Já que o assunto é Chico Buarque, creio que seja o momento oportuno para destacar uma das mais belas canções do compositor carioca: “Futuros Amantes”, do excelente CD Paratodos, de 1993. Esta é uma das cinco músicas que mais gosto na vida.
Na letra, Chico projeta a cidade do Rio de Janeiro como Atlântida [no detalhe], o continente perdido (“E quem sabe então o Rio será / alguma cidade submersa?”), onde os escafandristas vasculhariam, no fundo do mar, os pertences da “estranha civilização”, e entregariam aos sábios tudo o que encontrassem, para que estes tentassem decifrar aqueles escritos rudimentares.
Contudo, além de ser também uma ode à paciência típica de quem ama (“Não se afobe, não / que nada é para já.”), a canção visa expressar o amor como algo perene – como, de fato, é.
No vídeo abaixo, Chico explica que “mesmo não correspondido, o amor continua pairando no ar (“Milênios, milênios / no ar.”), para que outras pessoas possam ‘capturá-lo’. E ele possa, enfim, cumprir a sua função”. Perfeito.
Porque uma coisa é certa: o amor, mesmo quando não se concretiza – caso realmente seja amor –, não se desfaz. Ele permanece. Eterno.
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Há um outro trecho interessantíssimo da letra de “Futuros Amantes”, que diz: “O amor não tem pressa, ele pode esperar / em silêncio / num fundo de armário / na posta-restante...”. Posta-restante.
Quando as pessoas passam a morar em um outro estado – ou outro país – e ainda não possuem residência fixa, há a possibilidade de suas correspondências serem endereçadas à agência central dos Correios de uma determinada localidade, para que, no prazo de três meses, o destinatário possa recolhê-la. A este serviço, dá-se o nome de posta-restante.
Imagine a cena: a mulher escreveu uma carta para o seu amado, que se encontra distante de casa. O amor que ela sente está expresso naquela carta. Que, como diz a letra da canção, foi parar na posta-restante.
Tenho que tirar o meu chapéu para Chico Buarque de Hollanda...
Veja o belo vídeo de “Futuros Amantes”: