sexta-feira, dezembro 28, 2012

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Celebration Day’, do Led Zeppelin





Para encerrar (por ora) o assunto Led Zeppelin: curiosamente, “Celebration Day”, a canção que dá título ao novo DVD da banda, está ausente do repertório. 

Faixa do (fantástico) Led Zeppelin III, de 1970 [no detalhe, a capa], “Celebration...” é tão genial que, além da letra totalmente alto-astral (“My, my, my, I'm so happy (...) / we are gonna dance and sing in celebration”), consegue, apesar do peso, ser... dançante (!). 

Enfim, é uma daquelas canções que despertam vontade de ouvir seguidas vezes. E, de preferência, em volume bem alto.





segunda-feira, dezembro 17, 2012

Roberto Carlos, ‘o cara’


Resenha de show
Data: 14 de dezembro de 2012
Local: Ginásio do Maracanãzinho — Rio de Janeiro



Orgulhoso de seu passado, mas olhando para a frente, RC já entra no palco com ‘o jogo ganho’

Eventualmente, Roberto Carlos é “acusado” de fazer, há décadas, “o mesmo show”, com “as mesmas músicas”. Uma análise mais atenta desmonta completamente essa teoria. Foi, aliás, o que RC provou, mais uma vez, diante de 11 mil pessoas, na apresentação realizada na noite de sexta-feira, 14, no ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro.

É bem verdade que, há muitos anos, o cantor faz a sua (triunfal) entrada no palco ao som de “Emoções”. Entretanto, o fato é que, por mais que o espectador já tenha visto dezenas de vezes, a cena é sempre impactante. Sempre. Os passos lentos. O sorriso aberto. O gesto de reverência à plateia. Enfim, no momento em que Roberto se aproxima do pedestal do microfone para cantar o primeiro verso (“Quando eu estou aqui / eu vivo esse momento lindo”) já está com o público na mão, apesar de quase uma hora e meia de atraso, devido a uma gravação para o Domingão do Faustão. Humilde, pediu “perdão” aos presentes e agradeceu pela paciência. Mas frisou, bem-humorado: “Não foi por minha culpa!”.

Assim como “Emoções”, duas que jamais estão ausentes do repertório dos shows do artista são “Detalhes” — em uma versão que começa com RC sozinho ao violão — e, sendo o homem de fé que sempre foi, “Jesus Cristo”, com seus “metais em brasa”, que encerra o show. Fica a pergunta: as pessoas que apreciam o seu trabalho conseguiriam conceber uma apresentação de Roberto sem estas três canções? Ou um show de Paul McCartney sem “Band On The Run”, “Hey Jude” e “Yesterday”? Ou um espectáculo dos Rolling Stones sem “Start Me Up”, “Brown Sugar” e “Jumpin' Jack Flash”? 

Esta é a questão.

Além das três citadas, existem outras que foram retomadas por Roberto Carlos há cerca de dez anos e que não saíram mais do seu set list. É o caso de “Além do Horizonte”, agora com claros ecos de bossa nova — diferentemente da versão original, de 1975, que flertava despudoradamente com o samba-rock. E também a pulsante versão de “Eu te Amo, te Amo, te Amo”, a infalível “Como É Grande o meu Amor por Você” e a homenagem de “Mulher Pequena”, que está longe de ser um de seus clássicos, mas é recebida com respeito pelo público — que sabe muito bem o que esta música significa para o cantor. 

Enfim, excluindo as canções “cativas”, várias músicas foram excluídas do roteiro. É o caso de “Amor Perfeito”, “É Preciso Saber Viver” e “Outra Vez”, entre outras. No lugar destas, entraram “Lady Laura” — em memória da mãe de Roberto, que faleceu em 2010 —, “Cama e Mesa”, a belíssima “Nossa Senhora”, “Desabafo” e a sentida “O Portão”.

O que prova que, ao seu estilo ponderado e criterioso de trabalhar — e, claro, sem mexer naquelas que não pode deixar de cantar —, Roberto Carlos altera com frequência o seu repertório, sim.



A versão eletrônica de ‘Fera Ferida’

Por sinal, apesar de (merecidamente) orgulhoso da sua obra que construiu ao lado de Erasmo Carlos, RC aparenta estar interessado em olhar para a frente. Não deixou de cantar “Furdúncio”, o seu (surpreendente) funk melody (!) lançado este ano. E revelou, no palco, que lançará, em 2013, um CD chamado Reimixes, no qual vários Djs irão “desconstruir” algumas de suas canções. E chamou ao palco o DJ Marcelo “Memê” Mansur para que o acompanhar em uma versão de “Fera Ferida” que empolgou o Maracanãzinho. Ver Roberto Carlos cantando sobre a base eletrônica de Memê foi simplesmente... de cair o queixo. “Nunca imaginei que, um dia, alguém faria algo assim com a minha música”, contou, sorrindo. Ah, esteja certo ninguém imaginaria, Roberto — e, principalmente, que você concordaria com a ideia.

Apesar da excelente resposta da plateia para “Fera Ferida”, a canção mais aplaudida da noite foi, sem dúvida alguma, “Esse Cara Sou Eu”, a primeira faixa inédita de Roberto em três anos. Música-tema do casal protagonista da novela Salve Jorge, “Esse Cara...” foi precedida por uma explicação do autor sobre a sua gênese. E interpretada de modo... impecável. Apesar de lançada em novembro, pode ser considerada a música do ano de 2012. O que confirma que “quem é Rei”... bem, vocês sabem.

Vale destacar um momento extra-musical: excepcionalmente, foram colocados à venda ingressos mais baratos, em um setor batizado de “arquibancada visão parcial” — à direita e à esquerda —, no qual o cantor era visto apenas de lado, quase de costas. Sabendo disso, RC, ao longo do show, inúmeras vezes cantou olhando para as pessoas situadas nesta direção — que deliravam. Exemplo de grandeza e sensibilidade de um artista ciente da dificuldade enfrentada por parte significativa de seu público para vê-lo ao vivo.

Aos 71 anos, com a voz nos conformes e ótima aparência — durante as músicas sensuais, como “Os Seus Botões” e “O Côncavo e O Convexo”, ele abusa do gestual e arranca gritinhos da plateia feminina —, Roberto Carlos finalmente assumiu: ele é realmente “o cara”.




Repertório:

* Overture
* Emoções (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1981)
* Eu te Amo, te Amo, te Amo (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1968)
* Além do Horizonte (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1975)
* Cama e Mesa (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1981)
* Detalhes (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1971)
* Desabafo (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1979)
* O Portão (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1974)
* Lady Laura (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1979)
* Nossa Senhora (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1993)
* Mulher Pequena (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1992)
* Fera Ferida (com participação do DJ Marcelo “Memê” Mansur) (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1982)
* Medley, com texto de Ronaldo Bôscoli (1928 — 1994): Seu Corpo (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1975) / Café da Manhã (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1978) / Os Seus Botões (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1976) / Falando Sério (Maurício Duboc — Carlos Colla, 1977) / O Côncavo e o Convexo (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1983)
* Esse Cara Sou Eu (Roberto Carlos, 2012)
* Furdúncio (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 2012)
* Medley: É Proibido Fumar (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1964) / Namoradinha de um Amigo Meu (Roberto Carlos, 1966) / Quando (Roberto Carlos, 1967) / E Por Isso Estou Aqui (Roberto Carlos, 1967) / Jovens Tardes de Domingo (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1977) / Emoções (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1981)
* Como É Grande o Meu Amor por Você (Roberto Carlos, 1967)
* Jesus Cristo (Roberto Carlos — Erasmo Carlos, 1970)

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Fera Ferida’, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos


Em 2008, Caetano Veloso criou o blog Obra em Progresso, no sentido de interagir com os internautas, durante a concepção do que viria a se tornar o CD Zii & Zie [2009]. E dedicou uma postagem à “Fera Ferida”, que ouviu no rádio de um táxi. É uma pena o espaço já não estar no ar — o que obriga este relato a ser “painted from memory”.

Na ocasião, Caetano contou que, embora conhecesse a canção desde o seu lançamento, em 1982 [no detalhe, a capa] — inclusive a regravou em seu álbum de 1987 —, ouvi-la ali, de sopetão, o deixou emocionado. O autor de “Outras Palavras” prosseguiu a sua observação, afirmando que, desde o primeiro verso (“Acabei com tudo / escapei com vida”), “a bola nunca mais cai”. Ou seja, a canção mantém presa a atenção do ouvinte. Até o final.

E finalizou dizendo que escutar “Fera Ferida” pela primeira vez foi “uma grata surpresa, a mais instigante canção lançada por Roberto Carlos em muito tempo”. 

Caetano Veloso estava certíssimo. Repleta de belas imagens (“Os meus rastros desfiz / tentativa infeliz de esquecer”), “Fera Ferida” é, sem dúvida alguma, uma das mais brilhantes letras escritas por Roberto Carlos e Erasmo Carlos. E, embora também regravada, em um arranjo épico, por Maria Bethania em As Canções que Você Fez para Mim [1993] — inteiramente dedicado à obra da dupla —, a versão definitiva é, de fato, a de Roberto.

É o tipo de canção que o Rei nasceu para cantar. 




P.S.: Nutro sincera admiração pelas pessoas que conseguem fugir da escrita “analítica” da “terceira pessoa” e se expressam de modo mais pessoal em um blog. É algo que, confesso: sinto-me desconfortável em fazer — embora, através do Google Analytics, já tenha observado que, nas minhas raras postagens “confessionais”, a resposta, em visitações, é sempre muito positiva. Não está descartada, inclusive, a hipótese da criação de mais um blog, destinado apenas a pensatas e análises musicais “autobiográficas”. Ou, talvez, uma série — a exemplo da “São Bonitas as Canções” —, com estas características, dentro deste blog. Enfim, é uma ideia a ser amadurecida. Por ora, o que importa é destacar que as canções postadas neste espaço obedecem a três critérios: a) qualidade, evidentemente; b) relação com um ou mais textos postados recentemente; c) possuírem alguma história interessante a ser contada. Portanto, nada têm a ver com a minha pessoa ou com o meu cotidiano. E tampouco trazem alguma “mensagem subliminar”. “Fera Ferida”, contudo — independentemente de ser uma pérola —, é um caso à parte. Trata-se de uma música que tem “me acompanhado” há muitos anos e com a qual sempre me identifiquei. Sempre. Pela personalidade forte. Pelo temperamento arisco. Pelo modo irredutível de tomar decisões (“Não vou mudar: esse caso não tem solução”). E também pela minha trajetória de vida (“O coração perdoa / mas não esquece à toa / e eu não esqueci”). Alguns familiares, inclusive, já fizeram essa “associação”. Detalhe: sem que eu jamais tivesse manifestado para eles o meu apreço pela canção: “Olha a música do Tom!” Ou seja, do leão que só “se enfurece” e “ataca”... por ter sido “alvejado”. Sendo assim, “eternizá-la” neste espaço — além de uma tendência natural, dada a sua importância para mim — é um desejo antigo. A data do arquivo de imagem que ilustra esta postagem, guardada em meu pen drive durante um longo tempo, não me deixa mentir: “Modificado em 13/10/2008” (!).




Veja o vídeo da (surpreendente) versão eletrônica de “Fera Ferida”, com participação do DJ Marcelo “Memê” Mansur, extraído do Especial de Roberto Carlos de 2012. O fonograma será lançado no álbum Reimixes, que chegará às prateleiras em 2013:





E ouça a versão original da canção:



quarta-feira, dezembro 12, 2012

Ravi Shankar (1920 — 2012)



Morreu ontem (11), aos 92 anos, o maestro e (exímio) citarista Ravi Shankar [foto]. Ex-professor de cítara de George Harrison, foi decisivo na aproximação dos Beatles da música indiana. Reza a lenda que Harrison, em seu leito de morte — faleceu em 2001, vítima de câncer —, solicitou a presença de Shankar, para que este tocasse cítara no momento de seu desenlace.

Ravi Shankar era pai da cantora Norah Jones e da também citarista Anoushka Shankar.



Ouça “Farewell My Friend:


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Sea Dreamer’, Anoushka Shankar e Sting



Ravi Shankar era pai da cantora Norah Jones e da também citarista Anoushka Shankar

(“Ravi Shankar (1920 — 2012)”, dezembro de 2012)


Com uma discografia que já conta com seis títulos, Anoushka Shankar [na foto, ao centro] já é um nome bastante conhecido na música ocidental. Seu trabalho mais interessante até o momento, o quinto, foi gravado em parceria com o produtor Karsh Kale [o último, da esquerda para a direita]. Lançado em 2007, Breathing Under Water oferece uma instigante amálgama de eletrônica com sons indianos.

Breathing Under Water conta com a participação da meia-irmã de Anoushka, Norah Jones, em “Easy”, e de Sting*, na (belíssima) faixa “Sea Dreamer” — que nada mais é do que o tema instrumental que batiza o disco, letrado pelo ex-Police.



* Tendo nascido em uma cidade portuária — Newcastle, situada ao norte da Inglaterra —, Sting sempre foi um apaixonado pelo mar. Desde a infância, devorava romances sobre o assunto — como o clássico A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson. O tema, aliás (com o perdão do trocadilho), permeia várias de suas canções, como “Valparaiso”, “All This Time” e “The Pirate's Bride”, entre outras. Em uma entrevista, o músico confessou ter a impressão de que seu pai desejava que seu filho trabalhasse em alguma profissão ligada ao mar. “Sei que, de certa forma, o desapontei”, lamentou Sting.




Ouça “Sea Dreamer”, de Anoushka Shankar e Karsh Kale, com participação de Sting:




E veja o vídeo de “Your Eyes”, a (brilhante) participação de Anoushka no Concert For George, realizado no Royal Albert Hall, em Londres, no dia 29 de novembro de 2002 — exatamente um ano após o desaparecimento do ex-beatle George Harrison:


quarta-feira, dezembro 05, 2012

‘Celebration Day’: a ‘enciclopédia do rock’ do Led Zeppelin



DVD/CD/Blu-Ray
Celebration Day (Warner)
2012



No dia 10 de dezembro de 2007, os três sobreviventes do Led Zeppelin — Jimmy Page, Robert Plant e John Paul Jones — reuniram-se para uma única apresentação, em memória do turco Ahmet Ertegun, fundador e presidente da Atlantic Records, na qual o quarteto gravou seus primeiros álbuns. E somente agora, cinco anos depois (!), o concerto realizado na arena O2, em Londres, diante de 18 mil sortudos — que esgotaram os ingressos em questão de horas — é lançado em CD, DVD e Blu-Ray, com o título de Celebration Day.

Nos primeiros momentos do audiovisual, que foi exibido recentemente nas salas de cinema, alguns detalhes saltam aos olhos e ouvidos. Jimmy Page, ao invés das madeixas negras de outrora, ostenta cabelos que mais se assemelham a flocos de algodão. John Paul Jones, hoje um senhor de idade, abandonou a longa cabeleira e usa atualmente um penteado “comportado”. Já Robert Plant, embora tenha aderido ao cavanhaque, conserva os cachos dourados e o carisma que ajudaram a torná-lo famoso. Sua voz, entretanto — embora dê conta do recado —, já não possui o viço e o alcance dos áureos tempos. E, nas baquetas, no lugar do finado John “Bonzo” Bonham, estava o seu filho, Jason. 

Esses pormenores, no entanto, são irrelevantes. Nos acordes iniciais da bombástica “Good Times, Bad Times”, que abre o espetáculo, não resta a menor dúvida: é o Led Zeppelin, monstruoso — na melhor acepção da palavra — que está ali, em carne e osso, com a técnica instrumental de sempre. Apenas os quatro no palco. 

E é mais do que o suficiente.



Em 2007, Page lamentou que a banda não tenha entrado em turnê

Em duas horas — até o grand finale, com Rock And Roll, o grupo faz um resumo de sua (brilhante) obra, sem poupar cavalos-de-batalha como “Whole Lotta Love” e “Black Dog”, entre outros. E não deixa pedra sobre pedra. “Stairway To Heaven”, obviamente, não ficou de fora — por sinal, no seu (inacreditável) solo de guitarra, Page periga fazer com que muito marmanjo vá às lágrimas.

Além dos clássicos, destaque para a sequência de blues, na qual a banda enfileirou “In My Time Of Dying”, “Trampled Under Foot”, “Nobody s Fault But Mine”, “No Quarter”, “Since I ve Been Loving You” e “Dazed And Confused”, em execuções simplesmente demolidoras. 

Vale destacar também a performance de Jason Bonham — que, decididamente, não ocupou o posto de seu pai apenas por uma questão de DNA. O cidadão, de fato, toca muito — no final de “Kashmir”, por exemplo, ele rouba a cena. E, ao longo da apresentação, recebeu o afeto dos três veteranos, que voltavam-se para ele a todo momento. 

Diferentemente da reunião do Police, em 2007, na qual Sting, Andy Summers e Stewart Copeland não conseguiam disfarçar no palco a falta de intimidade entre eles — provavelmente por resquícios dos conflitos do passado —, os integrantes do Led Zeppelin interagiram o tempo todo, sorrindo em vários momentos. Pareciam estar ali por puro prazer, orgulhosos daquele momento. E de sua trajetória como um todo.

Em entrevista recente, Jimmy Page revelou o seu desapontamento pelo fato de a banda não ter entrado em turnê após o concerto de 2007. É realmente de se lamentar. Entretanto, apesar de meia década de atraso, Celebration Day lega para a eternidade um registro essencial não apenas da história do Led Zeppelin, mas do próprio rock'n'roll. Aliás, para quem desconhece o gênero e tem curiosidade em descobrir, trata-se de uma verdadeira enciclopédia.

Resumindo: compre ontem. E assista de joelhos.




Veja o vídeo de “Black Dog...





...e de “Kashmir”, na qual o baterista Jason Bonham simplesmente “quebra tudo”:


Da série ‘Fotos’: Robert Plant e Inri Cristo

Na verdade, mais uma série da “Separados na Maternidade”: detesto dizer isso, mas... o Robert Plant não está a cara do tal Inri Cristo?


“Meu Páe!”

Da série ‘Frases’: Renato Russo

Deixa o copo encher até a borda / que eu quero um dia de sol / num copo d'água...”


Na faixa “A Montanha Mágica”, do (ótimo) álbum V, da Legião Urbana, Renato Russo fala — de modo cifrado — de sua luta contra o alcoolismo. 



terça-feira, dezembro 04, 2012

Da série ‘Causos’: Cream




Impossível falar sobre power trios como The Jimi Hendrix Experience sem mencionar o Cream [no detalhe], supergrupo por formado por Jack Bruce, Eric Clapton e Ginger Baker na década de 1960. 

Em apenas três anos (1966-1969), o Cream gravou quatro álbuns de estúdio — Fresh Cream, Disraeli Gears, Wheels of Fire e Goodbye — e encerrou as suas atividades, devido às brigas constantes entre Bruce e Baker. As apresentações da banda em sua reta final acabaram se tornando um mero espetáculo de exibicionismo por parte do baterista e do baixista/vocalista. 

Reza a lenda que, durante um show, Baker e Bruce começaram a improvisar alucinadamente, como se quisessem provar um para o outro quem era o instrumentista mais competente. Clapton, obviamente, percebeu a situação. E, para ver qual seria a reação da dupla, parou de tocar a sua guitarra.

Pasmem: os dois rivais sequer perceberam (!). E prosseguiram o seu “duelo” particular.




Em 2005, o Cream se reuniu para cinco apresentações no Royal Albert Hall, em Londres. Clapton revelou à imprensa que a ideia partiu dele. E foi motivada pelo estado de saúde dos ex-companheiros — Baker sofria de artrite e Bruce, vítima de câncer, havia passado por um transplante de fígado. A fragilidade física da dupla é visível no vídeo abaixo, do maior clássico do grupo, “Sunshine Of Your Love”, extraído do DVD Royal Albert Hall London May 2-3-5-6, 2005. A (exuberante) técnica instrumental do trio, entretanto, não se dissipou com o tempo. E, infelizmente, o mesmo se pode dizer das rusgas do passado. Observem que, antes de saírem do palco, Clapton e Bruce, sorridentes, se abraçam. Este e Baker, por sua vez, mal se olham... 


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘I Shot The Sheriff’, com Eric Clapton


Um assunto acaba “puxando” o outro. Composta por Bob Marley, “I Shot The Sheriff” foi lançada pelos Wailers no álbum Burnin', de 1973. Logo no ano seguinte, foi regravada por Eric Clapton no seu 461 Ocean Boulevard [no detalhe, a capa], onde obteve o seu melhor desempenho comercial: foi direto para a primeira posição da Billboard.

Na edição 2010 do Crossroads Guitar Festival*, Clapton tocou uma versão simplesmente arrasadora de “I Shot The Sheriff”. Em oito minutos e meio (!), God mostra o músico repleto de recursos que sempre foi. E prova por que é considerado o maior guitarrista vivo do planeta — e o segundo maior da história do rock, perdendo apenas para Jimi Hendrix.



* O Crossroads é um festival beneficente, organizado por Clapton a cada triênio, com fundos revertidos para a sua fundação — o Crossroads Centre —, localizada na Antigua, no Caribe, com o objetivo de recuperar dependentes químicos.




domingo, dezembro 02, 2012

Da série ‘Causos’: ‘Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band’, com Jimi Hendrix



Para finalizar, por ora, o assunto Jimi Hendrix, um episódio que ajuda a ilustrar toda a sua genialidade. Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, considerado o melhor e mais influente álbum da história da música pop, foi lançado pelos Beatles no dia 01 de junho de 1967, uma quinta-feira.

Pois bem: Hendrix comprou o álbum e, provavelmente antevendo o que aquele trabalho viria a representar, aprendeu a tocar a faixa-título. Na noite de domingo — apenas três dias (!) após o lançamento do disco —, o guitarrista abriu o show que realizou no Saville Theatre, em Londres, com ela. 

Detalhe: na plateia, estava um atônito Paul McCartney, que mal acreditava no que estava vendo/ouvindo...



Veja o vídeo com a versão de Jimi Hendrix para o clássico “Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band:


quinta-feira, novembro 29, 2012

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Little Wing’, com Sting





Ainda sobre Jimi Hendrix. No encarte de seu segundo disco solo de estúdio, ...Nothing Like The Sun [no detalhe, a capa], de 1987, Sting declarou:


“[O trio] The Jimi Hendrix Experience foi uma das primeiras bandas que vi tocar. Eu tinha 15 anos e havia comprado o primeiro compacto de Jimi, ‘Hey Joe’. Ele estava tocando no clube GoGo, em Newcastle [nota: cidade natal de Sting]. Eu nunca havia visto ou ouvido algo como aquilo na minha vida e suponho que jamais verei.


No álbum em questão, Sting regravou “Little Wing”, uma das mais belas — e delicadas — faixas de Hendrix. Naquele mesmo ano, o ex-Police ainda teve a felicidade de tocá-la ao lado de outro de seus “heróis”, em alguns shows que realizaram juntos: o figurão do jazz Gil Evans.




Embora até tenha se saído bem em sua releitura, a versão de Sting se baseia em critérios afetivos — e não supera o original de Hendrix. Entretanto, vale a pena assistir o fan vídeo abaixo, repleto de imagens inebriantes, que conseguem fazer o espectador... viajar:






Ouça a gravação original de “Little Wing”:




terça-feira, novembro 27, 2012

Jimi Hendrix: 70 anos




Em agosto de 1969, no final de sua apresentação no festival de Woodstock, Jimi Hendrix [no detalhe] (1942 — 1970) decidiu protestar, à sua maneira, contra a Guerra do Vietnã. Tocou uma (desconcertante) versão instrumental de “The Star-Spangled Banner”, o hino nacional dos Estados Unidos, emulando, em sua guitarra, sons de bombas, metralhadoras e aviões de guerra. E deixou a plateia simplesmente... perplexa. 

Acabou fazendo história.

Se vivo fosse, Hendrix completaria, no dia de hoje, 70 anos de idade. E é sempre oportuno celebrar a memória daquele que, de maneira inconteste, é considerado, em seu instrumento, o mais brilhante músico de todos os tempos. O Pelé da guitarra. 

A comparação não é descabida: assim como jamais surgirá um novo Pelé, nunca teremos outro Jimi Hendrix. Simples assim.




sábado, novembro 17, 2012

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Pensamentos’, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos

Em 2011, Roberto Carlos visitou o Santo Sepulcro, um dos locais mais importantes do Cristianismo


Pensamentos” foi lançada por Roberto Carlos em seu álbum de 1982. E, embora tenha sido regravada por Simone em seu disco natalino 25 de Dezembro, de 1995, permaneceu fora do repertório dos shows de RC até 2011 (!), quando foi retomada no CD/DVD Roberto Carlos em Jerusalém, gravado ao vivo na Terra Santa.

Composta em parceria com Erasmo Carlos, “Pensamentos” é uma das mais brilhantes letras escritas pela dupla. Ou, talvez, a mais brilhante. Os versos abordam temas complexos como a convivência humana (“Quem me dera que as pessoas que se encontram / se abraçassem como velhos conhecidos / descobrissem que se amam / e se unissem, na verdade dos amigos”) e, em um espectro mais amplo, a tolerância entre os povos (“Se as flores se misturam pelos campos / é que flores diferentes vivem juntas”).

A narrativa vai ainda mais fundo, considerando a possibilidade de que exista, de fato, destino (“Onde, às vezes, aparentes coincidências / têm motivos mais profundos”) e questionando o sentido da vida (“Pensamentos que me afligem / sentimentos que me dizem / dos motivos escondidos / da razão de estar aqui (...) / e eu penso nas razões da existência / contemplando a natureza desse mundo”).

Através de belas imagens (“E, no topo do Universo, uma bandeira / estaria no Infinito iluminada / pela força desse amor, luz verdadeira / dessa paz tão desejada”), Roberto e Erasmo finalizam amparando-se na fé para tentar compreender os mistérios que envolvem a Criação (“As perguntas que me faço / são levadas ao espaço / e, de lá, eu tenho todas as respostas que eu pedi (...) / e a voz dos ventos na canção de Deus / responde a todas as perguntas”).

Pensamentos” suscita uma reflexão profunda sobre a existência humana — e o seu papel nesse planeta. E nada fica a dever a outras canções que tratam de questões existenciais, como “Imagine”, por exemplo. Por tudo isso, é inacreditável que tenha ficado “esquecida” pelo Rei durante tantos anos.



Ouça a versão de “Pensamentos” do CD/DVD Roberto Carlos em Jerusalém. Se desejar, veja o vídeo — cuja padrão de imagem e áudio está abaixo do desejável —, clicando aqui:


sábado, novembro 10, 2012

Com apenas duas inéditas, Roberto Carlos reafirma seu apelo comercial


EP
Esse Cara Sou Eu (Amigo Records / Sony Music)
2012



Sem editar um disco de inéditas desde Pra Sempre, de 2003 (!) — o seu álbum de 2005, embora gravado em estúdio, trazia apenas uma música inédita —, Roberto Carlos acaba de lançar EP de quatro faixas, sendo duas inéditas. Desde a pré-venda, Esse Cara Sou Eu passou a liderar as vendas do iTunes — o que reafirma o apelo comercial do cantor de 71 anos de idade, mesmo na era dos downloads ilegais.

Já bastante conhecida do público devido à execução diária na novela Salve Jorge, a faixa-título é o tipo de letra — que, aliás, lembra “Romântico”, canção de 1995 — na qual RC é mestre: clara. Franca. Objetiva. E que retrata uma situação que muitas pessoas já vivenciaram. Ou vivenciam. Ou, pelo menos, gostariam de vivenciar. Por tudo isso, Esse Cara Sou Eu” atinge em cheio — e com extrema facilidade — a sensibilidade do ouvinte. Para completar, o refrão, a despeito de sua simplicidade, pega. No ato.

A maior surpresa do EP, entretanto, é a segunda inédita do EP, a descontraída “Furdúncio”. Funk melody (!) no estilo de “Ela Só Pensa em Beijar” de MC Leozinho — com quem, aliás, o Rei cantou em seu especial global de 2006 —, foi composta em 2007 em parceria com Erasmo Carlos. A parte instrumental contou com a participação da cozinha de Lulu Santos — o baixista Jorge Aílton e o baterista Chocolate. Os mais atentos observarão as terças de vozes, que escancaram a experiência de cinquenta anos do artista em estúdios de gravação. E, por mais improvável que, a princípio, a (ousada) empreitada pudesse parecer... deu certo.

A terceira faixa de Esse Cara Sou Eu é a solene “A Mulher que Eu Amo”, lançada em 2009 na trilha sonora da novela Viver a Vida — e que, até então, jamais havia aparecido em nenhum trabalho do cantor. Balada ao piano adornada com cordas e repleta de versos pungentes (“Quando vem pra mim, é suave como a brisa / e o chão que ela pisa / se enche de flor”), não soaria deslocada em um álbum de Antonio Carlos Jobim. 

Fechando o repertório, “A Volta”, que obteve boa repercussão ao integrar a trilha da novela América, em 2005. Composta a quatro mãos com o Tremendão em 1966, tornou-se o maior sucesso da carreira da dupla Os Vips. Contudo, só foi gravada por Roberto em seu supracitado álbum de 2005, em um (bom) arranjo a la Dire Straits. 

Embora altamente positivo, o lançamento de Esse Cara Sou Eu indica que o aguardado CD de inéditas de Roberto Carlos não deverá mesmo ser lançado este ano. Sendo assim, conclui-se que o álbum só verá a luz do dia em 2014. Afinal, supersticioso, RC provavelmente não lançaria/lançará nada no ano de 2013...




Veja o (simples, mas eficiente) vídeo, com letra, de “Esse Cara Sou Eu:





E ouça o funk melody Furdúncio:


Da série ‘Frases’: Frei Betto


A Terra é uma mulata de escola de samba, que gira em torno do próprio corpo e sua por todos os poros, dançando ao redor do mestre-sala, o Sol. De fato, não há ontem, hoje ou amanhã. Há dia e noite. Portanto, não faz sentido falar em passado, presente e futuro. Tudo é presente. Ninguém vive o que aconteceu ou o que vai acontecer. Só a nossa cabeça é que oscila entre o que já passou e o que ainda não é. Se soubéssemos viver aqui e agora, tirando o máximo proveito de cada momento presente, seríamos bem mais felizes.”


Do livro Alucinado Som de Tuba, de Frei Betto, Editora Ática, 2006.


quinta-feira, novembro 01, 2012

‘Keep Moving Forward’: o ‘jingle de campanha’ de Stevie Wonder




Sete anos após o seu último álbum de inéditas — A Time To Love [2005], de onde saiu o seu hit mais recente, “From The Bottom Of My Heart” —, Stevie Wonder acaba de lançar novo single. Mas por motivos extramusicais.

Keep Moving Forward” é, despudoradamente, uma faixa de apoio à reeleição de Barack Obama [no detalhe, os dois amigos] à presidência dos Estados Unidos. Na letra (para lá de populista), Wonder, além de citar Obama nominalmente, afirma, com todas as letras, que ele é “o cara”.

Do ponto do vista musical, a canção traz o groove típico de SW, com um leve “tempero” árabe, já utilizado em faixas anteriores — e com resultados mais satisfatórios —, como “Pastime Paradise”, do clássico Songs In The Key Of Life, de 1976. 

É louvável quando um artista tem coragem de “dar a cara a tapa” e se posicionar politicamente. Mas o fato é que “Keep Moving Forward”, mero “jingle de campanha”, não fará a menor diferença na obra monumental do genial Stevie Wonder.




Veja o vídeo, com letra, de “Keep Moving Forward:


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Madana Mohana Murari’, com Homem de Bem


O violonista, cantor e musicoterapeuta Tomaz Lima [no detalhe] — que também atende pelo nome artístico de Homem de Bem — já conta com uma discografia de vinte títulos. Tornou-se conhecido em 1992, quando a sua gravação do mantra indiano “Madana Mohana Murari” era executada diariamente, em rede nacional, na trilha sonora da novela Pedra Sobre Pedra.

E, pasmem, caiu no gosto popular (!). 

Dois anos depois, gravou a faixa que abre o CD nacional da novela Sonho Meu, o mantra “Bhaja Shiri Krishna”. E, em 2001, foi contratado pela Rede Globo para ensinar Sandy a cantar mantras para o folhetim Estrela Guia. Naquele mesmo ano, editou o álbum Mantras e Bhajans de Estrela Guia.

Vale a pena assistir o magnífico vídeo de “Madana Mohana Murari”, que — com uma certa intenção... hum, panteísta, digamos assim — apresenta belíssimas imagens de elementos da natureza.




Da série ‘Frases’: Florbela Espanca


Tudo no mundo é frágil. Tudo passa



Com absoluta lucidez e serenidade, Florbela Espanca (1894 — 1930), mulher de vida atribulada, refletiu, em seu poema “Fanatismo”, sobre a transitoriedade das coisas. Em 1980, Raimundo Fagner musicou e gravou — brilhantemente, diga-se de passagem — os versos da poetisa portuguesa em seu álbum Traduzir-se.




No detalhe, o busto de Florbela Espanca, de autoria de Diogo de Macedo, situado no Jardim Público de Évora, no Alentejo

sábado, outubro 27, 2012

‘Sorte e Azar’: a ‘nova’ música do Barão Vermelho




Comemorando 30 anos de carreira fonográfica, o Barão Vermelho decidiu colocar o pé na estrada. Na turnê, batizada de + 1 Dose — citando o verso inicial de “Por Que A Gente É Assim?”, faixa do terceiro álbum do grupo, Maior Abandonado [1984] —, a banda passará pelas principais capitais brasileiras até março de 2013.

O Barão aproveitou a efeméride para remasterizar o seu disco de estreia, Barão Vermelho [no detalhe, a capa], que será reeditado em novembro, em CD e vinil, acrescido da demo de “Nós” — que, embora tenha sido lançada somente no supracitado Maior Abandonado, foi o primeiro fruto da parceria Frejat/Cazuza — e do segundo take de “Por Aí”. No formato digital, também estará disponível a versão em espanhol (!) de “Down em Mim”. 

Durante o processo de digitalização do álbum, o Barão teve a — desculpem: foi inevitável — sorte de encontrar uma fita K7, com a voz de Cazuza, de uma canção chamada... “Sorte e Azar”. A faixa foi excluída da seleção final do primeiro trabalho do quinteto pelo finado produtor Ezequiel Neves, que se sentia desconfortável com a palavra “azar”. Na década de 1990, em entrevista à extinta revista Bizz, Frejat revelou, aos risos:

— O Ezequiel chegou a sugerir que trocássemos o título para “Sorte ou Não”.

Com esse trunfo nas mãos, o Barão entrou em estúdio e “vestiu” o canal de voz do autor de “Codinome Beija-flor” com um belo arranjo, com direito a violões, guitarras bluesy, cordas e tudo o mais. O resultado não poderia ter sido melhor. 

Na interpretação visceral e nos versos de tons nada “pastéis”, “Sorte e Azar” corrobora o que Lobão afirmou há alguns anos: Cazuza, morto, está mais vivo do que muita gente.




Veja o vídeo (com letra) de “Sorte e Azar”. Uma dica: ouça em alto e bom som, para captar bem a voz do artista. No atual cenário da música brasileira — onde tudo oscila entre o “plastificado” e a indigência total —, simplesmente não existe mais quem cante com a intensidade e a verdade de Cazuza:






Veja também o bonito vídeo que mistura imagens de arquivo de Cazuza a cenas atuais dos integrantes do Barão Vermelho no estúdio: