Quando Rita Lee lançou Bombom, em 1983, eu ainda era um garoto. Todavia, já me interessava por música. Tanto que lembro com nitidez de ter visto, na casa de um familiar, uma edição da extinta (e mítica) revista mensal Violão & Guitarra – que trazia cifras do sucesso do momento e do passado –, cuja capa dava destaque aos dois sucessos instantâneos do álbum: “On The Rocks” e “Desculpe o Auê”. E esta chamou-me particularmente a atenção.
Na minha tenra idade, fiquei intrigado com o título. “Como ela pôde colocar uma palavra como ‘auê’ no nome da música?”, questionei à época. E por nunca ter ouvido a canção – apenas li a letra na revista de cifras –, imaginei que se tratava de mais uma faixa bem-humorada, bem ao estilo da compositora. Ledo engano.
Dias depois, ouvi “Desculpe o Auê” no rádio. E fiquei fascinado. Era uma balada belíssima que, desde então, passou a ser uma das minhas preferidas do repertório de Rita Lee. Minha única ressalva, pasmem, era o desfecho da letra.
“Como a mulher diz que vai ‘roubar os anéis de Saturno’ para o cara? Isso é absurdo!” Bobagem de criança. Com a clareza que somente o tempo proporciona, hoje vejo que o verso final é justamente o que há de mais bonito, comovente e profundo nessa faixa.
“Roubar os anéis de Saturno” significa… fazer o impossível pela pessoa amada.
P.S.: em dezembro de 2008, compareci à gravação do especial global de Roberto Carlos, realizada no HSBC Arena. Rita Lee era uma das convidadas. No local, pensei em como seria fantástico vê-la cantando “Desculpe o Auê” ao lado de RC. Mas as duas realezas da música brasileira preferiram um medley de canções de ambos, como “Parei na Contra Mão”, “Flagra” etc.