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sábado, novembro 11, 2017

Inaugurando a série ‘Certas Canções’: Milton Nascimento


Já dizia o mestre Nelson Motta: “Tudo muda o tempo todo no mundo”. E, assim, após 225 postagens desde 2006, a série São Bonitas as Canções – cujo nome foi extraído de um verso de “Choro Bandido”, de Edu Lobo e Chico Buarque – passa a chamar Certas Canções, título da composição de Tunai e Milton Nascimento.

Faixa de Änïmä, de 1982 [no detalhe, a capa], no qual Bituca se encontrava no auge como intérprete, “Certas Canções” fala da identificação – e do deslumbramento – de um compositor diante da canção de outro autor: “Certas canções que ouço cabem tão dentro de mim / que perguntar carece: ‘Como não fui eu que fiz?’”.

Com seu refrão pungente e registro vocal estupendo, “Certas Canções” se tornou um clássico instantâneo do repertório de Milton Nascimento.




segunda-feira, maio 16, 2016

Cauby Peixoto (1931 — 2016)


O blog faz questão de registrar o seu respeito eterno àquele que foi – e sempre será – um dos nossos maiores cantores. O primeiro ídolo brasileiro: Cauby Peixoto.



Poucos intérpretes souberam incorporar uma canção quanto Cauby em sua versão arrebatadora – e definitiva – de "Bastidores", de Chico Buarque:


sexta-feira, dezembro 26, 2014

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Vai Passar’, de Chico Buarque



“(...) E pode despertar o interesse do mercado internacional de rock para o autor de ‘Vai Passar’...”




Analisando nos dias de hoje, não deixa de ser irônico lembrar que Chico Buarque finalizou o seu álbum epônimo de 1984 [no detalhe, a capa] com o samba “Vai Passar”, que trazia os seguintes versos:


Dormia a nossa pátria, mãe tão distraída,
sem perceber que era subtraída
em tenebrosas transações...”



sexta-feira, dezembro 12, 2014

Sérgio Vid ousa ao reler Chico em roupagem roqueira e com letras em inglês


CD 
Rock ‘N’ Chico (independente)
2015 
(Foto: Elias Nogueira)


Ao longo dos anos, a obra de Chico Buarque já foi relida inúmeras vezes, e pelos artistas das mais diversas vertentes. Mas, sem sombra de dúvida, nunca de maneira tão inusitada quanto no projeto Rock ‘N’ Chico — que levou sete anos até ver a luz do dia —, de Sérgio Vid, uma das melhores vozes da cena carioca dos anos 1980.

A idéia de Vid, ex-Sangue da Cidade — do sucesso “Brilhar a Minha Estrela (“Dá Mais Um)” — sobressaiu em relação a todas as abordagens anteriores das canções de Chico: regravá-las com uma roupagem roqueira. E com todas as letras vertidas para inglês (!).

O resultado é simplesmente estupendo. Produzido pelo tecladista PH Castanheira, o álbum apresenta excelente padrão sonoro. Dono de um inglês impecável, Vid continua com o vocal em plena forma. E respeitou a temática das letras de todas as dez faixas do álbum, lançadas entre 1968 e 1989. 

Apesar de não possuir resquício algum de samba em seu arranjo, “If You Know Who You Are (Partido Alto)”, que abre a bolacha, consegue conservar a malandragem da gravação original. Já a pungente “I Forgive You (Mil Perdões)” manteve a sua carga emocional preservada. Outro grande momento é a etérea “Two Brothers’s Hill (Morro Dois Irmãos)”, que finaliza o disco. Todavia, o destaque inconteste é “Women Of Athens”, épica versão de “Mulheres de Atenas”, cuja sonoridade lembra as grandiloquentes baladas do Led Zeppelin.

Fã ardoroso de Chico, Sérgio Vid revelou que o compositor — que, todos sabem, sempre foi admirador dos gêneros mais tradicionais da música brasileira — “adorou” o projeto. Não é para menos: independentemente da ousadia, Rock ‘N’ Chico, com lançamento previsto para janeiro de 2015, é um trabalho de alto nível. E pode despertar o interesse do mercado internacional de rock para o autor de “Vai Passar”.



Ouça a versão de Sérgio Vid para “Mulheres de Atenas:

sábado, abril 13, 2013

Livro mostra que Victor Biglione já é ‘de casa’


Livro
O Guitarrista Victor Biglione & a MPB, de Euclides Amaral (Esteio Editora)
2011/2013



Residente no Rio de Janeiro há meio século, Victor Biglione tem a sua proximidade com a música brasileira destrinchada em O Guitarrista Victor Biglione & a MPB, escrito por Euclides Amaral. Com prefácio do compositor Sérgio Natureza e nota do pesquisador Ricardo Cravo Albim, o livro foi editado originalmente em 2011 e recebe agora uma versão revista e ampliada.

Minucioso, Amaral refaz, em 221 páginas amplamente ilustradas — com fotos e partituras —, toda a trajetória profissional de Biglione, nascido em Buenos Aires e torcedor do San Lorenzo, o mesmo time do Papa Francisco I.

Antes de vir para o Rio — onde se estabeleceu em definitivo —, a família Biglione deixou a capital argentina para morar em São Paulo. Mais tarde, o músico transferiu-se para os Estados Unidos, para estudar na Universidade de Berklee, levando debaixo do braço uma carta de recomendação assinada por um certo... Antonio Carlos Jobim.

De volta ao Brasil, o guitarrista passou a acompanhar, em estúdio e apresentações ao vivo, nomes como Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethania, Gal Costa e Djavan, entre outros. O Guitarrista Victor Biglione & a MPB não deixa dúvidas: o músico estrangeiro com mais colaborações em shows e gravações de artistas brasileiros já é, definitivamente, “de casa”.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Lígia’, de Antonio Carlos Jobim


Nem todos sabem, mas parte da letra de “Lígia”, clássico de Antonio Carlos Jobim, foi escrita por ninguém menos do que... Chico Buarque. Foi, aliás, o próprio Chico quem revelou, em um entrevista concedida em 1996.

Tendo sido parceiros em outras canções — como “Retrato em Branco e Preto” e “Pois É”, entre outras —, Jobim procurou Chico com a primeira parte da letra de “Lígia” já pronta (“Eu nunca sonhei com você / nunca fui ao cinema / não gosto de samba / não vou à Ipanema / não gosto de chuva / nem gosto de sol”). A segunda parte, contudo, traz nitidamente a “assinatura” do autor de “Vai Passar”: “E, quando eu lhe telefonei, / desliguei: foi engano / o seu nome, não sei. / Esqueci no piano as bobagens de amor / que eu iria dizer”.

E por que Chico não assinou a canção? A explicação é simples: na década de 1970, o compositor enfrentou problemas com a censura imposta pela ditadura militar, que vetava todas as canções suas que eram submetidas ao crivo dos censores. Tanto que, em 1974, decidiu gravar um disco de intérprete: Sinal Fechado [no detalhe, a capa].

No álbum, Chico recebeu uma inédita de Caetano Veloso (“Festa Imodesta”), outra de Gilberto Gil (“Copo Vazio”) e regravou clássicos de Dorival Caymmi (“Você Não Sabe Amar”), Noel Rosa (“Filosofia”) e Paulinho da Viola (a faixa-título). A única composição autoral, “Acorda, Amor”, foi assinada com o curioso pseudônimo de Julinho da Adelaide (!).

Diante de cenário tão adverso, Chico Buarque, apesar de ter sido o primeiro a gravar “Lígia”, preferiu não receber os créditos pela canção — registrada por Jobim somente no ano seguinte, no álbum Urubu.




Veja a versão de “Lígia” que Chico Buarque cantou no (polêmico) Tributo a Tom Jobim, realizado na Praia de Copacabana, em 1995:





Em seu especial global de 1978, Roberto Carlos convidou Antonio Carlos Jobim para que, juntos, cantassem “Lígia”. Com larga experiência como pianista na noite — foi assim, aliás, que começou a carreira —, Jobim improvisou a terceira parte da letra de canção, (aparentemente) surpreendendo Roberto. Com o seu já conhecido perfeccionismo, o Rei, entretanto, insistiu em cantar a versão original. Este fonograma acabou incluído na compilação Duetos, que RC editou em 2006:


Da série ‘Frases’: Chico Buarque




Eu chamava o Tom de ‘Tão*’, e ele falava: ‘O pessoal na roça me chama de Tão, lá em Poço Fundo’...


Em entrevista concedida em novembro de 1996, Chico Buarque relembrou, bem-humorado, o modo como os habitantes de Poço Fundo, local situado no município de São José do Vale do Rio Preto — que fica a 40 minutos de Petrópolis, Região Serrana do Rio —, onde Antonio Carlos Jobim possuía o sítio Beira Rio, se referiam ao Maestro Soberano [no detalhe, os dois parceiros]. 



* Tenho um amigo de longa data, nascido na cidade de São João do Oriente, interior de MG, que só consegue me chamar de “Tão”. Por sinal, só percebi isso há cerca de três anos. E, a bem da verdade, foi precisamente esta curiosidade que acabou ensejando a postagem.

terça-feira, janeiro 31, 2012

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Beatriz’, com Antonio Carlos Jobim



Originalmente lançada em 1983, a trilha sonora do musical O Grande Circo Místico — composta por Edu Lobo e Chico Buarque — foi reeditada em 2009 pela Biscoito Fino, por ocasião de seus 25 anos de lançamento. E esta reedição trouxe uma preciosa faixa-bônus: uma gravação instrumental (inédita) de “Beatriz”, gravada por ninguém menos que... Antonio Carlos Jobim, acompanhado somente pelo violino de João Daltro.

Depois de “dividir os holofotes” com a magnífica letra de Chico Buarque durante todos estes anos no registro impecável de Milton Nascimento, a melodia de Edu Lobo brilhou solitariamente na versão de Jobim — que é capaz de emocionar até mesmo... uma pedra.

Curiosidade: a viúva do Maestro Soberano chama-se Ana Beatriz Lontra Jobim. 





segunda-feira, janeiro 30, 2012

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘Meia Noite’, de Edu Lobo



CD
Meia Noite (Velas)
1995 (reeditado pela Biscoito Fino em 2011)


Por José Luiz Coelho de Andrade*



Lançado originalmente em 1995, o CD Meia Noite, de Edu Lobo, possui inúmeras virtudes. A maior delas é nos presentear com uma verdadeira antologia da magnífica obra desse compositor. Ademais, os arranjos são primorosos: o bom gosto do maestro Cristóvão Bastos reflete-se principalmente no uso inspirado das cordas. A voz de Edu pode não ser tão redonda quanto gostaríamos, mas este detalhe é compensado pela solenidade e dignidade de seu timbre singular. É a voz inconfundível de um artista íntegro, que jamais se rendeu aos apelos comerciais e à mediocridade.

Mencionemos apenas algumas faixas — os pontos altos do disco —, joias inestimáveis de nossa riquíssima música popular brasileira. A primeira canção, composta por Edu com letra de Chico Buarque, é uma obra-prima: “O Circo Místico”. Trata-se de um raro exemplo de canção metafísica, que já começa de modo belíssimo e sutil: “Não sei se é um truque banal/ se um invisível cordão/ sustenta a vida real”. Numa outra passagem, Chico indaga: “Não sei se é nova ilusão/ se após o salto mortal/ existe outra encarnação”.

A quarta faixa, “Beatriz”, é um clássico absoluto, e ficou mais conhecida pela interpretação sublime de Milton Nascimento na trilha do musical O Grande Circo Místico. É evidente a correlação com a Beatriz da Divina Comédia, de Dante: o poema fala de uma mulher etérea, mistura de musa e sacerdotisa. “Me ensina a não andar com os pés no chão”, suplica o poeta Chico, como se essa mulher especial pudesse iniciá-lo num processo de elevação. E mais adiante, o verso inesquecível: “Diz se é perigoso a gente ser feliz”.

Só Me Fez Bem”, a sexta faixa, é uma canção mais antiga de Edu, parceria sua com Vinicius de Moraes. O casamento entre música e letra é perfeito. Vinicius tinha essa capacidade de encaixar as palavras magicamente. O “poeta da paixão”, docemente melancólico, podia dizer naturalmente coisas como “é melhor viver / do que ser feliz”. Essa pérola do jovem Edu Lobo pode ser comparada com “Coração Vagabundo”, de Caetano Veloso — duas canções igualmente simples e geniais.

Sobre Todas as Coisas” (faixa 7) também faz parte de O Circo Místico, e recebeu, no disco original, uma emocionada interpretação de Gilberto Gil. A letra impecável de Chico Buarque fala do movimento cósmico (“Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel”) e reflete sobre o Deus “que criou o nosso desejo”.

Quanto a “Canto Triste”, a oitava faixa, é até difícil dizer alguma coisa: estamos diante de uma das canções mais extraordinárias que já foram feitas. Só nos resta reverenciar o lirismo da música e da letra de Vinicius. O filósofo e poeta Francisco Bosco, filho de João Bosco, tem toda razão quando diz que, “no fundo, não existe canção triste”: triste mesmo é a ausência da poesia e da beleza.

Passamos então à faixa 10, “Candeias”, composta solitariamente por Edu, que ficou conhecida através de Domingo, disco histórico de Gal e Caetano. No álbum de estreia de ambos, fizeram um trabalho maravilhoso, com a pureza e a limpidez dos inícios. “Candeias” tem o sabor de um acalanto: é música que nos acaricia e possibilita o repouso verdadeiro, aquele descanso que raramente desfrutamos.

E, por fim, Dori Caymmi canta “Pra Dizer Adeus”, letra de Torquato Neto. Mais um clássico de Edu, que Dori interpreta com a sua voz grave e profunda, correspondendo plenamente à densidade emocional da canção.

O único momento do disco dedicado a um outro compositor é “Estrada Branca”, de Antonio Carlos Jobim. É uma homenagem mais do que merecida: um gigante celebra um deus, digamos assim. Afinal, Jobim é um arquétipo, um modelo, um homem que nasceu para gerar música, a tal ponto que é impossível imaginar o mundo sem o que ele produziu. A propósito, cabe lembrar que Jobim e Edu gravaram juntos, em 1981, um belo disco — sintomaticamente batizado de Edu & Tom.




* JOSÉ LUIZ COELHO DE ANDRADE é professor de filosofia e biodança. E sua colaboração enche de orgulho este blog.

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Da série ‘Frases’: Chico Buarque

É preciso sempre desconfiar das coisas fáceis.”

(Chico Buarque, em entrevista à Rolling Stone Brasil, outubro de 2011)



terça-feira, setembro 27, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘My Love’, com Julio Iglesias e Stevie Wonder

Julio Iglesias [no detalhe] é um artista controverso: possui, nos quatro cantos do planeta, fãs e detratores na mesma proporção. 

Uma coisa, no entanto, não se pode negar: Iglesias é um sujeito de sorte. Por vários motivos. Para citar apenas um: o espanhol pode se jactar de já ter recebido de presente uma canção inédita de Stevie Wonder. E não uma faixa qualquer: mas uma pérola.

Lançada originalmente no álbum Non-Stop, de 1988, “My Love” — que Wonder jamais registrou em um CD seu —, é um verdadeiro tratado sobre o amor, no seu sentido mais amplo (“Para ricos e pobres, o amor é igual”) e libertário (“E se alguém lhe perguntar quem é o meu verdadeiro amor / diga que o meu verdadeiro amor / está sempre aberto a todo amor que vier”). E, além de participar da gravação cantando, Stevie produziu a faixa e tocou todos (!) os instrumentos.

A verdade é uma só: a canção é tão perfeita, que nem a “pouca intimidade” de Julio Iglesias com a língua inglesa conseguiu comprometê-la...


***


Há um trecho de “My Love” que precisa ser destacado — o refrão, que diz: “Deixe que o meu amor brilhe através do mundo / em cada topo de montanha e campanário”. Campanário é o nome que se dá a qualquer torre de igreja que abrigue um sino — ou mais. 

E ocorre que Wonder consegue criar, em uma letra de música, uma imagem de tamanha beleza... sem jamais ter visto (!) na vida esses elementos. O mesmo vale para o arco-íris, os botões de rosa, as árvores, o oceano, os golfinhos e os papagaios de “As”. E é justamente nestes pequenos detalhes que reluz a sua magia, a sua sensibilidade aguda.

Para quem crê, Deus está em toda a parte. E ouso dizer que Ele se manifesta com enorme nitidez na obra de Stevie Wonder.



Antes que alguém reclame: provavelmente por uma questão de agenda, Stevie Wonder não aparece no vídeo de “My Love...



Em uma apresentação de TV, Wonder entoa a canção na companhia de Dionne Warwick. Observem que, em um dado momento, ele se comove, afasta o microfone por alguns segundos... e pede desculpas à plateia. Um certo artista brasileiro — criticando Elis Regina, que chorou várias vezes ao cantar ao vivo “Atrás da Porta”, de Francis Hime e Chico Buarque —, declarou que o artista “não pode se emocionar com a própria arte”. Talvez este cidadão tenha se esquecido que, dentro do profissional mais experiente, continua existindo um ser humano, que pode muito bem fraquejar, sim — por que não? Para respondê-lo, ninguém melhor do que Noel Rosa: “Quem é você, que não sabe o que diz?”

segunda-feira, setembro 26, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Sou Eu’, com Diogo Nogueira

Por ocasião do lançamento de seu novo CD, Chico, agosto acabou se tornando uma espécie de “mês Chico Buarque” no TomNeto.com, com diversas postagens sobre o artista.

Portanto, para encerrar — por ora — o tema, não podemos deixar de destacar uma das principais faixas do álbum: “Sou Eu”. Apesar de um tanto prejudicada pela participação de Wilson das Neves, a faixa é um dos pontos altos do trabalho. E, não por acaso, é umas das preferidas de Chico Buarque.

— Minha ideia era fazer um disco somente de inéditas. Mas não podia deixar “Sou Eu” de fora: adoro essa música.

Parceria de Chico com Ivan Lins — que também a registrou em seu álbum Íntimo, de 2010 —, foi presenteada a Diogo Nogueira [no detalhe], o primeiro a gravá-la, no seu primeiro álbum de estúdio, Tô Fazendo a Minha Parte, de 2009. A canção também acabou batizando o segundo disco ao vivo de Diogo, editado em 2010.

Impossível não conectá-la a um outro samba de gafieira, também gravado por Chico: “Sem Compromisso”, de Geraldo Pereira. Ambas as letras contam a estória do indivíduo que leva uma mulher para o baile, e acaba vendo-a dançar com outros homens.

A diferença é que, se em “Sem Compromisso”, o eu-lírico fica furioso com a situação (“Você só dança com ele / e diz que é sem compromisso / é bom acabar com isso / não sou nenhum pai-joão. / Quem trouxe você fui eu / não faça papel de louca / pra não haver bate-boca dentro do salão”), em “Sou Eu”, ele tem a segurança de quem sabe que é o “dono do pedaço”: (“Porém, depois que essa mulher espalha / seu fogo de palha / no salão / pra quem que ela arrasta a asa, / quem vai lhe apagar a brasa, / quem é que carrega a moça pra casa / sou eu. / Só quem sabe dela sou eu. / Quem dá o baralho sou eu. / Quem manda no samba sou eu”).


Veja o vídeo de “Sou Eu”, com a participação dos autores, Chico Buarque e Ivan Lins, extraído do DVD Sou Eu — Ao Vivo:




Veja também o vídeo com a versão de Ivan Lins, gravado na famosa casa de shows Bimhuis, em Amsterdã:

Sobre Geraldo Pereira

Mineiro de Juiz de Fora, Geraldo Pereira [no detalhe] morou próximo ao Morro da Mangueira, o que  fez com que se tornasse um dos compositores da escola — e também amigo de Cartola.

Considerado o inventor do “samba sincopado” — que, anos mais tarde, influenciaria a bossa nova —, Geraldo foi o autor de “Falsa Baiana”, regravada por Gal Costa, “Acertei no Milhar” e “Pisei num Despacho”, entre outras. 

Entretanto, sua obra mais conhecida é, sem dúvida, “Sem Compromisso”, que Chico Buarque gravou em seu “álbum de intérprete”, Sinal Fechado, de 1974. Segundo o próprio Chico, no DVD Anos Dourados, foi Antonio Carlos Jobim quem o apresentou a este samba.

Geraldo Pereira morreu, em 1954, aos 31 anos, em uma briga de faca com Madame Satã, “figurinha carimbada” da Lapa daquela época.



Veja o vídeo de “Sem Compromisso”, com Chico Buarque e Antonio Carlos Jobim, extraído de um especial da Rede Bandeirantes:




E ouça também a versão que Simone gravou em seu álbum ao vivo Feminino, de 2002, na companhia de Zeca Pagodinho. A dupla não perdeu a oportunidade de fazer algumas impagáveis “atualizações” na letra do antigo samba...

quinta-feira, setembro 15, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Carioca’, de Chico Buarque

Com “apenas” alguns anos de atraso: a faixa que dá título à resenha de Carioca, álbum editado por Chico Buarque em 2006 [cujo link aparece na postagem sobre Chico, o mais recente trabalho do artista], chama-se justamente... “Carioca”.

Lançada originalmente no estupendo As Cidades, de 1998 [no detalhe, a capa], “Carioca” tem, em sua letra, arroubos de ufanismo sobre o Rio. Contudo, realista, não deixa de expor os flagelos da cidade — como, por exemplo, a prostituição infantil: “De noite, meninas / peitinhos de pitomba / vendendo por Copacabana as suas bugigangas”.

Em um elegante preto-e-branco, o vídeo foi filmado na esquina das ruas Sete de Setembro e Ramalho Ortigão, próxima à Confeitaria Cavé, no Centro do Rio, de onde o protagonista observa, em meio ao “pregão”, o “povaréu sonâmbulo, ambulando, que nem muamba”.



Da série ‘Frases’: Chico Buarque

Cidade Maravilhosa, és minha. 
O poente na espinha das suas montanhas
quase arromba a retina de quem vê.


Trecho de “Carioca”, do CD As Cidades, de 1998. Em tempo: a foto que ilustra esta postagem é de autoria de J. C. Couto.



Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Injuriado’, de Chico Buarque

Também lançado no supracitado Carioca, o impagável samba “Injuriado” foi gravado por Chico em dueto com sua irmã, Cristina Buarque. A letra corrobora, nas entrelinhas, a demolidora máxima de Nelson Rodrigues.

Na ocasião, surgiram rumores de que a faixa havia sido composta como uma espécie de “resposta” a Fernando Henrique Cardoso [no detalhe] — que, ainda presidente, classificou, em uma nota de bastidores, o autor de “Futuros Amantes” como um artista “elitista e ultrapassado”.

Chico, naturalmente, desmitificou:

— Isso é uma piada. Só rindo. Primeiro, porque não fiquei injuriado com nada. Segundo, porque nunca chamaria o Fernando Henrique de “meu bem”.



Veja o vídeo de “Injuriado”, extraído do DVD ao vivo Chico e As Cidades, de 1999:

sábado, agosto 20, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Querido Diário’, de Chico Buarque


Finalizadas as gravações de Chico, o novo álbum de Chico Buarque [foto], o artista decidiu que o álbum teria somente nove canções:

— Eu já havia feito um disco com nove músicas anteriormente, o Almanaque [de 1981]. Aí, lembrei da Ana Carolina, que gravou um assim [N9ve, de 2009]. E li que o Radiohead também [The King of Limbs, lançado este ano]. Então, fiquei tranquilo. Só que, “aos 45 do segundo tempo”, acabou surgindo mais uma faixa.

A “temporã” em questão é a modinha-de-viola “Querido Diário”, que, curiosamente, acabou sendo escolhida para abrir os trabalhos. Originalmente, tratava-se de um coco de versos bastante simples, composto em homenagem a duas de suas netas, Lua e Lia: “Lua, olha a Lia / Lia, olha a lua / no Japão / café com pão / vamos bater o coco, Tereza”.

Na gravação definitiva, apenas a melodia da cantiga foi preservada, na introdução. Mas a letra da canção em si foi conduzida para outra direção — nem um pouco pueril.


***


Primeira faixa de trabalho de Chico, “Querido Diário” fala, como o título entrega, das anotações de alguém no próprio diário. Contudo, em se tratando de Chico Buarque, não seria tão simples assim. 

Logo após o seu lançamento, a canção causou alguma polêmica com o trecho: “Amar uma mulher sem orifício...”. Houve que o classificasse como “o pior verso da MPB”.

Analisado isoladamente, o verso, de fato, soa estranho. Contudo, dentro do contexto no qual está inserido, faz todo o sentido. Quando Chico canta “Hoje pensei em ter religião / de alguma ovelha, talvez, fazer sacrifício / por uma estátua ter adoração / amar uma mulher sem orifício”, faz uma crítica (velada) a uma certa... hum, “irracionalidade” das religiões, que vem de tempos imemoriais. 

Exemplo: antigas civilizações que sacrificavam animais em devoção às suas “divindades”, etc...



Chico Buarque e a internet


Dentre todos os vídeos disponibilizados no site www.chicobastidores.com.br, o de maior repercussão provavelmente foi o que mostra Chico Buarque [foto] comentando a sua relação com a internet. Às gargalhadas, o compositor revela:

— O artista acha que é amado. Faz shows, é aplaudido, coisa e tal. Quando sai na rua, recebe o carinho das pessoas. Até o dia em que entra na internet, para ler o que as pessoas dizem sobre ele. E descobre que é odiado.



Aos artistas que não chegam ao joanete (bem, sei lá se ele tem joanete...) de Chico Buarque — e que, no entanto, se deixam inflar pela arrogância , fica a dica: aprendam, caríssimos. Fair Play é isso:



Veja também a curiosa versão “cantada” do vídeo acima:



Já o vídeo abaixo mostra o artista às voltas com o computador. Alguém recomenda: “Chico, é só você fechar o browser”. E ele retruca, confuso: “Fechar quem?”


segunda-feira, agosto 08, 2011

O dia em Chico Buarque foi ‘cabo eleitoral’ de Fernando Henrique Cardoso

Apesar de ter dado o seu “apoio entusiasmado” a Dilma Rousseff nas últimas eleições para presidente — e ser um adepto fervoroso do chamado “Lulo-petismo” — Chico Buarque, pasmem, já pediu votos para... Fernando Henrique Cardoso [foto].

Em 1985, quando FHC disputou a prefeitura de São Paulo, Chico não somente engajou-se na campanha, como cedeu uma de suas canções. A letra do samba-enredo “Vai Passar”, lançado no ano anterior, recebeu uma “adaptação” — onde se referia ao então adversário de Fernando Henrique, Jânio Quadros, como “fujão” — que foi regravado pelo próprio compositor de “Apesar de Você”.

Antes disso, em 1978, Chico compôs o jingle da candidatura de Fernando Henrique ao Senado.


***


No fundo, no fundo, Chico deve nutrir, até os dias de hoje, um carinho todo especial pelo ex-presidente. Em janeiro deste ano, o artista concedeu uma entrevista ao jornal espanhol El País, na qual elogiou as diretrizes econômicas do governo FHC:

— Os méritos também são os fundamentos da política econômica que começou com Fernando Henrique Cardoso. Esta era a chave — sem a qual não teria sido possível avançar. Toda essa transformação foi levada a cabo com as regras do capitalismo, para criar uma riqueza que devia ser distribuída. Alguns esquerdistas podem pensar que não foi suficientemente humanitário. Mas ninguém pode negar que foi o mais inteligente.

Para ler a entrevista, na íntegra, basta clicar aqui:




terça-feira, agosto 02, 2011

Ney Matogrosso completa 70 anos



Desde o início de sua (respeitável) trajetória, ainda como vocalista dos Secos e Molhados, Ney Matogrosso [foto] tem caracterizado a sua carreira pela constante fuga do óbvio.

Durante os chamados “anos de chumbo”, ainda que as letras de seu repertório não trouxessem necessariamente críticas sociais — como as de Chico Buarque e Gonzaguinha, por exemplo —, foi contestador à sua maneira. Certa vez, declarou que “rebolava para chocar os censores”.

De lá para cá, foi o responsável pelo sucesso do Barão Vermelho — ao regravar “Pro Dia Nascer Feliz”, do segundo disco do grupo carioca; gravou um estupendo recital ao lado do genial violonista Raphael Rabello; e debruçou-se sobre as canções de Heitor Villa-Lobos, de Ângela Maria, do já mencionado Chico Buarque e de Cartola. Enfim, sempre surpreendeu.

Dono de um estilo ímpar de cantar e se apresentar, Ney Matogrosso chega aos 70 anos de idade — completados ontem, 01 de agosto — em plena forma vocal e física. E em franca atividade artística. Longa vida a ele.


Leia também




Ouça “Promessas Demais”, de Zeca Barreto e Moraes Moreira sobre poema de Paulo Leminsky. Lançada no álbum Mato Grosso, de 1982, trata-se de um primor de melodia, letra e arranjo — que vai do plácido ao vibrante com igual desenvoltura. Foi tema de abertura da novela Paraíso, de Benedito Ruy Barbosa, exibida naquele mesmo ano. E, muito provavelmente, é a minha faixa predileta do artista.