Por ocasião dos 80 anos que Roberto Carlos completa hoje, eu poderia destacar a sua (imensurável) importância para a música popular brasileira. Ele foi um dos precursores do rock nacional – influenciando, inclusive, o surgimento do Tropicalismo – e foi um dos primeiros a gravar soul music por estas plagas – a irresistível "Não Vou Ficar", do ainda iniciante Tim Maia. Posteriormente, tornou-se um crooner de orquestra à moda Sinatra, consolidando-se como o maior ídolo musical do país.
Enfim, eu poderia – com o perdão do trocadilho – detalhar a relevância de seu legado para a cultura nacional. Mas, sinceramente, prefiro dizer, comovido, o quanto Roberto Carlos foi e continua sendo importante... para mim.
As canções de Roberto estão entrelaçadas na minha trajetória de vida. Desde sempre. E de modo irreversível. Minhas lembranças mais ancestrais; os Natais em família – a voz dele sempre foi a trilha sonora. Os anos se passaram. Cresci. E o Rei permaneceu "presente" nos momentos marcantes da minha história. Como um parente ou um amigo muito próximo. Tanto que, se perguntarem em que ano uma determinada faixa dele – por mais obscura que seja – foi lançada, respondo sem precisar recorrer ao Google.
Seja falando de amor, de fé ou compartilhando os seus momentos mais tristes, Roberto, ao lado do Tremendão Erasmo Carlos – outra figura fundamental da nossa música –, sempre soube tocar o coração de cada pessoa. Sua narrativa é clara, objetiva, de fácil compreensão para todos, mas nem por isso desprovida de profundidade e sentimento.
Como se não bastasse a excelência como artista, RC também se tornou um exemplo para mim como ser humano. Inúmeros episódios atestam: o Rei é um homem nobre, de coração enorme. Bom pai. Bom filho. Bom patrão. Amigo sincero dos amigos. Mas que não abre mão de manter os seus gestos de altruísmo em sigilo. Como deve ser.
Portanto, agradeço por ele ter escolhido essa profissão – e ser tão brilhante nela. Agradeço por cada sorriso, cada lágrima e cada ensinamento que proporcionou a milhões de pessoas – entre as quais, obviamente, me incluo – ao longo de mais de sessenta anos de vida pública.
E, mais do que tudo, agradeço por ele estar conosco, com saúde e plena atividade. E rogo para que assim permaneça por muitos anos.
Feliz Aniversário, Roberto Carlos.
Blog de análises musicais, mas com eventuais abordagens mais informais –– pessoais, inclusive. Sejam bem-vindos.
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segunda-feira, abril 19, 2021
Roberto Carlos: 80 anos
quinta-feira, dezembro 26, 2013
Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Como Uma Onda’, de Lulu Santos e Nelson Motta
Bem, a data não poderia mesmo passar em branco: “Como Uma Onda”, a canção pela qual Lulu Santos será sempre lembrado, está completando 30 anos em 2013. Foi lançada em 1983, em O Ritmo do Momento [acima, a capa], segundo álbum solo do guitarrista carioca.
A letra, escrita pelo jornalista, produtor e escritor Nelson Motta, disserta brilhantemente sobre a transitoriedade de... tudo (“Nada do que foi será / de novo do jeito que já foi um dia / tudo passa / tudo sempre passará”). E, musicalmente, é o que poderíamos classificar como um “bolero havaiano” — que veio a se tornar uma das “marcas registradas” do cantor, em canções como “Lua de Mel” e “Sereia”.
Ao longo dessas três décadas, “Como Uma Onda” foi regravada inúmeras vezes. No ano de seu lançamento, recebeu versão de Zizi Possi, em seu sexto álbum, Pra Sempre e Mais um Dia. Exatos dez anos depois, foi relida por Tim Maia, em (magistral) fonograma inicialmente destinado a uma propaganda de chinelos — e bastante fiel ao arranjo original. E, em 2002, foi a vez de Caetano Veloso, em dueto com o próprio autor, no seu Noites do Norte — Ao Vivo.
Recentemente, foi cantada por ninguém menos do que Roberto Carlos — na companhia de Lulu —, em seu especial anual.
Ouça “Como Uma Onda” nas vozes de Tim Maia...
…Caetano Veloso...
…Roberto Carlos, em seu especial de 2013...
...e, claro, Lulu Santos — no raríssimo vídeo original da canção:
segunda-feira, maio 13, 2013
Lulu opta por releituras ‘respeitosas’ das canções do Rei e do Tremendão
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Em agosto de 2012, Roberto Carlos visitou o camarim do cantor carioca no show Lulu Canta e Toca Roberto e Erasmo, no Vivo Rio |
CD
Lulu Canta e Toca Roberto & Erasmo (Sony Music)
2013
Em seu segundo disco, O Ritmo do Momento [1983], Lulu Santos não fez por menos e emplacou logo três sucessos: “Um Certo Alguém”, “Adivinha o Quê?” e a canção que se tornou o seu carro-chefe eterno, o bolero-havaiano “Como uma Onda”. No ano seguinte, com Tudo Azul, consolidou de vez o status de hitmaker, com gemas pop do calibre de “Tão Bem”, “Certas Coisas”, “Lua de Mel” e... “O Calhambeque”, versão de Erasmo Carlos que ficou célebre na voz de Roberto Carlos. Foi também neste álbum que Lulu lançou uma de suas faixas mais emblemáticas, “O Último Romântico” — que fez com que o cantor carioca passasse a ser identificado como “o roqueiro romântico”, “sucessor de Roberto Carlos” e classificações do tipo. Desconfortável com o rótulo, Lulu decidiu “subverter as regras do jogo”: em 1985, lançou o ácido e roqueiro Normal, que acabou não sendo compreendido pelo público e teve pouca repercussão. Mas com o qual o artista logrou a intenção de “desconstruir” a imagem de “romântico”.
No entanto, o mundo gira e a Lusitana roda. E eis que, 28 anos após Normal, Lulu Santos, aos 60 anos de idade e 31 de carreira, finalmente abraça a obra da dupla — que inequivocamente exerceu influência em seu trabalho — no recém-lançado Lulu Canta e Toca Roberto & Erasmo, decorrente do show homônimo que percorreu algumas capitais brasileiras em 2012.
Se, em 1995, Lulu gravou, na companhia do DJ Marcelo “Memê” Mansur, uma desconcertante versão de “Se Você Pensa”, desta vez optou por uma abordagem “respeitosa” dos clássicos dos autores de “Detalhes”. A capa do CD, na qual o guitarrista veste um terno impecavelmente cortado, dá um indício de seu conteúdo. A própria “Se Você Pensa”, aliás, reaparece “comportada” — mas, ainda assim, emulando, em um determinado momento, o canto falado da versão anterior.
Apesar da ‘reverência’, pequenas ‘ousadias’
Provavelmente recorrendo à sua memória afetiva, Lulu concentrou sua atenção nas canções lançadas até a primeira metade da década de 1970. E, oscilando entre o blues e o rock tradicional, foi feliz na escolha do repertório, que conta com “É Preciso Saber Viver”, “As Curvas da Estrada de Santos”, “Sentado À Beira do Caminho” — a melhor faixa do disco, na qual o cantor não poupou a emoção que a canção pede — e a impagável “Sou uma Criança, Não Entendo Nada”, entre outros. A única exceção — e também a música mais “recente” do álbum — é “Emoções” [1981], que, sinceramente, de tão cristalizada na voz de Roberto, não deveria ser regravada por ninguém...
Apesar da opção por releituras “reverentes” das canções de Roberto e Erasmo, Lulu não deixou de cometer pequenas “ousadias”, como a versão reggae de “Eu te Darei o Céu”, na qual executa boa parte da melodia com sua guitarra. E nas alterações de ritmo de “Quando” e de “Não Vou Ficar” — canção de Tim Maia que, lançada por Roberto Carlos em 1969, abriu portas para o Síndico.
Antes de Lulu Santos, apenas Maria Bethania, há exatos 20 anos — com o ótimo As Canções que Você Fez para Mim — havia recebido a deferência de gravar um álbum inteiro dedicado à obra de Roberto e Erasmo Carlos. E todos os artistas que já tentaram regravar faixas da dupla sabem de toda a “burocracia” envolvida na empreitada. E, embora nenhuma das versões de Lulu supere as originais — convenhamos: abordar clássicos de 40, 50 anos não é exatamente uma tarefa fácil —, Lulu Canta e Toca Roberto & Erasmo não deixa de representar uma lufada de ar fresco em um dos mais importantes cancioneiros nacionais. Trata-se, portanto, de um trabalho digno da discografia do músico carioca. E à altura dos homenageados.
Leia também:
Ouça “As Curvas da Estrada de Santos”, com participação da cantora Késia Estácio...
...e também a bela “Sentado À Beira do Caminho”:
sexta-feira, abril 23, 2010
Jobim, por eles e elas

CDs
Aqui Tem Tom - Volumes 1 e 2 (Som Livre)
2010
Os dois volumes da compilação ‘Aqui Tem Tom’ alternam, como de praxe, bons e maus momentos
Passados quinze anos de seu desaparecimento, ocorrido no dia 08 de dezembro de 1994, a atemporal obra de Antônio Carlos Jobim – mesmo sem ter a sua grandiosidade plenamente reconhecida – continua sendo revista e cultuada. Prova disso é a compilação Aqui Tem Tom, disponível em dois volumes – vendidos separadamente –, que chega às prateleiras via som Livre.
Muitas vezes, all star tributes são verdadeiros balaios de gato. Contudo, ao lado de deslizes típicos de projetos desta natureza, Aqui Tem Tom apresenta bons momentos.
Acompanhada por Hélio Delmiro, Calcanhotto brilha

Mas, por outro lado, tem Gal Costa – embora afinadíssima como sempre – errando a letra de “Se Todos Fossem Iguais a Você” (em vez de “a sua vida / é uma linda de amor”, a baiana cantou “vai, sua vida / é uma linda de amor”). Tem Isabella Taviani lutando contra a própria grandiloquência – e eventualmente perdendo – em “Caminhos Cruzados”. E Beth Carvalho concedendo ao clássico “Chega de Saudade” um inadequado acento sambão joia.
Tais deslizes, entretanto, não chegam a comprometer o trabalho, que também traz Fernanda Takai, Roberta Sá e Paula Toller, corretas em “Estrada do Sol”, “Brigas Nunca Mais” e “Por Causa de Você”, respectivamente.
O grande destaque, porém, é Adriana Calcanhotto, acompanhada pelo violonista Hélio Delmiro, na bela versão de “O Amor em Paz”, gravada para o CD 3 do Songbook Vinícius de Moraes, idealizado pelo falecido produtor Almir Chediak.
Ouça “O Amor em Paz”, com Adriana Calcanhotto...
...e “Sabiá”, com Elis Regina:
Djavan e a versão definitiva de ‘Correnteza’

Lenine, por exemplo, nada acrescentou à obra-prima “Wave” – será que o temperamental João Gilberto não autorizou que a sua versão fosse incluída neste projeto? Igualmente inexpressiva – ainda que esforçada – é a releitura de “Waters of March”, versão anglófona de “Águas de Março”, cometida por Art Garfunkel, metade do extinto duo com Paul Simon.
Sem contar a insuportável versão de Sergio Mendes e will.i.am para o ótimo tema “Surfboard”.
Mas nem tudo está perdido: há também Djavan, na versão definitiva de “Correnteza”. Há o swing de Wilson Simonal em “Só Tinha de Ser com Você” – que, contudo, não supera a (insuperável) gravação de Elis Regina, do álbum Elis & Tom (1974). Há Ed Motta, acompanhado ao piano por Daniel Jobim, saindo-se muito bem na intrincada melodia de “Por Toda a Minha Vida (Exaltação ao Amor)”.
Há também Chico Buarque, convincente no ancestral registro de “Retrato em Branco e Preto (Zíngaro)” – cuja letra, por sinal, foi escrita pelo próprio Chico. E, como curiosidade, há um mergulho nas raízes gaúchas, na pouco conhecida “Rodrigo, Meu Capitão”, parceria de Jobim com Ronaldo Bastos, originalmente lançada na trilha sonora de O Tempo e o Vento, na voz de Zé Renato.
Ouça “Eu Sei que Vou te Amar”, com Caetano Veloso...
...e “Por Toda a Minha Vida (Exaltação ao Amor)”, com Ed Motta:
Ideal para neófitos
Os dois volumes de Aqui Tem Tom oferecem, portanto, um pequeno aperitivo do vasto cancioneiro do autor de “Garota de Ipanema” – curiosamente, a canção está ausente de ambos os CDs. Sendo assim, acabam sendo uma boa pedida para os neófitos.
Contudo, para quem quer realmente se aprofundar nos originais do Maestro Soberano, ficam algumas dicas: os ótimos Elis & Tom (1974) e Terra Brasilis (1980), o derradeiro Antônio Brasileiro (1994), a compilação – editada para o mercado americano – Finest Hour (2000), além do excelente Inédito, gravado ao vivo no estúdio em 1987.
quinta-feira, novembro 19, 2009
Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Primavera (Vai Chuva)’, com Tim Maia

Lançada por Tim Maia [foto] em seu primeiro álbum, epônimo, de 1970, a faixa mantém o seu encanto inalterado – mesmo depois de quase quatro décadas (!).
E, cá para nós, o “Síndico” é um artista que faz muita, muita falta...
Veja o vídeo de “Primavera (Vai Chuva)”, com Tim Maia:
Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Gostava Tanto de Você’
Onze anos após o seu desaparecimento, a influência de Tim Maia na música brasileira não perdeu sua força. Exemplo disso é a recente gravação de “Gostava Tanto de Você”, cometida pela cantora Tânia Mara que, impulsionada pela novela Viver a Vida, tem obtido boa execução radiofônica.
Há quem diga que “Gostava Tanto de Você”, composta por Édson Trindade, não fala de uma desilusão amorosa. Trindade, morto em 1993, teria escrito os versos da canção em homenagem à filha, que falecera.
A versão de Tânia Mara é até... correta, conferindo à faixa a melancolia condizente com a letra*. Mas o registro de Tim Maia, lançado originalmente em 1973, continua imbatível...
* Mas é importante frisar que Leila Pinheiro já havia gravado esta canção – e de modo semelhante – há alguns anos atrás...
Veja o vídeo de “Gostava Tanto de Você”, com Tânia Mara...
...e também com Tim Maia. Qual você prefere?
Há quem diga que “Gostava Tanto de Você”, composta por Édson Trindade, não fala de uma desilusão amorosa. Trindade, morto em 1993, teria escrito os versos da canção em homenagem à filha, que falecera.
A versão de Tânia Mara é até... correta, conferindo à faixa a melancolia condizente com a letra*. Mas o registro de Tim Maia, lançado originalmente em 1973, continua imbatível...
* Mas é importante frisar que Leila Pinheiro já havia gravado esta canção – e de modo semelhante – há alguns anos atrás...
Veja o vídeo de “Gostava Tanto de Você”, com Tânia Mara...
...e também com Tim Maia. Qual você prefere?
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