Live In London (Sony Music)
2010
Em seu primeiro DVD, cantor mostra que poderia ter ido ainda mais longe – se não fossem os percalços
Em 1987, ao lançar Faith, seu primeiro álbum após o fim do duo Wham!, George Michael simplesmente quebrou tudo. Vendeu quinze milhões de cópias e gerou singles de sucesso como “I Want Your Sex”, “Kissing a Fool” e a faixa-título, entre outros. Foi, provavelmente, a mais séria ameaça ao reinado pop de Michael Jackson. George, entretanto, tinha outros planos para seu segundo disco solo.
Lançado em 1990, Listen Without Prejudice, é um trabalho introspectivo, no qual o artista tentou se desvencilhar da imagem de sex symbol. Tal “insolência” causou insatisfação na sua então gravadora, a Sony Music, e uma ação judicial que deixou o cantor “na geladeira” durante seis anos. Somem-se a isso os recentes escândalos (homos)sexuais, e pode-se ter uma ideia do quão... er, turbulenta tem sido a trajetória de GM.
De modo que o seu primeiro DVD, o duplo Live In London, também disponível em blu-ray – mas não em CD –, acaba colocando as coisas “nos seus devidos lugares”. Gravado nos dias 24 e 25 de agosto de 2008 (!), o espetáculo fez parte da turnê 25 Live – anunciada como a última de sua carreira –, que promoveu a coletênea Twenty Five.
Na arena londrina de Earls Court absolutamente lotada, George Michael, acompanhado de um impecável aparato de som, luzes e telões, resumiu a sua discografia de maneira generosa. E o show começa o pé direito, com a bela “Waiting (Reprise)”: a canção (“Há um caminho de volta para todo homem / Por isso estou aqui (...) / Será tarde demais para tentar de novo? / Aqui estou eu”) é entoada em off até o último verso, quando o cantor faz a sua entrada triunfal.
O repertório incluiu desde hits do Wham! – como “Everything She Wants”, “I'm Your Man” e até o seu maior êxito, a renegada “Careless Whispers”, que ele recusou-se a cantar ao vivo durante anos – até os seus sucessos solo – como “Freedom '90” e “Fastlove”. E não esqueceu (boas) faixas recentes como “Amazing”, “Flawless (Go To The City)” e “My Mother Had a Brother”, que fala sobre o tio de George – também gay –, que suicidou-se exatamente no dia em que ele nasceu.
Em ‘Shoot The Dog’, o momento polêmico do show
Um tanto distante da imagem de galã – não ostenta mais o topete de vinte anos atrás –, George Michael ainda é um grande artista em cima de um palco. Experiente – tinha 45 anos na ocasião da gravação –, teve astúcia para alternar números dançantes, como “Too Funky” e “Outside” – na qual, a exemplo do debochado clipe, vestiu-se de policial –, com momentos mais suaves, como as tristonhas “A Different Corner”, seu primeiro single solo, e “You Have Been Loved”, que mostra no telão imagens de pessoas próximas ao cantor que já faleceram.
Como intérprete, ainda mostra grande competência. Mas claramente passou a evitar os falsetes – outrora uma de suas marcas registradas...
Destaque para a lânguida “Father Figure”, a arrepiante versão gospel de “One More Try” – que já havia sido lançada como lado B de um single em 1996 – e uma versão demolidora de “Spinning The Wheel”, que não deixou pedra sobre pedra. Em “Shoot The Dog”, o momento polêmico do show: um cachorro inflável “vestido” com as cores da bandeira do Reino Unido parece fazer sexo oral em um enorme boneco (igualmente inflável) de George W. Bush...
No DVD 2, há o documentário I'd Know Him a Mile Off, que mostra os bastidores da turnê, além de três faixas bônus: “Precious Box”, “Jesus To A Child” e “First Time Ever”.
Em suma, Live In London é um excelente DVD de um autor pop – digam o que disserem – do calibre de um Elton John. E que faz pensar aonde George Michael poderia ter chegado, se não fossem os... tropeços. Para coroar sua “volta por cima”, falta apenas um álbum de inéditas, o primeiro desde Patience, de 2004. Mas, talvez, isso seja pedir demais...
Veja os vídeos de “A Different Corner”...
...da versão “gospel” de “One More Try”...
...de “Father Figure”...
...e de “Spinning The Wheel”: