2010, acompanhado por uma orquestra sinfônica, releu o seu cancioneiro em Symphonicities, que também gerou o audiovisual ao vivo Live In Berlin. Entretanto, apenas de tanta labuta, o fato é que o último disco de inéditas do baixista — o bom Sacred Love — chegou às prateleiras em 2003. Há exatos... dez anos (!).

Rompendo o silêncio autoral, Sting — após um processo criativo que lhe rendeu quase três anos (!) de “imersão” — ressurge com The Last Ship, lançado mundialmente hoje, 24 de outubro de 2013. O trabalho, na verdade, é a trilha sonora do musical homônimo, que marcará a sua estreia na Broadway. O tema do espetáculo é a derrocada da indústria naval de Newcastle, sua cidade natal, situada ao norte da Inglaterra, ocorrida na década de 1980. E, embora a peça só entre em cartaz em 2014, o músico, com astúcia, lançou o disco um ano antes, para que o público se “familiarizasse” com as canções — a maior parte delas, de uma forma ou de outra, fala sobre rios, marés, barcos e quetais.

Ambicioso, o álbum está disponível em quatro formatos: CD simples, vinil — ambos com 12 faixas — e CD duplo com 17 ou 20 músicas.



Nenhum sinal do autor de ‘If I Ever Lose My Faith In You’ 

Primeiramente, é essencial frisar que, em The Last Ship, não há o mais remoto vestígio do pop de “If I Ever Lose My Faith In You” ou “Every Breath You Take”. Sendo assim, é recomendável que aqueles que procuram essa faceta do artista mantenham distância segura deste trabalho. O Sting que se faz presente se assemelha, na verdade, ao autor das bucólicas “Fields Of Gold” [1993] e “The Ghost Story” [1999].

Musicalmente, contudo, o disco é bem variado. A épica faixa-título, que abre os trabalhos, apresenta clara influência celta, com direito, inclusive, a gaita de fole — e o instrumento, por sinal, volta a aparecer em “Ballad Of Great Eastern” e na também celta “What Have We Got?”, dueto com o ator-cantor inglês Jimmy Nail. Curiosamente, em vários momentos do álbum, Sting, pela primeira vez em toda a sua discografia, evoca o sotaque típico de Newcastle — o chamado Novocastrian.

No quesito letra, o compositor continua afiado. O acalanto “August Winds”, estruturado em um violão de nylon, remete aos questionamentos dos versos de “Shape Of My Heart” [1993] — inclusive, volta a falar em “máscara”. Já a valsa (!) “The Night The Pugilist Learned How To Dance” é de cortar o coração: conta a estória de um jovem pugilista de 15 anos — com seu “nariz quebrado” e “orelha de couve-flor” — que decide aprender a dançar para conquistar a sua amada. Cole Porter provavelmente aprovaria.

Outro grande momento é a delicada-porém-impactante “I Love Her But She Loves Someone Else”, em que o eu-lírico é um homem de idade avançada que, confrontado com a perspectiva de sua “mortalidade”, relembra o passado e seus revezes. E conclui: “Esqueci o primeiro mandamento do manual do realista: ‘Não se deixe enganar por ilusões que você mesmo criou’...”.



Do início ao fim, alto nível lírico e musical

A primeira faixa de trabalho foi a minimalista “Practical Arrangement”, possivelmente uma das menos óbvias letras românticas já escritas no cancioneiro popular mundial. Já o segundo single de trabalho é a (espirituosa) bossa nova “And Yet”, que conta com discretas (e precisas) intervenções de seu fiel escudeiro, o guitarrista Dominic Miller. Trata-se da melhor música do disco.

Ainda que um tanto hermético, o trabalho mantém, do início ao fim, alto nível lírico e musical. E reafirma que, artisticamente, o único “compromisso” do ex-Police, prestes a completar 62 anos de idade — e ainda com a voz “em dia” — é consigo próprio. Vale lembrar, no entanto, que The Last Ship é uma trilha sonora. Portanto, seria agradável ouvir, depois de tanto tempo, um disco com canções de Sting que não estivessem “vinculadas” a uma determinada temática.



Leia também:




Veja o vídeo da bossa nova “And Yet”, segundo single de The Last Ship, extraído do programa Later... with Jools Holland...





...e também da magnífica valsa (!) “The Night The Pugilist Learned How To Dance”, em vídeo extraído do programa Le Grand Studio, da TV francesa RTL:


Sting, de 2003 a 2013: índice remissivo



Sobre Sacred Love [2003], o último trabalho de inéditas de Sting, escrevi aqui. Sobre Fora do Tom, a excelente autobiografia do cantor, aqui. Para ler sobre Songs from the Labyrinth, álbum de alaúde gravado ao lado do músico bósnio Edin Karamazov, basta clicar aqui

A matéria sobre o histórico show do Police no Estádio do Maracanã encontra-se aqui. Já a análise de If Only a Winter's Night..., disco de “canções de inverno” lançado em 2009, está aqui. E, por fim, a resenha do CD Symphonicities, gravado com o acompanhamento de uma orquestra sinfônica pode ser lida aqui.

quarta-feira, julho 24, 2013

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Moon Over Bourbon Street’, de Sting





Desde os tempos do Police, as canções de Sting são repletas de referências literárias absolutamente incomuns à música pop. “Don't Stand So Close To Me” — faixa de Zenyatta Mondatta [1981], terceiro álbum do trio —, por exemplo, menciona Lolita, do russo Wladimir Nabokov. Um dos clássicos da banda, “Message In a Bottle” — de seu segundo disco, Regatta de Blanc [1980] —, remete claramente a Robinson Crusoé, romance de Daniel Defoe.

Em seu primeiro álbum solo, The Dream Of Blue Turtles [1985], o baixista se inspirou no livro Entrevista com o Vampiro [1976], de Anne Rice, para compor “Moon Over Bourbon Street”. Escrita na primeira pessoa, “Moon...” narra a torturante (e imortal) rotina de um vampiro, que vaga pelas noites de Nova Orleans.

Em sua estrofe final, a letra também alude ao desfecho de A Balada do Cárcere de Reading, célebre poema de Oscar Wilde: “Eu devo amar o que destruo / e destruir o que amo”.

Não por acaso, Sting já regravou “Moon Over Bourbon Street” cinco (!) vezes ao longo de sua discografia: nos álbuns ao vivo Bring On The Night [1986], ...All This Time... [2001] e Live In Berlin [2010]; no DVD Live From Universal Ampitheatre [2000]; e como lado B do single Send Your Love [2003].



Veja o vídeo de “Moon Over Bourbon Street”, extraído do DVD Live In Berlin:


Da série ‘Frases’: Oscar Wilde

“...mas a gente sempre destrói aquilo que mais ama...”


Do poema “A Balada do Cárcere de Reading”, escrito por Oscar Wilde em 1896, enquanto estava na prisão — mas publicado somente dois anos depois. Inconscientemente (ou não), Sting citou o verso do escritor irlandês em sua canção “Moon Over Bourbon Street”.


terça-feira, julho 16, 2013

‘Practical Arrangement’, o novo single de Sting



Exatos dez anos após Sacred Love, o seu último trabalho de inéditas, Sting (finalmente) anuncia um novo álbum. The Last Ship reúne faixas que o ex-Police compôs para o musical homônimo que marcará, em 2014, a sua estreia na Broadway.

A primeira música de trabalho, já disponível no iTunes, é a bela “Practical Arrangement”. Solene balada ao piano — com indisfarçável influência dos standards americanos —, “Practical...” ilustra, com impecável lirismo, uma situação nada usual em canções românticas: o homem propõe à mulher que eles passem a viver juntos apenas por razões “práticas” — contando com a possibilidade de que ela talvez aprenda a amá-lo / com o tempo”.

O lançamento mundial de The Last Ship está previsto para o dia 24 de setembro.



Veja o vídeo de “Practical Arrangement”, extraído de uma aparição do cantor em um programa de TV na Noruega:



Da série ‘Frases’: Sting

I will turn your face to alabaster
Then you will find your servant is your master


Da metafórica “Wrapped Around Your Finger”, de Synchronicity [1983], quinto e último álbum do Police.


sábado, fevereiro 23, 2013

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Locked Out Of Heaven’, de Bruno Mars


Por mais que, atualmente, o cenário pop não possua, nem de longe, a inspiração de priscas eras, sempre é possível encontrar uma faixa que se sobressaia em meio à mesmice. É o caso da infecciosa “Locked Out Of Heaven”, de Bruno Mars.

Faixa de Unorthodox Jukebox [no detalhe, a capa], segundo álbum do havaiano, lançado em novembro de 2012, “Locked...” leva o ouvinte na conversa desde o “oh, yeah, yeah” da introdução. E, estruturada no trinômio baixo-bateria-guitarra, prova que (ainda) é possível formatar uma canção verdadeiramente pulsante sem abusar de elementos eletrônicos.

Não foi à toa que, na cerimônia do Grammy deste ano, Mars conseguiu fazer que Sting cantasse “Locked Out Of Heaven”... junto com ele! Na plateia, figuras como Adele e Nicole Kidman não conseguiram disfarçar o entusiasmo com a canção.



Veja o vídeo oficial de “Locked Out Of Heaven: