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quarta-feira, novembro 15, 2017

Da série ‘Causos’: o dueto de João Gilberto e Rita Lee


Em 1980, João Gilberto preparava o seu especial da série global Grandes Nomes – que se transformaria no LP João Gilberto Prado Pereira de Oliveira, lançado naquele mesmo ano. E decidiu convidar Rita Lee, com quem nunca havia tido nenhum contato, para um dueto em “Jou Jou Balangandans”.

Telefonou para Rita. Ela, no entanto, não acreditou que estava falando com o mito. Sendo assim, João lançou mão de um recurso: com seu estilo incomparável, cantou um dos sucessos da cantora “Chega Mais”. Do início ao fim. Boquiaberta, a rainha do rock se convenceu de que o seu interlocutor não era um impostor.

Insegura diante da ideia de atuar ao lado do papa da bossa-nova, Lee confessou que não conhecia a composição do grande Lamartine Babo. João, contudo, tranquilizou-a: “Não tem problema. Na verdade, é até melhor que seja assim”. Enviou para ela uma fita K7 com a música e, ao longo dos dias, telefonava para passar instruções. E fez um pedido: que Rita se apresentasse usando um vestido.

No dia do ensaio – Rita Lee, claro, estava presente –, João, com seu ouvido absoluto, percebeu um erro do violoncelista. Mesmo sem elevar a voz, deu um esporro monumental na orquestra. E cancelou o ensaio.

Resumindo: um dos mais inusitados – e carinhosos – duetos da história da música brasileira aconteceu praticamente sem ensaio. E tudo transcorreu às mil maravilhas. Detalhe: provavelmente foi a única vez em que João Gilberto cantou em público sem o seu inseparável violão.




quarta-feira, janeiro 25, 2017

Antonio Carlos Jobim: 90 anos


A trajetória musical de Antonio Carlos Jobim é repleta de grandes feitos. Em 1964, participou — como pianista e autor de seis das oito faixas do disco de jazz mais vendido da História — o essencial Getz/Gilberto. Três anos depois, recebeu um convite para dividir um disco com ninguém menos do que Frank Sinatra — algo que The Voice nunca havia feito até então e que jamais voltou a fazer.

Jobim foi o grande responsável por tornar a música brasileira mundialmente conhecida: “Garota de Ipanema” é segunda faixa mais executada e regravada de todos os tempos — perdendo apenas para “Yesterday”, dos Beatles. Goste-se ou não dele, o seu papel histórico é incontestável.

Músico clássico por formação, trouxe refinamento à canção popular, criando pérolas que continuarão atravessando gerações como “Águas de Março”, “Wave”, “Desafinado”, “Chega de Saudade” e dezenas de outras. Não tenham dúvida: o Maestro Soberano é o mais importante músico brasileiro de sempre.

Falecido em 1994, aos 67 anos, Antonio Carlos Jobim completaria hoje 90 anos. E, em tempos tão empobrecidos culturalmente como os atuais, a sua imensurável obra precisa, mais do que nunca, ser (re)descoberta. E celebrada.




Em um dos mais belos anúncios já feitos, a Brahma promoveu, em 1991, um emocionante “reencontro” de Jobim com o seu maior parceiro, o poetinha Vinícius de Moraes, falecido em 1980. Vale a pena conferir:


sexta-feira, junho 10, 2016

João Gilberto: 85 anos


Recluso como sempre, João Gilberto completou hoje 85 anos sem nenhum alarde. Até a imprensa pouco noticiou o fato. Paciência: o importante é que, mesmo à sua maneira, o papa da bossa nova ainda se encontra entre nós. E que assim permaneça por muitos anos.



Em comemoração ao aniversário de João Gilberto, o ECAD divulgou os cinco fonogramas mais executados do baiano de Juazeiro. A campeã foi a definitiva versão de "Wave", clássico de Antonio Carlos Jobim, regravada no ótimo Amoroso, de 1977

sábado, abril 20, 2013

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Reptile’, de Eric Clapton


A admiração Eric Clapton por João Gilberto é pública e notória. Em 2010, João esteve cotado para participar da terceira edição do festival Crossroads, que Clapton realiza a cada três anos. No ano seguinte, quando a sua turnê mundial passou pelo Brasil, revelou aos jornalistas brasileiros o desejo de tocar ou gravar com o papa da bossa nova. Cogitou-se, aliás, que o músico inglês participaria da turnê brasileira que João faria por ocasião de seus 80 anos e que acabou não se concretizando.

Se, por um lado, Clapton ainda não conseguiu materializar a sua tão sonhada aproximação de João Gilberto, por outro, já eternizou, em sua discografia, o seu apreço pela arte do músico nascido na cidade de Juazeiro, na Bahia. Na faixa-título de seu álbum de 2011, Reptile [no detalhe, a capa], o autor de “Layla” gravou um (interessante) tema instrumental que evoca os sons brasileiros — ainda que não escape do lugar-comum da visão “Brazilian Jazz”. Detalhe: Clapton compôs “Reptile” após ter assistido, maravilhado, uma apresentação de João em Londres.

Não foi a primeira vez que Eric Clapton “corteja” a bossa nova. Em 1992, para o seu (bem-sucedido) álbum MTV Unplugged, o mestre das seis cordas compôs e gravou a faixa instrumental “Signe” — que lembra vagamente... “Um Abraço no Bonfá”, de João Gilberto.




Veja o vídeo de “Reptile”, que Eric Clapton regravou na dobradinha CD/DVD One More Car, One More Rider, que registra a sua turnê mundial de 2001. Atenção no longo solo do tecladista David Sancious — que, simplesmente “rouba a cena”:


Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Signe’, de Eric Clapton




Em 1992, para o seu (bem-sucedido) álbum MTV Unplugged, o mestre das seis cordas compôs e gravou a faixa instrumental Signe — que lembra vagamente... Um Abraço no Bonfá, de João Gilberto.




Ainda que o blues tenha estado muito presente no repertório de seu MTV Unplugged [no detalhe, a capa], Eric Clapton não deixou de arriscar um discreto “flerte” com a sonoridade brasileira na faixa “Signe”, com qual abriu os trabalhos.



Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Um Abraço no Bonfá’, de João Gilberto




Em 1992, para o seu (bem-sucedido) álbum MTV Unplugged, o mestre das seis cordas compôs e gravou a faixa instrumental  Signe — que lembra vagamente...  Um Abraço no Bonfá, de João Gilberto.




Faixa do segundo álbum de João Gilberto, O Amor, o Sorriso e a Flor, de 1960 [no detalhe, a capa], a instrumental “Um Abraço no Bonfá” é uma das raras composições autorais do inventor da “batida diferente”. E homenageia o compositor brasileiro Luís Bonfá (1922 — 2001), autor de “Manhã de Carnaval”, “Samba de Orfeu” e “Correnteza” (em parceria com Antonio Carlos Jobim), entre outras.

Por sinal, além de diretor musical do disco, Jobim foi o autor de metade das doze canções do trabalho.



terça-feira, outubro 25, 2011

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Garota de Ipanema’



Composta em 1962 por Antonio Carlos Jobim e Vinicius de Moraes, “Garota de Ipanema” chamava-se inicialmente “Menina que Passa”. E recebeu os seguintes versos: “Vinha cansado de tudo / de tantos caminhos / tão sem poesia / tão sem passarinhos / com medo da vida / com medo de amar. / Quando, na tarde vazia / tão linda no espaço / eu vi a menina / que vinha num passo / cheio de balanço / caminho do mar”.

Entretanto, os dois parceiros estavam insatisfeitos com a letra. Sendo assim, Vinicius a reescreveu, inspirado na jovem Helô Pinheiro [à esquerda], que passava frequentemente pela calçada do bar Veloso — atual Garota de Ipanema —, situada na rua Montenegro — que, posteriormente, passaria a se chamar rua Vinícius de Moraes. Na época, o Maestro Soberano e o Poetinha eram habitués do local.

No ano seguinte, “Garota de Ipanema” foi gravada no célebre álbum Getz/Gilberto. E, em 1964, foi a vez do próprio Jobim registrá-la, em seu The Composer Of Desafinado Plays.

Três anos depois, Frank Sinatra convidou Tom para que, juntos, gravassem o histórico Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, o que projetou mundialmente a música do brasileiro. Adivinhem qual faixa abre o álbum? 

Garota de Ipanema” acabou se tornando a segunda canção mais executada e gravada no planeta em todos os tempos (!) — perdendo apenas para “Yesterday”, dos Beatles. O que deveria ser motivo de orgulho para todos nós, brasileiros.

No entanto, pouca gente se dá conta disso. Infelizmente.




Veja o antológico vídeo de Frank Sinatra e Antonio Carlos Jobim, ambos esbanjando charme, cantando “The Girl From Ipanema” em um especial da TV americana:




E ouça a (espetacular) versão gravada por Jobim em um de seus mais brilhantes trabalhos, Inédito, de 1987. Ao lado da sua inseparável Banda Nova, Tom, discretamente “desconstrói” o próprio clássico, começando a canção pela parte dois (“Ah, por que estou tão sozinho?”), criando improvisos, alterando andamentos – enfim, fazendo o diabo com “Garota de Ipanema”:

quarta-feira, outubro 12, 2011

Da série ‘Fotos’: Cristo Redentor. 80 anos

Cristo Redentor*. 80 anos. Cartão postal do Rio de Janeiro. Orgulho do Brasil.


* Esta foto foi tirada por mim em junho deste ano.


Veja o vídeo do clássico “Corcovado”, extraído do (magnífico) especial João & Antonio, gravado no Theatro Municipal do Rio em 1992 e exibido pela Rede Globo naquele mesmo ano.

sexta-feira, junho 10, 2011

João Gilberto: 80 anos

                          
Antes de qualquer coisa, é necessário dizer que é motivo de alegria saber que uma das personagens centrais da nossa música, João Gilberto [no detalhe], continua entre nós. E precisamente hoje, 10 de junho de 2010, o “baiano bossa nova” completa 80 anos de idade.

Homem de temperamento recluso — considerado “excêntrico” por muitos — e perfeccionista ao extremo, João, com seu estilo inconfundível, “desconstruiu” e redefiniu os parâmetros da música brasileira. Nele, o que parece “simples” é pura complexidade. E o que alguns podem confundir com “economia” ou “limitação” é tão somente... sutileza. E precisão.

Embora sempre tenha sido um compositor bissexto, e tenha lançado poucos discos ao longo de sua carreira, o espectro de sua influência é enorme. Tornou suas canções como “Rosa Morena”, de Dorival Caymmi, além de clássicos como “Desafinado”, “Garota de Ipanema” e, claro, “Chega de Saudade”, todas de Antonio Carlos Jobim. 

E, entre seus companheiros de profissão, possui admiradores tão díspares quanto Roberto Carlos, Jorge Ben Jor e... Eric Clapton. 

Que João Gilberto ainda sopre muitas e muitas velinhas de aniversário. Provavelmente, ele saberia “desconstruir” até mesmo o tradicional “Parabéns para Você”...



Leia também:







Veja os vídeos de “Rosa Morena”...




...e três extraídos do excelente especial João & Antonio, gravado ao vivo no Theatro Municipal do Rio, em 1992 — um pecado este DVD jamais ter sido lançado: “Desafinado”...




...“Garota de Ipanema”...




...e “Chega de Saudade”:

sábado, maio 21, 2011

Assis Valente, o autor de ‘Brasil Pandeiro’ e ‘Boas Festas’

É o caso de ‘...e o Mundo Não se Acabou...’, composição de Assis Valente...
  

Baiano de Santo Amaro da Purificação – e, portanto, conterrâneo de Caetano Veloso – Assis Valente [foto] cometeu suicídio ingerindo formicida na extinta Praia do Russel, no Rio de Janeiro – por conta de dívidas e, reza a lenda, também de sua condição homossexual.

Foi o autor de “Brasil Pandeiro”, gravada por Carmen Miranda em 1940, e que recebeu excelente versão dos Novos Baianos no clássico Acabou Chorare (1972). E também de “Boas Festas”, provavelmente a mais conhecida canção natalina brasileira.


Veja o vídeo de “Brasil Pandeiro”, com os Novos Baianos...
  



...e também de “Boas Festas”, com João Gilberto:

quarta-feira, junho 09, 2010

João Gilberto e a polêmica com a ‘Veja Rio’


Em sua edição mais recente, que chegou às bancas no domingo, dia 06, a Veja Rio – suplemento da revista Veja direcionado ao Estado do Rio – traz em sua matéria de capa uma entrevista com João Gilberto [foto].

Durante seis meses, o gênio da bossa nova teria tido contatos telefônicos, sempre através de celular, com a jornalista Sofia Cerqueira – os quais originaram a reportagem. Para quem não conferiu, link aqui.

A polêmica não tardou a surgir: através de seu perfil no Facebook – aliás, classificado como fake pela reportagem em questão – João Gilberto emitiu nota afirmando que a matéria é falaciosa. E mais: que as tais conversas telefônicas... jamais existiram (!).

O que vocês pensam a respeito disso? Cartas para a redação.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Estate’, com João Gilberto

E já que o assunto é João Gilberto [foto]: foi uma grata surpresa constatar que o músico está presente na trilha sonora de Passione, nova novela das oito.

Durante alguns meses, JG poderá ser ouvido diariamente em horário nobre, em sua brilhante gravação da italiana “Estate”.

Faixa do ótimo álbum Amoroso, de 1977 [já falei sobre ele aqui], “Estate” foi devidamente trazida para o universo joãogilbertiano. E, a despeito da passagem dos anos, mantém intacto o seu frescor.

Em suma, Arte. Com A maiúsculo.



sexta-feira, abril 23, 2010

Jobim, por eles e elas


CDs
Aqui Tem Tom - Volumes 1 e 2 (Som Livre)
2010


Os dois volumes da compilação ‘Aqui Tem Tom’ alternam, como de praxe, bons e maus momentos

Passados quinze anos de seu desaparecimento, ocorrido no dia 08 de dezembro de 1994, a atemporal obra de Antônio Carlos Jobim – mesmo sem ter a sua grandiosidade plenamente reconhecida – continua sendo revista e cultuada. Prova disso é a compilação Aqui Tem Tom, disponível em dois volumes – vendidos separadamente –, que chega às prateleiras via som Livre.

Muitas vezes, all star tributes são verdadeiros balaios de gato. Contudo, ao lado de deslizes típicos de projetos desta natureza, Aqui Tem Tom apresenta bons momentos.


Acompanhada por Hélio Delmiro, Calcanhotto brilha

O volume 1, inteiramente dedicado a intérpretes femininas, consegue, no frigir dos ovos, um bom aproveitamento. Tem Maria Bethania, à vontade, em “Anos Dourados”. Tem Nana Caymmi, transformando “Insensatez” em uma canção sua. Tem Joyce, perfeita, em “Discussão”. E tem Elis Regina, introspectiva, em “Sabiá”.

Mas, por outro lado, tem Gal Costa – embora afinadíssima como sempre – errando a letra de “Se Todos Fossem Iguais a Você” (em vez de “a sua vida / é uma linda de amor”, a baiana cantou “vai, sua vida / é uma linda de amor”). Tem Isabella Taviani lutando contra a própria grandiloquência – e eventualmente perdendo – em “Caminhos Cruzados”. E Beth Carvalho concedendo ao clássico “Chega de Saudade” um inadequado acento sambão joia.

Tais deslizes, entretanto, não chegam a comprometer o trabalho, que também traz Fernanda Takai, Roberta Sá e Paula Toller, corretas em “Estrada do Sol”, “Brigas Nunca Mais” e “Por Causa de Você”, respectivamente.

O grande destaque, porém, é Adriana Calcanhotto, acompanhada pelo violonista Hélio Delmiro, na bela versão de “O Amor em Paz”, gravada para o CD 3 do Songbook Vinícius de Moraes, idealizado pelo falecido produtor Almir Chediak.


Ouça “O Amor em Paz”, com Adriana Calcanhotto...


...e “Sabiá”, com Elis Regina:



Djavan e a versão definitiva de ‘Correnteza’

Já o volume 2, que conta apenas com vozes masculinas, tem como trunfos, por exemplo, a versão delicada de Caetano Veloso para “Eu Sei que Vou te Amar” – que cita “Dindi” e “De Você, Eu Gosto” – e o saudoso Tim Maia, na companhia dos d'Os Cariocas, em uma boa versão de “Ela É Carioca”. Mas, de um modo geral, fica inegavelmente aquém de seu correlato.

Lenine, por exemplo, nada acrescentou à obra-prima “Wave” – será que o temperamental João Gilberto não autorizou que a sua versão fosse incluída neste projeto? Igualmente inexpressiva – ainda que esforçada – é a releitura de “Waters of March”, versão anglófona de “Águas de Março”, cometida por Art Garfunkel, metade do extinto duo com Paul Simon.

Sem contar a insuportável versão de Sergio Mendes e will.i.am para o ótimo tema “Surfboard”.

Mas nem tudo está perdido: há também Djavan, na versão definitiva de “Correnteza”. Há o swing de Wilson Simonal em “Só Tinha de Ser com Você” – que, contudo, não supera a (insuperável) gravação de Elis Regina, do álbum Elis & Tom (1974). Há Ed Motta, acompanhado ao piano por Daniel Jobim, saindo-se muito bem na intrincada melodia de “Por Toda a Minha Vida (Exaltação ao Amor)”.

Há também Chico Buarque, convincente no ancestral registro de “Retrato em Branco e Preto (Zíngaro)” – cuja letra, por sinal, foi escrita pelo próprio Chico. E, como curiosidade, há um mergulho nas raízes gaúchas, na pouco conhecida “Rodrigo, Meu Capitão”, parceria de Jobim com Ronaldo Bastos, originalmente lançada na trilha sonora de O Tempo e o Vento, na voz de Zé Renato.


Ouça “Eu Sei que Vou te Amar”, com Caetano Veloso...



...e “Por Toda a Minha Vida (Exaltação ao Amor)”, com Ed Motta:



Ideal para neófitos

Os dois volumes de Aqui Tem Tom oferecem, portanto, um pequeno aperitivo do vasto cancioneiro do autor de “Garota de Ipanema” – curiosamente, a canção está ausente de ambos os CDs. Sendo assim, acabam sendo uma boa pedida para os neófitos.

Contudo, para quem quer realmente se aprofundar nos originais do Maestro Soberano, ficam algumas dicas: os ótimos Elis & Tom (1974) e Terra Brasilis (1980), o derradeiro Antônio Brasileiro (1994), a compilação – editada para o mercado americano – Finest Hour (2000), além do excelente Inédito, gravado ao vivo no estúdio em 1987.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Wave’, de Antônio Carlos Jobim

“...será que o temperamental João Gilberto não autorizou que a sua versão fosse incluída neste projeto?”
Desde o seu lançamento, como faixa-título do álbum que Antônio Carlos Jobim editou em 1967, “Wave” já recebeu inúmeras versões. Algumas delas brilhantes, como a do próprio Jobim em seu CD Inédito, de 1987. Sendo assim, é dificílimo – senão impossível – apontar a melhor de todas.

Mas não resta dúvida de que o brilhante registro de João Gilberto [foto] é um fortíssimo candidato.

Faixa do (ótimo) álbum Amoroso, de 1977 [já falei sobre ele aqui], a gravação de João foi arranjada pelo alemão Clare Fischer, que soube unir, com maestria, cordas e bateria ao que JG possui de inigualável: seu violão e sua voz. Um primor.

Se me pedissem para ilustrar, com uma canção, a paisagem entre as Pedras do Arpoador e a praia do Leblon, esta seria a escolhida. E precisamente nesta versão.


***

Curiosidade: escrevi sobre a criação de “Wave” aqui mesmo no blog, em um post de outubro de 2008, que pode ser lido clicando aqui.


segunda-feira, outubro 27, 2008

‘Isso é bossa nova, isso é muito natural...’

Não é de se espantar que as pessoas que estiveram recentemente aqui no blog e se deram de cara com esse caminhão de posts sobre a bossa nova tenham a impressão de que sou um aficionado pelo gênero. Mas, na verdade, não é bem assim...

Deixe-me explicar melhor: tenho, de fato, verdadeiro fascínio pela obra de Antônio Carlos Jobim e João Gilberto. Considero-os simplesmente geniais. Existe, no entanto, muita coisa de bossa nova que eu acho um pé no saco...

Ou seja, se a bossa é Tom e João, adoro bossa nova. Mas se a bossa, por exemplo, é Quarteto em Cy e Carlos Lyra, aí já é outra estória...

quarta-feira, outubro 22, 2008

Deu na ‘Rolling Stone Brasil’: os 100 mais da MPB

A Rolling Stone Brasil desse mês [no detalhe] publicou a lista dos 100 maiores músicos do Brasil, na opinião de 70 jornalistas. Deu Antônio Carlos Jobim na cabeça, seguido por João Gilberto e Chico Buarque.

Listas são sempre discutíveis. E essa não será diferente. Afinal, Jorge Ben (de quem eu até gosto), ficar em quinto, na frente de Roberto Carlos (sexto lugar)? Chico Science (16º), em melhor colocação do que Milton Nascimento (20º), Renato Russo (25º), Cazuza (34º) e Erasmo Carlos (37º)? Mano Brown (28º) na frente de Lulu Santos (46º), Nelson Gonçalves (60º) e Herbert Vianna (83º)?

Os dez melhores colocados foram:


1 – Tom Jobim

2 – João Gilberto

3 – Chico Buarque

4 – Caetano Veloso

5 – Jorge Ben Jor

6 – Roberto Carlos

7 – Noel Rosa

8 – Cartola

9 – Tim Maia

10 – Gilberto Gil

‘João’ (1991)

Outra boa dica da discografia de João Gilberto [no detalhe] é João, de 1991, seu antepenúltimo disco de estúdio, produzido pelo americano Clare Fischer.

Novamente, a universalidade e a tradição se fazem presentes na obra de JG. No repertório, clássicos brasileiros como “Palpite Infeliz” (de Noel Rosa), “Ave Maria no Morro” (de Herivelto Martins, imortalizada na voz de Dalva de Oliveira) e “Sampa” (de Caetano Veloso) convivem harmoniosamente com “You Do Something To Me” (Cole Porter), o originalmente bolero “Una Mujer” e a bela “Que Reste-t-il De Nos Amours?”(Charles Trenet). Curiosamente, não há nesse disco nenhuma composição de Antônio Carlos Jobim.

O mais recente álbum de estúdio de João Gilberto, Voz e Violão, produzido pelo supracitado Caetano Veloso, foi editado em 1999.


***


Por sinal, muito bonito o comercial da Vale do Rio Doce, estrelado por João Gilberto. Embora eu esteja muito longe de concordar que, como diz a canção do anúncio, “o melhor do Brasil é o povo brasileiro”...




A gênese de ‘Wave’

Essa história foi contada pelo próprio Chico Buarque [no detalhe, em foto de João Wainer] no DVD Anos Dourados. Consta que Tom Jobim entregou a Chico a melodia de “Wave”, para que o autor de “Olhos nos Olhos” escrevesse a letra.

Muito tempo se passou e nada de Chico entregar a letra pronta. Até que um dia, sem poder mais esperar para gravar, Jobim pediu a melodia de volta, para tentar criar os versos sozinho.

O maestro, entretanto, aproveitou as únicas três palavras que Chico conseguiu escrever para esta canção: “Vou te contar...”

‘Amoroso’ (1977)

Por falar em João Gilberto: uma ótima sugestão para se ouvir o “baiano bossa nova” – além, claro, de seu primeiro álbum, o (olha o clichê) seminal Chega de Saudade, de 1959 – é Amoroso [no detalhe], de 1977.

Produzido pelo maestro alemão Claus Ogerman – que, diga-se de passagem, caprichou nos arranjos -, Amoroso é fundamental para se compreender a abrangência da “invenção” de João. O músico transita com naturalidade tanto pela tradição brasileira, na versão impecável do delicioso samba “Tim-tim por Tim-tim”, quanto por clássicos do cancioneiro internacional como “Besame Mucho”, a italiana “Estate” e “'S Wonderful”, de Ira e George Gershwin.

Antônio Carlos Jobim está presente, como autor, em nada menos do que quatro das oito faixas do disco: “Caminhos Cruzados”, “Retrato em Branco e Preto (Zíngaro)”, “Triste” e “Wave”. Esta última, na modesta opinião deste que vos escreve, provavelmente em sua versão definitiva.

‘Novas Bossas’

No ano do cinqüentenário da bossa nova*, é natural que surjam vários tributos ao gênero. Um deles é Novas Bossas [no detalhe], álbum gravado por Milton Nascimento na companhia do Jobim Trio.

Escrevi, inclusive, a resenha desse CD. E você pode lê-la em:
http://arquivodotomneto.blogspot.com/


Em tempo: não custa nada explicar. O Jobim Trio é formado bons músicos: Paulo e Daniel Jobim – filho e neto de Tom, respectivamente – e Paulo Braga. Contudo, quando coloquei na resenha o título de “Pororoca de Gênios”, referi-me ao encontro de Milton Nascimento e... Antônio Carlos Jobim – que, através de sua obra, estava ali presente em... ahn, espírito. Capicce?


* Para quem não sabe: a bossa nova completa 50 anos em 2008 pelo fato de que Canção do Amor Demais, de Elizeth Cardoso – álbum considerado o marco zero do gênero -, foi editado em 1958. Além de apresentar em seu repertório composições de Antônio Carlos Jobim, Canção... trazia, no violão, João Gilberto e sua “batida diferente”. O resto é história.