Certa vez, li uma declaração de um jornalista já veterano que dizia mais ou menos assim: “Em tantos anos de carreira, só me arrependi UMA ÚNICA VEZ de uma resenha que eu tenha escrito. O profissional, antes mesmo de começar a escrever, sabe exatamente o que vai passar para o papel.” Ou seja, esse cidadão (cujo nome não convém citar) é simplesmente um imbecil - como todo indivíduo arrogante, inequivocamente, o é.
Porque, de fato, o crítico precisa - por uma questão de responsabilidade - formar a sua opinião, com solidez, antes de começar a redigir um artigo. Mas, por outro lado... se, ao longo de meses ou anos, podemos muito bem mudar de idéia quanto a pessoas, roupas, comidas, lugares, etc... por que não em relação a discos?
O que quero dizer com essas divagações mirabolantes é que, hoje, reconheço que a resenha que escrevi sobre o álbum CD Cê, de Caetano Veloso, é imprecisa em alguns aspectos - embora, mesmo assim, eu não alterasse nela uma única vírgula. Lembro que, na edição do IM em que foi publicada, a minha matéria dividiu espaço com outras duas - bastante favoráveis ao disco, por sinal. Fiquei ali “desafinando o coro dos contentes”. Contudo, passados mais de doze meses, é óbvio que Caetano não se encontra em sua “derrocada criativa” (oh...), como eu disse. Mas continuo não considerando Cê a “obra-prima” que meus coleguinhas disseram.
Confesso não destaquei de maneira justa a coragem da empreitada, por si só - um artista consagrado que, surpreendentemente, decide fazer um álbum de rock na companhia de três garotos. Acabei, sim, “aceitando a provocação” de faixas como “Homem” e “Porquê?”. E reagi à altura.
Contudo, está absolutamente claro que essa resenha foi escrita por alguém que conhece bem o trabalho de Caetano. E que, naquele momento, teve apenas um gesto de ira típico do sujeito que recebe um tio para almoçar em casa - e esse acaba tomando um pileque e enchendo a paciência. Mas que jamais deixará de ter afeto por esse tio.
No final das contas, podemos concluir que as relações de amor e ódio são sempre as mais intensas. E isso, devo confessar, é a minha cara.