O acidente no bondinho de Santa Teresa, ocorrido no sábado, 27, indignou-me duplamente. Primeiro, sem dúvida, pelas — até o momento — cinco vítimas fatais e 54 feridos na tragédia. Segundo, pela mancha (de sangue) em um dos mais tradicionais cartões-postais da cidade.
O bondinho funciona há 115 (!) anos. E é até compreensível o seu aspecto “vintage” — que, verdade seja dita, lhe confere um certo... charme, digamos assim. Entretanto, isso não é desculpa para a má conservação e a falta de manutenção do veículo, que visível para todos — tanto usuários quanto moradores do bairro. Some-se a isso a constante superlotação da atração, e temos aí uma “catástrofe anunciada”.
Sendo assim, fica no ar a pergunta: a partir de agora, quem terá coragem de passear naquele bondinho?
Ou será que a omissão das autoridades (in)competentes seria uma forma (desumana) de “justificar” a privatização do bondinho, o que certamente aumentaria o valor do bilhete, dos irrisórios R$ 0,60 atuais, para R$ 36,00 ou R$ 53,00 — preços do ingressos para o Trenzinho do Corcovado e para o bondinho do Pão de Acúçar, respectivamente. Desta forma, teríamos mais um ponto (na acepção da palavra) turístico — que, a exemplo dos dois citados, não estaria ao alcance de todos os cariocas e/ou residentes na cidade...
É lamentável que o Poder Público esteja entregue a pessoas tão pouco comprometidas com a segurança e o bem-estar da população. A sorte é que todos eles passam. Todos.
Mas o Rio de Janeiro fica.
Ouça a brilhante versão de João Bosco para “Rio de Janeiro (Isto É o meu Brasil)”, de Ary Barroso: