terça-feira, outubro 19, 2010

Chico Buarque, o ‘engajado’


Ontem, no Teatro Oi Casa Grande, Chico Buarque [foto] falou em “apoio entusiasmado” à candidatura Dilma Rousseff. O que, imediatamente, fez com que viesse à minha mente um trecho de sua biografia, o qual transcrevo:


“Certo dia, em pleno regime militar, ano 1968, toca o telefone na casa de Chico. Do outro lado, uma voz misteriosa de mulher: ‘Chico? É Mariinha’. A
voz convoca o compositor: ‘Reunião amanhã aqui em casa com o príncipe russo’. Príncipe russo? Mariinha? Chico fica intrigado. Que diabos de príncipe russo?! Aí, decifra o enigma e exclama, feliz com a própria esperteza: ‘Ah, o Wladimir! Matei a charada, Tônia!’ Do outro lado, Tônia Carrero dá-lhe uma bronca: ‘Pô, Chico, não era pra falar’.

A convocação sigilosa era para uma reunião clandestina com Wladimir Palmeira, mas Chico não levava mesmo jeito para a coisa. Distraído, frequentava reuniões políticas por um dever acima de sua vontade. Nessa época, participava ligeiramente desses encontros, e estava longe se ser o artista mais engajado. ‘Havia muitos que eram mais participantes do que eu’. Não estava alienado aos acontecimentos, mas não tinha maiores entusiasmos”.

(“Perfis do Rio: Chico Buarque”, Regina Zappa, Editora Relume-Dumará, 1999, páginas 89-90)


Resta a dúvida: será que Chico está verdadeiramente imbuído do alardeado... “entusiasmo”? Ou a sua adesão ao evento teria sido apenas mais... “um dever acima de sua vontade”?

É estranho imaginar que o perfil descrito acima é, de fato, do autor de letras de contundentes críticas sociais como “Cálice”, “Deus Lhe Pague” e “Vai Passar”, entre outras.

Nenhum comentário: