terça-feira, julho 20, 2010

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Alright’, do Supergrass

Tão infecciosa quanto – sem exagero – “She Loves You”, dos Beatles, “Alright”, do Supergrass, foi como um lufada de ar puro em meio à “poluição” que, via de regra, caracteriza a programação das FMs.

Faixa do disco de estreia do grupo, I Should Coco [no detalhe, a capa], de 1995, “Alright”, a despeito da letra bobinha, chega a comover, tamanha é a espontaneidade da coisa. Lembro exatamente do impacto que senti na primeira vez que a ouvi. Não por acaso, está entre as dez músicas de que mais gosto na vida.

E vale ressaltar que o vídeo é absolutamente condizente com o alto astral adolescente da canção.

Em abril deste ano, depois de seis álbuns de estúdio, a banda de Oxford anunciou o fim de suas atividades. Uma pena. De qualquer forma, fica para a posteridade um clássico digno da excelência pop que caracteriza a Grã-Bretanha.


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘That's What Friends Are For’, de Burt Bacharach

Em referência ao Dia Internacional da Amizade – que se comemora hoje, 20 de julho –, somente “Canção da América*”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, seria tão adequada quanto esta: a belíssima “That's What Friends Are For”.

Composta por um gênio do pop, Burt Bacharach [foto], em parceria com a letrista americana Carole Bayer Sager – que, aliás, foi sua esposa durante nove anos –, a faixa foi gravada inicialmente por Rod Stewart, em 1982, para a trilha sonora da comédia Corretores do Amor (Night Shift).

A versão mais conhecida, no entanto, é que reúne Dionne Warwick – sem dúvida, a melhor intérprete de Bacharach – a Gladys Knight, Elton John e Stevie Wonder. Lançada em um single em dezembro de 1985, teve seus fundos revertidos para o American Foundation for AIDS Research. E foi um sucesso retumbante.

Além de ter levado duas estatuetas Grammy – uma delas de Canção do Ano de 1986 –, foi eleita pela Billboard uma das cem maiores músicas de todos os tempos. E arrecadou três milhões de dólares pela causa.


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Bem, nunca fui um homem de muitos amigos. Mas os que tenho me são verdadeiramente caros e especiais. Sejam novos ou antigos; próximos ou distantes: saúdo a todos. Não preciso sequer mencioná-los – eles saberão se reconhecer.

E o mais importante: a exemplo do que diz a canção, eles sabem que podem “sempre contar comigo / com certeza”.

Amigos servem para isso.



* Por sinal, esta é uma canção que me emociona bastante...


A hora e a vez da ‘Fúria’


Não foi exatamente uma surpresa para ninguém que a Espanha [foto], pela primeira vez em sua História, tenha vencido a Copa do Mundo. Afinal, graças à sua melhor geração de jogadores de todos os tempos, a “Fúria” já havia conquistado a Eurocopa de Seleções, há dois anos.

Para o bem do futebol, a vitória espanhola é uma ótima notícia. Em uma Copa de sofrível nível técnico, com muitas “retrancas” – e some-se a isso uma bola que gerou inúmeras reclamações, a famigerada Jabulani –, a Espanha, a despeito de ter perdido a primeira partida, para a fraca Suíça, jogou um futebol ofensivo, vistoso. Cortesia de jogadores talentosos como Iniesta, Xavi, Xabi Alonso e David Villa.

Resumo: a taça está em boas mãos.


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Apesar do desempenho pífio na África do Sul – apenas um jogador brasileiro, o lateral direito Maicon, foi um dos eleitos no Time do Sonhos da FIFA –, o Brasil, pasmem, ainda tem o que comemorar: a Seleção Canarinho, pentacampeã, só poderá ser alcançada em número de títulos mundiais em 2014.

Isso, é claro, se a Itália – que é tetra – vencer a Copa do Mundo que será realizada no Brasil, daqui a quatro anos.

terça-feira, julho 13, 2010

Nelson Rodrigues e a ‘Pátria de Chuteiras’

Dentre as inúmeras brilhantes frases cunhadas pelo dramaturgo, cronista e jornalista Nelson Rodrigues [foto] (1912 – 1980), existe uma que é particularmente especial para mim: “A Seleção é a Pátria de calções e chuteiras”. Perfeito.

De fato: os onze jogadores perfilados em campo, durante a execução do Hino Nacional, transcendem a esfera meramente esportiva: são a fiel representação da Nação e suas cores. Contudo, não é nenhuma falácia dizer que os cidadãos brasileiros não se sentiram plenamente... er, representados pela Seleção que disputou a Copa do Mundo na África do Sul.

E, em especial, pelo seu comandante.

Nas ruas, o entusiasmo era visivelmente... moderado. Uma parte significativa da população torceu pelo time Canarinho apenas... por torcer. Mas houve também quem se mostrasse indiferente.

E arrisco-me a dizer que alguns até torceram... contra.

Pelo simples fato de que não desejariam vislumbrar a vitória do futebol “de resultado”. Da falta de ousadia. Da “retranca”. E, sobretudo, do destempero e da prepotência. Medíocre enquanto jogador, o técnico conseguiu montar um time exatamente à sua feição. E o futebol brasileiro sempre foi arte – não truculência.

Bem, agora é pensar em 2014. Tomara que tenhamos mais sorte na próxima...

Dunga, o Zangado

Após a derrota para a Holanda, nas quartas-de-final da Copa da África do Sul, Dunga [foto] foi execrado pela imprensa e pela população. Enquanto isso, Maradona foi aclamado pelo povo argentino – apesar da vergonhosa derrota dos hermanos diante da Alemanha, por 4 a 0. Qual a explicação para tratamentos tão distintos? Simples: empatia.

Quando o juiz apitou o final do jogo contra os alemães, Maradona entrou em campo. E, pasmem, além de aplaudir, beijou seus jogadores. Um por um.

Como não admirar um gesto desses?

Em contrapartida, ao término de Holanda x Brasil, o técnico brasileiro simplesmente... virou as costas. E desceu pelo túnel.

Dunga jamais teve a menor preocupação em... er, cativar a torcida ou os jornalistas. Muito pelo contrário: sempre defendeu suas decisões com extrema arrogância. Jamais demonstrou o equilíbrio emocional que o cargo exige. E, obviamente, sabia, desde o primeiro segundo, a pressão que seria exercida sobre ele...

Conclusão: apesar de o Brasil – sabe-se lá como – ter vencido a Copa América e a Copa das Confederações, o comando técnico da Seleção foi um equívoco*.

E a prova está aí.



* Ou será que as pessoas já se esqueceram o “sufoco” durante as Eliminatórias?

Felipe Melo, a ‘invenção’ que não deu certo

O volante Felipe Melo [foto] foi a personagem principal da derrota para o Holanda, que culminou na desclassificação do Brasil na Copa do Mundo.

Atualmente na Juventus, da Itália, Melo foi eleito o pior estrangeiro em atividade no Calcio na temporada 2009/2010. E, ainda assim, era titular da Seleção Brasileira. Vai entender...

Atleta do Flamengo entre 2001 e 2003 – por sinal, poucos se recordam de sua passagem pela Gávea – Felipe Melo, enquanto atuava pela Fiorentina, também da Itália, foi “inventado” como jogador de Seleção.

Como todo o Brasil gostaria de esquecer, Melo fez o gol contra que deu início à reação holandesa. Minutos depois, em um gesto de total descontrole emocional, pisou o apoiador Robben. E, obviamente, foi expulso.

Ainda assim, é necessário dizer: ele não é culpado de nada. A culpa é de quem o convocou e escalou.

O Brasil certamente se supreendeu com a sua belíssima “enfiada” que resultou no gol de Robinho. No entanto, momentos depois, as coisas voltaram aos seus devidos lugares...

Robinho: em ‘terra de cego’, o rei. Das pedaladas

É provável que algumas pessoas tenham discordado da postagem publicada no dia 13 de maio do ano passado, que fala sobre a biografia de Robinho [foto]. Bem, se o atleta ainda não merece uma biografia, subentende-se que – além da questão etária – sua trajetória ainda não... er, endossa um projeto desta natureza, certo? Não há a menor dúvida sobre isso.

Jogando ao lado do meia Diego – atualmente na Juventus, de Turim –, Robinho tornou-se sensação no Santos que conquistou o título brasileiro de 2004. No ano seguinte, transferiu-se para o Real Madrid. Todavia, jamais se firmou no clube espanhol. Tanto que foi oferecido ao Manchester United como “moeda de troca” para a contratação do meia português Cristiano Ronaldo – que, entretanto, acabou não se concretizando naquele momento.

A oferta, porém, fez com que Robinho se sentisse desprestigiado. Furioso, forçou a sua transferência para o Chelsea, da Inglaterra, treinado na ocasião por Luiz Felipe Scolari.

Contudo, o time da capital da espanhola recebeu uma proposta financeiramente mais vantajosa. Sendo assim, Robinho teve – um tanto a contragosto, é bem verdade – o seu passe vendido ao Manchester City, também da Terra da Rainha.

No time de coração dos irmãos Gallagher, do Oasis, Robinho não justificou a expectativa em torno de seu nome. E, por não ser um dos titulares do técnico italiano Roberto Mancini, o atacante brasileiro pediu para ser emprestado ao time da Vila Belmiro – para se manter em atividade e, desta forma, não ficar de fora da Copa do Mundo.

Os prováveis “defensores de Robinho” certamente irão retrucar: “Mas ele foi campeão paulista esse ano!”. Bem, em primeiro lugar: ao seu lado, atuavam os promissores Neymar e Paulo Henrique Ganso. Segundo: “em terra de cego, quem tem um olho, é rei”. Das pedaladas, inclusive. Jogar bem no Brasil é fácil. Na Europa, entretanto, é um outro departamento. Na Copa do Mundo, então, nem se fala.

(Torneio no qual, aliás, ele foi peça nula. Apesar dos gritos ensandecidos de Galvão Bueno...)

Até os dias de hoje, apenas um jogador driblador era, de fato, útil à equipe em que atuava. O nome dele era Mané Garrincha. Os demais – Denílson (ex-Palmeiras e Bétis, da Espanha), Edílson “Capetinha” e o próprio Robinho, entre outros – são apenas “plumas e paetês”...

Galvão Bueno, o ‘torcedor privilegiado’

Durante a entrevista que o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, concedeu ao programa Bem, Amigos, do Sportv, Galvão Bueno definiu-se como um “torcedor privilegiado” [confira, por volta dos 02 minutos do vídeo abaixo]. E disse isso com inegável orgulho – quando, na verdade, deveria se envergonhar de tal afirmativa.



Todavia, não é nenhuma novidade que Galvão, sem a menor cerimônia, “chuta para longe” a imparcialidade que deveria caracterizar a sua função de jornalista. E, durante suas narrações, comporta-se, de fato, como um torcedor. E dos mais fanáticos. O que, sem dúvida, irrita a qualquer pessoa dotada de um pingo de bom senso.

(Não foi por acaso que surgiu na internet a campanha “cala a boca, Galvão”. Pena não ter dado certo...)

Como se isso não bastasse, Galvão também tem a mania de querer “fabricar” ídolos. Após a morte de Ayrton Senna, tentou fazer com que Rubens Barrichello ocupasse o lugar do tricampeão mundial de Fórmula 1 no coração dos brasileiros. Até o famoso “Tema da Vitória” era executado nas (raríssimas) vitórias de Barrichello. Mas não adiantou...

Não satisfeito, quis enaltecer Robinho e suas “pedaladas” [leia mais aqui]. Tentou fazer o mesmo com o atacante Luís Fabiano. Contudo, não levou em consideração que, se o “Fabuloso” fosse realmente... er, fabuloso, estaria atuando em um grande clube da Espanha, como o Real Madrid ou Barcelona.

E não – com todo o respeito – no modesto Sevilla.


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Quem admira tanto o “patriotismo” de Galvão Bueno deve ler a nota publicada no número 02 da revista Gol F.C., de outubro de 2008 [clique na foto para ampliar]:


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Saiba mais sobre Galvão assistindo a este vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=30lZ9hAjTnM

‘Patriotismo de Copa do Mundo’

Sobre o que classifico como mero “patriotismo de Copa do Mundo”, falei em postagem do dia 07 de outubro do ano passado, quando o Rio de Janeiro foi escolhido como a cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

Digo mais: no momento em que escrevo estas mal traçadas, as outrora onipresentes bandeiras do Brasil já foram, há muito, arrancadas das residências e automóveis, pela população... er, constrangida com a derrota.

Isso é que é “amor à Pátria”...

quarta-feira, julho 07, 2010

20 anos sem Cazuza



Duas décadas após o seu desaparecimento, o poeta continua vivo

Hoje, 07 de julho de 2010, completam exatos 20 anos da morte de Cazuza [foto]. Ainda lembro, como se fosse ontem, do dia de seu falecimento. Inclusive, ainda adolescente, compareci ao sepultamento – e acabei aparecendo, de perfil, em uma foto publicada na revista Contigo!.


A essa altura, tudo já foi dito sobre o poeta e sua obra. Por sinal, em maio de 2008, quando ele completaria 50 anos de idade, escrevi uma matéria sobre a efeméride para o jornal International Magazine. A mesma também pode ser lida no portal Let's Rock.

Em referência à data, deixo aqui uma canção pouco conhecida, parceria dele com Gilberto Gil. Composta em 1987, “Um Trem para as Estrelas” foi registrada inicialmente para a trilha do filme homônimo, de Cacá Diegues, em um dueto do ex-vocalista do Barão Vermelho com o autor de “Refazenda”. No ano seguinte, contudo, Cazuza a regravou, solitariamente, em seu terceiro – e melhor – álbum solo, Ideologia.

A letra traz uma crítica social dura:

São sete horas da manhã
Vejo o Cristo da janela.
O sol já apagou sua luz
E o povo, lá embaixo, espera.
Nas filas dos pontos de ônibus,
Procurando aonde ir.
São todos seus cicerones –
Correm para não desistir
Dos seus salários de fome
E a esperança que eles têm...


E demonstra uma certa... er, descrença. Como se toda a beleza da paisagem da cidade fosse, de fato – como diz a obra-prima de Antônio Carlos Jobim e Aloysio de Oliveira –, “inútil”:

Estranho o teu Cristo, Rio
Que olha tão longe, além
Com os braços sempre abertos
Mas sem proteger ninguém.


Após duas décadas de ausência, o poeta, decididamente, ainda está vivo.



Veja o vídeo de “Um Trem para as Estrelas”, com Cazuza e Gilberto Gil...





...também a versão que o ex-Barão Vermelho gravou sozinho, no álbum Ideologia:

Morre Ezequiel Neves


Não deixa de ser uma bizarra coincidência o fato de Ezequiel Neves [foto], produtor e um dos melhores amigos de Cazuza, ter falecido precisamente hoje, quando o poeta completa 20 anos de desaparecimento.

Mineiro de Belo Horizonte, Ezequiel esteve envolvido na produção de todos os discos do Barão Vermelho – com e sem Cazuza –, além de ser coautor de sucessos como “Exagerado”, “Por que a Gente É Assim?” e “Codinome Beija-flor”, entre outros.

Sem papas na língua, acabou desenvolvendo um estilo inconfundível de escrever, que influenciou dezenas de jornalistas. Foi o mais influente crítico musical brasileiro na década de 1970, tendo colaborado na Playboy, no Jornal da Tarde e na extinta revista Somtrês, entre outros.

Assinou seus textos como Zeca Jagger, Zeca Zimmerman – em homenagem a Bob Dylan –, e criou também um heterônimo: Ângela Dust.

Nos últimos cinco anos, Ezequiel Neves apresentava um quadro de enfisema pulmonar, tumor cerebral e cirrose. Estava internado na Clínica São Vicente, na Gávea, desde janeiro. Tinha 74 anos.

Agradecimento

Faço questão de registrar aqui o meu sincero e comovido agradecimento pela atenção de todos aqueles que, a despeito dos períodos de “silêncio” – por pura falta de tempo de minha parte –, continuaram/continuam visitando este espaço, dia após dia.

Saibam que o blog é feito para vocês, leitores. Afinal, qual seria o sentido em escrever, se não existissem pessoas interessadas em ler?

Mais uma vez, muito obrigado.