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segunda-feira, setembro 26, 2011

Sobre Geraldo Pereira

Mineiro de Juiz de Fora, Geraldo Pereira [no detalhe] morou próximo ao Morro da Mangueira, o que  fez com que se tornasse um dos compositores da escola — e também amigo de Cartola.

Considerado o inventor do “samba sincopado” — que, anos mais tarde, influenciaria a bossa nova —, Geraldo foi o autor de “Falsa Baiana”, regravada por Gal Costa, “Acertei no Milhar” e “Pisei num Despacho”, entre outras. 

Entretanto, sua obra mais conhecida é, sem dúvida, “Sem Compromisso”, que Chico Buarque gravou em seu “álbum de intérprete”, Sinal Fechado, de 1974. Segundo o próprio Chico, no DVD Anos Dourados, foi Antonio Carlos Jobim quem o apresentou a este samba.

Geraldo Pereira morreu, em 1954, aos 31 anos, em uma briga de faca com Madame Satã, “figurinha carimbada” da Lapa daquela época.



Veja o vídeo de “Sem Compromisso”, com Chico Buarque e Antonio Carlos Jobim, extraído de um especial da Rede Bandeirantes:




E ouça também a versão que Simone gravou em seu álbum ao vivo Feminino, de 2002, na companhia de Zeca Pagodinho. A dupla não perdeu a oportunidade de fazer algumas impagáveis “atualizações” na letra do antigo samba...

terça-feira, agosto 02, 2011

Ney Matogrosso completa 70 anos



Desde o início de sua (respeitável) trajetória, ainda como vocalista dos Secos e Molhados, Ney Matogrosso [foto] tem caracterizado a sua carreira pela constante fuga do óbvio.

Durante os chamados “anos de chumbo”, ainda que as letras de seu repertório não trouxessem necessariamente críticas sociais — como as de Chico Buarque e Gonzaguinha, por exemplo —, foi contestador à sua maneira. Certa vez, declarou que “rebolava para chocar os censores”.

De lá para cá, foi o responsável pelo sucesso do Barão Vermelho — ao regravar “Pro Dia Nascer Feliz”, do segundo disco do grupo carioca; gravou um estupendo recital ao lado do genial violonista Raphael Rabello; e debruçou-se sobre as canções de Heitor Villa-Lobos, de Ângela Maria, do já mencionado Chico Buarque e de Cartola. Enfim, sempre surpreendeu.

Dono de um estilo ímpar de cantar e se apresentar, Ney Matogrosso chega aos 70 anos de idade — completados ontem, 01 de agosto — em plena forma vocal e física. E em franca atividade artística. Longa vida a ele.


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Ouça “Promessas Demais”, de Zeca Barreto e Moraes Moreira sobre poema de Paulo Leminsky. Lançada no álbum Mato Grosso, de 1982, trata-se de um primor de melodia, letra e arranjo — que vai do plácido ao vibrante com igual desenvoltura. Foi tema de abertura da novela Paraíso, de Benedito Ruy Barbosa, exibida naquele mesmo ano. E, muito provavelmente, é a minha faixa predileta do artista.

 

segunda-feira, novembro 17, 2008

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Azul e Amarelo’, de Lobão e Cazuza

Nem todos sabem que Lobão [no detalhe] e Cazuza – fãs confessos de Cartola [ver dois posts abaixo] – deram crédito ao autor de “O Sol Nascerá” em uma canção que compuseram juntos.

A faixa em questão chama-se “Azul e Amarelo” e integrava o último CD do ex-vocalista do Barão Vermelho, Burguesia, de 1989. Já o Grande Lobo a registrou em seu álbum Sob O Sol de Parador, naquele mesmo ano.

A “parceria” entre os três deu-se pelo fato de a canção citar, na letra, dois versos de “Autonomia”, do compositor mangueirense: “Mas não quero, não vou/ Não quero...”.

A gravação de Cazuza – a melhor, na modesta opinião desse vosso amigo – apresenta um doce arranjo bossa-novístico, enquanto a versão de Lobão é adornada por flautas que aludem imediatamente à sonoridade de outro mestre: Pixinguinha.




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Curiosidade: em meados de 1989, a extinta Rede Manchete exibiu um especial de Lobão em que ele cantava “Azul e Amarelo” na companhia de ninguém menos que... Paulinho da Viola. Infelizmente, não há no You Tube nenhum vídeo dessa apresentação.


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Em 1995, mencionei essa canção à falecida Dona Zica. Essa, aliás, foi a única vez em que estive pessoalmente com ela. E a viúva de Cartola, um tanto lacônica, respondeu-me: “É verdade. Recebo parte dos direitos dela, inclusive...”

terça-feira, novembro 04, 2008

Os 100 anos de Cartola


No dia 11 do mês passado, Angenor de Oliveira, o Cartola, teria completado 100 anos de idade, se vivo estivesse. Homem simples, de pouca escolaridade, Cartola deixou uma obra de grande lirismo e musicalidade elaborada - apesar de ter gravado apenas quatro discos de estúdio. Sua memória é respeitada muito além dos limites do mundo do samba.

E uma boa dica para se ouvir Cartola é o tributo Bate Outra Vez [no detalhe], editado em 1988 e atualmente fora de catálogo. Com participações de artistas do calibre de Caetano Veloso (“Acontece”), Gal Costa (“As Rosas Não Falam”) e Nelson Gonçalves (“Peito Vazio”), entre outros, o disco é quase perfeito. O único porém foi o aparente desconforto de Paulo Ricardo em “Autonomia”. Mas não chegou a comprometer o resultado final do trabalho.

Destaque para as gravações de Leila Pinheiro (“Disfarça e Chora”), Luiz Melodia (“Cordas de Aço”) e o ótimo dueto de Paulinho da Viola e Elton Medeiros (“Amor Proibido”). Tente não se emocionar com a releitura angelical de “Corra e Olha o Céu” da afinadíssima Vânia Bastos, talvez a melhor faixa do CD.





Olhar, gostar só de longe
não faz ninguém chegar perto.
E o seu pranto, ó triste senhora,
vai molhar o deserto...”

(“Disfarça e Chora”, Cartola e Dalmo Casteli, 1974)



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Curiosidade: Cazuza detestava a sua releitura de “O Mundo é um Moinho” para esse álbum. Em entrevista ao Jornal do Brasil em dezembro de 1988, o compositor disparou: 

— Odeio a minha gravação. Ficou tão ruim como se o Cartola tivesse gravado um rock...




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Outra curiosidade: a exemplo do álbum Elis e Tom, conheci Bate Outra Vez, ainda em vinil, através de meu pai. Lembro com exatidão do dia em que ele chegou em casa com esse disco e pôs para tocar. Meu queixo caiu.

quinta-feira, novembro 15, 2007

Lulu Santos: Encontros O Globo


Estive presente a mais uma edição do Encontros O Globo - Especial Música, realizado no auditório do jornal, cujo convidado dessa vez foi ninguém menos que Lulu Santos. Diante de uma platéia, do ponto de vista etário, heterogênea - o que confirma que sua música atinge a pessoas de todas as idades -, o mestre do pop brasileiro, durante duas horas, falou sobre sua carreira, suas influências (como o twist, o pop anglo-americano e o samba de raiz) e cantou sucessos como “Tempos Modernos” (“foi com essa música que passei a ter confiança na minha capacidade como compositor”, disse ele), “Tão Bem”, “Assim Caminha a Humanidade” e “A Cura”. Lulu também cantou uma inédita em sua voz, o samba “Quisera Eu”, parceria sua com Zélia Duncan.

Absolutamente à vontade - e brincalhão como nunca - Lulu respondeu às perguntas dos mediadores (os jornalistas Bernardo Araújo, Antônio Carlos Miguel e Ronald Villardo; e a cantora Preta Gil), do público presente e dos internautas que enviaram mensagens através d'O Globo On Line. Questionado sobre a inspiração para “Como uma Onda”, seu maior clássico, o artista foi sincero:

- O que essa música tem é um bocado de harmonia. Um dia desses, estive observando a obra dos Beatles e percebi que, via de regra, tudo funciona em três acordes. O cancioneiro brasileiro tradicional, no entanto, é repleto de harmonias complexas. E 'Como uma Onda' foi inspirada, na verdade, em 'Acontece', de Cartola - disse o cantor para, logo em seguida cantar a sua famosa canção, para delírio dos presentes.

Perguntei sobre o possível relançamento de Mondo Cane - o seu excelente álbum de 1992, e ele respondeu:

- Tenho vontade de relançar não somente esse, como também os demais discos meus que não se encontram mais em catálogo. Como o Long Play, meu disco mais recente, foi editado pelo meu selo, apenas com a distribuição a cargo da Som Livre, pode ser que agora seja mais fácil negociar essas reedições.

Mas confirmou que Long Play pode realmente ser o seu último trabalho:

- Pode ser o último, sim, nesse formato: de coleção de canções, de CD propriamente dito. Hoje existem tantas formas de se comercializar música: pelo celular, através de download... E não é só isso: tenho muitas canções e sinto vontade de reler meus 'lados b'. Tanto que, atualmente, quando alguém me pede uma canção inédita, eu respondo: 'puxa, procure dar uma olhadinha nos meus 22 discos. Pode ser que você encontre lá alguma coisa que te agrade...'

Lulu confessou que adora jogar Guitar Hero (“vocês tinham que me ver tocando Nirvana naquilo”, disse, arrancando risos da platéia) e aproveitou para elogiar Alexandre Pires e Xororó (“ambos são muito bons, muito sérios naquilo que fazem”). E ainda falou com um apreço todo especial sobre Guilherme Arantes:

- Ele tem uma obra fantástica. Existem pelo menos dez canções dele que eu gostaria de ter feito.

Um internauta enviou uma mensagem classificando o funk carioca como uma “deturpação musical”, por causa das “letras agressivas”, e perguntando se o cantor era “a favor” do gênero. Lulu não respondeu. Em silêncio, pegou o violão e cantou a letra singela de “Se Não Fosse o Funk”, de MC Marcinho, gravada por Lulu em Long Play. Momentos depois, filosofou:

- Atualmente, não existe nada que me irrite mais do que... a própria irritação. Porque você tem dois trabalhos: o de se irritar; e, depois, o de se acalmar. Então, é melhor evitar logo o primeiro trabalho.

Veja algumas fotos que tirei do Encontro:












Os mediadores [da esquerda para a direita]: os jornalistas Bernardo Araújo e Antônio Carlos Miguel, a cantora Preta Gil e o também jornalista Ronald Villardo