Blog de análises musicais, mas com eventuais abordagens mais informais –– pessoais, inclusive. Sejam bem-vindos.
quarta-feira, setembro 26, 2012
Da série ‘Frases’: Nasi
segunda-feira, agosto 08, 2011
O dia em Chico Buarque foi ‘cabo eleitoral’ de Fernando Henrique Cardoso
sábado, julho 30, 2011
Ricardo Teixeira na revista ‘Piauí’
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“Minha nossa... Qual de vocês está com a mão amarela?” |
terça-feira, outubro 19, 2010
Chico Buarque: como eleitor, um ótimo compositor

Ontem, artistas e intelectuais compareceram ao Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro, para manifestar apoio à candidatura da “invenção” eleitoral que atende pelo nome Dilma Rousseff. Inclusive, o sr. Chico Buarque de Hollanda [em foto de Monique Cardone, do R7, Rio de Janeiro]:
— Venho aqui reiterar meu apoio entusiasmado à campanha da Dilma. A forma de governar de Lula é diferente. Ele não fala fino com Washington, nem fala grosso com Bolívia e Paraguai. Por isso, é ouvido e respeitado no mundo todo. Nunca houve na História do país algo assim.
“A forma de governar de Lula é diferente”? Ué, mas o Lula é candidato? Ninguém me avisou. “Nunca houve na História do país algo assim”? Ih, mais um que pensa que o Brasil foi fundado em 2003...
Bem, Chico tem todo o direito se posicionar politicamente. Afinal, ao contrário de Cuba* – país pelo qual o artista nutre tamanha simpatia –, vivemos em uma democracia.
Pelo menos, por enquanto...
Todavia, é espantoso que o autor de “Apesar de Você” não se envergonhe de emprestar o seu (enorme) prestígio a uma candidata deste calibre. Sobre Dilma, não há mais nada a ser dito: sua biografia – que é de conhecimento de todos –, seus pronunciamentos – verdadeiros atentados à Gramática – e a fragilidade de suas opiniões falam por si.
Decididamente, como eleitor, Chico Buarque continua sendo um de nossos melhores compositores.
* Será que, lá em Havana, Chico conseguiria ter um campo de futebol, para bater uma bolinha com o seu Polytheama?
Chico Buarque, o ‘engajado’
Ontem, no Teatro Oi Casa Grande, Chico Buarque [foto] falou em “apoio entusiasmado” à candidatura Dilma Rousseff. O que, imediatamente, fez com que viesse à minha mente um trecho de sua biografia, o qual transcrevo:
“Certo dia, em pleno regime militar, ano 1968, toca o telefone na casa de Chico. Do outro lado, uma voz misteriosa de mulher: ‘Chico? É Mariinha’. A voz convoca o compositor: ‘Reunião amanhã aqui em casa com o príncipe russo’. Príncipe russo? Mariinha? Chico fica intrigado. Que diabos de príncipe russo?! Aí, decifra o enigma e exclama, feliz com a própria esperteza: ‘Ah, o Wladimir! Matei a charada, Tônia!’ Do outro lado, Tônia Carrero dá-lhe uma bronca: ‘Pô, Chico, não era pra falar’.
“A convocação sigilosa era para uma reunião clandestina com Wladimir Palmeira, mas Chico não levava mesmo jeito para a coisa. Distraído, frequentava reuniões políticas por um dever acima de sua vontade. Nessa época, participava ligeiramente desses encontros, e estava longe se ser o artista mais engajado. ‘Havia muitos que eram mais participantes do que eu’. Não estava alienado aos acontecimentos, mas não tinha maiores entusiasmos”.
(“Perfis do Rio: Chico Buarque”, Regina Zappa, Editora Relume-Dumará, 1999, páginas 89-90)
Resta a dúvida: será que Chico está verdadeiramente imbuído do alardeado... “entusiasmo”? Ou a sua adesão ao evento teria sido apenas mais... “um dever acima de sua vontade”?
É estranho imaginar que o perfil descrito acima é, de fato, do autor de letras de contundentes críticas sociais como “Cálice”, “Deus Lhe Pague” e “Vai Passar”, entre outras.
terça-feira, outubro 05, 2010
Da série ‘Perguntar não ofende’: você compraria um carro usado de Ciro Gomes?
— Os marqueteiros tentam atenuar, com o slogan [nota do blog: “Serra é do bem”], o que é a evidência oposta, porque todo mundo sabe que o Serra é do mal. E eu sei mais do que ninguém.
O (observem o eufemismo) desmemoriado deputado deveria se lembrar do que afirmou, em abril deste ano, segundo o jornal O Estado de São Paulo e o Blog do Noblat:
— Minha sensação agora é a de que o Serra vai ganhar esta eleição. Dilma é melhor do que o Serra como pessoa. Mas o Serra é mais preparado, mais legítimo, mais capaz. Mais capaz, inclusive, de trair o conservadorismo e enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos.
Seguindo a... er, peculiar linha de raciocínio de Ciro, mais vale apoiar uma candidata com inferior capacidade administrativa, pelo simples fato de ela ser, em tese, uma pessoa... “melhor”?
Perguntar não ofende: você compraria um carro usado de Ciro Gomes? Cartas para a redação.

sábado, outubro 02, 2010
Eleições 2010: reflita antes de votar

O PT, sendo um dos maiores partidos deste País – e, sobretudo, sendo situação –, tinha todo o direito de lançar candidatura própria para a sucessão presidencial.
Entretanto, tinha também o dever de respeitar a boa-fé que a população – especialmente a menos esclarecida – depositou no presidente Lula. E, sendo assim, deveria ter escolhido uma candidata, sob todos os aspectos, mais apta para a importância do cargo em questão.
Do contrário, fica a triste impressão de que o partido deseja simplesmente... permanecer no poder. Para, entre outros motivos, continuar aparelhando o Estado e beneficiando os “companheiros”. Afinal, “nunca antes na História deste País” – como o presidente gosta de repetir, como um mantra – tantos cargos de confiança foram criados. “Nunca antes na História deste País” a máquina administrativa esteve tão inchada.
Detalhe: quem está dizendo isso é um cidadão que, ingenuamente, votou no PT inúmeras vezes.
Caros leitores, assistam, por obséquio, aos vídeos abaixo. E reflitam se é realmente isto que o Brasil merece. Se, pelo menos, uma única pessoa conseguir enxergar a fraude que é tão evidente... já me darei por satisfeito.
Ainda que esta afirmativa soe clichê, pensem na seriedade da decisão a ser tomada amanhã, dia 03. A Nação agradece.
Puxa, quanta “eloquência”...
Qual ser humano na face da Terra é capaz de esquecer o título (!) de um livro que acabou de ler?
Bem... Mas, pelo menos, ela tem cabos eleitorais “de peso”, sem dúvida alguma...
Para encerrar, um verdadeiro show de contradições...
quinta-feira, setembro 16, 2010
‘Excesso de liberdade de informar’

Independentemente do seu posicionamento político, caro (a) leitor (a), recomendo a leitura do editorial de hoje do jornal O Globo, o qual – dada a sua enorme relevância no atual contexto político brasileiro – peço licença para reproduzir neste espaço.
O texto traz acusações graves – nominais, inclusive – que, creio, não se tornariam públicas se desprovidas de fundamento.
Em um Estado de Direito, não existe “excesso de liberdade” de imprensa. Existe apenas... liberdade. Não havendo liberdade, o que existe, inequivocamente, é... cerceamento. E, quando a livre expressão da imprensa é controlada, a democracia, como um todo, encontra-se seriamente ameaçada.
Resta a dúvida: depois de décadas sob os grilhões de ditadores militares, a América do Sul estará agora submetida a autocratas... civis?
Um projeto autoritário em marcha [Editorial]
Deputado federal cassado devido à comprovada participação no esquema do mensalão, e qualificado, no processo sobre o escândalo em tramitação no Supremo, como “chefe da organização criminosa” montada para comprar com dinheiro sujo apoio parlamentar ao governo Lula, José Dirceu não perdeu espaço no PT.
Ao contrário, pois certa militância petista demonstra seguir um padrão moral maleável a ponto de ser condescendente com golpes contra o Erário, desde que em nome de “bons” propósitos. As últimas semanas de fatos ocorridos na política comprovam esta ética peculiar do partido.
A palestra feita segunda por Dirceu a petroleiros da Bahia mostra, por sua vez, como o deputado cassado, réu, pontifica em nome do partido, cujo “projeto político”, disse, poderá ser executado com a chegada da companheira em armas Dilma Rousseff ao Planalto.
E é parte do projeto controlar a imprensa independente e profissional, meta da legenda desde a chegada ao Planalto, em 2003. Como disse o líder petista aos petroleiros, há no Brasil um “abuso no poder de informar”(!!). A frase poderia ser de um daqueles censores da Polícia Federal nos anos 70.
Fracassadas as tentativas de intervenção na produção audio-visual por uma agência (Ancinav) e de oficialização da patrulha sobre os jornalistas por meio de um conselho sindical, o “acúmulo de forças”, nas palavras do ex-ministro-chefe da Casa Civil, deverá permitir, agora, a realização do antigo sonho.
É um erro achar que o PT de Dirceu espera Lula esvaziar as gavetas no Planalto, despachar a mudança rumo a São Bernardo, para desfechar o ataque ao direito constitucional à liberdade de imprensa e expressão. Ele já vem sendo preparado, por determinação do próprio Lula, pelo ministro de Comunicação Social, Franklin Martins.
Será deixado pronto para Dilma um projeto que, entre outros pontos, pretende regular as chamadas “participações cruzadas”, com o objetivo de reduzir o tamanho e a diversificação dos grupos de comunicação.
A intenção é a mesma que move o casal Kirchner, na Argentina, ao forçar o grupo Clarín a se desfazer de canais de televisão, sempre em nome do combate à “concentração”.
É falso o argumento do incentivo à competição, pois, hoje em dia, com a internet e a proliferação de canais de distribuição de informações, há incontáveis e crescentes opções à disposição de leitores, telespectadores e ouvintes.
O real objetivo do projeto, de origem chavista, é acabar com a independência das empresas profissionais de jornalismo e entretenimento, pelo corte do seu faturamento, hoje obtido por múltiplas fontes de receitas. Reduzidos em sua escala, os grupos terão de buscar verbas oficiais para se manter, e com isso acabará na prática a liberdade de imprensa.
É tão inconcebível a Dirceu a livre manifestação de opiniões e de veiculação de fatos que o petista aproveitou a doutrinação de petroleiros para criticar o ministro Carlos Ayres Britto, do STF, pelo seu voto contra a censura eleitoral, redigido com base no entendimento do amplo alcance do direito constitucional à liberdade de imprensa.
Entende-se por que a campanha petista volta-se cada vez mais para tentar obter folgada maioria no Congresso.
Se o pior acontecer, com a aprovação de projetos contra a Carta, a última trincheira de defesa da Constituição será o Poder Judiciário.
Disponível também no Blog do Noblat.
segunda-feira, maio 17, 2010
Da série ‘Polaroides do Rio’: Arcos da Lapa


Na segunda metade do século XIX, surgiram outras alternativas para o abastecimento de água da cidade. Sendo assim, a partir de 1896, os arcos passaram a ser utilizados como viaduto dos tradicionais bondinhos do bairro de Santa Teresa – que, aliás, existem até hoje.
Conservados pelo poder público até os dias atuais, os Arcos da Lapa também servem de palco para vários eventos, além de serem um dos mais emblemáticos cartões postais da cidade.
***
No domingo, 09, Caetano Veloso fez a sua estreia como colunista do jornal O Globo. Em seu (interessante) artigo, o artista baiano falou sobre a restauração do Largo da Ordem*, em Curitiba, durante a gestão do então prefeito Jaime Lerner, no início dos anos 70.
E, como não poderia deixar de ser, mencionou as obras realizadas no Pelourinho, Salvador, na década de 1990. E traçou um paralelo entre o bairro soteropolitano e a Lapa, que foi revitalizada recentemente.
O que, imediatamente, remeteu à faixa que Caetano lançou em seu trabalho mais recente, Zii e Zie, intitulada... “Lapa”, que, em determinado trecho, diz: “Pelourinho vezes Rio / é Lapa”. Na coluna, o músico, inclusive, voltou a citar os presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso, a exemplo do que fizera na canção (“Lapa / Lula e FH / Lapa / amo o nosso tempo / em ti”).
Na ocasião do lançamento do CD, Caê, em entrevista, sustentou sua teoria:
— Ter tido Fernando Henrique, e depois Lula, foi um luxo. Ambos saíram “melhores do que a encomenda”...
* Detalhe: o Largo da Ordem também é citado na letra da música.
Ouça “Lapa”:
quinta-feira, novembro 05, 2009
Caetano: ‘Marina Silva não é analfabeta como Lula’

Com três shows da turnê Zii e Zie agendados para o próximo fim de semana na capital paulista, Caetano Veloso [foto] concedeu entrevista exclusiva ao jornal Estado de São Paulo. E, ao manifestar seu entusiasmo com a senadora Marina Silva (PV-AC) – provável candidata ao Palácio do Planalto em 2010 –, não deixou de alfinetar o presidente Lula:
– Não posso deixar de votar nela. É “por demais forte, simbolicamente, para eu não me abalar”*. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem.
Contudo, ao mencionar o governador de SP, José Serra, não deixou de elogiar Lula – ainda que de modo enviesado:
– O Serra foi um excelente ministro da Saúde. Agora, ele é o tipo do cara que, se tivesse ganho no lugar de Lula, em 2002, teria trazido mais problemas à economia brasileira. Ele teria feito um governo mais à esquerda e a economia talvez tivesse problemas que não está tendo porque o Lula fez a economia de direita. E ouve os conselhos de Delfim Neto, que o Serra não ouviria. O Lula foi “mais realista que o rei”. Foi bom – a economia deslanchou**.
O compositor baiano ainda mostrou-se simpático à candidatura do governador de Minas Gerais, Aécio Neves:
– Os candidatos são todos de nível bom. Vou falar em Aécio, de quem eu gosto muito. Talvez seja meu favorito entre os gestores. Porque acho que o Serra talvez ficasse mais isolado que o Aécio.
Mas desdenhou da capacidade administrativa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff:
– Ela tem um trabalho de pura gestão, mas sem experiência de poder político direto. Nunca foi eleita a coisa nenhuma.
Leia a entrevista de Caetano Veloso, na íntegra, clicando aqui.
* Citação a “Base de Guantánamo”, do CD Zii e Zie. Leia a resenha aqui.
** Nesse trecho, Caetano chutou na trave. A economia “deslanchou”? Só se for para os especuladores estrangeiros, que ganham 16% de juros reais ao mês no Brasil – algo impensável em qualquer lugar do mundo. Caetano deveria perguntar ao chamado “setor produtivo” se a economia realmente “deslanchou”...
quarta-feira, outubro 07, 2009
Lula: de quina para a lua

Durante os seus dois mandatos, o Brasil tornou-se autossuficiente na produção de petróleo – embora seus antecessores também tenham mérito nisso; pagou os juros da dívida externa ao FMI – e, o mais importante, não voltou a pedir empréstimos ao Fundo*; irá sediar novamente uma Copa do Mundo; e agora, pela primeira vez... será palco das Olimpíadas.
Por todas essas façanhas – e outras mais – Luiz Inácio da Silva, já entrou, como ele mesmo diz, para a História desse país. Queiram alguns ou não.
Vai ser sortudo assim lá em Copenhage...
***
E, cá para nós: que belo discurso ele fez na cerimônia do COI, não?
* Aliás, pela primeira vez, o Brasil tornou-se credor do FMI, acredita? Saiba mais clicando aqui.
sábado, agosto 22, 2009
Lúcio Mauro Filho: ‘Fé demais cheira mal...’

Com inegável lucidez, Lúcio nos apresenta um amplo panorama das mazelas do governo Lula, desde o primeiro mandato. Obviamente, seria uma imbecilidade não reconhecer os pontos positivos da atual gestão.
Contudo, nem o mais convicto simpatizante do presidente há de ficar indiferente a esse texto.
Confira:
“Em outubro de 2002, nós artistas fomos convidados a participar de um encontro com o então candidato à Presidência da República Luis Inácio Lula da Silva na casa de espetáculos Canecão, no Rio de Janeiro. Fui ao encontro como eleitor de Lula desde o meu primeiro voto e também como cidadão brasileiro ansioso por mudanças na forma de se fazer política no país. O clima era de festa, com muitos colegas confraternizando e um sentimento que desta vez a vitória viria.
Na porta principal da casa, uma tropa de políticos do PT e da coligação partidária recebia a todos com bottons, apertos de mãos firmes e palavras de ordem. E no meio de quadros tão interessantes da nossa política, este que vos fala foi recebido justamente por quem? Pelo Bispo Rodrigues (hoje ex-político e ex-religioso).
As pulgas correram todas para trás da minha orelha. Ser recebido no encontro do Lula com os artistas pelo bispo da Igreja Universal filiado ao extinto PL não era bem o que eu esperava daquela ocasião. Era um prenúncio claro do que viria a acontecer depois.
Veio o apoio do PTB de Roberto Jefferson, que tinha horror a Lula, mas que mesmo assim acabaria recomendando o voto no candidato do PT, como forma de desagravo ao então presidente do seu partido, José Carlos Martinez, que por sua vez tinha ódio por José Serra, a quem considerava culpado pela volta aos jornais da história do empréstimo que ele teria recebido de Paulo César Farias, no início dos anos 90. Com essa turma, a candidatura de Lula chegava à reta final.
A vitória veio e, com ela, uma onda de otimismo e de esperança em dias melhores, de mais inclusão, mais justiça social e menos corrupção e descaso. Éramos os pentacampeões mundiais no futebol e com Lula presidente ninguém segurava essa Nação. Pra frente Brasil!
Depois de dois anos de namoro, os ventos começaram a mudar com o surgimento de uma gravação onde Waldomiro Diniz, subchefe de assuntos parlamentares da Presidência da República, extorquia um bicheiro para arrecadar fundos para as campanhas eleitorais do PT e do PSB no Rio. O fato foi tratado como um deslize isolado de um funcionário de segundo escalão que de forma alguma representava a ideologia do Partido dos Trabalhadores. Waldomiro foi afastado do governo.
Em meados do ano seguinte surgiu uma nova gravação, onde o então funcionário dos correios Maurício Marinho aparecia recebendo dinheiro de empresários. Ele dizia ter autorização do deputado Roberto Jefferson do PTB. Em defesa de seu aliado, o presidente Lula afirmou na época que confiava tanto em Jefferson que lhe daria um ‘cheque em branco’.
As investigações foram aprofundadas e na base do ‘caio, mas levo todo mundo junto’, o deputado afirmou em entrevista à Folha de São Paulo que existia uma prática de mesada paga aos deputados para votarem a favor de projetos de interesse do governo. Lula deu o cheque em branco e recebeu de volta a crise que derrubaria, um por um, os homens fortes do seu partido. E de uma hora para outra, José Dirceu, José Genoíno, Antônio Palocci, João Paulo Cunha e outros políticos que tanto admirávamos, chafurdaram na lama da política suja, com histórias de abuso de poder, tráfico de influência e até coisas inimagináveis, como dólares transportados em cuecas e saques em boca de caixa totalmente suspeitos.
Acabou a inocência. O PT começou a desprezar quadros importantes do partido que não concordavam com as posições incoerentes com a luta pela ética e a moralização do país. Pior do que isso, acabou por expulsar alguns deles, como a senadora Heloísa Helena e os deputados Babá e Luciana Genro. Outros saíram por também não concordarem com as práticas até então impensáveis para um partido que se julgava detentor da bandeira da honestidade. E assim partiram Cristovam Buarque e Fernando Gabeira.
Apesar de toda uma nova geração de políticos interessados em refundar o partido e aprender com os erros, como José Eduardo Cardozo, Delcídio Amaral e Ideli Salvati, o PT preferiu manter a estratégia do aparelhamento, do fisiologismo e do poder a todo custo, elegendo o pau mandado Ricardo Berzoini novo presidente do partido. Ele representava o Campo Majoritário, grupo que sempre esteve na presidência do PT desde sua fundação.
Depois que nada foi provado na CPI do Mensalão, o Partido dos Trabalhadores percebeu que a bandeira da ética já não importava mesmo e começou novamente uma fase ‘rolo compressor’ de conchavos e blindagens com o que há de pior na política brasileira. Veio o segundo mandato e com ele o fato. O presidente Lula cada vez mais nas mãos do PMDB, o partido que definitivamente não está nem aí com ideologias, ética ou qualquer coisa parecida.
Depois da derrocada dos grandes caciques do PT, restou Dilma Roussef, a super ministra, como única opção de candidatura para a sucessão do presidente Lula. Mas Dilma não tem carisma nenhum. É uma figura técnica, fria. Precisa desesperadamente do presidente preparando palanques com dois anos de antecedência, emprestando toda a sua popularidade, como uma espécie de ghost charisma. Precisa também do PMDB com seus acordos e chantagens como co-patrocinador político da candidatura.
Para isso, foi preciso o governo se meter em mais outra crise e comprovar que é muito mais PMDB que PT. Depois de Jefferson, Bispo Rodrigues, Severino Cavalcanti, os eleitores do Lula estão tendo que agüentar o pior. Ver o presidente de mãos dadas com Fernando Collor, Renan Calheiros e José Sarney. E ver um Conselho de Ética formado em sua maioria por suplentes como os senadores Wellington Salgado, Gim Argello e até o presidente do conselho, Paulo Duque, que afirmou que ‘adora decidir sozinho’.
No momento em que políticos como Aloizio Mercadante tentam juntar os cacos do PT, tomando atitudes coerentes com o que o partido sempre pregou, lá vem o executivo com sua emparedada já tradicional, desautorizando o líder de sua bancada, mais uma vez constrangido pela direção do PT. E as promessas as quais me referi lá atrás, Delcídio e Ideli, votaram a favor do arquivamento de tudo e da permanência do que aí está. Mais uma vez, o fim justifica os meios.
E assim, é a vez de Marina Silva abandonar o barco, cansada de guerra. A ex-ministra do Meio Ambiente que viu o presidente Lula entregar nas mãos do ministro extraordinário de assuntos estratégicos, Mangabeira Ünger, o Programa Amazônia Sustentável (PAS). Justo ela, uma cidadã da Amazônia. Foi a gota d'água. Desautorizada, Marina deixou o cargo. Agora, deixa o partido. E o Mangabeira Ünger? Voltou para Harvard para não perder o salário de professor (em dólar), deixando os assuntos estratégicos para o passado.
Esse é o atual panorama da política nacional. Deprimente. Políticos dizendo na cara de seus eleitores que realmente estão se lixando. Acabou o pudor. Com o presidente Lula corroborando tudo que é canalhice e uma oposição que é também responsável por tudo que aí está, pois governaram o país por todos esses anos e ajudaram a moldar todas as práticas que o governo do PT aperfeiçoou, talvez estejamos realmente precisando de uma terceira via.
Não sei se imaginei um cenário tão devastador quando, constrangido, evitei o aperto de mão do Bispo, lá na porta do Canecão. Mas um trocadilho não me sai da cabeça: ‘Fé demais não cheira bem’.”
http://oglobo.globo.com/opiniao/mat/2009/08/21/fe-demais-nao-cheira-bem-763322112.asp
* Encontrei a caricatura de Lúcio Mauro Filho que ilustra esse post no ótimo Blog do Ique, que você pode acessar clicando aqui.
terça-feira, abril 28, 2009
‘Lula, o Filho do Brasil’: trailer
A História precisa de distanciamento cronológico para ser contada com a isenção necessária. Um bom exemplo: o atual senador Fernando Collor de Mello, cujo impeachment ocorreu já há 17 anos, e ainda não teve um relato fora do “calor da hora”.
Lula ainda está no poder. E estamos a pouco mais de doze meses das eleições presidenciais – nas quais Luiz Inácio indicará a sua “candidata”. Diante disso, a realização do filme nesse momento – sobretudo considerando o enfoque “messiânico” do roteiro – é, no mínimo... precipitada.
Veja aqui o trailer de Lula, o Filho do Brasil:
terça-feira, novembro 04, 2008
‘Esquerda e Direita’ ou ‘Samba do Crioulo Doido’

O PT, por exemplo, era inicialmente uma sigla de esquerda, embora o presidente tenha declarado no ano passado que “nunca foi de esquerda”. Bem, melhor nem comentar. O fato é que, durante muitos anos, as posições sempre radicais do partido impediram sua chegada ao Palácio do Planalto.
Dessa forma, o PT formou, para a disputa das eleições presidenciais de 2002, uma aliança com o antigo PL* - fundado pelo falecido deputado Álvaro Valle -, partido de proposta claramente conservadora. Ou seja, de direita. Inclusive, honrando a tal aliança, o vice-presidente da República, José Alencar, era filiado ao PL.
Existem, contudo, outras situações curiosas. O PSDB, assim como o PT, possui, em seus quadros, indivíduos que, durante os chamados “anos de chumbo”, sofreram perseguições e foram exilados, tais como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o atual governador de São Paulo, José Serra.
E hoje, por ironia, o PSDB é aliado político justamente dos Democratas, o famoso DEM. Para quem não sabe, o DEM nada mais é do que o novo nome do PFL, que, por sua vez, era um desdobramento do PDS, a antiga ARENA - o partido dos governadores e prefeitos “biônicos” nomeados pelo governo militar.
O mais surpreendente, no entanto, foi ver, no segundo turno das eleições de 2006, as imagens do encontro entre Jorge Bornhausen, presidente do então PFL – a sigla ainda não havia mudado de nome na ocasião –, e Roberto Freire, presidente do PPS. O PPS, pasmem, é uma dissidência do PCB, o Partido Comunista do Brasil (!), também conhecido como “Partidão” .
Diante desse verdadeiro “samba do crioulo doido”, alguém aqui no Brasil ainda se arrisca em dizer que é de esquerda ou de direita?
* Em 2006, houve uma fusão do PL com o PRONA – partido fundado pelo também falecido deputado Enéas “meu nome é Enéas” Carneiro –, que acabou gerando o PR (Partido da República).
segunda-feira, outubro 27, 2008
Eleições municipais
(Fernando Gabeira, em referência ao apoio do governador Sérgio Cabral e do presidente Lula a Eduardo Paes, e também ao fato de Marcelo Crivella ter sido bispo da Igreja Universal do Reino de Deus)

Pela campanha limpa – e não apenas na acepção “higiênica” da palavra – e pela sua própria trajetória de vida, não é surpresa que o candidato do PV tenha obtido uma votação tão expressiva (49,17% dos votos válidos).
Não tenham dúvida: o lastro político adquirido por Gabeira nessas eleições é enorme.
quinta-feira, abril 19, 2007
Lobão: entrevista

E o título da matéria é "o Lobo volta mansinho". Imagina.
Confira a entrevista, na íntegra, clicando aqui.