terça-feira, março 30, 2010

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘Songs From The Last Century’, de George Michael


CD
Songs From The Last Century (Virgin)
1999


Na virada do século, cantor arriscou-se em um repertório de ‘standards’. E saiu-se muito bem

Em 1999, George Michael decidiu “se presentear” com um projeto especial: um disco de crooner. E não fez por menos: no repertório de Songs From The Last Century, o cantor inglês reúne, em sua maioria, imorredouros standards norte-americanos. E o que poderia resultar em um desastroso “turismo aprendiz”, acabou rendendo um CD classudo, com um indisfarçável acento jazzístico.

Cantando simplesmente o fino na ocasião, GM não se intimidou diante do risco de reler faixas eternizadas por monstros sagrados como Frank Sinatra e Nina Simone. Aventurou-se, inclusive, em arranjos de big band, como é o caso de “My Baby Just Cares For Me”, “Secret Love” e “Brother Can You Spare A Dime?”. E saiu-se muito bem.

Songs From The Last Century foi produzido pelo experiente Phil Ramone, que já pilotou álbuns de artistas do calibre de Ray Charles, Quincy Jones, Bob Dylan e do já mencionado Sinatra, entre outros. E, com ele, era clara a intenção de George Michael de se distanciar ainda mais da imagem do rebolativo cantor de “Faith”.

Como recomendou o próprio George, no título de seu segundo álbum solo, de 1990: ouça sem preconceito.

‘Brother Can You Spare A Dime?’, ‘Roxanne’ e ‘You've Changed’

Brother Can You Spare A Dime?

Brother Can You Spare A Dime?”, escrita em 1931, foi uma das mais conhecidas canções americanas do período conhecido como “Grande Depressão”, que atingiu o planeta durante a década de 1930.

A letra mostra a visão de um operário que, através de seu trabalho, ajuda a trazer o progresso, mas não usufrui dele: “Certa vez, construí uma ferrovia / fiz com que ela seguisse / fiz com que ela corresse contra o tempo. / Certa vez, construí uma ferrovia / e, agora, ela está feita. / Amigo, pode me arranjar dez centavos?

Bing Crosby, Tom Waits, Barbra Streisand e Tom Jones são alguns dos artistas que já gravaram esta faixa.




Roxanne

Roxanne”, do Police [foto], foi vestida por George Michael com uma roupagem cool jazz. Chet Baker ficaria orgulhoso.

A estória do indivíduo que se apaixona por uma profissional do sexo – e tenta demovê-la da ideia de prosseguir neste ofício – ganhou elegância.

Inclusive, o próprio Sting, autor de “Roxanne”, regravou a canção em seu CD ao vivo ...All This Time, de 2001 – ou seja, dois anos depois de Songs... –, com um arranjo intimista, que, em dado momento, assemelha-se bastante com o de GM [saiba mais aqui].

Curiosidade: no início do vídeo da canção – que pode ser visto logo abaixo –, há a informação que as gravações foram realizadas no bairro de Red Light, em Amsterdã, Holanda, famoso pelo sex trade. E que as pessoas envolvidas na filmagem não eram... er, atores...

Nos créditos, a notícia (verdadeira?) de que a protagonista do clip, Franciska – cujo nome “de guerra” é justamente... “Roxanne” – abandonara as ruas...




You've Changed

You've Changed” foi composta em 1941 e recebeu mais de trinta (!) gravações, de nomes que vão de Nat King Cole a Sarah Vaughan, passando por Marvin Gaye, Joni Mitchell e Diana Ross.

A versão mais conhecida, entretanto, é a de Billie Holliday, de 1958. “Você mudou / Você esqueceu as palavras ‘eu te amo’ / E cada memória que partilhamos / (...) Você não é mais o anjo que um dia conheci”, lamenta a desencantada letra.

‘My Baby Just Cares For Me’, ‘The First Time Ever I Saw Your Face’ e ‘Miss Sarajevo’

My Baby Just Cares For Me

Embora já tenha sido gravada por Mel Tormé, pelo supracitado Nat King Cole e até por Cyndi Lauper (!), a versão mais famosa de “My Baby Just Cares For Me” é a de Nina Simone, de 1958.

Em sua gravação, George Michael deixa no ar uma conotação... er, ambígua: no verso “Liz Taylor não faz o estilo dele / e nem o sorriso de Lana Turner”, troca o nome de Turner pelo de... Ricky Martin...




The First Time Ever I Saw Your Face

The First Time Ever I Saw Your Face” foi composta em 1957. A gravação mais bem sucedida é a de Robert Flack, de 1969: “A primeira vez em que vi o seu rosto / Pensei que o sol raiou em seus olhos. / A lua e as estrelas foram os presentes que você deu/ aos céus escuros e vazios”.

A (ótima) versão de George é provavelmente o momento mais tocante do álbum.




Miss Sarajevo


Miss Sarajevo” foi lançada pelo U2, na companhia do finado Luciano Pavarotti [no detalhe], no projeto especial Passengers: Original Soundtrack I, de 1995. A correta gravação de GM nada acrescenta à colaboração do grupo irlandês com o tenor italiano – embora tenha obtido relativo sucesso radiofônico.
O clipe mistura imagens de belas misses misturadas a cenas de guerra na capital da Bósnia.

‘I Remember You’, ‘Secret Love’ e ‘Wild Is The Wind’

I Remember You

Em 2011, “I Remember You” completará, pasmem, 70 anos de idade (!) – foi composta em 1941. De lá para cá, recebeu inúmeras versões, como a de Ella Fitzgerald e, mais recentemente, da supracitada Diana Krall.

George Michael optou por gravá-la de maneira suave, acompanhado apenas por uma harpa. Ficou bonito.




Secret Love

Escrita em 1953, “Secret Love” foi lançada em single por Doris Day naquele mesmo ano. Desde então, foi gravada por mais de uma dezena de artistas – entre eles, a canadense k. d. lang e Frank Sinatra.

Ao som de metais em brasa para Tony Bennett nenhum colocar defeito, George Michael... brilha. “Certa vez, tive um amor secreto / que vivia dentro de meu coração”, suspiram os ingênuos versos.

Em 1995, “Secret Love” recebeu uma versão em português de Dudu Falcão, chamada “Um Segredo e um Amor”, que foi registrada por Jorge Vercillo para a trilha da novela Cara e Coroa.




Wild Is The Wind

A primeira gravação de “Wild Is The Wind” foi de Johnny Mathis, em 1957, para a trilha sonora do filme homônimo. Em 1966, recebeu uma versão de Nina Simone, considerada a mais bem-sucedida.

A letra é pura paixão: “Você me toca – ouço o som de bandolins / Você me beija – com seu beijo, minha vida começa”.

Curiosidade: David Bowie [foto], fã de Nina, encontrou-se casualmente com a cantora em Los Angeles, na década de 1970. Desse encontro, o cantor inglês teve a ideia de regravar “Wild Is The Wind”. Sua (boa) releitura aparece no álbum Station to Station, de 1976.

‘Where Or When’ e ‘It's Alright With Me’

Where Or When

Where Or When”, de 1937, é uma criação da renomada dupla de compositores Richard Rodgers e Lorenz Hart.

Já foi regravada por mais de oitenta (!) artistas: de Sammy Davies Jr. a Bryan Ferry, passando por Jane Birkin e Ray Conniff, além do já mencionado Frank Sinatra [no detalhe]. Recentemente, recebeu um registro da canadense Diana Krall, em seu ótimo Quiet Nights, lançado no ano passado.

A letra é um tanto... er, mística – fala, de maneira cifrada, de “vidas passadas”: “Algumas coisas que acontecem pela primeira vez / parecem estar acontecendo novamente. / E parece que já nos encontramos antes / e rimos antes / e nos amamos antes / mas quem sabe onde e quando?

Uma faixa simplesmente impecável, digna do melhor do cancioneiro norte-americano. E que George Michael releu com competência.

It's Alright With Me

It's Alright With Me”, de Cole Porter, é a “faixa escondida” do CD – começa quase um minuto após o final de “Where or When”. O curioso é que, em um disco de crooner, ela aparece em uma versão... instrumental.

Bem, ele devia saber o “recado” que queria dar...

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Roxanne’, do Police

Inclusive, em seu CD ao vivo ...All This Time, de 2001 – ou seja, lançado dois anos depois de Songs..., o próprio Sting, autor da canção, regravou ‘Roxanne’ com um arranjo intimista que, em dado momento, assemelha-se bastante com o de GM.”

(Brother Can You Spare A Dime?’, ‘Roxanne’ e ‘You've Changed’)


Miles Copeland, irmão do baterista do Police, o estupendo Stewart Copeland, tornou-se o primeiro empresário da banda, isso nos primórdios da carreira do trio.

A princípio, Miles não demonstrou grandes entusiamos com o som da banda (“Vocês não chegarão a lugar nenhum com um maldito cantor de jazz, esse tal de Smig (sic)”).

Contudo, Miles mudou de opinião após escutar a primeira gravação do mezzo tango “Roxanne”. Ao convidar o irmão de Stewart para ir ao estúdio ouvir o acetato, Sting imaginou que ouviria um habitual comentário demolidor.

Entretanto, ao final da audição, o sisudo e arrogante Miles chutou a fleuma britânica para longe:

– Isso é um puta clássico do caralho! Um puta estouro!

O empresário tinha razão. Pelo menos, em parte: lançada em single – o segundo do trio –, “Roxanne”, a princípio, não foi um estrondoso sucesso no Reino Unido. Mas ajudou a impulsionar o primeiro disco do Police, Outlandos d'Amour, de 1979. E, com o passar dos anos, tornou-se uma das mais emblemáticas canções do grupo.

Curiosidade: após o fim do Police, em 1984, Miles Copeland tornou-se o empresário de Sting, durante os sete primeiros álbuns solo do baixista.

Para saber mais sobre “Roxanne”– a inspiração em Cyrano de Bergerac, etc –, leia este post de dezembro de 2007.



Confira a tradução:


Roxanne
(Sting)

Roxanne, você não tem que colocar a luz vermelha*.
Estes dias acabaram –
Você não tem que vender seu corpo à noite.

Roxanne, você não tem que usar este vestido hoje à noite.
Andar nas ruas por dinheiro –
Você não liga se isto é errado ou certo.

Roxanne, você não tem que colocar a luz vermelha.

Eu a amei desde que a conheci
Não a subestimaria.
Tenho que lhe dizer como me sinto –
Não dividirei você com um outro cara.

Sei que estou convicto disso –
Então, tire sua maquiagem.
Já lhe falei uma vez e não falarei novamente
Que é um mau caminho.

Roxanne, você não tem que colocar a luz vermelha.


* Na Europa, as áreas de prostituição são caracterizadas por lâmpadas desta cor...



Veja o vídeo da versão do Police...





...e da regravação solo de Sting, de seu CD ao vivo de 2001, com a participação dos brasileiros Jacques Morelenbaum e Marcos Suzano:

segunda-feira, março 15, 2010

Lobão: biografia ‘em praça pública’


Em uma iniciativa pioneira, cantor escreve sua biografia diante de internautas

Aos 52 anos da idade – completará 53 em outubro –, o cantor, compositor, instrumentista e apresentador da MTV (ufa!) Lobão decidiu escrever as suas memórias. 50 Anos a Mil – o título é um corruptela de versos de “Decadence Avec Élégance” (“É melhor viver dez anos a mil do que mil anos a dez”) – está sendo escrito a quatro mãos pelo Grande Lobo em parceria com o jornalista Cláudio Tognolli.

Perguntado se utilizaria os serviços de um ghost writer, Lobão respondeu bem ao seu estilo, mencionando outra canção, a bela “Você e a Noite Escura”:

– Sempre fui o meu próprio fantasma – gracejou.

Contudo, diferentemente de qualquer outra biografia, 50 Anos a Mil apresenta uma particularidade: está sendo escrita praticamente... “em público”. Ou seja, à medida em que a narrativa avança, o autor de “Vida Louca Vida” disponibiliza, através de seu Twitter, pequenos trechos da obra – que ele prefere chamar de “pílulas” – aos seus mais de dezessete mil seguidores.

– Os trechos não são todos “sintetizáveis”. Além do mais, escolho randomicamente: às vezes, dá; às vezes, não. Mas acho isso bom – explica.

No livro, Lobão repassa sem pudores – e com muito bom humor – toda a sua, segundo o próprio, “atribulada” vida, sem excluir passagens traumáticas, como a sua prisão por porte de entorpecentes e a “expulsão” do palco do Rock In Rio II, debaixo de uma chuva de latas arremessadas por metaleiros.

– Sou um cara mais confessional do que gostaria de ser. Acho que torceria para ser uma criatura mais cool – divaga.


Quatro CDs e um DVD acompanharão o livro

Após anos de embates com determinados setores da mídia, Lobão não esconde a alegria de permanecer “vivo” – leia-se: artisticamente relevante:

– Não só me alijaram, como também me decretaram inúmeros atestados de óbitos! – debocha – E agora, eu aqui, vivinho, vou contando essas coisas...

O músico não deixa de detalhar o processo de gravação de seus discos, analisando a todos sem auto-indulgência:

Cuidado! foi justamente o que mais faltou em toda a produção desse álbum – que, aliás, poderia ter sido um compacto duplo, com “Esfinge de Estilhaços” e “Pobre Deus” no Lado A; e “O Eleito” e “Por Tudo Que For” no Lado B – fulmina.

O livro será acompanhado por quatro CDs com as melhores faixas de sua discografia – escolhidas pelo próprio Lobão –, além de seu único DVD, Acústico MTV, ganhador do Grammy Latino de 2007, na categoria Melhor Álbum de Rock [no detalhe, o artista exibe, feliz, a estatueta].

50 Anos a Mil sairá em outubro, pela editora Nova Fronteira. Para ler as “pílulas” de Lobão, basta acessar o Twitter do artista: http://twitter.com/lobaoeletrico.

Lobão: minha primeira resenha

O ano era 1992. Eu estava concluindo o Ensino Médio, ainda sem saber o que fazer da vida. Mas já gostava (muito) de música naquela época. Aliás, meu interesse pelo assunto surgiu no tempo das fraldas...

Até que, uma bela manhã, abri o jornal. E vi uma nota sobre um show que Lobão faria, naquele mesmo dia, na Concha Acústica da UERJ. Entrada franca. “Estou dentro!”, pensei.

Na volta para casa, tive um impulso de... escrever a resenha da apresentação – que, permaneceu inédita até o prezado momento. Não me perguntem por que fiz isso – até hoje, não saberia responder.

Creio que, por não ter levado a máquina fotográfica, quisesse “registrar” aquele evento de alguma forma. O mais curioso é que, naquele instante, jamais me passava pela cabeça me envolver algum dia com jornalismo musical.

De 1993 para cá, muita coisa aconteceu. Tanto na carreira de Lobão quanto na minha vida. Portanto, a matéria em questão está sendo publicada aqui apenas à guisa de curiosidade. E (quase) sem edição...



Show
Projeto Brahma – O Primeiro do Meio-dia
Lobão, Boca Livre e Cássia Eller
Local: Concha Acústica da UERJ (Rio de Janeiro)
Dezembro de 1992


Em formato acústico, Lobão, Cássia Eller e Boca Livre fazem show para plateia barulhenta

Pelo nome, o evento deveria começar ao meio-dia. Deveria. Cheguei apenas quinze minutos antes desse horário, esbaforido, imaginando estar atrasado. Na porta da UERJ, uma fila imensa – não sei como esse pessoal coube inteiro lá dentro – e um sol de rachar. Por volta das 13 horas, os portões foram abertos, na maior organização.

Após mais quinze minutos de espera, entra o apresentador do show: Fernando Vanucci (“Alô, você!”). Sabe-se lá Deus por que, a claque não perdoou: “Viado! Viado!”. Simpático, Vanucci fez ouvido de mercador. E auto-ironizou: “Pois é, todo mundo se espanta de como sou baixinho...”

Para “fazer hora”, o apresentador fez uma espécie de gincana, com perguntas sobre a carreira dos três artistas que se apresentariam. Quem acertasse, ganharia um chopp do patrocinador do evento. Em se tratando de crianças – havia crianças no local, sabia? –, ganhava um guaraná.
Logo após a brincadeira, Vanucci chamou ao palco a primeira atração:


BOCA LIVRE


Formado por Zé Renato (violão e voz), Maurício Maestro (contrabaixo e vocal), Lourenço Baeta (violão e vocal) e o ex-Vímana Fernando Gamma (violão e vocal), o quarteto (ironicamente) tocou apenas... quatro músicas: “Feito Mistério”, “Ponta de Areia”, e seus dois maiores sucessos, “Toada” e “Quem Tem a Viola

Além de bons instrumentistas, os integrantes são impecáveis nas harmonias vocais. Destaque também para a luz e o som do evento – que estavam simplesmente perfeitos.


CÁSSIA ELLER


Muito bem recebida pelo público, a cantora entrou no palco com seu violão a tiracolo, e visual despojado: jeans e uma t-shirt larga – o que dava a uma certa de impressão de... , fragilidade à sua figura. Mas isso só até o momento em que abriu a boca. A voz extensa de Cássia parecia fazer tremer as paredes do auditório.

A apresentação começou com “Sensações”, de Luiz Melodia. E prosseguiu com a versão rasta de “Eleanor Rigby”, dos Beatles. Na terceira música, a gayRubens”, a plateia já estava na mão de Cássia. Na sequência, o rock vigoroso “Não Sei o Que Eu Quero da Vida” chutou para longe o conceito de que o-banquinho-e-o-violão estão sempre associados à bossa nova.

Finalizando a surpreendente apresentação, a sua bem-sucedida de versão de “Por Enquanto”, da Legião Urbana, com citação dos Beatles de “I've Got a Feeling”. Com a potência de sua voz, e sua “entrega” no palco, Cássia vai longe.

E chegou a vez do astro da tarde.


LOBÃO


Delírio total do público: o Grande Lobo entra cena, de cabelos curtos, t-shirt lisa, bermuda quadriculada, tênis com meia soquete – visual totalmente clean. Com a tulipa de chopp na mão – devido ao calor, o artista bebeu várias durante o show – e desbocado com sempre, negou que estivesse “light”, como Fernando Vanucci o apresentou.

Eis o set list, com os comentários do músico:

* “Por Tudo o que For
* “Help” (Ao tocar o clássico dos Beatles, Lobão não perdeu a piada: “Essa o Collor deve estar cantando agora...”)
* “Essa Noite, Não” (“Essa é a melô do suicida frustrado. Ou vice-versa.”)
* “Noite e Dia / Me Chama” (“Duas canções que a Marina Lima gravou.”)
* “Bangu x Polícia 0” (Para esse número, Lobão chamou ao palco Ivo Meirelles)
* “Panamericana (Sob o Sol de Parador)” (“Essa é sobre uma imaginária República das Bananas, com dezenove perguntas para nenhuma resposta.”)
* “E o Vento te Levou
* “Chorando no Campo” (“Uma canção meio country”)
* “Vida Bandida” (“Me inspirei no Jorge Ben Jor para arranjar essa.”)
* “Mal Nenhum” (“A minha primeira parceria com o Cazuza. Adoro essa música.”)
* “Decadence Avec Élégance” (“Em 1985, me pediram para fazer uma música para uma novela da Globo sobre o mundo das passarelas, chamada Ti Ti Ti. Pensei em falar sobre o oposto da elegância das modelos. Aí saiu: ‘Você não sabe a arte de saber andar /nem de salto alto nem de escada rolante.’ E é uma canção bilíngue – o refrão é em francês.”)
* “Corações Psicodélicos” (“Não sei se vai sobreviver assim, sozinha ao violão”. Sobreviveu, sim)
* “Rádio Blá
* “Revanche”.


No intervalo entre uma canção e outra, Lobão pedia silêncio à plateia. E não era atendido.

– Vocês são revolucionários. A geração ‘cara-pintada’. Vocês são inteligentes, porra! Este é um show universitário, não o Xou da Xuxa! – disparou.

Até que, em um determinado momento, o artista perdeu a paciência. E deixou o palco, levando o violão em uma das mãos. E a tulipa na outra.

Alguns aplaudiram a atitude do músico. Outros vaiaram. Após levantar de seu banquinho, Lobão deu três passos. Parou. E voltou ao microfone, destilando ironia: “Vocês são demais, tá?”. E retirou-se em definitivo. Fernando Vanucci, sem ação, não sabia o que dizer.

Final de show. Bolas de aniversário caindo do teto do auditório. Tudo muito bonito. No repertório de Lobão, porém, ficaram faltando sucessos como “Vida Louca Vida” e “Canos Silenciosos”. A despeito disso, foi uma apresentação memorável. Que os “caras-pintadas” não souberam apreciar devidamente.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Noite e Dia’, de Lobão e Júlio Barroso


Noite e Dia” é uma das mais belas canções de Lobão. Parceria deste com Júlio Barroso, foi lançada por Marina Lima [foto], no álbum Desta Vida, Desta Arte, de 1982. Nesta época, aliás, o Grande Lobo era baterista da cantora.

No ano seguinte, foi gravada pela Gang 90 – da qual o coautor da faixa, Júlio Barroso, era líder – e, em 1986, pelo próprio Lobão, em O Rock Errou.

Exatamente uma década depois, foi revista por Paulo Ricardo, no CD Rock Popular Brasileiro. Recentemente, foi regravada pelo próprio Lobão em seu Acústico MTV, de 2007.


Veja o vídeo da... er, “curiosa” história da criação de “Noite e Dia...






...e ouça a canção propriamente dita:

Júlio Barroso: a promessa não-cumprida do rock nacional

O disc-jockey, poeta e jornalista carioca Júlio Barroso [foto] foi, sem dúvida, a grande promessa não-cumprida do rock nacional.

Gravou, em 1983, um único disco com à frente da Gang 90, Essa Tal de Gang 90 & as Absurdettes, com o qual emplacou três hits: a ótima “Nosso Louco Amor” (tema da novela Louco Amor, de Gilberto Braga, exibida naquele mesmo ano), “Perdidos na Selva”* (regravada, com sucesso, pelo Barão Vermelho, em 1996), e “Telefone” (que recebeu, em 1999, uma versão do Ira!, com participação de Fernanda Takai).

Barroso morreu no dia 06 de julho de 1984, aos 30 anos, ao cair da janela de seu apartamento – no 11º andar –, em São Paulo, em circunstâncias não esclarecidas até hoje. Fica a certeza de que seria um ídolo da envergadura de Renato Russo, Cazuza e Lobão, se a vida não tivesse lhe escapado tão precocemente.



* Curiosidade: “Perdidos na Selva” é uma parceria de Julio Barroso com... Guilherme Arantes. Entretanto, o festival MPB Shell não permitia que um autor concorresse com duas canções. Sendo assim, Arantes, que na edição de 1981 já defendia “Planeta Água” – que terminou na segunda colocação –, abriu mão da autoria de “Perdidos na Selva”.



Veja os vídeos de “Telefone...



...“Nosso Louco Amor...




...e “Perdidos na Selva.

Cristiano Ronaldo: como são as coisas...

Enquanto ainda atuava pelo Manchester United, o meia português Cristiano Ronaldo [foto] manifestou publicamente – e inúmeras vezes – o seu desejo de se transferir para o Real Madrid. Afirmou que o clube espanhol era “o maior do mundo”, que era “um sonho” de sua mãe ver o filho vestindo a camisa merengue, etc.

Os Red Devils chegaram à conclusão de que não poderiam manter em seu elenco um atleta insatisfeito. Sendo assim, em junho de 2009, o passe de CR9 foi vendido ao time da capital espanhola, naquela que foi a contratação mais cara da história do futebol.

Resultado: na semana passada, o Manchester despachou, com sobras, o Milan, e segue em frente na Liga dos Campeões. Já o Real Madrid caiu diante do Lyon (FRA). E, com isso, Cristiano Ronaldo assistirá o restante da Champions League pela TV.

Como são as coisas...

sexta-feira, março 12, 2010

O novo uniforme do Fla (e a ira do Sport Recife...)


O Flamengo já disputou cinco partidas – três pelo Campeonato Carioca e duas pela Libertadores – com o uniforme que usará durante a temporada de 2010 [acima]. Diferentemente do modelo do ano passado [à direita], a nova camisa apresenta um design mais tradicional.

A grande novidade, no entanto, é o escudo da CBF*, embaixo do qual lê-se a palavra “hexacampeão” – o que despertou a ira do Sport Recife, que, por conta disso, ameaçou processar Deus e o mundo.

Bem, se o clube da Ilha do Retiro decidir acionar judicialmente todos aqueles que consideram o Flamengo o campeão brasileiro de 1987, terá muita gente para processar.

A imprensa esportiva praticamente inteira, por exemplo...



* Para quem não sabe: a CBF concede ao campeão brasileiro o direito de usar, no ano seguinte, o escudo da entidade em seu uniforme.

Campeonato Brasileiro de 1987: entenda o caso

Em 1987, devido a problemas financeiros e administrativos, a CBF anunciou publicamente que não tinha condições de realizar o campeonato brasileiro daquele ano.

Sendo assim, o Clube dos Treze, formado pelos maiores clubes do país, decidiu fazer, por conta própria, o campeonato nacional daquele ano, com o aval da CBF – o que evitaria sanções da parte da FIFA.

O resultado foi a Copa União, um retumbante sucesso: somente jogos entre grandes equipes, todos com “casa cheia”.

Com a competição em andamento, a CBF – observando o êxito da empreitada – decidiu “meter a colher”, criando novas regras: os dois primeiros colocados do chamado Módulo Verde (equivalente à primeira divisão) disputariam o título nacional com os vencedores do Módulo Amarelo (que correspondia à segunda divisão).

Na reunião que tratou dessa questão, o Clube dos Treze foi representado por um certo presidente do Vasco – cujo nome recuso-me a pronunciar –, que... concordou com este disparate (!).

No entanto, Flamengo e Internacional (RS) – campeão e vice da Copa União [no detalhe, Zico erguendo a taça] – recusaram-se a jogar com os dois clubes do Módulo Amarelo. E foram derrotados por W.O.

Sendo assim, Sport Recife e Guarani (SP) foram considerados, respectivamente, campeão e vice de 1987.


***


Em dezembro do ano passado, durante a festa do Brasileirão, o meia Hernanes, do São Paulo, deu a sua... er, “relevante” opinião sobre o assunto:

– Para mim, o Flamengo é penta. Hexa, só o São Paulo.

No mesmo evento, Roberto Dinamite – que será sempre lembrado como o dirigente que estava no poder quando o Vasco foi rebaixado – fez coro:

– O que vale é o que a CBF diz.

Fica a dúvida: será que os dois profissionais citados acima apreciaram que seus clubes disputassem o título nacional contra um clube da segunda divisão? Aliás, qual torcedor – seja de que clube – concordaria com um descalabro desses?

Cartas para a redação.

quarta-feira, março 10, 2010

Agradecimentos

Deixo aqui os meus sinceros agradecimentos a todas as felicitações que recebi – através de telefonemas, e-mails, scraps de Orkut, mensagens de Facebook, etc – por ocasião de meu aniversário. Sem esquecer, é claro, das pessoas que estiveram comigo na ocasião.

Todo ano digo a mesma coisa – e sei que, a essa altura, pode até soar um tanto... er, demagógico. Mas é absolutamente verdadeiro: cada manifestação que recebo nesta data tem a sua importância, o seu valor. Para mim, não se trata apenas de “mais uma”. De modo algum.

Afinal, ninguém pode prescindir do afeto sincero – que, aliás, não é tão comum assim... – ou, pelo menos, da simpatia das pessoas. E este sentimentos, inequivocamente, ajudam a colorir e iluminar a vida de qualquer um.

Muito obrigado, pessoal!

terça-feira, março 02, 2010

Invasões e combates: a fundação do Rio de Janeiro


Conflitos marcaram os primeiros anos da história da cidade

Ontem, o Rio de Janeiro comemorou 445 anos. A cidade foi fundada no dia 01 de março de 1565 por Estácio de Sá – que se tornou o primeiro governador –, com o intuito de expulsar os franceses, que estavam instalados na Baía de Gunabara há uma década.

O objetivo dos invasores era, através do comércio de pau-brasil, criar aqui a chamada França Antártica. Mas foram expulsos em definitivo dois anos depois.

Um mês após a expulsão, mais precisamente no dia 20 de fevereiro de 1567, Estácio de Sá morreu, devido a uma infecção causada por uma flecha envenenada, que o atingira no rosto durante o combate com os franceses.

Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil – e tio de Estácio –, transferiu, então, o governo do Rio de Janeiro para outro sobrinho: Salvador Correia de Sá.


***


Muitos anos depois, os franceses tentariam invadir novamente o Rio de Janeiro. Primeiro, em 1710, sob o comando do corsário Jean Francois Du Clerc – quando, aliás, foram derrotados. No ano seguinte, contudo, impuseram enorme humilhação à cidade, através do corso do almirante René Duguay-Trouin.

Com 5.400 homens divididos em dezessete navios, a esquadra francesa ocupou e saqueou a cidade, onde permaneceu por dois meses, trazendo pânico aos locais. Após afugentar a população para o interior, Duguay-Troin exigiu o pagamento de um resgate, sob pena de destruir o Rio de Janeiro.

O então governador, Francisco de Castro, acabou pagando com seus próprios recursos parte da quantia exigida, aconselhando o corso a levar todo o ouro e riquezas que conseguisse obter, alegando que a população levara consigo seus pertences de maior valor.

Em 13 de novembro de 1711, as tropas francesas partem do Rio de Janeiro, deixando para trás uma cidade totalmente devastada.
Detalhe: ao contrário dos piratas, os corsários eram autorizados a pilhar navios de outra nação, como uma forma fácil e barata de enfraquecer os inimigos. Além disso, os corsos pagavam cerca de um terço daquilo que saquevam ao tesouro real.


***


E, já que falamos sobre corsários – ainda que, a rigor, a canção nada tenha a ver com o post –, veja o vídeo de “Corsário”, de João Bosco e Aldir Blanc, na interpretação definitiva de Elis Regina: