terça-feira, dezembro 02, 2014

‘The Art Of McCartney’, digna homenagem a uma obra imorredoura



CD duplo
The Art Of McCartney (Sony Music)
2014


Um álbum-tributo a Paul McCartney, uma das figuras mais importantes da música popular de todos os tempos, não poderia fazer por menos: precisa estar à altura do homenageado. Esta é a (árdua) tarefa do ambicioso CD duplo The Art Of McCartney, que apresenta regravações de 34 canções de (quase) todas as fases da carreira do ex-beatle — a mais “recente” é “No More Lonely Nights”, que está completando exatos trinta anos em 2014, presente em uma boa versão do The Airbourne Toxic Event.

Dentre os 31 artistas — três deles, Steve Miller, Billy Joel e o grupo Heart, ao contrário dos demais, regravaram duas músicas —, os melhores resultados foram alcançados por aqueles que souberam imprimir a própria “assinatura” nas canções de McCartney. É o caso do eterno beach boy Brian Wilson, que emociona em “Wanderlust”, de Tug Of War [1982], e de Willie Nelson, que, com uma interpretação sentida, transformou “Yesterday”, a faixa mais executada e regravada do mundo, em uma música... sua. O mesmo vale para Corinne Bailey Rae, que tratou “Bluebird”, de Band On The Run [1973], com a delicadeza necessária, e para a lenda viva B. B. King, visceral no obscuro blues “On The Way”, de McCartney II [1980].

Um dos trunfos do projeto é mostrar a versatilidade do autor, capaz de compor canções que soam naturais nas vozes de artistas de estilos tão distintos quanto o vocalista do The Who, Roger Daltrey (que deu conta do recado na bombástica “Helter Skelter”), o veterano Allen Toussaint (“Lady Madonna”) e o garoto-prodígio do jazz Jamie Cullum (absolutamente confortável em “Every Night”).

Contudo, nem tudo são acertos. Chrissie Hynde, vocalista do Pretenders, foi apenas OK em sua releitura de “Let It Be”. Nada comparável à arrasadora versão de James Taylor e Mavis Staple, que quase levou às lágrimas o próprio Macca, em 2010. Já a Harry Connick Jr. Foi boa: aproximar a bela “My Love” de um standard à La Sinatra. Falta-lhe, no entanto, um “pequeno” detalhe: uma voz como a dos Velhos Olhos Azuis. E Cat Stevens, que hoje atende pelo nome de Yusuf, não teve como competir com a magnífica versão original de “The Long And Winding Road”.

Por fim, se alguns figurões como Bob Dylan (mais rouco do que nunca em “Things We Said Today”) e Smokey Robinson (“So Bad”) marcaram presença, não há como não lamentar a ausência de outros que já colaboraram com Paul em algum momento de suas carreiras — como Stevie Wonder, Elvis Costello, Eric Clapton e Dave Grohl (Foo Fighters), entre outras. Todavia, as lacunas não invalidam The Art Of McCartney, digna homenagem a uma obra imorredoura, monumental. Tanto que, pasmem, ficaram de fora gemas como “Here There And Everywhere”, “And I Love Her”, “Another Day”, “Blackbird”, “Ebony And Ivory”, “Get Back”, “Penny Lane”...




Ouça “Bluebird”, na voz de Corinne Bailey Rae:





Ouça “Wanderlust”, na voz de Brian Wilson:

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