Apesar da idade avançada (82 anos), recebi com espanto — e tristeza — a notícia do falecimento de Leonard Cohen. Sobretudo porque ele lançou um CD novo, You Want It Darker há apenas três semanas. A causa da morte não foi divulgada.
Poeta que se tornou cantor e compositor somente depois dos 30 anos de idade, o canadense de origem judaica intensificou a sua atividade profissional nos últimos 15 anos de vida. De 2012 para cá, chegou a lançar discos ano-sim-ano-sim. O “surto criativo”, contudo, tem uma explicação prática: a descoberta de que uma ex-agente havia abalado as suas finanças.
Dono de uma obra de raro lirismo, Cohen pode ser considerado um dos três maiores letristas da música pop de todos os tempos — os outros dois são Lou Reed e, claro, Bob Dylan. E, com sua voz grave e seu estilo declamado de cantar, acabou se tornando um intérprete peculiar para as próprias canções.
Em agosto desse ano, enviou um e-mail para a amiga (e ex-namorada) Marianne Ihlen — inspiradora de “So Long Marianne” —, que veio a falecer no dia seguinte, vítima de leucemia. Na carta, lida no funeral da norueguesa, Cohen foi fiel ao seu melhor estilo: “Bem, Marianne, chegou aquela altura em que estamos tão velhos que os nossos corpos começam a se desfazer e acho que vou lhe seguir muito em breve. Quero que saiba que estou tão próximo que se estender a mão talvez consiga tocar na minha. (...) Quero apenas lhe desejar boa viagem. Adeus, velha amiga. Encontramo-nos no caminho”.
Em 2016, a música popular perdeu David Bowie, Glenn Frey, Prince e, agora, Leonard Cohen. Um ano para lá de esquisito.
Cohen será sempre lembrado pela sua obra-prima “Hallelujah” [1984], que, curiosamente, tornou mais conhecida nos últimos anos como “a música do filme do Shrek”. A versão definitiva, no entanto, é a do também falecido Jeff Buckley, que integra o único álbum que lançou em vida, o estupendo Grace [1994]: