No dia 11 do mês passado, Angenor de Oliveira, o Cartola, teria completado 100 anos de idade, se vivo estivesse. Homem simples, de pouca escolaridade, Cartola deixou uma obra de grande lirismo e musicalidade elaborada - apesar de ter gravado apenas quatro discos de estúdio. Sua memória é respeitada muito além dos limites do mundo do samba.
E uma boa dica para se ouvir Cartola é o tributo Bate Outra Vez [no detalhe], editado em 1988 e atualmente fora de catálogo. Com participações de artistas do calibre de Caetano Veloso (“Acontece”), Gal Costa (“As Rosas Não Falam”) e Nelson Gonçalves (“Peito Vazio”), entre outros, o disco é quase perfeito. O único porém foi o aparente desconforto de Paulo Ricardo em “Autonomia”. Mas não chegou a comprometer o resultado final do trabalho.
Destaque para as gravações de Leila Pinheiro (“Disfarça e Chora”), Luiz Melodia (“Cordas de Aço”) e o ótimo dueto de Paulinho da Viola e Elton Medeiros (“Amor Proibido”). Tente não se emocionar com a releitura angelical de “Corra e Olha o Céu” da afinadíssima Vânia Bastos, talvez a melhor faixa do CD.
“Olhar, gostar só de longe
não faz ninguém chegar perto.
E o seu pranto, ó triste senhora,
vai molhar o deserto...”
(“Disfarça e Chora”, Cartola e Dalmo Casteli, 1974)
***
Curiosidade: Cazuza detestava a sua releitura de “O Mundo é um Moinho” para esse álbum. Em entrevista ao Jornal do Brasil em dezembro de 1988, o compositor disparou:
— Odeio a minha gravação. Ficou tão ruim como se o Cartola tivesse gravado um rock...
***
Outra curiosidade: a exemplo do álbum Elis e Tom, conheci Bate Outra Vez, ainda em vinil, através de meu pai. Lembro com exatidão do dia em que ele chegou em casa com esse disco e pôs para tocar. Meu queixo caiu.