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terça-feira, outubro 13, 2015

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘On An Island’, de David Gilmour



“(...) Rattle That Lock não supera seu antecessor.



O terceiro álbum de David Gilmour, On An Island [no detalhe, capa], de 2006, é, disparado, o mais coeso trabalho de sua (escassa) discografia longe do Pink Floyd. Contudo, não se trata de um CD “fácil” à primeira audição. Somente pouco a pouco o ouvinte consegue desvendar toda a sua magia.

Apenas uma faixa emula a sonoridade grandiloquente de sua antiga banda, o vigoroso rock “Take A Breath”. Nas nove faixas restantes, Gilmour optou por uma atmosfera etérea, serena, proporcionando 55 minutos de pura paz de espírito.

Além da ótima faixa-título, os pontos altos são o blues “This Heaven” e as estupendas “The Blue”, “Smile” e “When We Start”, que encerra o CD deixando uma sensação de “puxa mas, já acabou?” Vale frisar que, na instrumental “Red Sky At Night”, David deu-se ao luxo de gravar profissionalmente pela primeira vez como… saxofonista (!).

A resenha de On An Island pode ser conferida aqui. Devo reconhecer que o aprecio muito mais agora do que naquela época.



Veja o vídeo de “On An Island”, que conta com a presença de Graham Nash e David Crosby — que também participaram da gravação original —, extraído do DVD Remember That Night, de 2007:



Veja também o vídeo (gravado ao vivo no lendário estúdio de Abbey Road) da terceira faixa do álbum, “The Blue”, que traz um dos mais estupefacientes solos de guitarra de toda a sua carreira. Observem, no final, o sorrisinho maroto de Gilmour, como se dissesse: “toco muito”

sábado, fevereiro 22, 2014

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘MTV Unplugged’, de Eric Clapton



DVD /CD
MTV Unplugged (Warner)
1992 (versão Deluxe lançada em 2013)


A reedição revista e ampliada de um clássico

Em 1992, Eric Clapton colhia os louros de sua faixa de maior êxito, o réquiem “Tears In Heaven” — composta em memória de seu filho Conor, que caiu de um prédio em Manhattan quatro anos de idade —, faixa que integrou a trilha sonora do filme Rush — Uma Viagem ao Inferno. E foi vivenciando o paradoxo entre o sucesso e a perda pessoal, que Clapton encarou o projeto MTV Unplugged, gravado em Londres. Confirmando o bom momento profissional do guitarrista inglês, o álbum, além de arrebanhar nada menos do que seis (!) Grammys, vendeu dez milhões de cópias somente nos EUA, tornando-se o seu título mais bem-sucedido comercialmente.

Embora tenha regravado “Tears In Heaven” e incluído uma (desfigurada) versão de seu clássico “Layla”, Clapton engendrou um repertório praticamente sem “concessões”. Ficaram de fora cavalos-de-batalha como “Wonderful Tonight” e “Bell Bottom Blues”, assim como regravações de sucesso como “Cocaine” (de J. J. Cale) e “I Shot The Sheriff” (Bob Marley).

Sendo assim, o guitarrista incluiu, entre outras, duas inéditas (“Lonely Stranger” e a instrumental “Signe”, que abre os trabalhos), além de duas faixas de seu (então) último álbum de estúdio, Journeyman [1989] (“Running On Faith” e “Old Love”). E, como não poderia deixar de ser, uma boa dose de covers de blues: de Bo Didley (“Before You Accuse Me”) a Muddy Waters (a improvisada versão de “Rollin' And Tumblin'” que encerra o espetáculo com descontração), passando, claro, pelo “patrono” do gênero, Robert Johnson (“Malted Milk” e “Walkin' Blues”).

No finalzinho de 2013, 21 anos após o seu lançamento, MTV Unplugged recebeu uma caprichada versão Deluxe, englobando CD — acrescido de um CD-bônus — e DVD, devidamente remasterizados, no mesmo box. Nos extras do DVD, a “cereja o bolo”: Clapton e banda repassam o set inteiro durante um ensaio, incluindo duas canções que acabaram incluídas da seleção final, “My Father's Eyes” e “Circus”.

Mesmo para quem já possui a versão original de 1992, o investimento vale a pena. E quem aprecia o trabalho de Eric Clapton, mas ainda não conhece esse álbum... não perca tempo. 





Leia também:






Excluída do repertório do MTV Unplugged, My Father's Eyes” fala sobre o pai de Clapton, falecido em 1985, que o músico jamais conheceu. Lançada somente no (ótimo) Pilgrim, de 1998, ganhou o Grammy de Melhor Performance Vocal Masculina daquele ano:





Batizada inicialmente de “The Circus Left Town”, “Circus” também acabou ficando de fora do álbum — e, a exemplo de “My Father's Eyes”, também viu a luz do dia no supracitado Pilgrim. A letra menciona o último programa que Clapton fez com o filho — uma ida ao circo. Em uma de suas canções mais tocantes, o guitarrista finaliza: “Homenzinho, com seu coração tão puro / e o seu amor tão bom / fique comigo e eu passearei com você / até o fim do caminho. / Segure a minha mão e eu caminharei com você / através da noite mais escura. / Quando eu sorrir, estarei pensando em você / e tudo vai dar certo”:

sexta-feira, novembro 08, 2013

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘The Dark Side Of The Moon’, do Pink Floyd



“...a exemplo do que fez o Pink Floyd em 1995, ao regravar ao vivo o clássico The Dark Side Of The Moon no álbum P.U.L.S.E...”




Por sinal, o atemporal The Dark Side Of The Moon [acima, a capa], do Pink Floyd, está completando 40 anos de lançamento em 2013. E permanece respeitado e influente como sempre. 

Quatro décadas depois, tudo já foi dito sobre essa obra-prima. E você pode ser ouvi-la, na íntegra, no vídeo abaixo:


quarta-feira, julho 10, 2013

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘As Canções que Você Fez para Mim’, de Maria Bethania



Antes de Lulu Santos, apenas Maria Bethania, há exatos 20 anos — com o ótimo As Canções que Você Fez para Mim — havia recebido a deferência de gravar um álbum inteiro dedicado à obra de Roberto e Erasmo Carlos.




Com um milhão de cópias vendidas, As Canções que Você Fez para Mim* foi uma ideia que partiu da gravadora da qual Maria Bethania era contratada na ocasião, a Polygram — atual Universal Music. O repertório, entretanto, foi selecionado pela cantora. 

Ao contrário de Lulu Santos — que optou por faixas lançadas até a primeira metade dos anos 1970 —, Bethania baseou as suas escolhas entre a segunda metade da década de 1970 e primeira dos anos 1980. O resultado? Um disco excelente da primeira à penúltima música — a exceção é “Emoções”, que encerra os trabalhos, a canção que intérprete algum deveria perder tempo em tentar regravar...

Destaque para “Olha” [1975], “Eu Preciso de Você” [1981], a épica versão de “Fera Ferida” [1982] — que tornou-se tema da homônima novela global — e, especialmente, a faixa-título, em registro amplamente superior ao original, lançado por Roberto Carlos em 1968.



* Ouça As Canções que Você Fez para Mim, na íntegra, aqui.

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘Meia Noite’, de Edu Lobo



CD
Meia Noite (Velas)
1995 (reeditado pela Biscoito Fino em 2011)


Por José Luiz Coelho de Andrade*



Lançado originalmente em 1995, o CD Meia Noite, de Edu Lobo, possui inúmeras virtudes. A maior delas é nos presentear com uma verdadeira antologia da magnífica obra desse compositor. Ademais, os arranjos são primorosos: o bom gosto do maestro Cristóvão Bastos reflete-se principalmente no uso inspirado das cordas. A voz de Edu pode não ser tão redonda quanto gostaríamos, mas este detalhe é compensado pela solenidade e dignidade de seu timbre singular. É a voz inconfundível de um artista íntegro, que jamais se rendeu aos apelos comerciais e à mediocridade.

Mencionemos apenas algumas faixas — os pontos altos do disco —, joias inestimáveis de nossa riquíssima música popular brasileira. A primeira canção, composta por Edu com letra de Chico Buarque, é uma obra-prima: “O Circo Místico”. Trata-se de um raro exemplo de canção metafísica, que já começa de modo belíssimo e sutil: “Não sei se é um truque banal/ se um invisível cordão/ sustenta a vida real”. Numa outra passagem, Chico indaga: “Não sei se é nova ilusão/ se após o salto mortal/ existe outra encarnação”.

A quarta faixa, “Beatriz”, é um clássico absoluto, e ficou mais conhecida pela interpretação sublime de Milton Nascimento na trilha do musical O Grande Circo Místico. É evidente a correlação com a Beatriz da Divina Comédia, de Dante: o poema fala de uma mulher etérea, mistura de musa e sacerdotisa. “Me ensina a não andar com os pés no chão”, suplica o poeta Chico, como se essa mulher especial pudesse iniciá-lo num processo de elevação. E mais adiante, o verso inesquecível: “Diz se é perigoso a gente ser feliz”.

Só Me Fez Bem”, a sexta faixa, é uma canção mais antiga de Edu, parceria sua com Vinicius de Moraes. O casamento entre música e letra é perfeito. Vinicius tinha essa capacidade de encaixar as palavras magicamente. O “poeta da paixão”, docemente melancólico, podia dizer naturalmente coisas como “é melhor viver / do que ser feliz”. Essa pérola do jovem Edu Lobo pode ser comparada com “Coração Vagabundo”, de Caetano Veloso — duas canções igualmente simples e geniais.

Sobre Todas as Coisas” (faixa 7) também faz parte de O Circo Místico, e recebeu, no disco original, uma emocionada interpretação de Gilberto Gil. A letra impecável de Chico Buarque fala do movimento cósmico (“Estrelas percorrendo o firmamento em carrossel”) e reflete sobre o Deus “que criou o nosso desejo”.

Quanto a “Canto Triste”, a oitava faixa, é até difícil dizer alguma coisa: estamos diante de uma das canções mais extraordinárias que já foram feitas. Só nos resta reverenciar o lirismo da música e da letra de Vinicius. O filósofo e poeta Francisco Bosco, filho de João Bosco, tem toda razão quando diz que, “no fundo, não existe canção triste”: triste mesmo é a ausência da poesia e da beleza.

Passamos então à faixa 10, “Candeias”, composta solitariamente por Edu, que ficou conhecida através de Domingo, disco histórico de Gal e Caetano. No álbum de estreia de ambos, fizeram um trabalho maravilhoso, com a pureza e a limpidez dos inícios. “Candeias” tem o sabor de um acalanto: é música que nos acaricia e possibilita o repouso verdadeiro, aquele descanso que raramente desfrutamos.

E, por fim, Dori Caymmi canta “Pra Dizer Adeus”, letra de Torquato Neto. Mais um clássico de Edu, que Dori interpreta com a sua voz grave e profunda, correspondendo plenamente à densidade emocional da canção.

O único momento do disco dedicado a um outro compositor é “Estrada Branca”, de Antonio Carlos Jobim. É uma homenagem mais do que merecida: um gigante celebra um deus, digamos assim. Afinal, Jobim é um arquétipo, um modelo, um homem que nasceu para gerar música, a tal ponto que é impossível imaginar o mundo sem o que ele produziu. A propósito, cabe lembrar que Jobim e Edu gravaram juntos, em 1981, um belo disco — sintomaticamente batizado de Edu & Tom.




* JOSÉ LUIZ COELHO DE ANDRADE é professor de filosofia e biodança. E sua colaboração enche de orgulho este blog.

terça-feira, março 30, 2010

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘Songs From The Last Century’, de George Michael


CD
Songs From The Last Century (Virgin)
1999


Na virada do século, cantor arriscou-se em um repertório de ‘standards’. E saiu-se muito bem

Em 1999, George Michael decidiu “se presentear” com um projeto especial: um disco de crooner. E não fez por menos: no repertório de Songs From The Last Century, o cantor inglês reúne, em sua maioria, imorredouros standards norte-americanos. E o que poderia resultar em um desastroso “turismo aprendiz”, acabou rendendo um CD classudo, com um indisfarçável acento jazzístico.

Cantando simplesmente o fino na ocasião, GM não se intimidou diante do risco de reler faixas eternizadas por monstros sagrados como Frank Sinatra e Nina Simone. Aventurou-se, inclusive, em arranjos de big band, como é o caso de “My Baby Just Cares For Me”, “Secret Love” e “Brother Can You Spare A Dime?”. E saiu-se muito bem.

Songs From The Last Century foi produzido pelo experiente Phil Ramone, que já pilotou álbuns de artistas do calibre de Ray Charles, Quincy Jones, Bob Dylan e do já mencionado Sinatra, entre outros. E, com ele, era clara a intenção de George Michael de se distanciar ainda mais da imagem do rebolativo cantor de “Faith”.

Como recomendou o próprio George, no título de seu segundo álbum solo, de 1990: ouça sem preconceito.

‘Brother Can You Spare A Dime?’, ‘Roxanne’ e ‘You've Changed’

Brother Can You Spare A Dime?

Brother Can You Spare A Dime?”, escrita em 1931, foi uma das mais conhecidas canções americanas do período conhecido como “Grande Depressão”, que atingiu o planeta durante a década de 1930.

A letra mostra a visão de um operário que, através de seu trabalho, ajuda a trazer o progresso, mas não usufrui dele: “Certa vez, construí uma ferrovia / fiz com que ela seguisse / fiz com que ela corresse contra o tempo. / Certa vez, construí uma ferrovia / e, agora, ela está feita. / Amigo, pode me arranjar dez centavos?

Bing Crosby, Tom Waits, Barbra Streisand e Tom Jones são alguns dos artistas que já gravaram esta faixa.




Roxanne

Roxanne”, do Police [foto], foi vestida por George Michael com uma roupagem cool jazz. Chet Baker ficaria orgulhoso.

A estória do indivíduo que se apaixona por uma profissional do sexo – e tenta demovê-la da ideia de prosseguir neste ofício – ganhou elegância.

Inclusive, o próprio Sting, autor de “Roxanne”, regravou a canção em seu CD ao vivo ...All This Time, de 2001 – ou seja, dois anos depois de Songs... –, com um arranjo intimista, que, em dado momento, assemelha-se bastante com o de GM [saiba mais aqui].

Curiosidade: no início do vídeo da canção – que pode ser visto logo abaixo –, há a informação que as gravações foram realizadas no bairro de Red Light, em Amsterdã, Holanda, famoso pelo sex trade. E que as pessoas envolvidas na filmagem não eram... er, atores...

Nos créditos, a notícia (verdadeira?) de que a protagonista do clip, Franciska – cujo nome “de guerra” é justamente... “Roxanne” – abandonara as ruas...




You've Changed

You've Changed” foi composta em 1941 e recebeu mais de trinta (!) gravações, de nomes que vão de Nat King Cole a Sarah Vaughan, passando por Marvin Gaye, Joni Mitchell e Diana Ross.

A versão mais conhecida, entretanto, é a de Billie Holliday, de 1958. “Você mudou / Você esqueceu as palavras ‘eu te amo’ / E cada memória que partilhamos / (...) Você não é mais o anjo que um dia conheci”, lamenta a desencantada letra.

‘My Baby Just Cares For Me’, ‘The First Time Ever I Saw Your Face’ e ‘Miss Sarajevo’

My Baby Just Cares For Me

Embora já tenha sido gravada por Mel Tormé, pelo supracitado Nat King Cole e até por Cyndi Lauper (!), a versão mais famosa de “My Baby Just Cares For Me” é a de Nina Simone, de 1958.

Em sua gravação, George Michael deixa no ar uma conotação... er, ambígua: no verso “Liz Taylor não faz o estilo dele / e nem o sorriso de Lana Turner”, troca o nome de Turner pelo de... Ricky Martin...




The First Time Ever I Saw Your Face

The First Time Ever I Saw Your Face” foi composta em 1957. A gravação mais bem sucedida é a de Robert Flack, de 1969: “A primeira vez em que vi o seu rosto / Pensei que o sol raiou em seus olhos. / A lua e as estrelas foram os presentes que você deu/ aos céus escuros e vazios”.

A (ótima) versão de George é provavelmente o momento mais tocante do álbum.




Miss Sarajevo


Miss Sarajevo” foi lançada pelo U2, na companhia do finado Luciano Pavarotti [no detalhe], no projeto especial Passengers: Original Soundtrack I, de 1995. A correta gravação de GM nada acrescenta à colaboração do grupo irlandês com o tenor italiano – embora tenha obtido relativo sucesso radiofônico.
O clipe mistura imagens de belas misses misturadas a cenas de guerra na capital da Bósnia.

‘I Remember You’, ‘Secret Love’ e ‘Wild Is The Wind’

I Remember You

Em 2011, “I Remember You” completará, pasmem, 70 anos de idade (!) – foi composta em 1941. De lá para cá, recebeu inúmeras versões, como a de Ella Fitzgerald e, mais recentemente, da supracitada Diana Krall.

George Michael optou por gravá-la de maneira suave, acompanhado apenas por uma harpa. Ficou bonito.




Secret Love

Escrita em 1953, “Secret Love” foi lançada em single por Doris Day naquele mesmo ano. Desde então, foi gravada por mais de uma dezena de artistas – entre eles, a canadense k. d. lang e Frank Sinatra.

Ao som de metais em brasa para Tony Bennett nenhum colocar defeito, George Michael... brilha. “Certa vez, tive um amor secreto / que vivia dentro de meu coração”, suspiram os ingênuos versos.

Em 1995, “Secret Love” recebeu uma versão em português de Dudu Falcão, chamada “Um Segredo e um Amor”, que foi registrada por Jorge Vercillo para a trilha da novela Cara e Coroa.




Wild Is The Wind

A primeira gravação de “Wild Is The Wind” foi de Johnny Mathis, em 1957, para a trilha sonora do filme homônimo. Em 1966, recebeu uma versão de Nina Simone, considerada a mais bem-sucedida.

A letra é pura paixão: “Você me toca – ouço o som de bandolins / Você me beija – com seu beijo, minha vida começa”.

Curiosidade: David Bowie [foto], fã de Nina, encontrou-se casualmente com a cantora em Los Angeles, na década de 1970. Desse encontro, o cantor inglês teve a ideia de regravar “Wild Is The Wind”. Sua (boa) releitura aparece no álbum Station to Station, de 1976.

‘Where Or When’ e ‘It's Alright With Me’

Where Or When

Where Or When”, de 1937, é uma criação da renomada dupla de compositores Richard Rodgers e Lorenz Hart.

Já foi regravada por mais de oitenta (!) artistas: de Sammy Davies Jr. a Bryan Ferry, passando por Jane Birkin e Ray Conniff, além do já mencionado Frank Sinatra [no detalhe]. Recentemente, recebeu um registro da canadense Diana Krall, em seu ótimo Quiet Nights, lançado no ano passado.

A letra é um tanto... er, mística – fala, de maneira cifrada, de “vidas passadas”: “Algumas coisas que acontecem pela primeira vez / parecem estar acontecendo novamente. / E parece que já nos encontramos antes / e rimos antes / e nos amamos antes / mas quem sabe onde e quando?

Uma faixa simplesmente impecável, digna do melhor do cancioneiro norte-americano. E que George Michael releu com competência.

It's Alright With Me

It's Alright With Me”, de Cole Porter, é a “faixa escondida” do CD – começa quase um minuto após o final de “Where or When”. O curioso é que, em um disco de crooner, ela aparece em uma versão... instrumental.

Bem, ele devia saber o “recado” que queria dar...

sábado, fevereiro 06, 2010

Da série ‘Discos para se Ter em Casa’: ‘Mondo Cane’, de Lulu Santos


Em 1992, Lulu Santos assinou com a antiga Polygram, atual Universal Music, e gravou aquele que, para muitos, é o seu melhor trabalho. Mondo Cane [no detalhe, a capa] trazia o pop que sempre caracterizou o músico, mas como uma certa... amargura nas letras.

Isso, sem contar as quatro faixas com guitarras pesadas – “Ecos do Passado”, “Fevereiro”, “Máquinas Macias” e a instrumental “Hormônios” –, que entusiasmaram público e crítica na ocasião.

Quando o álbum completou quinze anos de lançamento, escrevi um artigo para o jornal International Magazine, que você pode ler clicando aqui.

Portanto, com todos os méritos, Mondo Cane inaugura a série Discos para se Ter em Casa.

‘Um Vício’, ‘Cicatriz’ e ‘Foi Mal’

Na introdução curtinha, o ouvinte imagina tratar-se de uma canção para cima. Pista falsa. Desde os primeiros versos, “Um Vício” define o amor de modo cáustico: “O amor devia ser proibido / porque é uma droga pesada”. E prossegue: “E, com a mesma rapidez que você chega aos céus / o inferno passa a ser seu lar. (...) / O que era doce transformou-se em vinagre e ácido. / O que era úmido, da mesma forma. Agora é árido. / E o que antes era vivo já não pulsa mais – tornou-se uma assombração.”

Cicatriz” é um ska animadinho, cujo clipe tem a participação da Intrépida Trupe. Mas não se iludam com isso. A exemplo de “Um Vício”, a letra novamente fala de amor de uma maneira cáustica: “Eu te afoguei no líquido / desse pântano escuro que eu chamo de amor.” O refrão, contudo, expressa alguma esperança: “Ninguém me garante que eu vou ser feliz / mas ninguém me impede de tentar sê-lo.

Já “Foi Mal” é um pop típico de Lulu Santos. Mas com versos indisfarçavelmente desencantados. O clipe original, claramente inspirado no filme A Hard Day's Night [no detalhe], presta homenagem aos Beatles.



Um Vício



Cicatriz




Foi Mal


‘A Coisa Certa’, ‘Apenas Mais uma de Amor’ e ‘Ecos do Passado’

A Coisa Certa” emula o som das chamadas “bandas de franjinha” que surgiram aos montes em Manchester, Inglaterra, na década de 1990 – The Inspiral Carpets, Charlatans U.K. [no detalhe], etc. A letra baseia-se no interessante trocadilho com a palavra presente: “Quero lhe oferecer o meu presente / tomara que você aceite, e fique bem contente...” Observe: cantor refere-se ao tempo verbal...

A tocante moda-de-viola beatleApenas Mais uma de Amor” foi o hit solitário do álbum. E uma das mais belas canções da carreira de Lulu Santos. Dispensa apresentações.

Em “Ecos do Passado”, rock lento e pesado cujo riff se repete ad aeternum, o mondo cane começa a aparecer de verdade...



A Coisa Certa




Apenas Mais uma de Amor




Ecos do Passado

‘Fevereiro’, ‘Máquinas Macias’ e ‘Hormônios’


Lulu Santos caprichou nas guitarras na trinca “Fevereiro”, “Máquinas Macias” e “Hormônios”. Na primeira, descreve a Cidade Maravilhosa como um cenário dantesco: “Ar, é necessário respirar / sair debaixo dessas nuvens de metal / ferro fundido, enxofre e fel. / Ainda que seja fevereiro / em pleno Rio de Janeiro, exposto ao sol / como a carniça de um animal.”

A agressiva “Máquinas Macias” fala de sexo: “Máquinas macias, autolubrificantes / resfolegando a noite produzindo, produzindo.”

A instrumental “Hormônios” fecha o bloco. Destaque para a (ótima) bateria de Christiaan Oyens.



Fevereiro





Máquinas Macias




Hormônios

‘Aquela Vontade de Rir’, ‘Realimentação’ e ‘E Então? (Boa Pergunta)’

Composta por Zé Renato, ex-Boca Livre, em parceria com o diretor teatral Hamilton Vaz Pereira, “Aquela Vontade de Rir” é um momento de “calmaria” depois da... er, tempestade. Acompanhado apenas por teclados, Lulu Santos canta versos delicados: “Meus plenos poderes / meus grandes momentos / meus sentimentos mais serenos”.

Em “Realimentação”, o cantor aproxima-se, mais uma vez, do samba, em belos dedilhados de guitarra, ao lado da bateria de Marcelo Costa.

A bossa “E Então? (Boa Pergunta)” fecha o álbum de maneira... plácida. Detalhe: nesta faixa, em vez de um previsível violãozinho de nylon, Lulu preferiu tocar guitarra...


Aquela Vontade de Rir



Realimentação



E Então? (Boa Pergunta)

‘Auto-estima’

Auto-estima” não integra Mondo Cane. Foi editada, meses depois – também pela Polygram –, em um (malfadado) formato chamado maxi-single. Portanto, pode-se dizer que está no mesmo... hum, contexto do álbum.

Curiosidade: na letra, Lulu Santos menciona o supracitado Hamilton Vaz Pereira, autor de “Aquela Vontade de Rir” – saiba mais aqui.

O único registro de “Auto-estima” que se encontra atualmente em catálogo está na coletânea Perfil, de 2004 [no detalhe].