A bela — e metafórica — faixa que abre o primeiro álbum de Zé Ramalho [foto], epônimo, editado em 1978, mantém, até os dias de hoje, uma aura de mistério até mesmo para os fãs do cantor.
O artista paraibano foi criado na fazenda de seu avô Raimundo, o “Avô Rai”, a quem tinha como um pai. Anos mais tarde, já envolvido com música, decidiu dedicar-lhe uma canção. O título era um neologismo inspirado na maneira como ele, quando criança, se referia ao patriarca dos Ramalho: “Avôhai”.
Indo mais longe, o autor de “Chão de Giz” percebeu que a palavra também serviria como uma espécie de... digamos, “corruptela” para o significado que o velho tinha em sua vida: um “indivisível” — porque o cantor não fazia essa “dissociação” entre os dois parentescos — “avô-pai”.
Identifiquei-me com esta história desde a primeira vez que a li, anos atrás. Pelo simples fato de que o meu avô paterno sempre foi, para mim, uma inequívoca referência paterna. E isso era reconhecido até mesmo pelo meu pai.
Sendo assim, no dia de hoje, em que ele completa dez anos de falecimento, homenageio a sua memória com esta canção. Seus ensinamentos e a lembrança de todos os momentos divertidos que ele proporcionou durante a minha infância me acompanharão enquanto eu viver.
Ouça a versão de “Avôhai” extraída do (ótimo) 20 Anos — Antologia Acústica, de 1997: