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sábado, maio 20, 2017

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Comeu’, com Magazine


Além de hits da década de 1980 como “Sou Boy” e “Tic-Tic Nervoso”, o extinto grupo Magazine — cujo vocalista era o pesquisador, radialista e apresentador de TV Kid Vinil — também é responsável pela melhor versão de “Comeu”, lançada originalmente pelo autor Caetano Veloso em álbum Velô [1984]. 

Em 1985, a regravação do Magazine alcançou projeção nacional através da abertura da novela A Gata Comeu.

R.I.P. Kid Vinil



sexta-feira, setembro 23, 2016

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Mortal Loucura (Oração)’, com Maria Bethania


O soneto “Oração” foi um raro momento de lirismo do poeta baiano Gregório de Matos (1623 – 1696), que, pelo teor satírico de sua obra, ficou conhecido como “Boca do Inferno”. Em 2005, rebatizando-o de “Mortal Loucura”, José Miguel Wisnik o musicou para a trilha do balé Onqotô, do Grupo Corpo, composta e executada na companhia de Caetano Veloso.

No primeiro semestre deste ano, Maria Bethania regravou a faixa – diga-se de passagem, com um arranjo magnífico e uma interpretação ímpar – para a novela Velho Chico, além de disponibilizá-la em single digital. É o tema do personagem Santo, interpretado por Domingos Montagner, cujo falecimento, na semana passada, comoveu todo o Brasil.

À luz dos tristes acontecimentos, é intrigante observar que se trata de uma canção cuja temática é justamente… a efemeridade da vida (“Já sei que a flor da formosura, usura / será, no fim dessa jornada, nada”). O que nos leva a crer que “coincidência” é apenas uma palavra criada para nomenclaturar algo que, a bem da verdade, não sabemos explicar ao certo.



quarta-feira, junho 11, 2014

Caetano Veloso em versão iTunes



EP digital
iTunes Session (Universal)
2014




Caetano Veloso foi o escolhido para o primeiro volume brasileiro do iTunes Session, série que, no exterior, já teve títulos dedicados ao Wilco, a Colbie Caillat e ao The Black Keys, entre outros. Gravado ao vivo no estúdio no final de outubro de 2013, o EP está disponível somente em formato digital, no iTunes.

Em oito faixas, Caê consegue fazer um resumo, sem concessões, de sua carreira de quase meio século, desde o primeiro samba que compôs, “De Manhã” — que aparece pela primeira vez em um disco seu —, até as relativamente recentes “Livros” [de Livro, 1997] e a introspectiva “Por Quem?” [Zii e Zie, 2009]. O período da ditadura militar foi lembrado na bela “Lost In The Paradise” [1969] e a latinidad foi mencionada na ancestral mexicana “Cucurrucucu Paloma” [1954], que já havia sido regravada pelo baiano em Fina Estampa Ao Vivo [1995].

O único hit do álbum é “Coração Vagabundo”, de Domingo [1967], disco de estréia que dividiu com Gal Costa. Completam o repertório “13 de Maio” [de Noites do Norte, 2000] e “Samba da Cabeça”, lançada em um obscuro compacto de 1978 — e que apareceu posteriormente na coletânea de “lados B” Certeza da Beleza [2009].

Embora não seja um item imprescindível na discografia de Caê, iTunes Session mostra um artista orgulhoso de sua trajetória, mas, ao mesmo tempo, preocupado em fugir do óbvio. Ponto para ele. Que venham as próximas edições da série.




Ouça a versão de “De Manhã” do iTunes Session



quinta-feira, dezembro 26, 2013

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Como Uma Onda’, de Lulu Santos e Nelson Motta



Bem, a data não poderia mesmo passar em branco: “Como Uma Onda”, a canção pela qual Lulu Santos será sempre lembrado, está completando 30 anos em 2013. Foi lançada em 1983, em O Ritmo do Momento [acima, a capa], segundo álbum solo do guitarrista carioca.

A letra, escrita pelo jornalista, produtor e escritor Nelson Motta, disserta brilhantemente sobre a transitoriedade de... tudo (“Nada do que foi será / de novo do jeito que já foi um dia / tudo passa / tudo sempre passará”). E, musicalmente, é o que poderíamos classificar como um “bolero havaiano” — que veio a se tornar uma das “marcas registradas” do cantor, em canções como “Lua de Mel” e “Sereia”.

Ao longo dessas três décadas, “Como Uma Onda” foi regravada inúmeras vezes. No ano de seu lançamento, recebeu versão de Zizi Possi, em seu sexto álbum, Pra Sempre e Mais um Dia. Exatos dez anos depois, foi relida por Tim Maia, em (magistral) fonograma inicialmente destinado a uma propaganda de chinelos — e bastante fiel ao arranjo original. E, em 2002, foi a vez de Caetano Veloso, em dueto com o próprio autor, no seu Noites do Norte — Ao Vivo.

Recentemente, foi cantada por ninguém menos do que Roberto Carlos — na companhia de Lulu —, em seu especial anual.




Ouça “Como Uma Onda” nas vozes de Tim Maia...




Caetano Veloso...




Roberto Carlos, em seu especial de 2013...





...e, claro, Lulu Santos — no raríssimo vídeo original da canção:

segunda-feira, dezembro 17, 2012

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Fera Ferida’, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos


Em 2008, Caetano Veloso criou o blog Obra em Progresso, no sentido de interagir com os internautas, durante a concepção do que viria a se tornar o CD Zii & Zie [2009]. E dedicou uma postagem à “Fera Ferida”, que ouviu no rádio de um táxi. É uma pena o espaço já não estar no ar — o que obriga este relato a ser “painted from memory”.

Na ocasião, Caetano contou que, embora conhecesse a canção desde o seu lançamento, em 1982 [no detalhe, a capa] — inclusive a regravou em seu álbum de 1987 —, ouvi-la ali, de sopetão, o deixou emocionado. O autor de “Outras Palavras” prosseguiu a sua observação, afirmando que, desde o primeiro verso (“Acabei com tudo / escapei com vida”), “a bola nunca mais cai”. Ou seja, a canção mantém presa a atenção do ouvinte. Até o final.

E finalizou dizendo que escutar “Fera Ferida” pela primeira vez foi “uma grata surpresa, a mais instigante canção lançada por Roberto Carlos em muito tempo”. 

Caetano Veloso estava certíssimo. Repleta de belas imagens (“Os meus rastros desfiz / tentativa infeliz de esquecer”), “Fera Ferida” é, sem dúvida alguma, uma das mais brilhantes letras escritas por Roberto Carlos e Erasmo Carlos. E, embora também regravada, em um arranjo épico, por Maria Bethania em As Canções que Você Fez para Mim [1993] — inteiramente dedicado à obra da dupla —, a versão definitiva é, de fato, a de Roberto.

É o tipo de canção que o Rei nasceu para cantar. 




P.S.: Nutro sincera admiração pelas pessoas que conseguem fugir da escrita “analítica” da “terceira pessoa” e se expressam de modo mais pessoal em um blog. É algo que, confesso: sinto-me desconfortável em fazer — embora, através do Google Analytics, já tenha observado que, nas minhas raras postagens “confessionais”, a resposta, em visitações, é sempre muito positiva. Não está descartada, inclusive, a hipótese da criação de mais um blog, destinado apenas a pensatas e análises musicais “autobiográficas”. Ou, talvez, uma série — a exemplo da “São Bonitas as Canções” —, com estas características, dentro deste blog. Enfim, é uma ideia a ser amadurecida. Por ora, o que importa é destacar que as canções postadas neste espaço obedecem a três critérios: a) qualidade, evidentemente; b) relação com um ou mais textos postados recentemente; c) possuírem alguma história interessante a ser contada. Portanto, nada têm a ver com a minha pessoa ou com o meu cotidiano. E tampouco trazem alguma “mensagem subliminar”. “Fera Ferida”, contudo — independentemente de ser uma pérola —, é um caso à parte. Trata-se de uma música que tem “me acompanhado” há muitos anos e com a qual sempre me identifiquei. Sempre. Pela personalidade forte. Pelo temperamento arisco. Pelo modo irredutível de tomar decisões (“Não vou mudar: esse caso não tem solução”). E também pela minha trajetória de vida (“O coração perdoa / mas não esquece à toa / e eu não esqueci”). Alguns familiares, inclusive, já fizeram essa “associação”. Detalhe: sem que eu jamais tivesse manifestado para eles o meu apreço pela canção: “Olha a música do Tom!” Ou seja, do leão que só “se enfurece” e “ataca”... por ter sido “alvejado”. Sendo assim, “eternizá-la” neste espaço — além de uma tendência natural, dada a sua importância para mim — é um desejo antigo. A data do arquivo de imagem que ilustra esta postagem, guardada em meu pen drive durante um longo tempo, não me deixa mentir: “Modificado em 13/10/2008” (!).




Veja o vídeo da (surpreendente) versão eletrônica de “Fera Ferida”, com participação do DJ Marcelo “Memê” Mansur, extraído do Especial de Roberto Carlos de 2012. O fonograma será lançado no álbum Reimixes, que chegará às prateleiras em 2013:





E ouça a versão original da canção:



quinta-feira, março 29, 2012

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Meu Amigo, Meu Herói’, com Zizi Possi



A singela “Meu Amigo, Meu Herói” foi um “presente” de Gilberto Gil a Zizi Possi, que a gravou em seu terceiro álbum, epônimo, editado em 1980. Naquele mesmo ano, integrou a trilha sonora da novela Plumas & Paetês. No entanto, curiosamente, Gil jamais a incluiu em nenhum disco seu.

Por razões familiares, esta canção sempre me comoveu sobremaneira. E, no dia de hoje, sua menção se faz mais do que oportuna.




Veja o vídeo da gravação original de “Meu Amigo, Meu Herói”, cantada por Zizi Possi — que este vosso amigo considera a mais bela voz feminina brasileira viva...




...e também a versão de Caetano Veloso, extraída do especial de TV Grandes Nomes, de 1981. Curiosidade: no colo de Renato Aragão, ainda criança, está Moreno Veloso, filho de Caetano:

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

R. I. P. Wando



Desde o dia 27 de janeiro, quando Wando foi internado em Minas Gerais devido a problemas cardíacos, torci pelo seu restabelecimento. E não apenas por razões humanitárias: sempre nutri sincera admiração pelo seu trabalho.

Por puro preconceito, nem todos admitem. Contudo, naquilo que se propunha a fazer — música assumidamente popular, com doses generosas de erotismo, mas sem jamais perder de vista o romantismo —, Wando era muito bom. Suas canções eram, acima de tudo, sinceras. E, justamente por isso, atingiam facilmente a sensibilidade de seu público.

Vale registrar que grandes nomes da música brasileira reconheceram o valor artístico de Wando, regravando suas composições. Exemplos: Caetano Veloso (“Moça”), Nando Reis (“Fogo e Paixão”, o maior sucesso da carreira de Wando) e até... Roberto Carlos (a delicada “A Menina e o Poeta”), entre outros.

Reza a lenda que, em casa e nos ensaios, Antonio Carlos Jobim gostava de cantar canções de outros autores, por pura diversão. Uma de suas escolhidas era “Mentiras”, de Adriana Calcanhotto. E outra era... a belíssima “Coisa Cristalina”, de Wando.

Descanse em paz, Wando.




Ouça “Coisa Cristalina”, que o artista compôs inspirado em um amigo igualmente apaixonado pela esposa e pela... cocaína...




...e “Tá Faltando um Abraço”:

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘Meia Noite’, de Edu Lobo



CD
Meia Noite (Velas)
1995 (reeditado pela Biscoito Fino em 2011)


Por José Luiz Coelho de Andrade*



Lançado originalmente em 1995, o CD Meia Noite, de Edu Lobo, possui inúmeras virtudes. A maior delas é nos presentear com uma verdadeira antologia da magnífica obra desse compositor. Ademais, os arranjos são primorosos: o bom gosto do maestro Cristóvão Bastos reflete-se principalmente no uso inspirado das cordas. A voz de Edu pode não ser tão redonda quanto gostaríamos, mas este detalhe é compensado pela solenidade e dignidade de seu timbre singular. É a voz inconfundível de um artista íntegro, que jamais se rendeu aos apelos comerciais e à mediocridade.

Mencionemos apenas algumas faixas — os pontos altos do disco —, joias inestimáveis de nossa riquíssima música popular brasileira. A primeira canção, composta por Edu com letra de Chico Buarque, é uma obra-prima: “O Circo Místico”. Trata-se de um raro exemplo de canção metafísica, que já começa de modo belíssimo e sutil: “Não sei se é um truque banal/ se um invisível cordão/ sustenta a vida real”. Numa outra passagem, Chico indaga: “Não sei se é nova ilusão/ se após o salto mortal/ existe outra encarnação”.

A quarta faixa, “Beatriz”, é um clássico absoluto, e ficou mais conhecida pela interpretação sublime de Milton Nascimento na trilha do musical O Grande Circo Místico. É evidente a correlação com a Beatriz da Divina Comédia, de Dante: o poema fala de uma mulher etérea, mistura de musa e sacerdotisa. “Me ensina a não andar com os pés no chão”, suplica o poeta Chico, como se essa mulher especial pudesse iniciá-lo num processo de elevação. E mais adiante, o verso inesquecível: “Diz se é perigoso a gente ser feliz”.

Só Me Fez Bem”, a sexta faixa, é uma canção mais antiga de Edu, parceria sua com Vinicius de Moraes. O casamento entre música e letra é perfeito. Vinicius tinha essa capacidade de encaixar as palavras magicamente. O “poeta da paixão”, docemente melancólico, podia dizer naturalmente coisas como “é melhor viver / do que ser feliz”. Essa pérola do jovem Edu Lobo pode ser comparada com “Coração Vagabundo”, de Caetano Veloso — duas canções igualmente simples e geniais.

Sobre Todas as Coisas” (faixa 7) também faz parte de O Circo Místico, e recebeu, no disco original, uma emocionada interpretação de Gilberto Gil. A letra impecável de Chico Buarque fala do movimento cósmico (“Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel”) e reflete sobre o Deus “que criou o nosso desejo”.

Quanto a “Canto Triste”, a oitava faixa, é até difícil dizer alguma coisa: estamos diante de uma das canções mais extraordinárias que já foram feitas. Só nos resta reverenciar o lirismo da música e da letra de Vinicius. O filósofo e poeta Francisco Bosco, filho de João Bosco, tem toda razão quando diz que, “no fundo, não existe canção triste”: triste mesmo é a ausência da poesia e da beleza.

Passamos então à faixa 10, “Candeias”, composta solitariamente por Edu, que ficou conhecida através de Domingo, disco histórico de Gal e Caetano. No álbum de estreia de ambos, fizeram um trabalho maravilhoso, com a pureza e a limpidez dos inícios. “Candeias” tem o sabor de um acalanto: é música que nos acaricia e possibilita o repouso verdadeiro, aquele descanso que raramente desfrutamos.

E, por fim, Dori Caymmi canta “Pra Dizer Adeus”, letra de Torquato Neto. Mais um clássico de Edu, que Dori interpreta com a sua voz grave e profunda, correspondendo plenamente à densidade emocional da canção.

O único momento do disco dedicado a um outro compositor é “Estrada Branca”, de Antonio Carlos Jobim. É uma homenagem mais do que merecida: um gigante celebra um deus, digamos assim. Afinal, Jobim é um arquétipo, um modelo, um homem que nasceu para gerar música, a tal ponto que é impossível imaginar o mundo sem o que ele produziu. A propósito, cabe lembrar que Jobim e Edu gravaram juntos, em 1981, um belo disco — sintomaticamente batizado de Edu & Tom.




* JOSÉ LUIZ COELHO DE ANDRADE é professor de filosofia e biodança. E sua colaboração enche de orgulho este blog.

sábado, janeiro 28, 2012

Da série: ‘São Bonitas as Canções’: ‘Mãe’, com Gal Costa



Sejamos francos: canções em homenagens às mães, em sua maioria, soam... óbvias — desprovidas da poesia que a maior referência na vida de cada um de nós mereceria. Exceção feita — além de “Lady Laura”, de Roberto & Erasmo, e “Let It Be”, dos Beatles — a “Mãe”, composta por Caetano Veloso que, curiosamente, jamais a registrou. 

Gravada por Gal Costa no álbum Água Viva, de 1978, a letra de “Mãe” — repleta de imagens caleidoscópicas — detecta, com precisão cirúrgica, uma grande verdade: não importa o que um homem tenha se tornado ao longo de sua vida. Não importa. 

Diante de sua mãe, ele será sempre... um menino. E jamais deixará de ser amado por ela. 


segunda-feira, agosto 08, 2011

‘Respeita’ Luiz Gonzaga, o Rei do Baião

Mesmo não sendo um baião legítimo, ‘Tipo um Baião’ traz a influência do gênero no qual Luiz Gonzaga foi rei — por sinal, o Velho Lua é citado no final da canção.”

(“Chico Buarque: tal qual um bom livro”, agosto de 2011)


Luiz Gonzaga [foto] (1912 — 1989), o Rei do Baião, foi um dos mais importantes e originais artistas já surgidos na música brasileira. Ninguém cantou o Nordeste do Brasil com a propriedade e a poesia do Velho Lua.

Ao longo de sua extensa carreira, gravou mais de quarenta (!) discos. Além de exímio acordeonista, foi um melodista inventivo, que imprimiu no imaginário popular gemas como “Respeita Januário”, “Qui Nem Jiló”, “A Vida do Viajante” e “Baião”, entre outras. 

Sem contar, é claro, o clássico “Asa Branca”, o hino do retirante nordestino, já gravado por nomes que vão de Caetano Veloso a Lulu Santos [no detalhe, prestando, em 1986, a devida reverência a Gonzagão].





Veja o vídeo de “A Vida do Viajante”, com o próprio Luiz Gonzaga...



...e ouça também a versão de Gilberto Gil de “Qui Nem Jiló”, extraída do álbum As Canções de Eu, Tu, Eles, de 2000:


sexta-feira, julho 08, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Teresa da Praia’, de Billy Blanco e Antonio Carlos Jobim

Falecido hoje, aos 87 anos, de complicações decorrentes de um AVC, o paraense Billy Blanco [foto] compôs mais de 500 canções, muitas delas ainda inéditas. E foi parceiro de Antonio Carlos Jobim em dois momentos: na Sinfonia do Rio de Janeiro, de 1954, e em “Tereza da Praia”, do mesmo ano.

Lançada com grande sucesso por dois dos cantores mais populares da época, Dick Farney e Lúcio Alves, “Tereza da Praia” é um clássico absoluto da música brasileira. E foi regravada em 2008 na histórica dobradinha CD/DVD Roberto Carlos e Caetano Veloso e a Música de Tom Jobim.



Veja o descontraído dueto de RC com Caetano em “Teresa da Praia:




E ouça a gravação original, com Dick Farney e Lúcio Alves:

 

quinta-feira, julho 07, 2011

Da série ‘Fotos’: Caetano Veloso

A foto abaixo foi extraída da matéria de capa da edição nº 91 da revista Trip [julho de 2001]. Identifiquei-me, claro.


sábado, maio 21, 2011

Assis Valente, o autor de ‘Brasil Pandeiro’ e ‘Boas Festas’

É o caso de ‘...e o Mundo Não se Acabou...’, composição de Assis Valente...
  

Baiano de Santo Amaro da Purificação – e, portanto, conterrâneo de Caetano Veloso – Assis Valente [foto] cometeu suicídio ingerindo formicida na extinta Praia do Russel, no Rio de Janeiro – por conta de dívidas e, reza a lenda, também de sua condição homossexual.

Foi o autor de “Brasil Pandeiro”, gravada por Carmen Miranda em 1940, e que recebeu excelente versão dos Novos Baianos no clássico Acabou Chorare (1972). E também de “Boas Festas”, provavelmente a mais conhecida canção natalina brasileira.


Veja o vídeo de “Brasil Pandeiro”, com os Novos Baianos...
  



...e também de “Boas Festas”, com João Gilberto:

terça-feira, abril 19, 2011

Roberto Carlos: 70 anos

                           

Do alto de meio século de uma carreira singular, Roberto Carlos [foto] tem muitos motivos pelos quais se orgulhar. Goste-se ou não dele, nenhum outro artista brasileiro possui números tão superlativos — na América Latina, vendeu mais até do que, pasmem... os Beatles (!).

Além de intérprete notável, RC é um compositor que, com a simplicidade de suas palavras, consegue tocar o coração de pessoas de todas as faixas etárias, de todas as classes sociais. Seja falando de amor ou de fé, o autor de “Emoções” é, sem sombra de dúvida, a voz do Brasil.

E, a exemplo de milhões de brasileiros, as canções de Roberto se entrelaçam com a história de minha vida. E isso vem desde a infância, nas celebrações do Natal na companhia de meus familiares — alguns, por sinal, já não estão vivos —, quando a trilha sonora sempre foi o seu novo álbum.

Sendo assim, não me constranjo em declarar a enorme admiração e sincero respeito que nutro por este homem. No meu íntimo, é como se RC fosse uma pessoa próxima, um amigo muito querido. E, de fato, sua música tem estado a meu lado durante todos esses anos.

Hoje, 19 de abril de 2011, Roberto completa 70 anos de idade. Fico feliz por ele estar vivo. Com saúde. E em plena atividade. Não sucumbiu diante de todos os momentos tristes que atravessou — e continua atravessando. Como disse (sabiamente) Caetano Veloso, “uma força” o leva a cantar. Somos privilegiados por ouvi-lo.

Em suma, Roberto Carlos é o Rei. De fato e de direito. Vida longa ao Rei.

sábado, dezembro 04, 2010

Lulu Santos: Acústico II – A Missão


CD/DVD
Lulu Acústico II (Universal Music)
2010



Cantor rebobina mais sucessos e ‘lados B’ em novo especial da MTV

Em 2000, Lulu Santos quebrou um paradigma com o seu Acústico MTV: eram tantos hits que, pela primeira vez na série, um artista mereceu – além do habitual DVD – um CD duplo com o registro de sua apresentação. E o compositor carioca permaneceu como o detentor solitário da façanha até 2002, quando Jorge Ben Jor recebeu a mesma deferência.

Passados exatos dez anos, Lulu volta à carga com Lulu Acústico MTV II, que chega às prateleiras em CD – desta vez, simples – e DVD, realizado de forma independente, com distribuição via Universal Music.

Impossível não ceder à tentação de relacionar o Acústico atual com o anterior – dadas as suas diferenças e semelhanças. Para começo de conversa, o cantor dispensou o tradicional “banquinho”, permanecendo de pé durante toda a apresentação. E, sem repetir uma música sequer do especial da década passada, desfiou sucessos como “Um Pro Outro”, “Minha Vida” e a bela “Papo Cabeça”, e bons “lados B” como “Pra Você Parar”, “Brumário”, “Dinossauros do Rock” e a sentida “Auto Estima”, que fecha os trabalhos.

Além do talento como hitmaker, Lulu Santos, em comparação aos seus congêneres/contemporâneos, tem um trunfo: a enorme facilidade em reinventar a si próprio e ao seu cancioneiro, a todo momento. Isso fica claro em “Tudo Azul”, faixa-título de seu bem-sucedido álbum de 1984, que ressurge mais brasileira do que nunca. O mesmo vale para “Vale de Lágrimas”, de 2005 – uma de suas melhores canções recentes – cujo novo arranjo, com ares de... tango (!), realçou a dramaticidade da letra.

A outrora dançante “Baby de Babylon” lançada no ano passado, recebeu um roupagem bossa nova, com eventuais compassos de... reggae (!). Ficou interessante. Já a ótima “Já É!”, de 2003, mesmo desplugada, não perdeu o seu pulso disco.


No DVD, Lulu homenageia os seus três ‘santos’

A cantora Marina De La Riva – descrita pelo cantor como “indescritível” – é convidada especial da (excelente) versão hispânica de “Adivinha o Quê?” e, apesar da voz pequena, empresta puro charme à gravação. Simplesmente hilário o momento em que ela se dirige a Lulu, no idioma de Cervantes, dizendo “tremendo vacilón”. Detalhe: a flauta supriu perfeitamente a ausência do solo de guitarra.

O baixista Jorge Aílton, autor de “Atropelada” – gravada pelo anfitrião em Singular, o antecessor de Lulu Acústico MTV II – faz o vocal principal da sua “O Óbvio”. Com seu jeitão de hino, a mediana “E Tudo Mais”, que abre o espetáculo, é a única inédita.

Disponíveis apenas no DVD, as três faixas bônus são, na definição do próprio Lulu, “velas” acesas para os seus “santos”: Gilberto Gil, homenageado com “Ele Falava Nisso Todo Dia”; o já mencionado Jorge Ben Jor, com “Tuareg”; e Caetano Veloso, com “Odara”, que contou novamente com a participação de Marina De La Riva e também de Andrea Negreiros, vocalista da banda de Lulu. As duas primeiras já haviam sido gravadas pelo autor de “Certas Coisas” – em Letra & Música, de 2005, e Assim Caminha a Humanidade, de 1994, respectivamente. Apenas “Odara” é inédita na voz do cantor carioca.

Mesmo sem superar o primeiro Acústico – que trazia o supra-sumo de sua obra –, Lulu Acústico MTV II é um bom registro daquele que é um dos principais nomes da música brasileira. Considerando o autor que sempre foi, Lulu Santos, se tivesse nascido no Reino Unido, certamente estaria à altura de um Elton John...



Confira os vídeos de ‘Adivinha o Quê?’...




...de ‘Baby de Babylon’...


...e de ‘Já É!’:

segunda-feira, maio 17, 2010

Da série ‘Polaroides do Rio’: Arcos da Lapa


Os primeiros estudos para a construção do Aqueduto da Carioca, mais conhecido como Arcos da Lapa [no detalhe] – cuja função era abastecer o Rio de Janeiro com as águas do rio Carioca –, datam de 1602, ainda no tempo das Capitanias Hereditárias. Entretanto, as obras só foram iniciadas em 1706.

Com um design claramente inspirado no Aqueduto das Águas Livres [à direita], de Lisboa, Portugal, os Arcos da Lapa – apelidados desta forma em referência ao bairro boêmio no qual estão situados – foram inaugurados somente em 1750. Foi, do ponto de vista arquitetônico, a obra de maior porte do período Brasil-colônia.

Na segunda metade do século XIX, surgiram outras alternativas para o abastecimento de água da cidade. Sendo assim, a partir de 1896, os arcos passaram a ser utilizados como viaduto dos tradicionais bondinhos do bairro de Santa Teresa – que, aliás, existem até hoje.

Conservados pelo poder público até os dias atuais, os Arcos da Lapa também servem de palco para vários eventos, além de serem um dos mais emblemáticos cartões postais da cidade.


***


No domingo, 09, Caetano Veloso fez a sua estreia como colunista do jornal O Globo. Em seu (interessante) artigo, o artista baiano falou sobre a restauração do Largo da Ordem*, em Curitiba, durante a gestão do então prefeito Jaime Lerner, no início dos anos 70.

E, como não poderia deixar de ser, mencionou as obras realizadas no Pelourinho, Salvador, na década de 1990. E traçou um paralelo entre o bairro soteropolitano e a Lapa, que foi revitalizada recentemente.

O que, imediatamente, remeteu à faixa que Caetano lançou em seu trabalho mais recente, Zii e Zie, intitulada... “Lapa”, que, em determinado trecho, diz: “Pelourinho vezes Rio / é Lapa”. Na coluna, o músico, inclusive, voltou a citar os presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso, a exemplo do que fizera na canção (“Lapa / Lula e FH / Lapa / amo o nosso tempo / em ti”).

Na ocasião do lançamento do CD, Caê, em entrevista, sustentou sua teoria:

— Ter tido Fernando Henrique, e depois Lula, foi um luxo. Ambos saíram “melhores do que a encomenda”...

* Detalhe: o Largo da Ordem também é citado na letra da música.



Ouça “Lapa
:

‘Zii e Zie’, de Caetano Veloso


O que, imediatamente, remeteu à faixa que Caetano lançou em seu trabalho mais recente, Zii e Zie...”


Zii e Zie
, que Caetano Veloso [no detalhe] editou em 2009, é um CD que aborda, entre outros temas, as mazelas do Rio dos dias atuais, como a criminalidade (“Perdeu”) e as drogas (“Falso Leblon”), sem esquecer as suas belezas naturais (“Barra, Gávea e Arpoador”, citados na letra da ótima “Sem Cais”).

Além disso, é um disco que fala de um Rio “outonal” – como, aliás, ilustra a própria capa, que traz uma imagem noturna nada... er, “tropical” da praia do Leblon.

Leia a resenha de Zii e Zie clicando aqui.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Sem Cais’, de Caetano Veloso


“‘Barra, Gávea e Arpoador’, citados na letra da ótima ‘Sem Cais’...”


Na minha modesta opinião, “Sem Cais” é, de fato, a melhor música de Zii e Zie. E conheço mais alguém que pensa assim...

No ano passado, eu costuma ouvir esse CD enquanto dirigia. E precisamente quando tocava essa canção, meu filho, então com oito anos de idade, saiu-se com essa:

– A guitarra dessa música é muito maneira, não é, pai?

Pode crer, filho.


sexta-feira, abril 23, 2010

Jobim, por eles e elas


CDs
Aqui Tem Tom - Volumes 1 e 2 (Som Livre)
2010


Os dois volumes da compilação ‘Aqui Tem Tom’ alternam, como de praxe, bons e maus momentos

Passados quinze anos de seu desaparecimento, ocorrido no dia 08 de dezembro de 1994, a atemporal obra de Antônio Carlos Jobim – mesmo sem ter a sua grandiosidade plenamente reconhecida – continua sendo revista e cultuada. Prova disso é a compilação Aqui Tem Tom, disponível em dois volumes – vendidos separadamente –, que chega às prateleiras via som Livre.

Muitas vezes, all star tributes são verdadeiros balaios de gato. Contudo, ao lado de deslizes típicos de projetos desta natureza, Aqui Tem Tom apresenta bons momentos.


Acompanhada por Hélio Delmiro, Calcanhotto brilha

O volume 1, inteiramente dedicado a intérpretes femininas, consegue, no frigir dos ovos, um bom aproveitamento. Tem Maria Bethania, à vontade, em “Anos Dourados”. Tem Nana Caymmi, transformando “Insensatez” em uma canção sua. Tem Joyce, perfeita, em “Discussão”. E tem Elis Regina, introspectiva, em “Sabiá”.

Mas, por outro lado, tem Gal Costa – embora afinadíssima como sempre – errando a letra de “Se Todos Fossem Iguais a Você” (em vez de “a sua vida / é uma linda de amor”, a baiana cantou “vai, sua vida / é uma linda de amor”). Tem Isabella Taviani lutando contra a própria grandiloquência – e eventualmente perdendo – em “Caminhos Cruzados”. E Beth Carvalho concedendo ao clássico “Chega de Saudade” um inadequado acento sambão joia.

Tais deslizes, entretanto, não chegam a comprometer o trabalho, que também traz Fernanda Takai, Roberta Sá e Paula Toller, corretas em “Estrada do Sol”, “Brigas Nunca Mais” e “Por Causa de Você”, respectivamente.

O grande destaque, porém, é Adriana Calcanhotto, acompanhada pelo violonista Hélio Delmiro, na bela versão de “O Amor em Paz”, gravada para o CD 3 do Songbook Vinícius de Moraes, idealizado pelo falecido produtor Almir Chediak.


Ouça “O Amor em Paz”, com Adriana Calcanhotto...


...e “Sabiá”, com Elis Regina:



Djavan e a versão definitiva de ‘Correnteza’

Já o volume 2, que conta apenas com vozes masculinas, tem como trunfos, por exemplo, a versão delicada de Caetano Veloso para “Eu Sei que Vou te Amar” – que cita “Dindi” e “De Você, Eu Gosto” – e o saudoso Tim Maia, na companhia dos d'Os Cariocas, em uma boa versão de “Ela É Carioca”. Mas, de um modo geral, fica inegavelmente aquém de seu correlato.

Lenine, por exemplo, nada acrescentou à obra-prima “Wave” – será que o temperamental João Gilberto não autorizou que a sua versão fosse incluída neste projeto? Igualmente inexpressiva – ainda que esforçada – é a releitura de “Waters of March”, versão anglófona de “Águas de Março”, cometida por Art Garfunkel, metade do extinto duo com Paul Simon.

Sem contar a insuportável versão de Sergio Mendes e will.i.am para o ótimo tema “Surfboard”.

Mas nem tudo está perdido: há também Djavan, na versão definitiva de “Correnteza”. Há o swing de Wilson Simonal em “Só Tinha de Ser com Você” – que, contudo, não supera a (insuperável) gravação de Elis Regina, do álbum Elis & Tom (1974). Há Ed Motta, acompanhado ao piano por Daniel Jobim, saindo-se muito bem na intrincada melodia de “Por Toda a Minha Vida (Exaltação ao Amor)”.

Há também Chico Buarque, convincente no ancestral registro de “Retrato em Branco e Preto (Zíngaro)” – cuja letra, por sinal, foi escrita pelo próprio Chico. E, como curiosidade, há um mergulho nas raízes gaúchas, na pouco conhecida “Rodrigo, Meu Capitão”, parceria de Jobim com Ronaldo Bastos, originalmente lançada na trilha sonora de O Tempo e o Vento, na voz de Zé Renato.


Ouça “Eu Sei que Vou te Amar”, com Caetano Veloso...



...e “Por Toda a Minha Vida (Exaltação ao Amor)”, com Ed Motta:



Ideal para neófitos

Os dois volumes de Aqui Tem Tom oferecem, portanto, um pequeno aperitivo do vasto cancioneiro do autor de “Garota de Ipanema” – curiosamente, a canção está ausente de ambos os CDs. Sendo assim, acabam sendo uma boa pedida para os neófitos.

Contudo, para quem quer realmente se aprofundar nos originais do Maestro Soberano, ficam algumas dicas: os ótimos Elis & Tom (1974) e Terra Brasilis (1980), o derradeiro Antônio Brasileiro (1994), a compilação – editada para o mercado americano – Finest Hour (2000), além do excelente Inédito, gravado ao vivo no estúdio em 1987.