quinta-feira, setembro 30, 2010

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Synchronicity II’, do Police

Em dezembro de 2007, às vésperas da apresentação única do Police no Rio de Janeiro, escrevi uma série de posts falando sobre algumas faixas da banda. Tenho dito, ao longo dos anos, que as canções de Sting – que era o principal compositor do grupo – traziam referências literárias e filosóficas absolutamente incomuns à superficialidade pop.

E uma destas postagens era dedicada a “Synchronicity II”, faixa do quinto e último álbum do trio, Synchronicity, de 1983. Sincronicidade é um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung [foto]. Segundo o psiquiatra suiço, é diferente de “coincidência”. Aliás, classificar “sincronicidade” como tal é uma simplificação grosseira. O próprio Jung preferia o termo “coincidência significativa”.

De acordo com a teoria de Jung, a sincronicidade ocorre quando determinados eventos “convergem” por uma relação de significado – e não por mera “casualidade”.


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Andy Summers, Stewart Copeland e Sting eram/são músicos dotados de enorme técnica. Sendo assim, conceberam um faixa visceral, caótica, gravada com uma competência indiscutível.
Na introdução, um riff inconfundível de Summers alinha-se à letal bateria de Stewart e ao marcial baixo de Sting. E, logo a seguir, uma melodia vocal que transparece ira, pura ira.

A letra ilustra o cotidiano de pessoas que vivem no subúrbio, através de um mosaico de imagens sombrias: “Mais uma feia manhã industrial / a fábrica vomita imundice para o céu. / (...) As secretárias fazem beicinho e se enfeitam / como prostitutas baratas numa rua de luzes vermelhas”. E fala de tédio. Humilhação. Falta de perspectivas.

Sting não economizou nadinha na interpretação de “Synchronicity II”. Em vários trechos do clipe – filmado em um cenário retro-futurista –, ele mostra um semblante furioso, com os olhos arregalados.

E muito do fascínio exercido pela arte reside justamente aí: em sua capacidade de “imitar a vida”. Afinal de contas, o coração humano não é habitado apenas pelas “emoções bonitinhas”...


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