quinta-feira, dezembro 26, 2013

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Como Uma Onda’, de Lulu Santos e Nelson Motta



Bem, a data não poderia mesmo passar em branco: “Como Uma Onda”, a canção pela qual Lulu Santos será sempre lembrado, está completando 30 anos em 2013. Foi lançada em 1983, em O Ritmo do Momento [acima, a capa], segundo álbum solo do guitarrista carioca.

A letra, escrita pelo jornalista, produtor e escritor Nelson Motta, disserta brilhantemente sobre a transitoriedade de... tudo (“Nada do que foi será / de novo do jeito que já foi um dia / tudo passa / tudo sempre passará”). E, musicalmente, é o que poderíamos classificar como um “bolero havaiano” — que veio a se tornar uma das “marcas registradas” do cantor, em canções como “Lua de Mel” e “Sereia”.

Ao longo dessas três décadas, “Como Uma Onda” foi regravada inúmeras vezes. No ano de seu lançamento, recebeu versão de Zizi Possi, em seu sexto álbum, Pra Sempre e Mais um Dia. Exatos dez anos depois, foi relida por Tim Maia, em (magistral) fonograma inicialmente destinado a uma propaganda de chinelos — e bastante fiel ao arranjo original. E, em 2002, foi a vez de Caetano Veloso, em dueto com o próprio autor, no seu Noites do Norte — Ao Vivo.

Recentemente, foi cantada por ninguém menos do que Roberto Carlos — na companhia de Lulu —, em seu especial anual.




Ouça “Como Uma Onda” nas vozes de Tim Maia...




Caetano Veloso...




Roberto Carlos, em seu especial de 2013...





...e, claro, Lulu Santos — no raríssimo vídeo original da canção:

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Seres Humanos’, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos



Uma das mais esclarecidas letras da dupla Roberto &; Erasmo, o rap-placebo “Seres Humanos” foi lançada originalmente como faixa-bônus do CD ao vivo, epônimo, que Roberto Carlos editou em 2002 [acima, a capa]. No ano seguinte, integrou o repertório de Pra Sempre, último álbum de inéditas do Rei.

Sob um belo arranjo, RC exalta as conquistas da humanidade (“O telefone, o rádio, a luz elétrica / a televisão, o computador / progressos na engenharia genética / maravilhas da ciência prolongando a vida”), a despeito do quanto o planeta tem sido “castigado” ao longo dos anos (“Que negócio é esse de que nós não temos / os devidos cuidados com o mundo em que vivemos? / Fazemos tudo por necessidade”). E não deixa de citar os mistérios que envolvem a existência humana neste mundo (“Nem sabemos por que aqui estamos / e, mesmo sem saber, seguindo em frente vamos”).

Em uma observação para lá de oportuna, Roberto menciona a busca por “respostas” — e também a tolerância religiosa (“Buscamos apoio nas religiões / e procuramos verdades em suposições. / Católicos, judeus, espíritas e ateus / somos maravilhosos / afinal, somos filhos de Deus”). E, em linhas gerais, rejeita a visão de “culpa” e “pecado” que várias crenças procuram impor a seus fiéis: “Que tal olhar as coisas que a gente tem conseguido? / E o mundo, hoje, é bem melhor / do que há muito tempo atrás / e as mudanças desse mundo / o ser humano é que faz”.

Uma reflexão e tanto para os nossos tempos.




Veja o vídeo de “Seres Humanos”, extraído do especial de Roberto Carlos de 2002:

domingo, dezembro 22, 2013

Roberto Carlos ‘na pista’



EP
Remixed (Amigo Records/Sony Music)
2013


Anunciado em dezembro de 2012 como um CD completo, Remixed chega às prateleiras como EP de cinco músicas — repetindo o formato de Esse Cara Sou Eu, que obteve estrondoso sucesso no ano passado. Essa, aliás, não foi a única modificação: o (espirituoso) título inicial, Reimixed, acabou sendo alterado, provavelmente pelo fato de que, em 52 anos de carreira, nenhum trabalho de RC foi batizado com qualquer menção à palavra “rei”.

Os remixes de “Fera Ferida”, “Se Você Pensa”, “O Portão”, “É Preciso Saber Viver” e “É Proibido Fumar” “respeitam” as gravações originais — com destaque para o primeiro, assinado pelo experiente DJ Marcelo “Memê” Mansur [saiba mais aqui]. E, se não são exatamente brilhantes, também não comprometem. E atestam a versatilidade das canções de Roberto & Erasmo.

No mais, fica a impressão de que os remixes já haviam sido gravados há algum tempo, pelo fato de  ao contrário das faixas eletrônicas do novo CD de Paul McCartney —, não soarem propriamente “modernos”. E um certo “conservadorismo” também se faz notar na capa, que segue o padrão habitual dos discos de RC.  

A bem da verdade, Remixed apenas cumpre o papel de oferecer ao público um produto “novo” de Roberto Carlos para as vendas de Natal, considerando que o aguardado disco de inéditas do cantor — o primeiro em dez anos (!) — foi novamente adiado. Três prováveis motivos: a atribulada agenda de shows do artista; o seu perfeccionismo extremo; o fato de não desejar editar um novo álbum justamente em um ano 13...




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Ouça o remix do DJ Felipe Venâncio para “O Portão”, faixa lançada originalmente em 1974:


Rui Motta: doação de sangue



Faço um apelo a todos: Rui Motta [foto], ex-baterista d'Os Mutantes, precisa de uma doação de sangue — de qualquer tipo.

Para doar, basta se dirigir a um dos dois endereços abaixo e informar o nome completo do paciente (Rui Castro Motta) e o local onde ele se encontra internado (Hospital Copa D'or):


* Rua Conde de Irajá, 183 — Humaitá: de 2ª a 6ª feira, de 8h às 16h; sábado, de 8h às 11h;

* Rua Santa Luzia, 206 Centro (Santa Casa de Misericórdia): de 2ª a 6ª feira, de 8h às 15h; sábado, de 8h às 12h.

quinta-feira, dezembro 12, 2013

O triunfal retorno dos Rolling Stones ao Hyde Park



Blu-Ray/ DVD /CD
Sweet Summer Sun: Hyde Park Live (Eagle Rock)
2013



Banda inglesa lança mão de seu arsenal de clássicos para uma plateia sempre ávida para ouvi-los


Em 2013, exatos 44 anos após a histórica apresentação — registrada no DVD Stones In The Park — em memória de Brian Jones, um dos fundadores do grupo, os Rolling Stones fizeram o seu retorno triunfal ao Hyde Park londrino em dois espetáculos. A versão áudio foi lançada no dia 22 de julho, exclusivamente em formato digital, através do iTunes. Já a versões Blu-Ray, DVD e CD duplo chegaram ao mercado no final de novembro, sob o título Sweet Summer Sun: Hyde Park Live — porém, ainda sem lançamento nacional.

Novidades? Apenas a (boa) “Doom And Gloom”, uma das duas inéditas da compilação Grrrr, editada em 2012. Mas... quem se importa? A exemplo de Paul McCartney e Bob Dylan, os Stones possuem um vasto arsenal de clássicos — e um público sempre ávido para ouvi-los. 

A audiência, aliás, é peça-chave em Sweet Summer Sun. Na competente filmagem estilo concert film, a plateia aparece tanto quanto os próprios músicos. Sendo assim, é possível observar pessoas de todas as idades, absolutamente extasiadas com a performance irrepreensível da Maior Banda de Rock And Roll do Mundo.

A infalível “Start Me Up” abre os trabalhos, seguida por “It's Only Rock N'Roll (But I Like It)”. No telão, a menção respeitosa a figuras mitológicas do rock e dos blues, como Chuck Berry, B. B. King e Jerry Lee Lewis, entre outros. Resultado: já na segunda música, a turba estava “na mão” dos Stones. E com justiça: afinal, pela música e por todo o aparato, trata-se de um dos maiores espetáculos da Terra. 

A banda continua afiada como sempre. Mas é impossível não destacar a (sobrenatural) atuação de Mick Jagger. Aos 70 anos de idade, correndo por um palco gigantesco durante duas horas, ele não deixa transparecer, em momento algum, qualquer limitação física imposta pelo peso dos anos. E continua sendo o frontman impecável que todos conhecemos. Com o deboche habitual, não perdeu a chance de usar novamente, em “Honk Tonk Women”, a mesma bata — de senhora (!) — que vestiu no lendário show de 1969

Um dos pontos altos da apresentação é a épica “You Can't Always Get What You Want”, que, graças a um coral de 24 vozes (!), tem recriada a atmosfera gospel da gravação original, do álbum Let It Bleed, de 1969. E, claro, a participação do guitarrista Mick Taylor no blues “Midnight Rambler” — “duelando” com a harmônica de Jagger —, e no apoteótico final de “(I Can't Get No) Satisfaction”. Músico versátil e de técnica apurada, Taylor ingressou no grupo em 1969, substituindo o supracitado Brian Jones, e permaneceu até 1974.

Os Rolling Stones não pensam em aposentadoria. Aliás, prosseguem na turnê comemorativa de seus 50 anos de carreira, com datas agendadas na Austrália e na Ásia. Há, portanto, uma enorme probabilidade de a banda editar mais um audiovisual em 2014. Contudo, se os Stones decidissem não lançar mais nada, Sweet Summer Sun: Hyde Park Live teria sido um desfecho memorável para a sua brilhante trajetória.




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Veja o vídeo de “Jumpin' Jack Flash”, no qual — com o perdão do trocadilho infame — os Stones não deixam pedra sobre pedra:

Da série ‘Frases’: Confúcio

Se você não conhece o filho, olhe para o seu pai; se você não conhece uma pessoa, olhe para os seus amigos; se você não conhece o imperador, olhe para os seus súditos; se você não conhece o terreno, olhe para o capim que nele cresce.


Do filósofo chinês Confúcio (551 a.C. — 479 a.C.), cujos pensamentos permanecem tão relevantes quanto no tempo em que viveu.




quarta-feira, novembro 20, 2013

Não foi por acaso que Paul McCartney batizou seu novo álbum de ‘New’



CD
New (Universal Music)
2013


Sob a batuta de quatro (!) jovens produtores, ex-Beatle ‘atualiza’ o seu som


Embora não tenha parado de excursionar ao redor do planeta — e tenha lançado em 2012 o sofisticado Kisses On The Bottom, disco de standards americanos da década de 1930 e 1940 —, o mais recente trabalho de inéditas de Sir Paul McCartney, o bom Memory Almost Full, fora lançado em 2006. Após seis anos, o baixista ressurge com New, gravado entre Londres e Los Angeles, em cinco estúdios.

As sessões de New tiveram a particularidade de terem sido pilotadas por quatro (!) jovens produtores: Ethan Johns, produtor do Kings of Leon e filho de Glyn Johns, engenheiro de som que trabalhou em discos dos Beatles e dos Wings; o DJ Mark Ronson, responsável pelo ótimo Back to Black, de Amy Winehouse; Paul Epworth, um dos produtores do cavalo-de-vendas 21, de Adele; e Giles Martin, filho de ninguém menos do que o eterno produtor dos Beatles, Sir George Martin. Em entrevistas recentes, McCartney explicou que tentou trabalhar com profissionais diferentes justamente para ver qual deles mais o agradava. E acabou gostando de todos.

As oito mãos que produziram o álbum construíram uma sonoridade, com o perdão do trocadilho, “renovada”, contemporânea para as doze faixas — quatorze na versão Deluxe — que compõem o trabalho. E indicam que o ex-Beatle, embora orgulhoso de sua (soberba) trajetória, não deseja se tornar, musicalmente, “uma relíquia do passado”. Traduzindo: aos 71 anos, Paul ainda está “na pista”. E a ação do tempo em sua voz é perceptível somente em alguns momentos de uma única faixa, a nostálgica — e tocante — balada country “Early Days”.  



‘Moderno’, mas sem se ‘desvirtuar’

As guitarras da introdução de “Save Us”, pulsante pop rock que abre a bolacha, fazem com que o ouvinte se pergunte se realmente colocou o “disco certo” para tocar. Até que uma voz para lá de familiar coloca as coisas nos seus devidos lugares.

Sons eletrônicos caracterizam “Road”, a ousada Appreciate” eLooking At Her” — e remetem ao ótimo Electric Arguments [2008], fruto de seu projeto paralelo The Fireman —, mas sempre com muito critério, sem jamais “desvirtuar” a essência da musicalidade de McCartney.

E o autor de “Silly Love Songs”, que domina como poucos os cânones da canção pop, continua hábil em criar melodias assobiáveis com a naturalidade de quem bebe um copo d'água. Ótimos exemplos são “On My Way To Work”, a maravilhosa “Alligator”, “I Can Bet” e a melancólica balada acústica “Hosanna”.

A primeira música de trabalho foi a infecciosa faixa-título, que simplesmente nasceu clássica. E que é fortíssima candidata a integrar qualquer futura coletânea do músico.

New está no (bom) nível dos trabalhos de Paul McCartney nos últimos 20 anos — seu último disco mediano, Off The Ground, foi lançado exatamente em 1993. Só nos resta, portanto, agradecer pelo simples fato de ele estar... vivo. E continuar nos brindando com a sua imorredoura música.



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Para o vídeo de “Quennie Eye”, segundo single de New, McCartney recrutou um verdadeiro exército de celebridades. Dá até para brincar de adivinhar os figurões: Johnny Depp, Meryl Streep, Sean Penn, Jeremy Irons, Jude Law, Kate Moss... E vale frisar que “Quennie Eye” é o nome de uma brincadeira que era muito popular em Liverpool, durante a infância de Paul:





A improvisada versão acústica de “New” — com direito a um belo arranjo vocal dos quatro (felizardos) membro de sua banda —, escancara a habilidade do ex-Beatles em engendrar melodias memoráveis. Vale a pena conferir:


sexta-feira, novembro 08, 2013

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Saturn’, de Stevie Wonder



Wonder apresentará, em um concerto beneficente (...), na íntegra, pela primeira vez, aquele que provavelmente é o melhor título de sua extensa discografia: o estupendo Songs In The Key Of Life, de 1976




Aproveitando o ensejo, relembramos o monumental Songs In The Key Of Life [acima, a capa], em uma faixa que, embora não tenha se tornado um hit, é uma das mais emocionantes não apenas do álbum, mas da carreira do músico: “Saturn”. 

Na letra, escrita pelo guitarrista Mike Sembello, o planeta Saturno é uma metáfora para Saginaw, cidade natal de Stevie Wonder. Além de ser um libelo contra a violência e pela paz entre os homens, “Saturn” fala do desejo de retornar a um lugar idílico e acolhedor, onde permanecem as nossas “raízes” — e a nossa inocência perdida. 

E no qual se tem a sensação de estar “a salvo” das mazelas do mundo adulto. 



Da série ‘Curiosidades’: ‘Balada do Louco’, dos Mutantes, e ‘Saturn’, de Stevie Wonder



Curiosamente, “Saturn”, de Stevie Wonder, e “Balada do Louco”, d'Os Mutantes, possuem versos de significados semelhantes. Em um determinado trecho, a canção do grupo paulistano diz: “Se eles têm três carros, eu posso voar”. E a composição do multi-instrumentista americano parece concordar: “Não precisamos de carros porque aprendemos a voar” (“Don't need cars cause we've learn to fly”). 

Mas é importante frisar que “Balada...”* foi lançada quatro anos antes de “Saturn”, no álbum Mutantes e seus Cometas no País do Baurets, de 1972 [acima, a capa].



* Composta a quatro mãos por Arnaldo Dias Baptista e Rita Lee, a belíssima “Balada do Louco” fala sobre... amor-próprio. Ou seja, sempre haverá alguém melhor do que cada um de nós, em todos os aspectos. Mais bem-sucedido. Mais inteligente. Mais bonito. Enfim, isso é um fato. Essa constatação, no entanto, não pode, em hipótese alguma, abalar a autoestima e o bem-estar de quem quer que seja. Mesmo que, para alguns, isso possa parecer... loucura.




Veja a comovente versão extraída do DVD Mutantes Ao Vivo — Barbican Theatre, Londres, de 2006, no qual Sérgio Dias, além da ótima interpretação, mostra por que é um dos melhores guitarristas brasileiros de sempre:

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘The Dark Side Of The Moon’, do Pink Floyd



“...a exemplo do que fez o Pink Floyd em 1995, ao regravar ao vivo o clássico The Dark Side Of The Moon no álbum P.U.L.S.E...”




Por sinal, o atemporal The Dark Side Of The Moon [acima, a capa], do Pink Floyd, está completando 40 anos de lançamento em 2013. E permanece respeitado e influente como sempre. 

Quatro décadas depois, tudo já foi dito sobre essa obra-prima. E você pode ser ouvi-la, na íntegra, no vídeo abaixo:


sexta-feira, novembro 01, 2013

Stevie Wonder lançará dois (!) álbuns em 2014



Sem editar um disco de inéditas há exatos oito anos — o mais recente foi A Time To Love, de 2005 —, Stevie Wonder anunciou que lançará não um, mas dois (!) álbuns em 2014. Seus respectivos títulos são When The World Began e Ten Billion Hearts. Divorciado da estilista Kai Millard Morris, com quem foi casado durante 11 anos, o artista conta que as suas novas composições falam sobre “família, mudança, crescimento e corações partidos”.

No repertório, além de faixas escritas recentemente, Wonder — que afirmou estar “ouvindo muito rap” — pretende incluir uma faixa que compôs aos 13 anos de idade. Além disso, o autor de “Superstition” pretende regravar alguns de seus sucessos, com o acompanhamento de uma orquestra.

Stevie também revelou ter a intenção de gravar um terceiro (!) álbum, apenas de canções religiosas, intitulado Gospel Inspired by Lula, cumprindo a promessa que fez à sua mãe, falecida em 2006.

No entanto, ainda este ano, Wonder apresentará, em um concerto beneficente — a ser realizado em Los Angeles, no dia 21 de dezembro —, na íntegra, pela primeira vez, aquele que provavelmente é o melhor título de sua extensa discografia: o estupendo Songs In The Key Of Life, de 1976, que traz pérolas como “Isn't She Lovely”, “I Wish” e “Sir Duke”, entre outras. 

Resta torcer para que o cantor lance o espetáculo em DVD e Blu-ray — a exemplo do que fez o Pink Floyd em 1995, ao regravar o clássico The Dark Side Of The Moon, de 1973, no álbum ao vivo P.U.L.S.E..

quinta-feira, outubro 31, 2013

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Ghost Song’, do The Doors



Impossível falar em grandes letristas do rock, como Bob Dylan, Leonard Cohen e o recém falecido Lou Reed, sem mencionar Jim Morrison (1943 — 1971), ex-vocalista do The Doors. Por sinal, no caso dele, a palavra “poeta” não se aplicava como adjetivo — mas como substantivo: Morrison, de fato, escrevia poesias.

Por sinal, em 1978, sete anos após o seu precoce desaparecimento, os membros sobreviventes da banda — o tecladista Ray Manzarek, o guitarrista Robby Krieger e o baterista John Densmore — decidiram musicar alguns poemas do Rei Lagarto que haviam sido recitados pelo próprio, entre 1969 e 1970. Daí surgiu o... digamos assim, incomum álbum An American Prayer [acima, a capa].

O destaque desse disco é “Ghost Song”, na qual Manzarek, Krieger e Densmore conseguem criar uma interessante “moldura sonora” para as delirantes divagações do bardo.



Os versos de “Ghost Song” citam, ainda que nas entrelinhas, uma experiência que Morrison teve durante a sua infância. Certa vez, ele e sua família dirigiam por uma estrada deserta dos Estados Unidos e viram um terrível acidente ocorrido poucos momentos antes: dois caminhões com trabalhadores indígenas colidiram, causando várias vítimas fatais. Desde então, o vocalista passou a acreditar que as almas dos nativos acidentados “saltaram para dentro de sua alma e permaneceram lá”. Vai entender... 

domingo, outubro 27, 2013

Lou Reed (1942 — 2013)



Com seu singular estilo “falado” de cantar — como se estivesse sempre contando uma estória —, Lou Reed escreveu excelentes “crônicas do submundo” como “Vicious”, “Heroin”, “Waiting For The Man” e, claro, “Walk On The Wild Side”. Ao lado de Bob Dylan e Leonard Cohen, destacou-se, sem sombra de dúvida, como um dos mais brilhantes letristas que o rock já teve.

O ex-vocalista do Velvet Underground faleceu hoje, aos 71 anos, cinco meses após ter sido submetido a um transplante de fígado. E o seu maior legado foi, a exemplo dos supracitados Dylan e Cohen, provar que letras de música podem, sim, ser tão relevantes e profundas quanto livros de poesia. 



A minha preferida do bardo: a doce — e, ao mesmo tempo, ácida — “What's Good (The Thesis)”, do conceitual (e ótimo) álbum Magic And Loss, de 1992.

Da série ‘Frases’: Lou Reed


You're going to reap just what you sow.”

(Da bela — porém cínica — “Perfect Day”, faixa de Transformer, segundo álbum solo de Lou Reed, lançado em 1972.)




terça-feira, outubro 08, 2013

Inaugurando a série ‘Curiosidades’: ‘Everybody Laughed But You’ e ‘January Stars’, de Sting



Ainda sobre Sting: “Everybody Laughed But You” é uma obscura — porém interessante — canção que integra o repertório de Ten Summoner's Tales [acima, a capa], de 1993, quarto disco solo de estúdio do músico inglês. Por alguma razão, foi excluída nas versões do álbum lançadas nos Estados Unidos e no Canadá — sendo alocada, naqueles dois países, no lado B do primeiro single de trabalho, “If I Ever Lose My Faith In You”.

E ocorre que o ex-Police decidiu aprontar uma. Aproveitou somente a melodia do refrão e a base instrumental da gravação de “Everybody...” e escreveu uma nova melodia, acompanhada de uma letra completamente diferente. Assim nasceu “January Stars”, que chegou às prateleiras como lado B de “Seven Days”, segundo single de Ten Summoner's Tales.

O resultado? Confiram e escolham a sua preferida:



Everybody Laughed But You



January Stars

Da série ‘Frases’: William James

A arte de ser sábio consiste em saber o que ignorar”.


Do psicólogo e filósofo americano William James (1842 — 1910).


‘A Conspiração Franciscana’, de John Sack



Ainda sobre São Francisco de Assis: o (ótimo) livro A Conspiração Franciscana, lançado em 2007 — mas que, reconheço, li somente em 2012 — aborda, ainda que indiretamente, a biografia do patrono dos animais e da natureza.

Escrito pelo americano John Sack, Conspiração... gira em torno de Conrad de Offida, frade franciscano que vivia recluso nas montanhas e que recebeu, através de um jovem mensageiro, a carta de despedida que o Irmão Leo, discípulo e amigo inseparável de Francisco, escreveu antes de morrer. 

O pergaminho em questão continha uma mensagem codificada, indicando que a Igreja teria ocultado, entre outros detalhes referentes à vida do santo, o seu verdadeiro local de sepultamento (!). Preocupado com os desdobramentos da carta, o frade abandona o seu isolamento para tentar elucidar estes mistérios.

Embora seja uma obra de ficção, o romance — que alterna suspense, humor e trechos realmente tocantes — foi baseado em fatos reais. Além dos supracitados Conrad e Leo, o Papa Gregorio X e o poeta Jacopone Da Todi realmente existiram. Recomendo.

sábado, outubro 05, 2013

A (surpreendente) filiação de Marina Silva ao PSB

Marina Silva e Eduardo Campos: a provável chapa do PSB para as eleições presidenciais de 2014

Já faz algum tempo que não temos postagens sobre política aqui no blog. Sendo assim, retomemos o tema — visto que o momento mostra-se oportuno.

A bem da verdade, é prematuro fazermos qualquer tipo de conjectura agora, faltando ainda doze meses para as próximas eleições presidenciais. Contudo, a (surpreendente) filiação de Marina Silva ao PSB — e o consequente apoio à candidatura do governador de Pernambuco, Eduardo Campos —, nos trazem indícios do que pode vir a ocorrer no ano que vem.

Muito provavelmente a ex-senadora será a vice de Campos. E, salvo alguma anormalidade, a chapa tem, matematicamente, gigantescas possibilidades de estar no segundo turno, disputando com a atual presidente.

Façam as suas apostas.

sexta-feira, outubro 04, 2013

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Oração de São Francisco’, com Fagner



Embora a sua autoria seja frequentemente atribuída ao próprio santo, a Oração de São Francisco de Assis — também conhecida como Oração da Paz — apareceu pela primeira vez em um boletim espiritual em Paris, em 1912. O autor é desconhecido.

Quatro anos depois, foi impressa em Roma, em uma folha em cujo verso aparecia a imagem de Francisco. Considerando que a oração, de fato, reflete com fidelidade os ideais franciscanos, é fácil compreender o motivo da associação.

Fundador da Ordem dos Frades Menores — também chamada como Franciscanos —, São Francisco é tido por muitos como a segunda figura mais importante do Cristianismo. Pelo seu apreço à natureza, passou a ser considerado o patrono dos animais e do meio ambiente. Seu dia comemora-se precisamente hoje, 04 de outubro.


***


Em seu álbum O Quinze, de 1989, Raimundo Fagner gravou uma (boa) versão para a oração, que foi musicada em 1968 pelo padre paraguaio Casimiro Irala.




Veja o vídeo da versão de Fagner para “Oração de São Francisco”, gravado durante uma apresentação do cantor no Teatro Guaíra, em Curitiba, em dezembro de 2012:

terça-feira, setembro 24, 2013

Em ‘The Last Ship’, Sting ‘navega’ distante do pop


CD
The Last Ship (Cherrytree/Interscope/A&M Records)
2013


Ex-Police edita o seu primeiro álbum de inéditas em uma década

Nos últimos dez anos, até que Sting trabalhou um bocado. Em 2004, lançou a sua (excelente) autobiografia, Fora do Tom, e rodou o mundo até o ano seguinte com a turnê batizada com o nome do livro (Broken Music). Em 2006, na companhia do músico bósnio Edin Karamazov, editou Songs From The Labyrinth, o disco de alaúde mais vendido de todos os tempos. Entre 2007 e 2008, realizou uma (surpreendente) turnê mundial ao lado do Police, que acabou gerando CD/DVD/Blu-ray ao vivo, Certifiable. Já em 2009, deixou a barba crescer e lançou o belo e introspectivo If On a Winter's Night..., composto apenas  por canções invernais. Por fim, em 2010, acompanhado por uma orquestra sinfônica, releu o seu cancioneiro em Symphonicities, que também gerou o audiovisual ao vivo Live In Berlin. Entretanto, apenas de tanta labuta, o fato é que o último disco de inéditas do baixista — o bom Sacred Love — chegou às prateleiras em 2003. Há exatos... dez anos (!).

Rompendo o silêncio autoral, Sting — após um processo criativo que lhe rendeu quase três anos (!) de “imersão” — ressurge com The Last Ship, lançado mundialmente hoje, 24 de outubro de 2013. O trabalho, na verdade, é a trilha sonora do musical homônimo, que marcará a sua estreia na Broadway. O tema do espetáculo é a derrocada da indústria naval de Newcastle, sua cidade natal, situada ao norte da Inglaterra, ocorrida na década de 1980. E, embora a peça só entre em cartaz em 2014, o músico, com astúcia, lançou o disco um ano antes, para que o público se “familiarizasse” com as canções — a maior parte delas, de uma forma ou de outra, fala sobre rios, marés, barcos e quetais.

Ambicioso, o álbum está disponível em quatro formatos: CD simples, vinil — ambos com 12 faixas — e CD duplo com 17 ou 20 músicas.



Nenhum sinal do autor de ‘If I Ever Lose My Faith In You’ 

Primeiramente, é essencial frisar que, em The Last Ship, não há o mais remoto vestígio do pop de “If I Ever Lose My Faith In You” ou “Every Breath You Take”. Sendo assim, é recomendável que aqueles que procuram essa faceta do artista mantenham distância segura deste trabalho. O Sting que se faz presente se assemelha, na verdade, ao autor das bucólicas “Fields Of Gold” [1993] e “The Ghost Story” [1999].

Musicalmente, contudo, o disco é bem variado. A épica faixa-título, que abre os trabalhos, apresenta clara influência celta, com direito, inclusive, a gaita de fole — e o instrumento, por sinal, volta a aparecer em “Ballad Of Great Eastern” e na também celta “What Have We Got?”, dueto com o ator-cantor inglês Jimmy Nail. Curiosamente, em vários momentos do álbum, Sting, pela primeira vez em toda a sua discografia, evoca o sotaque típico de Newcastle — o chamado Novocastrian.

No quesito letra, o compositor continua afiado. O acalanto “August Winds”, estruturado em um violão de nylon, remete aos questionamentos dos versos de “Shape Of My Heart” [1993] — inclusive, volta a falar em “máscara”. Já a valsa (!) “The Night The Pugilist Learned How To Dance” é de cortar o coração: conta a estória de um jovem pugilista de 15 anos — com seu “nariz quebrado” e “orelha de couve-flor” — que decide aprender a dançar para conquistar a sua amada. Cole Porter provavelmente aprovaria.

Outro grande momento é a delicada-porém-impactante “I Love Her But She Loves Someone Else”, em que o eu-lírico é um homem de idade avançada que, confrontado com a perspectiva de sua “mortalidade”, relembra o passado e seus revezes. E conclui: “Esqueci o primeiro mandamento do manual do realista: ‘Não se deixe enganar por ilusões que você mesmo criou’...”.



Do início ao fim, alto nível lírico e musical

A primeira faixa de trabalho foi a minimalista “Practical Arrangement”, possivelmente uma das menos óbvias letras românticas já escritas no cancioneiro popular mundial. Já o segundo single de trabalho é a (espirituosa) bossa nova “And Yet”, que conta com discretas (e precisas) intervenções de seu fiel escudeiro, o guitarrista Dominic Miller. Trata-se da melhor música do disco.

Ainda que um tanto hermético, o trabalho mantém, do início ao fim, alto nível lírico e musical. E reafirma que, artisticamente, o único “compromisso” do ex-Police, prestes a completar 62 anos de idade — e ainda com a voz “em dia” — é consigo próprio. Vale lembrar, no entanto, que The Last Ship é uma trilha sonora. Portanto, seria agradável ouvir, depois de tanto tempo, um disco com canções de Sting que não estivessem “vinculadas” a uma determinada temática.



Leia também:




Veja o vídeo da bossa nova “And Yet”, segundo single de The Last Ship, extraído do programa Later... with Jools Holland...





...e também da magnífica valsa (!) “The Night The Pugilist Learned How To Dance”, em vídeo extraído do programa Le Grand Studio, da TV francesa RTL: