domingo, dezembro 14, 2008

O Rei de Marfim


Show
Roberto Carlos – Gravação de Especial
Data: 11 de dezembro de 2008
Local: HSBC Arena - Rio de Janeiro
Foto: Tom Neto


Deixando de lado as cores azul e branco, Roberto Carlos recebe Zezé di Camargo & Luciano, Neguinho da Beija-flor, Rita Lee e Caetano Veloso em seu tradicional especial de fim de ano

Um engarrafamento monstro que se estendeu da praia do Leblon até a metade da Avenida Niemeyer fez com que eu chegasse atrasado a uma HSBC Arena totalmente lotada. A sorte é que o início do espetáculo – marcado para as 21 horas – também atrasou um pouquinho...

Precisamente às 22h30, os músicos iniciaram o medley instrumental de sucessos de Roberto Carlos, que sempre antecede a entrada do artista ao palco – para delírio da platéia. Deixando de lado o tradicional azul – ou branco –, o Rei surge em um elegante terno de cor... marfim.

As pessoas menos atentas podem pensar que RC realiza sempre o mesmo show, que começa com “Emoções” e termina com “Jesus Cristo”, tendo, no recheio, “Detalhes” no esquema banquinho-e-violão. Mas não é bem assim. O roteiro atual é absolutamente diferente das apresentações de dois, três anos atrás.

Retornaram ao repertório “Mulher de 40” (a melhor de todas as canções de “homenagens” que Roberto compôs nos anos 90), “Mulher Pequena” e, pasmem, a erótica “O Côncavo e O Convexo” - por sinal, em um ótimo arranjo. Foram mantidas no set listAlém do Horizonte”, “É Preciso Saber Viver”, “Como É Grande o Meu Amor por Você”, “Negro Gato” (o único número que precisou ser repetido) e a sempre infalível “Outra Vez”. Em compensação, ficaram de fora “Eu te Amo, te Amo, te Amo” e “Amor Perfeito”, além das recentes “Pra Sempre”, “Acróstico”, “Eu te Amo Tanto” e “Amor Sem Limite”.

(Sem contar cavalos-de-batalha como “Proposta”, “Café da Manhã”, “Cavalgada”...)

Como de praxe, não poderiam faltar os convidados especiais. Os primeiros da noite foram Zezé di Camargo & Luciano, que cantaram sozinhos “A Distância” e, na companhia do anfitrião, “O Portão”.

Na seqüência, Neguinho da Beija-Flor cantou com Roberto uma dobradinha de sua bela “Negra Ângela” (já gravada por Belo e pelo Soweto) com “Eu e Ela”, sucesso do Rei. Em seguida, a bateria da Beija-Flor de Nilópolis foi chamada ao palco, para acompanhar Neguinho e RC no samba-exaltação “A Deusa da Passarela”.

O dueto com Rita Lee, acompanhada da família – o marido, Roberto de Carvalho, e o filho Beto Lee – foi um dos pontos altos da noite. Mostrando entrosamento, Rita e RC fizeram bonito ao emendar sucessos dela, como “Papai, me Empresta o Carro”, “Flagra”, “Mania de Você” e “Baila Comigo”, com outros dele, como “Parei na Contramão”, “Splish, Splash” e “Cama e Mesa”. Espirituosa, a rainha do rock nacional ainda citou “Garota do Roberto”, de Waldirene (“Sou a garota papo firme que o Roberto falou”).

Mas a melhor participação foi realmente a de Caetano Veloso. “Debaixo dos Caracóis dos seus Cabelos”, a canção que Roberto compôs após visitar Caetano em seu exílio londrino, foi a senha para a entrada do compositor baiano em cena. No melhor momento do show, uma emocionante “Força Estranha”, com seu grandiloqüente arranjo de blues, foi cantada pela dupla pela primeira vez. Sozinho, Caê cantou “Você É Linda”, acompanhado pela banda de Roberto - e pela platéia embevecida.

A lamentar, o som da HSBC Arena, que poderia estar bem melhor. E também o fato de o recente projeto que reuniu Roberto Carlos e Caetano Veloso, A Música de Tom Jobim, ter sido mencionado uma única vez – quando ambos cantaram “Chega de Saudade”, com a participação do neto do Maestro Soberano, Daniel Jobim, no piano. As versões do Rei para “Eu Sei que Vou te Amar”, “Lígia” e, principalmente, “Por Causa de Você” são impecáveis. E mereciam integrar o roteiro.

Mesmo assim, certamente ninguém voltou para casa insatisfeito...

Diana Krall: ‘Live In Rio’

Diana Krall (citada no post anterior), por sinal, apresentou-se há 45 dias na Cidade Maravilhosa, para a gravação do DVD Live In Rio. Sim, você acertou em cheio: trata-se de mais uma homenagem ao cinqüentenário da Bossa Nova.

Com lançamento previsto para março de 2009, o audiovisual trará em seu repertório clássicos de Rodgers & Hart (“Where Or When”), Burt Bacharach (“Walk On By”), além de “So Nice” (versão de “Samba de Verão”, de Marcos e Paulo Sérgio Valle), “Quiet Night of Quiet Stars” (“Corcovado”) e “The Girl From Ipanema”.

A cantora e pianista canadense ainda arriscou uma versão de “Este seu Olhar”... em português (!). É esperar para ver.

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Just The Way You Are’


Há cerca de dez anos, em uma longa entrevista de divulgação publicada no Brasil pelo jornal International Magazine – uma pena eu não ter encontrado um link para disponibilizá-la aqui –, Paul McCartney foi indagado sobre “a canção que gostaria de ter composto”.


O ex-Beatle respondeu que sentia-se “muito orgulhoso” por tudo o que havia conseguido escrever durante a sua extensa carreira. Mas confessou que adoraria ter sido o autor de “Stardust”, clássico de Hoagy Carmichael (cujos direitos foram posteriormente adquiridos* por McCartney). E também de “Just The Way You Are”, de Billy Joel [no detalhe].

Gravada pela primeira vez por Joel em seu álbum The Stranger, de 1977, “Just The Way You Are” foi composta como um “presente de aniversário” para a sua primeira esposa. Além do registro do autor, já recebeu mais de uma centena de versões, de artistas que vão de Frank Sinatra a Barry White, passando por Ray Conniff, Shirley Bassey e outros – sempre com sucesso. O que não surpreende: a canção é simplesmente um primor de melodia, harmonia, arranjo e letra.

Uma das gravações mais recentes – e igualmente bem-sucedida – é a da canadense Diana Krall, de 2004.

McCartney estava coberto de razão.



* Por orientação de seu sogro, Lee Eastman, já falecido, Paul McCartney investiu na aquisição dos direitos de grandes canções populares. Com isso, fundou a MPL Communications, que hoje possui um catálogo de mais de três mil músicas, como “Unchained Melody”, “Route 66” e a supracitada “Stardust”, entre outras. Anos depois, Macca, paternal, aconselhou Michael Jackson a fazer o mesmo. O cantor esquisitão, com sua peculiar voz aguda, respondeu: “Vou comprar as suas canções”. O resto é história...



Para que você que você possa escolher a sua favorita, veja os vídeos com as respectivas versões do autor, Billy Joel...





...de Barry White...





..e da sra. Elvis Costello, Diana Krall...



IM - International Magazine nº 146


Mais uma vez atrasado, venho trazer os destaques da edição nº 146 do jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE:

  • Entrevista exclusiva com O Rappa [no detalhe], que fala sobre o seu novo álbum, Sete Vezes. Por Rodrigo Sabatinelli;

  • Após onze anos sem um disco de inéditas, Gilberto Gil lança Banda Larga Cordel. Por Luiz Felipe Carneiro;

  • Saiba tudo sobre Where The Light Is - Live In Los Angeles, o mais recente trabalho de John Mayer. Por Jorge Albuquerque.

E artigos meus sobre:


  • o CD, epônimo, que reuniu Milton Nascimento e a dupla francesa Belmondo:

Duas notícias boas sobre Milton Nascimento. E uma ruim. Comecemos pelas boas. A primeira: o cantor encontra-se em uma fase bastante prolífica. Após lançar o bom Novas Bossas, gravado na companhia do Jobim Trio, eis que surge mais um álbum do artista esse ano. Trata-se de Belmondo et Milton Nascimento, gravado com a colaboração da homônima dupla francesa.

O Belmondo, bastante conceituado no circuito parisiense de jazz, é formado pelos irmãos Lionel, sax e clarinete, e Stéphane Belmondo, trompete. Acompanhados pela Orchestre National d'Ile-de-France (regida pelo maestro Christophe Mangou), Milton e o duo conduzem as canções de Bituca – dono de uma obra que dispensa comentários – para o universo jazzístico, com longas passagens instrumentais típicas do gênero. “Milagres dos Peixes”, por exemplo, ficou ótima. (...)”


  • o CD En Vivo, de Roberto Carlos:

Com lançamento em CD e DVD previsto inicialmente para dezembro de 2007 – quando o Rei surpreendeu a todos por não ter lançado, pela primeira vez em quatro décadas, o seu tradicional disco de final de ano –, somente agora chega às prateleiras Roberto Carlos En Vivo (Sony & BMG). Contudo, somente em versão áudio, a princípio. O DVD será editado agora em setembro.

Gravado nos dias 24 e 25 de maio de 2007, no Ziff Opera House, em Miami, En Vivo registra a retomada da carreira internacional de Roberto Carlos, paralisada durante praticamente uma década. No repertório, sucessos do cantor, em sua maioria vertidos para o idioma de Cervantes, como “Emociones (Emoções)”, a bela “Que Será De Ti (Como Vai Você?)” e “Propuesta (Proposta)”, entre outros, além da célebre “El Día Que Me Quieras”, de Carlos Gardel. (...)”



Leia a íntegra sessas matérias - e muito mais - no IM - INTERNATIONAL MAGAZINE. Nas bancas.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

The Police: ‘Certifiable’

O Police, aliás, terá a sua bem-sucedida The Reunion Tour – que, como sabem, passou pelo Brasil, há exatos doze meses, em um memorável show no Estádio do Maracanã – registrada em CD e DVD.

Gravado durante apresentação na Argentina (hum... grato pela parte que me toca), Certifiable – Live in Buenos Aires, trará 14 músicas no CD, e 19 no DVD – ou seja, a íntegra do espetáculo.

Já estou no aguardo.


P. S.: No exterior, ainda haverá uma versão em blu-ray. Ê, civilização....

Sting surpreende mais uma vez

E por falar em Sting: no detalhe, uma das fotos de divulgação da ópera-rock Welcome To The Voice, de autoria de Steve Nieve e Mureil Teodori.

O espetáculo foi encenado no Théatre du Chatelet, em Paris, entre os dias 20 e 25 do mês passado, tendo sido protagonizado por ninguém menos que... sim, ele mesmo: Sting.

O ex-baixista do Police contracenou com seu filho Joe Sumner, de 21 anos, vocalista da banda Fiction Plane – e que guarda enorme semelhança física com o pai. O multifacetado Elvis Costello também integrou o elenco.



O cartaz do espetáculo

Da série ‘Frases’: Friedrich Nietzsche

Tudo aquilo que não me mata... fortalece-me.”



Nem todos sabem que essa frase – hoje tão “batida” no Orkut quanto a infeliz “falar de mim é fácil; difícil é ser eu” – foi, na verdade, proferida pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844 — 1900).


Antes de a mesma cair na vulgaridade, até mesmo Sting a citou em “Ghost Story” (do CD Brand New Day, 1999), uma de suas canções que mais gosto: “What did not kill me/ just made me tougher”. Qualquer hora, eu a coloco na série “São Boitas as Canções”. Essa merece.

segunda-feira, novembro 17, 2008

Da série ‘São Bonitas as Canções’: ‘Azul e Amarelo’, de Lobão e Cazuza

Nem todos sabem que Lobão [no detalhe] e Cazuza – fãs confessos de Cartola [ver dois posts abaixo] – deram crédito ao autor de “O Sol Nascerá” em uma canção que compuseram juntos.

A faixa em questão chama-se “Azul e Amarelo” e integrava o último CD do ex-vocalista do Barão Vermelho, Burguesia, de 1989. Já o Grande Lobo a registrou em seu álbum Sob O Sol de Parador, naquele mesmo ano.

A “parceria” entre os três deu-se pelo fato de a canção citar, na letra, dois versos de “Autonomia”, do compositor mangueirense: “Mas não quero, não vou/ Não quero...”.

A gravação de Cazuza – a melhor, na modesta opinião desse vosso amigo – apresenta um doce arranjo bossa-novístico, enquanto a versão de Lobão é adornada por flautas que aludem imediatamente à sonoridade de outro mestre: Pixinguinha.




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Curiosidade: em meados de 1989, a extinta Rede Manchete exibiu um especial de Lobão em que ele cantava “Azul e Amarelo” na companhia de ninguém menos que... Paulinho da Viola. Infelizmente, não há no You Tube nenhum vídeo dessa apresentação.


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Em 1995, mencionei essa canção à falecida Dona Zica. Essa, aliás, foi a única vez em que estive pessoalmente com ela. E a viúva de Cartola, um tanto lacônica, respondeu-me: “É verdade. Recebo parte dos direitos dela, inclusive...”

sábado, novembro 15, 2008

IM - International Magazine nº 145


Atrasadíssimo, para não perder o hábito, venho trazer os destaques da edição nº 145 do jornal IM - INTERNATIONAL MAGAZINE:
  • A matéria de capa [no detalhe] desse mês focaliza a dobradinha CD/DVD Multishow Ao Vivo, do Capital Inicial. Por Marcelo Fróes;
  • Mais rock nacional: saiba tudo sobre Revolução!, a caixa comemeorativa dos 25 anos de carreira do RPM, por Emílio Pacheco; e também sobre 25 Anos de Rock, que registra, em CD e DVD, a turnê que reuniu Os Paralamas do Sucusso e Titãs, por Luiz Felipe Carneiro;
  • Veja também: os detalhes sobre o histórico CD O Trovador Solitário, que apresenta gravações caseiras deixadas por Renato Russo. Por Cláudio Dirani.

E um artigo meu sobre:

  • o DVD Pra Sempre, o primeiro da carreira solo de Cazuza:
Praticamente um ano após o lançamento da dobradinha CD/DVD Rock In Rio 1985, que registrava o antológico show do Barão Vermelho, ainda com Cazuza, naquele festival, chega às lojas o primeiro DVD da carreira solo do Exagerado. Pra Sempre Cazuza é uma parceria da Universal Music com a Globo Marcas.


“O audiovisual se divide em duas partes: as três canções que Cazuza apresentou no extinto programa “jovem” global Mixto Quente (o cartão-de-visitas “Exagerado”, a ótima “Medieval II” e “Por que a Gente é Assim?”, faixa de Maior Abandonado, o último álbum que ele gravou como vocalista do Barão); e o especial Uma Prova de Amor, exibido pela Rede Globo no finalzinho de 1988, que, no ano seguinte, virou um VHS intitulado O Tempo Não Pára. (...)”



Leia a íntegra sessas matérias - e muito mais - no IM - INTERNATIONAL MAGAZINE. Nas bancas.

terça-feira, novembro 04, 2008

Os 100 anos de Cartola


No dia 11 do mês passado, Angenor de Oliveira, o Cartola, teria completado 100 anos de idade, se vivo estivesse. Homem simples, de pouca escolaridade, Cartola deixou uma obra de grande lirismo e musicalidade elaborada - apesar de ter gravado apenas quatro discos de estúdio. Sua memória é respeitada muito além dos limites do mundo do samba.

E uma boa dica para se ouvir Cartola é o tributo Bate Outra Vez [no detalhe], editado em 1988 e atualmente fora de catálogo. Com participações de artistas do calibre de Caetano Veloso (“Acontece”), Gal Costa (“As Rosas Não Falam”) e Nelson Gonçalves (“Peito Vazio”), entre outros, o disco é quase perfeito. O único porém foi o aparente desconforto de Paulo Ricardo em “Autonomia”. Mas não chegou a comprometer o resultado final do trabalho.

Destaque para as gravações de Leila Pinheiro (“Disfarça e Chora”), Luiz Melodia (“Cordas de Aço”) e o ótimo dueto de Paulinho da Viola e Elton Medeiros (“Amor Proibido”). Tente não se emocionar com a releitura angelical de “Corra e Olha o Céu” da afinadíssima Vânia Bastos, talvez a melhor faixa do CD.





Olhar, gostar só de longe
não faz ninguém chegar perto.
E o seu pranto, ó triste senhora,
vai molhar o deserto...”

(“Disfarça e Chora”, Cartola e Dalmo Casteli, 1974)



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Curiosidade: Cazuza detestava a sua releitura de “O Mundo é um Moinho” para esse álbum. Em entrevista ao Jornal do Brasil em dezembro de 1988, o compositor disparou: 

— Odeio a minha gravação. Ficou tão ruim como se o Cartola tivesse gravado um rock...




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Outra curiosidade: a exemplo do álbum Elis e Tom, conheci Bate Outra Vez, ainda em vinil, através de meu pai. Lembro com exatidão do dia em que ele chegou em casa com esse disco e pôs para tocar. Meu queixo caiu.